AÇÃO ORDINÁRIA (PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO) Nº 5042686-36.2011.404.7000/PR



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Transcrição:

AÇÃO ORDINÁRIA (PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO) Nº 5042686-36.2011.404.7000/PR AUTOR : RONALDO GOUVEIA ADVOGADO : Eduardo Chamecki RÉU : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS SENTENÇA O autor relata que apresentou pedidos de aposentadoria em 31-05-11, o qual foi indeferido. Alega que exerceu atividade especial de 15-10-80 a 30-05-86, de 02-06-86 a 30-04-91 e 29-04-95 a 18-04-11. Com o enquadramento desses períodos como especiais, o autor preenche condições para se aposentar. Requer a condenação do INSS a conceder aposentadoria especial com o pagamento das prestações desde a DER. De forma sucessiva, aposentadoria por tempo de contribuição. Há recolhimento de custas (Evento 3). Defere-se o benefício de justiça gratuita (Evento 4). Em sua resposta (Evento 11), o INSS alega que não foi demonstrada exposição a agentes nocivos. Não cabe enquadramento por categoria profissional. A parte autora impugna a contestação (Evento 14). Há depósito dos honorários (Eventos 73 e 95). É realizada perícia (Evento 112). A parte autora apresenta laudo complementar (Evento 121). Indefere-se quesito complementar do INSS (Evento 125). É o relatório. Decido. Da atividade sujeita a condições especiais. A Constituição Federal de 1988, no seu art. 201, 1º, ressalva a adoção de critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria ao trabalhador sujeito, em seu labor, a condições especiais que lhe prejudiquem a saúde ou a integridade física. Quanto ao reconhecimento da atividade exercida como especial, entendo que o tempo de serviço é disciplinado pela lei em vigor à época em que efetivamente exercido, passando a integrar, como direito adquirido, o patrimônio jurídico do trabalhador. Desse modo, uma vez prestado o serviço sob a égide de legislação, o segurado adquire o direito à contagem como tal, bem como à comprovação das condições de trabalho na forma então exigida, não se aplicando retroativamente uma lei nova que venha a estabelecer restrições à admissão do tempo de serviço especial. Tal posição é defendida pela Terceira Seção do Egrégio Superior Tribunal de Justiça (AGRESP nº 493.458/RS, Relator Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, DJU de 23-06-03, p.

2 429, e RESP nº 491.338/RS, Relator Ministro Hamilton Carvalhido, Sexta Turma, DJU de 23-06-03, p. 457), a qual passou a ter previsão legislativa expressa com a edição do Decreto nº 4.827/03, que introduziu o 1º ao art. 70 do Decreto nº 3.048/99. Este Juízo admite a conversão de tempo especial após 28-05-98, conforme julgamento no RESP nº 956.110/SP, Relator Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Quinta Turma, DJU de 22-10-07, p. 367. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região reconhece a especialidade acima de 80 db (A) até 05-03-97 e acima de 85 db(a) a partir de 06-03-97 (TRF4, APELREEX 2002.70.00.062146-7, Sexta Turma, Relator Celso Kipper, D.E. 08/06/2010; TRF4, APELREEX 2003.71.00.073397-5, Quinta Turma, Relator Rômulo Pizzolatti, D.E. 18/02/2010). Este Juízo reconsidera entendimento adotado anteriormente em relação à descaracterização da especialidade em face da entrega de EPI, apenas em relação a ruído, passando a adotar o entendimento do TRF 4ª Região (TRF 4ª Região AC 200572050050015, Relator(a) JOÃO BATISTA PINTO SILVEIRA, SEXTA TURMA, D.E. 02/05/2008). Dos períodos controversos A controvérsia permanece em relação aos seguintes períodos: a) de 15-10-86 a 30-05-86 na Tecpar; b) de 02-06-86 a 30-04-91 e de 29-04-95 a 18-04-11 na Petrobrás. Na Tecpar, o autor trabalhou como auxiliar técnico no setor química orgânica. Realizava análise fisico-químicas de defensivos agrícolas (agrotóxico), conforme PPP (Evento 9, PROCADM1, fls. 04-05). A análise química implicava utilização de álcool isopropílico, sódio metálico, nitrato de prata para determinação/dosamento de cloro e de cobre. Tal atividade permite enquadramento na atividade técnico em laboratórios químicos no código 2.1.2 do Anexo II do Decreto 83.080/79. Admito a especialidade do período de 15-10-86 a 30-05-86. Na Petrobras, o autor trabalhou como analista estagiário/analista/técnico químico, conforme PPP (Evento 9, PROCADM1, fls. 06-09). O formulário informa que, independente da nomenclatura do cargo, o autor exerceu atividade profissional de técnico químico. No laudo judicial (Evento 112), consta que o autor realiza análises químicas, ao todo mais de 200 tipos de análise, com diversos tipos de hidrocarbonetos e que sempre desempenhou essa atividade durante o período de trabalho na empresa. Cita os seguintes agentes químicos a que o autor estava exposto: gasolina, óleo diesel, GLP, solventes, asfalto, gás sulfídrico, sílica gel, ácido sulfúrico, tolueno, cetonas, acetona, hexano, metanol, xileno, bromo, anilina, diversos tipos de álcool, hidrocarbonetos em geral. Na página 5 do laudo, cita o benzeno. O perito informa que o laboratório onde o autor trabalhou durante praticamente todo o contrato foi substituído por um novo, mais seguro e salubre havia aproximadamente um ano. Relata que as capelas, locais onde são preparados e realizados os ensaios químicos, que eram antigas não tinham janela superior para manusear os instrumentos de trabalho e sem controle de vazão de velocidade dos vapores.

3 Informa que a atividade do autor se enquadra na NR 15, Anexo 13, do MTE, pois o autor realizava ensaios com diversos produtos cancerogênicos como o benzeno entre tantos outros relacionados à destilação de petróleo no laboratório. O ruído era abaixo de 80 db(a). Não foram apresentados os números de certificado de aprovação de EPI. O perito não pode concluir que o EPI fornece proteção adequada e efetiva contra o agente. Pela análise do laudo pericial e do PPP, constata-se que o autor, independente da nomenclatura do cargo, trabalhou como técnico em laboratório químico, o que permite o enquadramento como especial no código 2.1.2 do Anexo II do Decreto 83.080/79 de 02-06-86 a 30-04-91. A partir de 29-04-95, necessário demonstrar exposição a agentes nocivos. Rejeito a especialidade pelo ruído, pois o nível era abaixo do limite de tolerância. Em relação aos agentes químicos, para o período anterior à Medida Provisória (até 02-12-98) que foi convertida na Lei 9.732/98, aplicam-se os Decretos 53.831/64, 83.080/79 e 2.172/97, cumprindo destacar a observação contida no código 1.0.0 do Anexo IV do Decreto 2.172/97 (agentes químicos): o que determina o benefício é a presença do agente no processo produtivo e no meio ambiente de trabalho. Não havia exigência de que a exposição fosse acima de determinado limite de tolerância. A partir de 03-12-98, com alteração do art. 58, 1º, da Lei 8.213/91 pela Lei 9.732/98 (conversão de Medida Provisória publicada em 03-12-98), passou o laudo técnico a observar a legislação trabalhista. Cumpre salientar que a mesma medida provisória alterou a redação do art. 58, 2º, da Lei 8.213/91, que passou a exigir que o laudo técnico informasse a existência de equipamento de proteção individual que diminuísse a intensidade do agente agressivo a limites de tolerância. O art. 191, I e II, da CLT dispõe que a eliminação ou neutralização da insalubridade se dará por meio de EPI's. É possível a aplicação da Norma Regulamentadora nº 15, aprovada pela Portaria nº 3.214, de 08/06/78, do Ministério do Trabalho, para também disciplinar as questões relativas à aposentadoria especial. Isto se revela pelo reconhecimento expresso contido no 1º, do art. 68, do Decreto 3.048/99, segundo a qual as dúvidas sobre o enquadramento dos agentes de que trata o 'caput' (agentes nocivos químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde ou à integridade física), para efeito do disposto nesta Subseção, serão resolvidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego e pelo Ministério da Previdência e Assistência Social. Apesar de a aposentadoria especial ser regulada pela legislação previdenciária, aí se incluindo os decretos que ao longo dos anos estabeleceram as atividades, agentes nocivos e seus níveis de concentração que dão direito à concessão deste benefício, as normas regulamentadoras editadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego têm por função auxiliar na caracterização das condições de trabalho como especial, estabelecendo, por exemplo, os meios de medição dos agentes ou então os valores mínimos que devem ser considerados para que o ambiente laboral seja enquadrado como nocivo à saúde do trabalhador.

Quanto aos agentes químicos, eles estão previstos nos anexos nº 11 e 13 da NR-15. O item 15.1 dispõe que: 15.1. São consideradas atividades ou operações insalubres as que se desenvolvem: 15.1.1. Acima dos limites de tolerância previstos nos Anexos nº 1, 2, 3, 5, 11 e 12; 15.1.2. 'Revogado' 15.1.3. Nas atividades mencionadas nos anexos nº 6, 13 e 14; 15.1.4. Comprovadas através de laudo de inspeção do local de trabalho, constantes dos Anexos nº 7, 8, 9 e 10. 15.1.5. Entende-se por 'Limite de Tolerância', para os fins desta Norma, a concentração ou intensidade máxima ou mínima, relacionada com a natureza e o tempo de exposição ao agente, que não causará dano à saúde do trabalhador, durante sua vida laboral. O próprio INSS admite, no art. 236, 1º, da IN 45 INSS/PRES, de 06/08/10, que a análise da nocividade considerada para a caracterização da atividade especial deve levar em conta se o agente é: I - apenas qualitativo, sendo a nocividade presumida e independente de mensuração, constatada pela simples presença do agente no ambiente de trabalho, conforme constante nos Anexos 6, 13, 13-A e 14 da Norma Regulamentadora nº 15 - NR-15 do TEM, e no Anexo IV do RPS, para os agentes iodo e níquel; ou II - quantitativo, sendo a nocividade considerada pela ultrapassagem dos limites de tolerância ou doses, dispostos nos Anexos 1, 2, 3, 5, 8, 11 e 12 da NR-15 do MTE, por meio da mensuração da intensidade ou da concentração, consideradas no tempo efetivo da exposição no ambiente de trabalho. Demonstrada a presença dos agentes químicos (gasolina, óleo diesel, GLP, solventes, asfalto, gás sulfídrico, sílica gel, ácido sulfúrico, tolueno, cetonas, acetona, hexano, metanol, xileno, bromo, anilina, diversos tipos de álcool, hidrocarbonetos em geral e benzeno) estavam presentes no ambiente de trabalho do autor, também cabe o reconhecimento como especial por esses agentes do período de 29-04-95 a 02-12-98 (códigos 1.2.10 do Anexo I do Decreto 83.080/79 bem como 1.0.3 e 1.0.17 do Anexo IV do Decreto 2.172/97). Em relação ao período a partir de 03-12-98, os agentes químicos supracitados, de acordo com NR 15, Anexo 13, do MTE e art. 236, 1º, da IN 45/10, acarretam insalubridade no ambiente de trabalho por uma análise qualitativa. Logo, também cabe o reconhecimento como especial do período de 03-12-98 a 18-04-11 pelo enquadramento nos códigos 1.0.3 e 1.0.17 do Anexo IV do Decreto 3.048/99). Da aposentadoria Somando-se o período especial reconhecidos nas vias administrativa e judicial, o autor contava mais de 25 anos de tempo especial, implementando condições para a concessão de aposentadoria especial com RMI de 100% do salário-de-benefício, sem aplicação do fator previdenciário. Obs. Data Inicial Data Final Mult. Anos Meses Dias T. Especial 15/10/1980 30/05/1986 1,0 5 7 16 T. Especial 02/06/1986 18/04/2011 1,0 24 10 17 Subtotal 30 6 3

Por se tratar de direito adquirido em 18-04-11, merece que a data de início da sua aposentadoria, para fins de elaboração do cálculo da renda mensal inicial, seja fixada em 18-04-11, enquanto que para fins de recebimento das prestações devidas, deve ser fixada em 31-05-11, data de entrada de requerimento administrativo. Assim, os salários-de-contribuição integrantes do PBC devem ser atualizados, mês a mês, pelos respectivos índices de atualização até a data de início do benefício (18-04-11). A partir daí, a renda mensal do benefício deverá observar os índices de reajustamento eleitos pela legislação previdenciária para manutenção dos benefícios em geral. Passo à análise do pedido sucessivo. Em virtude de ter preenchido os requisitos para esse benefício após a entrada em vigor da Lei 9.732/98, que inseriu o 8º do art. 57 da Lei 8.213/91 (Aplica-se o disposto no art. 46 ao segurado aposentado nos termos deste artigo que continuar no exercício de atividade ou operação que o sujeite aos agentes nocivos constantes da relação referida no art. 58 desta Lei), quando da implantação da aposentadoria especial, o demandante deverá se afastar de atividade que a exponha a agentes nocivos, sob pena de cancelamento do benefício. Cumpre salientar que o art. 57, 8º, da Lei 8.213/91, de acordo com o art. 15 da EC 20/98, visa a regulamentar o art. 201, 1º, da CF/88, enquanto lei complementar não é editada. Trata-se de determinação contida na legislação previdenciária e não trabalhista. A referida norma se destina à autora na condição de segurado do RGPS. A restrição imposta da Lei 8.213/91 não ofende o princípio de liberdade de trabalho, pois a aposentadoria especial reduz o tempo de contribuição do segurado a fim de proteger a sua saúde em face dos agentes nocivos a que esteve exposto. O segurado não está impedido de exercer atividade qualquer laboral após a concessão da aposentadoria especial, mas, sim, apenas aquelas em que a exponha a agentes nocivos, visto que, do contrário, não haveria razão de existir esse benefício específico destinado à proteção da saúde do segurado se este continuasse a trabalhar exposto a agentes nocivos. As prestações serão devidas desde a DER (31-05-11), pois não houve transcurso de mais de 5 anos entre o requerimento e o ajuizamento. Vale ressaltar que o autor recebe/recebeu auxílio-doença (NB's 31/552.100.219-3 e 31/600.934.765-7), conforme INFBEN's anexos. Logo, deverão ser abatidas das prestações devidas os valores recebidos nos NB's 31/552.100.219-3 e 31/600.934.765-7. Pelo exposto, acolho o pedido, na forma do art. 269, I, do CPC, para: a) reconhecer o labor especial de 15-10-80 a 30-05-86, de 02-06-86 a 30-04-91 e 29-04-95 a 18-04-11 - com fator de conversão 1,4; b) condenar o INSS na obrigação de implantar aposentadoria especial com RMI de 100% do salário-de-benefício, sem aplicação do fator previdenciário, observado o art. 57, 8º, da Lei 8.213/91. Pagará o INSS as prestações em atraso desde a DER (31-05-11) - abatidas as parcelas recebidas nos NB's 31/552.100.219-3 e 31/600.934.765-7 -, as quais deverão ser corrigidas monetariamente e acrescidas de juros de mora pelos rendimentos aplicáveis à caderneta de poupança, nos termos da atual redação do art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, incidindo até a data de

elaboração da conta final (STF, RE nº 449.198, RE nº 496.716 etc). O INSS pagará, também, honorários advocatícios de 10% do valor das prestações/diferenças (estas nos períodos em gozo de auxílio-doença NB's 31/552.100.219-3 e 31/600.934.765-7) devidas até a data da sentença, exposta a reexame necessário. Sucumbente em relação ao objeto da perícia, deverá o INSS restituir ao demandante os honorários periciais. Deverá também o INSS restituir ao demandante o valor das custas. Na hipótese de interposição de recursos voluntários e, uma vez verificado o atendimento de seus pressupostos legais, tenham-se desde já por recebidos em seus efeitos legais e intime-se a parte contrária para apresentação de contra-razões, no devido prazo. Após a juntada das referidas peças ou decorrido o prazo sem a sua apresentação, remetam-se os autos ao TRF da 4ª Região. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Curitiba, 25 de março de 2013. Patrícia Helena Daher Lopes Juíza Federal Substituta Documento eletrônico assinado por Patrícia Helena Daher Lopes, Juíza Federal Substituta, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico http://www.jfpr.jus.br/gedpro/verifica/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador 7095156v4 e, se solicitado, do código CRC 6B6184C7. Informações adicionais da assinatura: Signatário (a): Patrícia Helena Daher Lopes Data e Hora: 30/03/2013 21:09