SANEAMENTO E QUALIDADE DE VIDA NO CONJUNTO HABITACIONAL MANGABEIRA IV EM JOÃO PESSOA - PARAÍBA Maria do Carmo Sobral (1) Engenheira Civil (UFPE). Curso de Especialização em Planejamento Urbano e Regional, (Univ. de Dortmund, Alemanha). Mestre em Saneamento (Univ. Waterloo - Canadá). PhD em Proteção Ambiental (Univ. Técnica. de Berlim, Alemanha). Assessora Especial da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (SECTMA) (1995-1998). Profa. Adjunto do Depto. de Eng. Civil - UFPE. Lourdinha Florencio Engenheira Civil (UFPE). Mestre em Hidráulica e Saneamento (EESC- USP). Ph.D em Tecnologia Ambiental (Wageningen Agricultural University LUW-Holanda). Profa. Adjunto do Depto. de Eng. Civil-UFPE. Autora de vários artigos científicos publicados em anais de congressos bem como em periódicos especializados nacionais e estrangeiros. Écio Gabby Mestre em Geografia pelo Departamento de Geografia da UFPE. Especialista em Educação Ambiental, e Geografia da Paraíba pela UFPB. Bacharel em Direito pela UFPB. Prof. de Geografia Geral, do Brasil e da Paraíba. Endereço (1) : Grupo de Saneamento Ambiental - Depto. de Engenharia Civil - Centro de Tecnologia e Geociências - Universidade Federal de Pernambuco - Av. Acadêmico Hélio Ramos, s/n o - Recife - PE - CEP: 50740-530 - Brasil - Tel: (081) 271-8228 / 8220 - Fax: (081) 271-8205 / 8219 - e-mail: msobral@npd.ufpe.br RESUMO Este trabalho aborda a problemática do saneamento ambiental e sua repercussão na qualidade de vida dos moradores de um grande conjunto habitacional localizado na cidade de João Pessoa. Seu objetivo principal foi verificar o grau de satisfação da comunidade residente no conjunto habitacional Mangabeira IV em João Pessoa, no que se refere aos aspectos de qualidade dos seus serviços de saneamento, como também proporcionar uma análise da estrutura urbana e sua dinâmica. Adicionalmente, identificou-se os pontos críticos de degradação ambiental. Com base nessa avaliação, foram propostas uma série de medidas para melhoria dos serviços de saneamento ambiental que poderão ser adotadas no estudo de caso Mangabeira IV e estendidas para outros conjuntos habitacionais com problemas semelhantes. PALAVRAS-CHAVE: Saneamento Ambiental, Conjunto Habitacional, Qualidade de Vida. INTRODUÇÃO O intenso processo de urbanização do Brasil nas últimas décadas desencadeou uma ocupação desordenada dos espaços urbanos, particularmente nas grandes cidades, 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 3886
provocando crescentes agressões ao meio ambiente. A maioria das metrópoles brasileiras possuem hoje um déficit significativo no atendimento às demandas pelos serviços de saneamento, ou seja, abastecimento d água, esgotamento sanitário, drenagem e limpeza urbana. A fim de atender à crescente demanda habitacional, o governo federal criou na década de 60 o Sistema Financeiro de Habitação, o Banco Nacional de Habitação - BNH e o Sistema Nacional de Saneamento - PLANASA, com o objetivo de coordenar os órgãos públicos e estimular as empresas privadas, no tocante à construção de moradias e ao financiamento de casa própria para a população de média e baixa renda e implantação de infra-estrutura sanitária. Esta nova política habitacional promoveu grandes modificações no espaço urbano das cidades brasileiras, através da construção de diversos conjuntos habitacionais, unidades isoladas, infra-estrutura sanitária de abastecimento d água e esgotamento sanitário. Apesar de todos os conjuntos habitacionais terem sido construídos com atendimento de 100% da população nos serviços de saneamento, se verifica hoje que a maioria deles vem sendo mal gerenciados, apresentando sérios déficits nesses serviços. Além disso, a maioria desses conjuntos foram construídos e vêm sendo mantidos sem levar em consideração as expectativas e anseios dos seus moradores. A fim de detectar a percepção da população no que diz respeito à esses problemas ambientais, foi selecionado o conjunto habitacional Mangabeira - Etapa IV, localizado na zona urbana de João Pessoa - Paraíba, para servir de estudo de caso. Este conjunto foi selecionado por ser o maior conjunto habitacional de João Pessoa, com 12.014 unidades familiares. A etapa IV, implantada em 1986, contém 1.512 unidades familiares distribuídas em uma área de 52 ha. A população residente é estimada em 7.000 habitantes. Este conjunto é abastecido pelo sistema da CAGEPA - Companhia de Água e Esgotos da Paraíba, com ligação de todas as unidades residenciais. O esgoto sanitário é coletado e tratado na lagoa de estabilização, situada no perímetro do conjunto. Esta lagoa foi projetada para operar com aeradores mecânicos. Devido aos custos de energia e manutenção desses equipamentos, eles foram desativados nos primeiros anos de operação. O lixo é coletado pela EMLUR - Empresa Municipal de Limpeza Urbana e disposto no lixão do Róger, que recebe todo o lixo gerado da cidade de João Pessoa. No Mangabeira IV a drenagem é insuficiente. As ruas e avenidas não conseguem promover o escoamento das águas pluviais. O conjunto sofre assim, as conseqüências que existem nos grandes centros urbanos e conjuntos habitacionais super populosos. O conjunto habitacional possui um Associação Comunitária que é a entidade representativa dos moradores deste conjunto, a qual foi fundada em 1996. OBJETIVO DO ESTUDO Esse trabalho teve como objetivo verificar o grau de satisfação da comunidade residente no conjunto habitacional de baixa renda Mangabeira IV, localizado em João Pessoa, no que se refere aos aspectos de qualidade dos seus serviços de saneamento. Adicionalmente, pretendeu-se identificar os pontos críticos de degradação ambiental e propor alternativas para melhoria das condições ambientais da área em estudo. Outros problemas sócio- 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 3887
ambientais detectados na área estão relacionados com as questões de segurança pública, lazer, educação e saúde. METODOLOGIA ADOTADA A identificação das condições atuais dos serviços de saneamento básico do conjunto habitacional da Mangabeira IV foi feita através de visitas de campo e reuniões de trabalho com as equipes das diversas instituições públicas responsáveis pela operação dos seus serviços de saneamento, além da realização de consultas à população local. Foram aplicados questionários, com perguntas abertas e fechadas, dentro de uma amostra significativa, baseados nos valores estatísticos de acordo com Colton (1960), que propõe cerca de 300 entrevistados para uma margem de erro de 5%. Posteriormente fez-se uma análise dos dados levantados e formulou-se proposições para intervenções necessárias à melhoria das condições ambientais e da qualidade de vida dos moradores do local. RESULTADOS E DISCUSSÃO Nos dados levantados, 92% dos entrevistados afirmaram que o serviço de abastecimento d água é satisfatório e atende plenamente às suas necessidades. Entretanto, 84% dos entrevistados relataram que vem ocorrendo intermitência no serviço, sendo que 21% dos entrevistados registraram a falta d água ocorrida em menos de 1 hora diária; 36% entre 1 e 2 horas diárias e o restante por um período superior a 24 horas. Questionados sobre a existência do sistema de tratamento de esgotos do conjunto, 86% responderam afirmativamente que o conhecem e sabem o local onde ele está instalado. Quase a totalidade dos entrevistados, ou seja, 90%, registraram que existe problemas relacionados com o serviço de esgotos sanitários. Entre os problemas citados, a maior preocupação é com o forte odor proveniente da lagoa de estabilização (68%), seguidos da presença de insetos (24%), do retorno de esgotos (5%) e da poluição ambiental de um modo genérico (3%). Nas visitas em campo foram detectados também problemas referentes à falta de áreas de lazer, praças e outros equipamentos comunitários. Só existe uma quadra de esportes e um campo de futebol para toda a comunidade do conjunto. Um outro problema relevante levantado foram as constantes invasões nas áreas públicas, com o surgimento de favelas dentro do perímetro do conjunto habitacional, as quais não dispõem de infra-estrutura, ou seja, as ligações de água e luz são clandestinas e os esgotos correm a céu aberto. Atualmente existe cerca de 40 áreas invadidas, que foram anteriormente projetadas para a instalação de equipamentos comunitários. Os resultados do estudo indicam que as condições sanitárias do conjunto habitacional Mangabeira IV são precárias, trazendo desconforto e atingindo diretamente a população residente. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 3888
RECOMENDAÇÕES FINAIS Com a análise realizada nos dados desta pesquisa, conclui-se que o conjunto habitacional Mangabeira IV vem apresentando, no decorrer do tempo, as mais variadas transformações em sua paisagem e, consequentemente, em seu meio ambiente. A seguir são apresentadas algumas propostas para a melhoria deste quadro de degradação ambiental, em termos dos serviços precários de saneamento: Abastecimento de água - Como proposta para melhorar o abastecimento de água neste conjunto habitacional, requer-se a ampliação da rede de abastecimento, aumentando assim o volume de água ofertado. Ou seja, aumentar o nível de atendimento de abastecimento de água nos aspectos quantitativos e qualitativos. Além disso, faz-se necessário o controle das perdas e desperdícios e a melhoria do controle da qualidade da água distribuída à população, para assegurar o grau de potabilidade exigida pelo Ministério da Saúde. Feito isto, com certeza serão evitadas as constantes faltas de água que ocorrem quase diariamente no conjunto. Esgotos sanitários - O maior problema detectado durante a pesquisa, refere-se ao constante mau cheiro que exala das lagoas de estabilização de esgotos, que localiza-se neste conjunto habitacional. Para resolver este grave problema, faz-se necessário proceder mudanças operacionais nas lagoas de estabilização, bem como medidas que viabilizem a locação de recursos para que tais melhorias possam ser devidamente efetuadas. Requer-se providências junto à CAGEPA no sentido de se fazer a manutenção e conservação dos equipamentos instalados. Sugere-se também a aquisição de novos aeradores, a fim de que a lagoa de estabilização possa voltar a funcionar nas condições previstas no projeto inicial, devendo ser assegurada a manutenção dos aeradores de modo a proporcionar o seu pleno funcionamento em condições aeróbias. Limpeza urbana - Propõe-se um gerenciamento integrado, através de ações normativas, operacionais, financeiras e, sobretudo, de planejamento, tendo-se por base critérios sanitários, ambientais e econômicos, a fim de que se proceda a coleta, o tratamento e a disposição final do lixo da cidade de modo adequado, incentivando-se a reciclagem do lixo. Drenagem - Tem-se por proposta a pavimentação de algumas ruas e avenidas, construção de guias, galerias e bocas de lobo para o escoamento subterrâneo das águas das chuvas, manutenção da limpeza com a desobstrução da rede de galerias pluviais, tornando assim mais eficiente a drenagem nos locais mais críticos deste conjunto habitacional. Entre as soluções apontadas para a melhoria da qualidade de vida do conjunto em termos dos seus aspectos ambientais destacam-se a melhoria da operação da estação de tratamento de esgotos, incluindo a compra de equipamentos e a melhoria da coleta de lixo. Os anseios da população demonstram que existe uma razoável consciência sobre os problemas ambientais da comunidade. Algumas reivindicações apresentadas são passíveis de serem implantadas pelos órgãos responsáveis, com poucos recursos financeiros. Desta forma, se atingiria uma melhoria imediata da qualidade de vida da população residente no conjunto habitacional Mangabeira IV. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 3889
A situação precária dos sistemas de saneamento ambiental no conjunto habitacional Mangabeira IV não é uma exceção, pois a maioria dos conjuntos habitacionais brasileiros, principalmente os que estão localizados na Região Nordeste, possuem os mesmos problemas, e muitas das propostas aqui apresentadas poderão ser estendidas na melhoria de outros conjuntos habitacionais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia: Ciência da Sociedade. São Paulo: Atlas, 1987. 2. BANCO MUNDIAL. The Enviromental Agenda Brazil: Managing Pollution Problems. Word Bank, 1997. 3. CAVALCANTI, Enoque Gomes. O Novo Paradigma do Desenvolvimento Sustentável: O Enfoque da Sustentabilidade. Alguns Elementos Teóricos sobre a Agricultura do Nordeste Semi-Árido. Recife: UFPE/CFCH/DCG/NAEG, 1993. 4. GOMES, Edvânia Tôrres Aguiar. Espaço, Planejamento e Gestão de Serviços Metropolitanos Uma Perspectiva Geográfica sobre a Região Metropolitana do Recife. Recife, 1989. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Pernambuco. 5. MOTA, Suetônio. Introdução à Engenharia Ambiental. ABES, 1997. 6. RESENDE, Flávio da Cunha. Políticas Públicas e Saneamento Básico: A COMPESA entre o Estado e o Mercado. Recife, 1994. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Pernambuco. 7. SANTOS, Milton. O Trabalho do Geógrafo no Terceiro Mundo. 2 a Ed. São Paulo: Hucitec, 1996. 8. SOUZA, Maria das Graças de. Conjunto Habitacional Mangabeira VII: Concretização de uma Política Habitacional. Joao Pessoa, 1994. Monografia (Graduação em Geografia) Universidade Federal da Paraíba. 9. SPERLING, Marcos. Manual de Saneamento e Proteção Ambiental para os Municípios. Vol. II. UFMG, 1995. 10. SUDEMA. Descrição Sumária do Sistema de Esgotos Sanitários da Cidade de Joao Pessoa. Sudema, 1997. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 3890