Direito CONTRIBUIÇÃO SINDICAL OBRIGATÓRIA COMO FORMA DE LIMITAÇÃO DA LIBERDADE SINDICAL PLENA NO BRASIL



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Universidade Católica de Brasília PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Direito CONTRIBUIÇÃO SINDICAL OBRIGATÓRIA COMO FORMA DE LIMITAÇÃO DA LIBERDADE SINDICAL PLENA NO BRASIL Autor: George Nogueira Cardoso Orientador: Msc. Rui de Melo Cabral BRASÍLIA 2008

3 GEORGE NOGUEIRA CARDOSO CONTRIBUIÇÃO SINDICAL OBRIGATÓRIA COMO FORMA DE LIMITAÇÃO DA LIBERDADE SINDICAL PLENA NO BRASIL Monografia apresentada ao curso de graduação em Direito da Universidade Católica de Brasília - UCB como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Direito. Orientador: Msc. Rui de Melo Cabral. Taguatinga 2008

4 GEORGE NOGUEIRA CARDOSO CONTRIBUIÇÃO SINDICAL OBRIGATÓRIA COMO FORMA DE LIMITAÇÃO DA LIBERDADE SINDICAL PLENA NO BRASIL Monografia apresentada ao curso de graduação em Direito da Universidade Católica de Brasília - UCB como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Direito. Orientador: Msc. Rui de Melo Cabral. Aprovado pelos membros da banca examinadora em / /, com menção ( ). Banca Examinadora: Presidente: Prof. Msc. Rui de Melo Cabral Universidade Católica de Brasília Integrante: Prof. Dr. Universidade Católica de Brasília Integrante: Prof. Dr. Universidade Católica de Brasília

Não somente este trabalho acadêmico, mas todas as minhas conquistas pessoais e profissionais são dedicadas aos meus pais, José Cardoso e Eleuza, sem os quais a concretização deste sonho não seria possível. 5

Agradeço a Deus pelo dom de Cristo para a realização de mais este projeto. A minha esposa pelo sacrifício e confiança a mim dispensado, não somente na elaboração deste trabalho, mas por toda esta jornada juntos. 6

7 Faz forte ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor. Os jovens se cansam e se fatigam, e os moços de exaustos caem, mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças, correm com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam. (Isaías 40:29-31)

8 RESUMO CARDOSO, George Nogueira. Contribuição sindical obrigatória como forma de limitação da liberdade sindical plena no Brasil. 2008. 69 fls. Monografia apresentada ao curso de graduação em Direito da Universidade Católica de Brasília - UCB. Taguatinga DF, 2008. O presente trabalho monográfico busca examinar a contribuição sindical inserida no artigo 8, inciso IV, da Constituição da República de 1988, que representa um obstáculo para ratificação pelo Brasil da Convenção n. 87 da Organização Internacional do Trabalho OIT, pois limita à liberdade sindical. Para tanto, abordase no capítulo primeiro da monografia o estudo dos textos Constitucionais, desde a primeira Constituição Republicana até a atual Constituição de 1988, onde se ressalta as principais inovações quanto à exigência pecuniária de contribuições para a manutenção dos sindicatos. No capítulo segundo, trata especificamente sobre a contribuição sindical, tomando como referência para a análise os artigos 578 à 610 da Consolidação das Leis do Trabalho CLT. Ademais, foram apresentadas as inovações trazidas com a edição da Lei Ordinária n. 11.648/2008, que reconheceu as Centrais Sindicais, como entidades de representação geral dos trabalhadores, sendo constituída em âmbito nacional, outrossim, a supracitada norma, previu um prazo para a revogação dos artigos 578 à 610 da CLT, através da aprovação de lei que venha a disciplinar a contribuição negocial, que estará vinculada ao exercício efetivo da negociação coletiva e à aprovação em assembléia geral da categoria. No capítulo terceiro, limita a apresentar as divergências do atual texto da Constituição, confrontando com a convenção n. 87 da OIT, notadam ente, no que tange à unicidade sindical e a contribuição sindical inseridas no artigo 8 da Constituição de 1988. No capítulo quarto, é retomado o problema da exigência pecuniária compulsória para a manutenção dos sindicatos, fato que tem ocasionado a existência de inúmeros sindicatos fantasmas, sem qualquer representatividade da sua respectiva categoria, criados, tão somente, com a finalidade de obter parte dos valores arrecadados com a contribuição. Por fim, é demonstrada as inúmeras tentativas de extinção da contribuição sindical pelos governantes, até as propostas apresentadas pelo atual governo, sendo que algumas ainda estão em fase de elaboração e outras já estão tramitando no âmbito do Congresso Nacional. Palavras-chave: contribuição sindical, liberdade sindical, convenção n. 87 da OIT, contribuição negocial.

9 ABSTRACT CARDOSO, George Nogueira. Obligator union dues as form of limitation of the full freedom unionization in Brazil. 2008. 72 pages. Monograph presented to the course of graduation in Law University Catholic of Brasilia - UCB. Taguatinga - DF, 2008. The present monographic work search to examine the inserted union dues in the article 8, interpolated proposition IV, of the Con stitution of the Republic of 1988, that it represents an obstacle for ratification for Brazil of Convention n º. 87 of the International Organization of Work - OIW, therefore limit to the freedom unionization. For in such a way, the study of the texts is approached in the first chapter of the monograph Constitutional. Since the first Republican Constitution until the current Constitution of 1988, where if it stands out the main innovations how much to the pecuniary requirement of contributions for the maintenance of the unions. In the chapter second, it treats specifically on the union dues, taking as reference for the analysis articles 578 to the 610 of the Consolidation of the Laws of Work - CLW. Therefore, had been presented the innovations brought with the edition of Usual Law n. 11.648/2008, that it recognized the Syndical Central offices, as entities of general representation of the workers, being constituted in national scope, also that norm, foresaw it a stated period for the revocation of articles 578 to the 610 of the CLW, through the approval of law that comes to discipline the business contribution, that will be tied with the effective exercise of the collective bargaining and the approval in general meeting of the category. In the chapter third, it limits to present the divergences of the current text of the Constitution, collating with convention n º. 87 of the OIW, notice, in what it refers to inserted the syndical union and the union dues in the article 8 of the Constitution of 1988. In the chapter four, the problem of obligatory the pecuniary requirement for the maintenance of the unions is retaken, fact that has caused to the existence of innumerable unions ghosts, without any representation of its respective category, made so only, with the purpose to get part of the values collected with the contribution. Finally, it is demonstrated the innumerable attempts of extinguishing of the union dues for the governing, until the proposals presented for the current government, being that some still are in elaboration phase and others already are moving in the scope of the National Congress. Word-key: union dues, freedom unionization, convention n º. 87 of the OIW, business contribution.

10 INTRODUÇÃO Ao vivenciarmos esta fase de transição da relação de capital e trabalho, deparamo-nos com impasses de ordem jurídica e de ordem socioeconômica, apresentando-nos razões para justificar e evidenciar a importância do tema em questão. Sob o prisma jurídico é nítida a importância da CLT na evolução histórica do direito do trabalho, cuja consolidação em 1943 representou um marco excepcional em nosso ordenamento jurídico, correspondendo na época, aos anseios corporativistas e intervencionistas do Estado nas relações de trabalho. Atualmente, a CLT não reflete mais a eficácia traduzida quando de sua criação, fato que fica evidente com a manutenção das fontes de receitas dos sindicatos, que basicamente sobrevivem com a arrecadação da contribuição sindical. A Constituição Brasileira de 1988, por sua vez, tentou alargar os horizontes sindicais em determinados pontos, contudo, resistiu aos grilhões do modelo corporativista em outros concernentes à liberdade sindical, principalmente com a imposição da contribuição sindical a todos os integrantes de categoria profissional ou econômica. Como se nota, tais razões expressam a premente necessidade e a importância da reformulação das leis trabalhistas e, no enfoque, das relações coletivas de trabalho, evidenciadas em um novo sindicalismo, autônomo, ávido por um sistema dinâmico e funcional. Portanto, o objeto do presente trabalho pretende analisar a contribuição sindical obrigatória, inserida no artigo 8, inciso IV da Constituição Federal de 1988, na qual, vista à luz da Convenção nº. 87 da Organização Internacional do Trabalho OIT, representa um dos obstáculos para plena liberdade sindical no Brasil.

11 Para que se faça uma análise mais apropriada, necessitamos de um capítulo inicial abordando os aspectos históricos da criação dos sindicatos no Brasil, a partir dos textos Constitucionais, voltando nele o seu atrelamento ao Estado, e mais, focar a impossibilidade dele ser criado de maneira totalmente independente e desvinculada deste. Por sua importância histórica merece análise o sistema corporativista, no que diz respeito ao sindicato, em razão de sua atuação relativamente à organização das forças econômicas e sua colaboração com o Estado, na promoção dos interesses nacionais. Dentro da autonomia reconhecida pelo ordenamento jurídico nacional voltando-se a possibilidade de elaboração de regras, bem como a exigência de seu cumprimento por quem faz parte das entidades representativas da categoria, inclusive instituir a cobrança de contribuições, além das já delegadas pelo poder público. Nesse contexto é imprescindível verificar como foram surgindo as contribuições sindicais, para chegar às atuais contribuições exigidas pelo sindicato, mormente com a Constituição Brasileira de 1988. Assim, imperioso se faz verificar o atual texto da Constituição Brasileira, na qual trouxe expresso em seu art. 8º, inciso IV, a possibilidade de imposição por parte dos sindicatos, da cobrança da contribuição sindical, além de outras como a contribuição confederativa, que é fixada pela à assembléia segundo previsão do mesmo texto Constitucional. Faz-se necessário também, um estudo minucioso da convenção nº. 87, de 1948 da Organização Internacional do Trabalho OIT, na qual passou a determinar as linhas mestras acerca do direito de livre sindicalização, sem quaisquer ingerências por parte dos Estados, considerando a cobrança compulsória da contribuição sindical como uma das formas de limitação à plena liberdade sindical no Brasil.

12 Em capítulos finais, contextualiza-se a matéria sob análise no cenário nacional, demonstrando a sua relevância, comentando a Lei Federal nº. 11.648/2008, que além de reconhecer às Centrais Sindicais, como legitimadas a representar os interesses dos trabalhadores, atribuindo poderes para fixar percentual referente à arrecadação da contribuição sindical obrigatória, para o custeio das atividades das ditas Centrais Sindicais. Ademais, se pretende localizar as inovações trazidas pela supracitada norma, que ainda dispôs sobre a criação de uma nova contribuição através de Lei, qual seja, uma contribuição negocial, para a manutenção dos sindicatos, diferentemente da contribuição sindical existente, que é compulsória e devida a todos os trabalhadores quer sejam sindicalizados ou não. Por fim, o presente trabalho apresenta a proposta de substituição da contribuição sindical obrigatória, pela contribuição negocial, conforme o anteprojeto de lei elaborado pela Casa Civil da Presidência da República, em harmonia com as Centrais Sindicais, no qual vincula a contribuição negocial ao exercício efetivo da negociação coletiva e à aprovação em assembléia geral da categoria. Fato este que somente permitirá o recebimento da contribuição negocial aos sindicatos que efetivamente participarem das negociações coletivas da categoria, garantindo com isso mais atuação dos sindicatos em prol da categoria.

13 SUMÁRIO INTRODUÇÃO... 10 CAPÍTULO I... 15 1. DO SURGIMENTO DOS SINDICATOS NO BRASIL... 15 1.1. NA CONSTITUIÇÃO DE 1891... 15 1.2. NA CONSTITUIÇÃO DE 1930... 16 1.3. NA CONSTITUIÇÃO DE 1934... 18 1.4. NA CONSTITUIÇÃO DE 1937... 18 1.5. NA CONSTITUIÇÃO DE 1946... 20 1.6. NA CONSTITUIÇÃO DE 1967... 20 1.7. NA CONSTITUIÇÃO DE 1988... 21 2. DA OBRIGATORIEDADE DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL... 23 CAPÍTULO II... 28 3. CONTRIBUIÇÃO SINDICAL... 28 3.1. CONCEITO... 28 3.2. CONSTITUCIONALIDADES DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL... 30 3.3. NATUREZA JURÍDICA... 31 3.4. DESCONTO OBRIGATÓRIO... 33 3.5. CONTRIBUIÇÃO DOS TRABALHADORES... 33 3.5.1. Contribuição sindical pelos advogados... 35 3.6. CONTRIBUIÇÃO DAS EMPRESAS... 36 3.6.1. Isenção da contribuição sindical para os empregadores... 39 3.6.2. Cobrança da contribuição sindical aos escritórios de advocacia... 40 4. INOVAÇÕES TRAZIDAS PELA EDIÇÃO DA LEI Nº. 11.648/2008... 42 CAPÍTULO III... 44 5. DA LIBERDADE SINDICAL... 44 5.1. CONCEITO... 44 6. FORMAS DE RESTRIÇÕES À LIBERDADE SINDICAL PLENA NO BRASIL... 45 6.1. UNICIDADE SINDICAL NA CONSTITUIÇÃO DE 1988... 45 6.2. CONTRIBUIÇÃO COMPULSÓRIA NA CONSTITUIÇÃO DE 1988... 48 7. DA CONVENÇÃO N 87 DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO OIT... 50

14 CAPÍTULO IV... 53 8. TENTATIVAS DE EXTINÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL... 53 8.1. JUSTIFICATIVA PARA EXTINÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL... 56 9. A PROPOSTA DO GOVERNO LULA PARA A REFORMA SINDICAL... 58 9.1. A LEI Nº. 11.648/2008 E A CONTRIBUIÇÃO NEGOCIAL... 61 9.2 EXTENSÃO AO SERVIDOR DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL... 63 CONCLUSÃO... 67 REFERÊNCIAS... 70

15 CAPÍTULO I 1. DO SURGIMENTO DOS SINDICATOS NO BRASIL Antes de nossos Constituintes, o legislador ordinário já começara a traçar as linhas mestras de nossa estrutura sindical, mas é a partir dos textos Constitucionais, que se iniciarão estes estudos iniciais. Na raiz de toda construção normativa de nosso ordenamento jurídico está a histórica influência das conquistas experimentadas na Europa. O nosso sindicalismo não esteve indiferente a esta inspiração e influência. 1.1. NA CONSTITUIÇÃO DE 1891 Sergio Pinto Martins 1 destaca que em nossa primeira Constituição Republicana não tivemos a inserção expressa sobre as entidades sindicais, entretanto, o 8º do artigo 72 dispunha, apenas, que a todos é lícito associarem-se e reunirem-se livremente e sem armas; não podendo intervir a polícia, senão para manter a ordem pública. Verifica-se, portanto a idéia de garantia da ordem pública e garantia da associação sindical. Para Lais Corrêa de Mello 2, analisando a norma acima citada, destaca que um dos primeiros cuidados após edição da Constituição Republicana foi o de eliminar quaisquer entraves à liberdade de contratar, trazendo uma garantia fundamental às aspirações sindicais, garantido o direito de reunião e associação. 1 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. São Paulo: Atlas, 19º Edição, 2004, pág. 705. 2 MELLO, Lais Corrêa de. Liberdade Sindical na Constituição Brasileira. São Paulo: LTr, 2005, pág. 95.

16 Cabe ainda salientar que segundo Rodrigues Pinto 3, a liberdade de associação trata-se da terceira fase evolutiva iniciada sob a decisiva inspiração do fim da escravatura e da instauração do Regime Republicano, contando com dois acontecimentos fundamentais: a instalação de correntes migratórias de mão-deobra, trazendo operário europeu, e a criação da Organização Internacional do Trabalho OIT, em 1919. Outrossim, no ano de 1903 tivemos o surgimento dos primeiros sindicatos no Brasil. Estes por sua vez eram ligados à agricultura e à pecuária e foram reconhecidos pelo Decreto Legislativo nº. 979, de 06 de janeiro de 1903. Em seu artigo 1º, facultou aos, profissionais de agricultura e indústrias rurais de qualquer gênero, organizarem entre si sindicatos para o estudo, custeio e defesa de seus interesses. 1.2. NA CONSTITUIÇÃO DE 1930 Através do Decreto nº. 1.637, de 05 de junho de 1907, foram criadas as sociedades corporativas, facultando a qualquer trabalhador, inclusive de profissões liberais, associarem-se aos sindicatos, com o objetivo de estudo e defesa dos interesses da profissão e de seus membros. No ano de 1930 começou uma nova etapa do Direito Sindical, foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, que atribuía aos sindicatos funções delegadas de poder público, nascendo deste fato um sistema corporativista, no que diz respeito ao sindicato, em que a organização das forças econômicas era feita em torno do Estado, com a finalidade de promoção dos interesses nacionais e com a possibilidade da imposição de regras a quem fizesse parte das agremiações, inclusive de cobrança de contribuições. 3 PINTO, José Augusto Rodrigues. Direito sindical e coletivo do trabalho. São Paulo: LTr, 2002, pág. 63-64.

17 Em 19 de março de 1931, o Governo de Vargas promulgou o Decreto n. 19.770 ou Lei dos Sindicatos, considerada a primeira lei sindical brasileira. Chiarelli 4, observa que pelo Decreto n. 19.770, decidia o po der Público regulamentar a sindicalização das classes patronais e trabalhadoras. Começava-se, então, a consagra-se, a participação e a interferência da Administração Pública na atividade sindical. Portanto, com esta interferência do Poder Público nas atividades do sindicato, confundiam-se muitas vezes as funções do sindicato com as tarefas próprias da máquina estatal. Assim, o sindicato, que antes era uma instituição de direito privado, após tornar-se uma instituição de direito público, ficou sujeito ao reconhecimento do Ministério do Trabalho, para efeitos legais 5. Dado esse atrelamento ao Poder Público dos sindicatos, o supracitado Decreto, trouxe inúmeras conseqüências significativas, sendo a mais expressiva das alterações o abandono da pluralidade sindical vigente desde 1907, em prol da estrutura de sindicato único em cada base territorial, impossibilitando a criação de mais de uma organização sindical em qualquer grau, o que inclui a federação e confederação representativas de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que não poderá ser inferior à área de um município. E conforme afirma Sérgio Pinto Martins 6, essa imposição da unicidade sindical limita o direito de liberdade sindical, sendo produto artificial do sistema legal vigente, o que não deixa de ser uma forma de controle, por meio do Estado, do sindicato e da classe trabalhadora, evitando que esta faça reivindicações ou greve. Nesse mesmo sentido conclui o citado autor: Está a estrutura sindical brasileira baseada ainda no regime corporativo de Mussolini, em que só é possível o reconhecimento de um único sindicato 4 CHIARELLI, Carlos Alberto Gomes. Teoria e prática do sindicalismo brasileiro. São Paulo: LTr, 1974, pág. 46. 5 MELLO, Lais Corrêa de. Liberdade Sindical na Constituição Brasileira. São Paulo: LTr, 2005, pág. 99. 6 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. São Paulo: Atlas, 19º Edição, 2004, pág. 715.

18 em dada base territorial, que não pode ser inferior à área de um município. Um único sindicato era mais fácil de ser controlado, tornando-se obediente. Nasce o sindicato por imposição do Estado, de cima para baixo. Não foi criado espontaneamente. Os líderes sindicais não surgiram, mas eram nomeados 7. 1.3. NA CONSTITUIÇÃO DE 1934 Com a promulgação da Constituição de 1934, tivemos uma inovação importante para os sindicatos, foi à reestruturação do direito de pluralidade sindical e da completa autonomia dos sindicatos concebidos como pessoa jurídica de direito privado, com liberdade de ação, de constituição e administração. Ocorre que esta aparente pluralidade implantada com a Constituição de 1934, traduziu-se em ambigüidade de ditames, pois com a edição do Decreto n. 24.694, de 12 de julho de 1934, trouxe limitação à pluralidade sindical ao máximo de três sindicatos representativos da mesma categoria, na mesma base territorial. Na mesma linha de intervenção do Estado, agora no atinente à liberdade de administração dos sindicatos, tornou-se obrigatória a presença permanente de um delegado do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio nas assembléias sindicais. Portanto, em razão das contrariedades existente, fez-se da experiência de 1934, segundo Amauri Mascaro Nascimento: 8 algo que não repercutiu, expressando a ineficácia da lei dita pluralista. 1.4. NA CONSTITUIÇÃO DE 1937 Em 1937 tivemos uma nova fase após a promulgação da Constituição Corporativista, foi a instauração do Estado Novo, período que perduraria até 1945. O novo, nesse caso, representava o ideal político de encontrar uma via que se afastasse tanto do capitalismo liberal quanto do comunismo espelhando-se em 7 Ibidem., pág. 716. 8 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. São Paulo: LTr, 2003, pág. 85.

19 outras ditaduras da mesma época, como a de Franco, na Espanha, e de Salazar, em Portugal. O artigo 138, da Constituição de 1937, assim determinava: A associação profissional ou sindical é livre. Somente, porém, o sindicato regularmente reconhecido pelo Estado tem o direito de representação legal dos que participarem da categoria de produção para que foi constituído, e de defender-lhes os direitos perante o Estado e as outras associações profissionais, estipular contratos coletivos de trabalho obrigatórios para todos os seus associados, impor-lhes contribuições e exercer em relação a eles funções delegadas de Poder Público 9. Podemos depreender do texto acima que apesar da associação profissional ou sindical ser livre, todavia, restringe-se a seguir a liberdade sindical, ao dispor que somente o sindicato regularmente reconhecido pelo Estado terá direito à representação legal, à negociação dos contratos coletivos ou mesmo a imposição de contribuições, dentre suas atribuições. Denota-se, então, o imperativo do Estado perante as entidades sindicais 10. Outro fato importante a ser destacado, é a possibilidade que os sindicatos já tinham de impor contribuições. Dando origem ao imposto sindical, matéria que será minuciosamente tratada em capítulo próprio. Em 05 de julho de 1939, foi publicado o Decreto-Lei nº. 1.402, complementando a legislação sindical, sendo reconhecido apenas um sindicato para cada categoria, consubstanciando o princípio de sindicato único na mesma base territorial. Por fim, o supracitado Decreto-Lei, tornou-se um estatuto dos procedimentos legais da organização sindical, expondo detalhadamente aspectos sobre a administração do sindicato, as eleições sindicais, os procedimentos orçamentários, as prestações de contas etc. 11. 9 CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL DE 1937. Planalto, Brasília, DF. Disponível em: <http: //www.planalto.gov.br.>. Acesso em: 03 de março de 2008. 10 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. A política trabalhista e a nova República. São Paulo: LTr, 1985, pág. 13-14. 11 LOBOS, Julio A. Sindicalismo e negociação. São Paulo: Embranews Publicações Especializadas, 1982, pág. 50.

20 Na vigência da Carta de 1937, merecem destaque alguns diplomas legais, como o que organizou a Justiça do Trabalho em 1939, cujo funcionamento começou em 1941. Entretanto, não podemos deixar de destacar que em 1º de maio de 1943, foi editado o Decreto-Lei nº. 5.452 Consolidação das Leis do Trabalho, que veio a reunir toda a legislação esparsa, incorporando os textos sindicais já existentes. 1.5. NA CONSTITUIÇÃO DE 1946 A Constituição de 18 de setembro de 1946, segundo Arnaldo Sussekind 12, foi o melhor dos estatutos fundamentais brasileiros, decretada e promulgada por uma Assembléia Nacional Constituinte, refletindo o sopro democrático emanado da vitória das Nações Aliadas na guerra mundial de 1939-1945. Ainda no tocante à organização sindical, o artigo 159, assim determinava: É livre a associação profissional ou sindical, sendo reguladas por lei a forma de sua constituição, a sua representação legal nas convenções coletivas de trabalho e o exercício de funções delegadas pelo Poder Público 13. 1.6. NA CONSTITUIÇÃO DE 1967 A Constituição de 1967, foi decretada e promulgada pelo Congresso Nacional, nos termos da convocação restrita que lhe fez o Presidente Castello Branco, com vistas à assegurar a continuidade da Revolução de 1964. Relativamente ao direito coletivo do trabalho, a carta Magna de 1967/69 repete as disposições da Constituição de 1946 sobre a organização sindical (art. 166); mas torna obrigatório o voto nas eleições sindicais ( 2º do art. 166) e inclui, desde logo, entre as funções públicas que podem ser delegadas aos sindicatos, a de arrecadar contribuições para o custeio das atividades de seus órgãos e para a execução de programas de interesses das categorias por eles representadas ( 1º do art. cit.). Legitimou, assim, a 12 SUSSEKIND, Arnaldo. Direito constitucional do trabalho. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, pág. 36. 13 CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL DE 1946. Planalto, Brasília, DF. Disponível em: <http: //www.planalto.gov.br.>. Acesso em: 08 de março de 2008.

21 arrecadação, pelos sindicatos, da contribuição anual compulsória (conhecida como imposto sindical ) tributo que só a União Federal pode instituir (art. 21, 2º, n. 1). 14 Portanto, a Constituição de 1967 e a Emenda nº. 1 de 1969, pouco mudaram quanto à Organização Sindical, mas a greve foi proibida nos serviços públicos de atividades essenciais. 1.7. NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 Promulgada em 05 de outubro de 1988, a nova Constituição Federal transpareceu, visíveis contradições. Como pontos positivos, podemos destacar, entre os arts, 8º e 11 da citada carta: a liberdade de organização da entidade sindical; a liberdade individual de filiação do trabalhador ao sindicato; a representação e a substituição processual das categorias para defesa de seus interesses, individuais ou coletivos, nas esferas administrativa ou judicial; a obrigatoriedade de participação do sindicato em qualquer negociação coletiva; a representação dos empregados nas empresas de grande porte, como intermediários do entendimento direto dos trabalhadores com a empresa 15. Portanto, os sindicatos para a sua criação não mais estariam sujeitos à autorização prévia do Estado, bem como, este não mais pode intervir na em sua administração interna. Por outro lado, a Constituição de 1988, demonstrou poucos avanços no que se refere à manutenção da unicidade sindical, bem como, da obrigatoriedade do pagamento da contribuição sindical, como forma compulsória. Impede o Estatuto Supremo de 1998 a possibilidade da ratificação da Convenção n 87 da OIT, pois permite apenas um sind icato em cada base territorial, que não pode ser inferior à área de um município. A contribuição sindical imposta por lei também não se harmoniza com a Convenção n 87 da OIT, visto que atenta contra o princípio da liberdade sindical, de as pessoas livremente se filiarem ao sindicato e pagarem espontaneamente 14 SUSSEKIND, Arnaldo. Direito constitucional do trabalho. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, pág. 37. 15 MELLO, Lais Corrêa de. Liberdade Sindical na Constituição Brasileira. São Paulo: LTr, 2005, pág. 112.

22 as contribuições devidas a ele não de maneira compulsória, mesmo porque tal contribuição não distingue a condição de sócio ou de associado 16. 16 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. São Paulo: Atlas, 19º Edição, 2004, pág. 708.

23 2. DA OBRIGATORIEDADE DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL A Constituição Brasileira de 1934 não tratava especificamente de exigência pecuniárias relativas aos sindicatos, apenas mencionava no art. 120 que os sindicatos e as associações profissionais seriam reconhecidas de conformidade com a lei. O parágrafo único do mesmo artigo determinava que a lei asseguraria a pluralidade sindical e a completa autonomia dos sindicatos. Como se observa, não havia nenhuma determinação quanto às contribuições sindicais, pois tudo era direcionado para a previsão estabelecida pela lei ordinária 17. Somente com a Constituição Federal de 1937, ficou aberta a possibilidade de imposição, pelos Sindicatos, da contribuição sindical. Portanto, tinha o artigo 138 da citada norma a seguinte redação: Art. 138 - A associação profissional ou sindical é livre. Somente, porém, o sindicato regularmente reconhecido pelo Estado tem o direito de representação legal dos que participarem da categoria de produção para que foi constituído, e de defender-lhes os direitos perante o Estado e as outras associações profissionais, estipular contratos coletivos de trabalho obrigatórios para todos os seus associados, impor-lhes contribuições e exercer em relação a eles funções delegadas de Poder Público 18. Como se verifica os Sindicatos exerciam função delegada de poder público e a contribuição sindical era devida a todas as pessoas pertencentes à categoria econômica ou profissional. Outro fato relevante é que a Constituição não especificou o tipo de contribuição que poderia ser exigida. Para Oliveira Viana 19 os sindicato, tal qual, aparece na Constituição de 1973, possuía dois poderes: o de taxar todos os membros da categoria por ele representada mesmo que não fossem sócios e o instituído através de convenções coletivas, regras gerais sobre contrato de trabalho, obrigatórias mesmo para os que pertencendo à categoria, não sejam, entretanto, seus associados. 17 MARTINS, Sergio Pinto. Contribuições sindicais. São Paulo: Atlas, 4º Ed., 2004, pág. 22; 18 CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL DE 1937. Planalto, Brasília, DF. Disponível em: <http: //www.planalto.gov.br.>. Acesso em: 03 de março de 2008. 19 VIANA, Oliveira. Problema de direito sindical. Rio de Janeiro: Max Limonad, s.d., 1943, pág. 16.

24 Com a edição do Decreto-lei n. 1.402, de 05 de jun ho de 1939, em seu artigo 3, alínea f, ficou regulado a possibilidade de o sindicato impor contribuições a todos aqueles que participam das profissões ou categorias representadas. Ainda no artigo 35 da citada norma, determinava que os empregadores ficariam obrigados a descontar na folha de pagamento dos seus empregados as contribuições por estes devidas ao sindicato. Contudo, foi somente com a edição do Decreto-lei n. 2.377, de 08 de julho de 1940, é que sindicato passou a ter uma exigência pecuniária, devidas aos sindicatos pelos que participem das categorias econômicas ou profissionais representadas pelas referidas entidades, sendo esta exigência pecuniária denominada de imposto sindical Art. 2º O imposto sindical é devido, por todos aqueles que participarem de uma determinada categoria econômica ou profissional, em favor da associação profissional legalmente reconhecida como sindicato representativo da mesma categoria. 20 O artigo 3 da citada norma dispunha ainda que o im posto deveria incidir sobre a importância correspondente à remuneração de um dia de trabalho, para os empregados, qualquer que seja a forma da referida remuneração e para os empregadores, numa importância fixa, proporcional ao capital registrado da respectiva firma ou empresa. Já o Decreto-Lei n. 4.298/42, regulou o recolhimen to e aplicação do imposto sindical, quais sejam: assistência médica, judiciária e fiscalização, instituindo a Comissão do Imposto Sindical (art. 10 ) e o Fundo S ocial Sindical (arts. 5 e 6 ), passando o Estado a participar da aplicação da contribuição sindical. Em 1943, após aprovação da Consolidação das Leis do Trabalho, reuniramse as disposições dos Decretos-lei n 1.402/39, 2.3 77/40 e 4.298/42, quanto à exigência de contribuições pelo sindicato. 20 DECRETO-LEI N.º 2.377 de 08 de junho de 1940. Dispõe sobre o pagamento e a arrecadação das contribuições devidas aos sindicatos pelos que participem das categorias econômicas ou profissionais representadas pelas referidas entidades, Senado Federal, Brasília, DF. Disponível em: <http://www.senado.gov.br>. Acesso em: 12 de março de 2008.