Seminário Educação Básica no Brasil: Desafios e possibilidades dos ensinos infantil e médio

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Transcrição:

Seminário Educação Básica no Brasil: Desafios e possibilidades dos ensinos infantil e médio

O desafio da universalização da educação básica ainda não está superado 2005-11% da população dessa faixa etária estava longe das salas de aula 2015 6,5% 53% vivem em domicílios com renda per capita de até ½ salário mínimo

As desigualdades regionais 8,8% 6,5% 7,7% 7,3% 5,3%

Educação Infantil Investimento em educação infantil é fundamental para assegurar o pleno desenvolvimento de crianças e adolescentes Importância dessa etapa da educação é consenso nas pesquisas nacionais e internacionais Fortalecer cultura de direitos que reconheça o desenvolvimento infantil como uma realização de direitos da criança Políticas voltadas para a primeira infância devem ter foco na equidade

Legislação Constituição Federal Educação Infantil como direito da criança e da família Convenção Internacional dos Direitos da Criança Estatuto da Criança e do Adolescente LDB primeira etapa da educação básica, reponsável pelo "desenvolvimento integral da criança até cinco anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade"

Institucionalização da educação infantil Entre os países latino-americanos, Brasil é visto como detentor da legislação e a política educacional mais avançadas do continente Educação Infantil como primeira etapa da Educação Básica e a concepção de desenvolvimento das possibilidades e competências das crianças a partir de seus modos específicos de aprendizagem são reconhecidos como um exemplo a ser seguido Consenso que o principal desafio brasileiro é o mesmo de seus vizinhos: oferecer o acesso à educação desde os primeiros meses de vida e superar o desafio da qualidade

Direito de Brincar Brincar como um direito essencial ao desenvolvimento infantil Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) Convenção dos Direitos da Criança (1989) Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) Art. 16, estabelece o direito a brincar, praticar esportes e divertir-se Art. 4º, direito ao lazer Art. 16, direito à liberdade e à participação Art. 71, peculiar condição de pessoa em desenvolvimento Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil Dois grandes eixos: a brincadeira e a interação; e a adoção da criança como ponto de partida, em todas as suas dimensões, visando o seu desenvolvimento integral

Salas maternales: madres, padres, hermanos/as mayores, todos en secundaria Província de Buenos Aires

Contexto Ley de Educación Nacional (26.206/2006) amplia a obrigatoriedade escolar a partir dos 4 anos de idade até o ensino médio Censo Nacional (2010) 47,8% dos jovens de 20 anos havia finalizado o nível secundário Entre os diferentes motivos, aparece a gravidez na adolescência ou o cuidado com irmãos menores Dados de 2011 e 2012 mostram que 10,2% dos adolescentes entre 15 e 17 anos que deixaram de frequentar a escola, o fizeram por questões relacionadas a gravidez e maternidade/paternidade, constituindo-se na quarta causa de abandono escolar Em 2011, as 30 primeiras salas maternales são implementadas. Trabalho conjunto entre Dirección Provincial de Educación Secundaria, la Dirección Provincial de Educación Inicial y la Dirección de Psicología Comunitaria y Pedagogía Social que fazem parte da Dirección General de Cultura y Educación (DGCyE), e apoio do UNICEF Argentina Pesquisa realizada pelo UNICEF identificou forte relação entre maternidade, gravidez e abandono escolar Entre as adolescentes mães, 4 de cada 10 encontravam-se matriculadas (58,1%) Entre as adolescentes sem filhos, 9 de cada 10 encontravam-se matriculadas (91,7%)

Salas maternales: madres, padres, hermanos/as mayores, todos en secundaria Programa voltado para garantir trajetórias educativas regulares de adolescentes por meio da criação de salas maternales em escolas de ensino médio Projeto contempla participação de adolescentes em espaços de reflexão sobre temáticas da primeira infância, maternidade/paternidade, educação e sexualidade Bebês e crianças de 45 dias a 3 anos de idade têm acesso a espaço educativo e de cuidado com proposta pedagógica Considera bebês e crianças como sujeitos de direitos e reconhece a coresponsabilidade do Estado, comunidade e família na promoção e proteção de seus direitos

Como funciona Resolução específica orienta quanto à abertura e funcionamento Projetos devem especificar diagnóstico da situação e infra-estrutura existente (salas devem ter banheiros e cozinhas próprias) Norma estabelece que cada sala pode receber até 8 crianças de 45 dias a 3 anos de idade (espaço verticalizado) Sala está a cargo de uma professora e uma auxiliar, ambas com título de nível inicial Além disso, as instituições devem contar com a presença de uma Equipe de Orientação Escolar que trabalhe aspectos pedagógicos e institucionais referentes à nova dinâmica escolar e articular com serviços de saúde e emergência Há uma articulação intersetorial que orienta sua implementação: Dirección Provincial de Educación Secundaria acompanha a trajetória escolar dos estudantes pais, mães e grávidas Dirección Provincial de Educación Inicial supervisiona o plano pedagógico e administrativo das salas maternales Dirección de Psicología Comunitaria y Psicología social acompanha os estudantes em suas maternidades e paternidades e responsabilidade com seus irmãos pequenos Dirección General de Cultura y Educación responsável pelos cargos de professora e auxiliar e aspectos referentes à infraestrutura escolar necessária para seu funcionamento

Papel das salas maternales Materializar um desejo de autonomia familiar Assumir um papel de adulto que a paternidade/maternidade lhes solicita Sala maternal é valorizada como uma solução para cuidado das crianças pequenas e como possibilidade de continuidade e finalização dos estudos Escola é ressignificada em termos simbólicos, adquirindo múltiplos sentidos positivos: maior autonomia, projetos pessoais, conseguir trabalho, melhores condições de vida Salas maternales como parte de uma política pública dirigida a garantir a obrigatoriedade da escola secundária, articulada com programas que trabalham Educação Sexual Integral (ESI) nas escolas Salas maternales têm objetivos pedagógicos claros e buscam, garantir o direito de crianças pequenas a um espaço educativo e de aprendizagens

Proposta de salas maternales pode ser compreendida como forma de romper com dicotomia clássica que se opõe aos direitos de mulheres-mães e os direitos de crianças e adolescentes. Mostrando que, desde as políticas públicas é possível proteger ao mesmo tempo o direito dessas meninas e meninos a estudar e completar a educação secundária e o direito de crianças serem cuidadas e acessarem espaços educativos e de aprendizagem desde cedo

Obrigada! jribeiro@unicef.org