PROJECÇÕES CÓNICAS OU CILÍNDRICAS



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Figura 28. As proporções do corpo humano. Desenho à pena (34,3 x 24,5 cm) 1492. Academia de Veneza. Da autoria de Leonardo da Vinci, baseado nos estudos de Marcus Vitruvius Pollio. Leonardo da Vinci estabelece as proporções harmónicas do corpo humano ideal, [a altura do homem a dividir pela distância desde o chão até ao umbigo seria igual ao número de ouro. PROJECÇÕES Dando continuidade ao relato histórico que tenho vindo a fazer, abordar o problema específico das projecções, é abordar um dos aspectos mais relevantes estudados por Albrecht Dürer (1471 - I528). Como acabei de relatar, foi o gravador alemão Albrecht Dürer, que no seu tratado "Perspectiva e Proporção", começou por identificar as distorções existentes na perspectiva. No século XVI, outro estudioso das projecções, de nome François Frézier (1682 1773), foi quem seguiu os passos de Albrecht Dürer, ao demonstrar preocupação por esta temática. No entanto, seria Gaspard Monge (1746 1818), quem sistematizaria com rigor, a geometria descritiva, através do seu tratado Géométrie Descriptive. Leçons donnés aux Écoles Normales, l'an 3 de Ia Republique (1794 1795), Paris, l an VII (1789 1799) ". No fundo, sobrepôs-se a solução prática para a resolução dos problemas, produzindo a necessidade de representar num plano, figuras do espaço. Considerado que está por todos, hoje em dia, como banal, um projecto de arquitectura, de uma peça, ou de uma viatura, o mesmo não aconteceu até ao século XVIII. A linguagem da leitura de um projecto, fácil de entender nos nossos dias, não existiu até ao período anterior ao século XVIII. Imagine-se portanto, a dificuldade que os arquitectos da antiguidade tiveram em fazer entender e calcular os seus arrojados planos arquitectónicos. Existem dois sistemas de projecções, considerados também no capítulo seguinte: A Central ou Cónica e a Paralela ou Cilíndrica. Se a primeira é baseada na projecção de figuras situadas no

espaço, desde um ponto, na segunda, é um número infinito de pontos projectados paralelamente. Qualquer uma delas projecta-se sobre o designado Plano do Quadro". A Geometria Descritiva tem como missão estudar a relação entre o espaço e o plano do quadro, relacionando, as três dimensões do espaço com as duas dimensões do quadro. Os elementos gráficos identificados são geométricos: Pontos; Linhas rectas; Linhas curvas, etc. PROJECÇÕES CÓNICAS OU CILÍNDRICAS Figura 29. Figura 30. Projecção central ou cónica de uma figura triangular Deficiência da projecção central ou cónica A projecção de uma figura qualquer resulta ser a figura formada pelas projecções dos diferentes pontos da figura dada. Na figura 29, o triângulo [A,B,C] está projectado sobre o plano [α]. Se partirem de [V] raios visuais que passem pelos vértices do triângulo descrito, obtêm-se os pontos [A ], [B ] e [C ] que definem o novo triângulo, que resulta ser a projecção do primeiro. Observe agora a figura 30. Definindo o ponto [V], como ponto de vista, o plano [α], identifica-se como quadro ou plano de projecção. Conforme é observável, a projecção resulta ser de dimensão diferente. Também se observa que a projecção do triângulo [A,B,C], poderia ser representada nas três formas acima descritas, bem diferentes da figura inicial. Este tipo de projecção é comum ao mundo artístico, mais propriamente à linguagem da perspectiva linear, onde o centro de projecção é designado ponto de vista. Impraticável, portanto, no mundo real onde as referências formais (planta, alçados e cortes) têm de ter um rigor extremo. Figura 31. Figura 32. Projecção paralela ou cilíndrica de uma figura triangular Deficiência da projecção paralela ou cilíndrica Considerando agora, que o centro de projecção [V] se encontra no infinito, os raios visuais passam a ser paralelos. O triângulo [A,B,C], da figura 31, está sujeito às condições descritas. A

sua projecção [A,B,C ], respeita formalmente o primeiro triângulo [A,B,C], em dimensões e posição. As dimensões da projecção são sempre iguais às do triângulo, pelo que estamos perante uma projecção paralela ou cilíndrica. Novamente, também este tipo de projecção, pode permitir deficiências na forma. A figura 32 demonstra que o triângulo [A,B,C] pode ser representado nas três formas que observamos, ou em outras. Concluímos que, ao pretender-se estabelecer uma linguagem de rigor, tanto a projecção central ou cónica como a paralela ou cilíndrica são insuficientes. REPRESENTAÇÃO DAS PROJECÇÕES ORTOGONAIS Figura 33. Projecção ortogonal de uma forma tridimensional sobre três planos.

Figura 34. Projecção ortogonal de uma forma, através da sua planificação e identificada com o alçado, a planta e o perfil. Perante a ineficácia da projecção de uma forma, seja bidimensional ou tridimensional, observada relativamente às projecções central ou cónica e paralela ou cilíndrica, houve que recorrer a novo processo. Trata-se das designadas projecções ortogonais, que embora sendo projecções paralelas ou cilíndricas, identificam a forma a partir de mais que uma vista e sobre vários planos. A representação das projecções ortogonais, também designada de desenho industrial, surgiu da necessidade de representar os objectos tridimensionalmente numa superfície plana. Desde já, chamo a especial atenção para este capítulo, já que é fundamental para a determinação da perspectiva. Tendo em conta o processo utilizado para a projecção paralela ou cilíndrica, observe-se as projecções ortogonais da forma, na figura 33, sobre três planos que são perpendiculares entre si. A cada uma das projecções vamos designar de vistas. Até aqui, trabalhou-se com apenas um plano vertical [PV]. Para identificarmos a forma necessitamos de recorrer a um outro plano vertical, mas agora em perfil [PP], e outro horizontal [PH]. À projecção da forma da figura 33, sobre o plano vertical [PV], designamos de ALÇADO. a projecção da forma sobre o plano lateral [PP] designa-se de PERFIL. Á projecção da forma sobre o plano horizontal [PH] designa-se de PLANTA. A figura 34 identifica as três projecções ortogonais da forma: Projecção vertical ou ALÇADO (vista principal da peça, devendo ser a que dá melhor ideia da forma); Projecção horizontal ou PLANTA; Projecção de perfil ou PERFIL.

Figura 35. Vistas necessárias para a identificação de uma forma, pelo método das projecções ortogonais. Muitas vezes, a forma a representar, por ser muito complicada, necessita de ser observada em mais vistas, referenciada por símbolos, secções e legendas explicativas (figura 35). O executante do plano da forma, deve detalhá-la o mais possível, elegendo para alçado, a vista com maior número de detalhes e que melhor ideia dê da forma. Designação das vistas: (1) - Vista de frente ou alçado; (2) - Vista de cima ou planta superior; (3) - Vista da esquerda ou perfil esquerdo; (4) - Vista da direita ou perfil direito; (5) - Vista de baixo ou planta inferior; (6) - Vista de trás ou alçado posterior. Para esta representação, a colocação das vistas está regida por convenções internacionais, designadas de sistemas, existindo dois: O sistema que considera a peça no primeiro diedro é designado de "Sistema Europeu"; O sistema que considera a peça no terceiro diedro é designado de "Sistema Americano." (figura 36). Figura 36. Representação de uma forma nos métodos europeu e americano. L M L C Luís Canotilho (Professor Coordenador)