Ref.: insalubridade no exercício da atividade como médico nefrologista. Prezados Senhores,

Documentos relacionados
Insalubridade Os Riscos Biológicos em Estabelecimentos de Serviços de Saúde. Histórico e Legislação

INFORMATIVO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE

SEG72 - SEGURANÇA DO TRABALHO. Professor: Gleison Renan Inácio Tecnólogo Mecatônica

RUBENS CENCI MOTTA - médico, especialista pela Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina em Medicina

O que é Adicional de Insalubridade. Quem tem direito. Como Calcular Adicional de Insalubridade

DIREITO DO TRABALHO. Insalubridade e periculosidade. Prof. Hermes Cramacon

INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE. Aspectos Técnicos e Práticos

Prefeitura Municipal de Vitória Estado do Espírito Santo LEI Nº 6.814

Serviço Especializado em Segurança do Trabalho SEST DASA/PROACE/UFVJM. Contato: (38) Ramal

Insalubridade Periculosidade


Rosylane Rocha Especialista em Medicina do Trabalho ANAMT/AMB Especialista em Medicina Legal e Perícias Médicas ABMLPM/AMB

Assessoria jurídica orienta sobre direito à aposentadoria especial MI 904

INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE

Periculosidade e Insalubridade Aposentadoria Especial

Tempos computáveis pelo INSS para fins de concessão da aposentadoria Especial

P REQUERIMENTO DE ADICIONAL DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE Nº DO PROCESSO:

Insalubridade. NR 15 Insalubridade 25/07/2016. Enfermagem do Trabalho. Curso Completo de Enfermagem para Concursos Públicos. Profa.

Médico de Saúde Ocupacional

INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE

1. Tempo de Serviço em atividade prejudicial a saúde ou a integridade física 2. Carência 3. Manutenção da qualidade de segurado

APOSENTADORIA ESPECIAL

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI COMPLEMENTAR

COMO PROCEDER A CARACTERIZAÇÃO DA INSALUBRIDADE. João Carlos A. Lozovey Médico do trabalho / ANAMT Prof. Adjunto Univ. Federal PR

CURSO SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO. Pericia de Engenharia de Segurança

Insalubridade e Periculosidade

Sabemos que existem 3 regimes: a) RGPS Social. Regime Geral de Previdência. b) Regimes Próprios. c) Regime de Previdência Complementar.

MANUAL DE PESSOAL MÓDULO 20: ADICIONAL DE PERICULOSIDADE E INSALUBRIDADE

ETEC SÃO MATEUS

LAUDO TÉCNICO DE PERICULOSIDADE.

ROTEIRO PARA PEDIR ADMINISTRATIVAMENTE OS ADICIONAIS (PARA FILIADOS)

INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 1, DE 22 DE JULHO DE 2010 (Publicada no D.O.U. de 27/07/2010)

Magnífico(a) Reitor(a),

Manifesto 03. Atividades insalubres e perigosas DAS ATIVIDADES INSALUBRES OU PERIGOSAS

SALÁRIOS E ADICIONAIS

Avaliação de Atividades e Operações Insalubres e Perigosas nos locais de trabalho. Nome do Servidor: Data de Nascimento: Sexo: Matrícula Siape:

Atualizações no preenchimento do PPP, conforme IN 77 de , Memo-Circular n 02 de e IN 85 de Ciesp Jundiaí 12/05/16

O conforto térmico e as repercussões na saúde dos trabalhadores

SOLICITAÇÃO DE ADICIONAIS - INSALUBRIDADE/PERICULOSIDADE/IRRADIAÇÃO IONIZANTE e GRATIFICAÇÃO DE RAIO-X ou SUBSTÂNCIAS RADIOATIVAS

CONSTITUIÇÃO PEC Nº 287

APOSENTADORIA ESPECIAL INSALUBRIDADE PERICULOSIDADE

ADICIONAL DE INSALUBRIDADE, PERICULOSIDADE OU RADIAÇÃO IONIZANTE ON 4/2017 SEGRT/MP, Portaria MTE nº 3.214/78 e Normas Regulamentadoras NR 15 e16

APOSENTADORIA ESPECIAL DOS GUARDAS MUNICIPAIS

Como fica a Aposentadoria Especial e a Conversão do Tempo Especial com a Reforma da Previdência?

PREFEITURA MUNICIPAL DE UTINGA C.N.P.J / Rua 15 de Novembro, 08 Centro, CEP Utinga - BA

Aposentadoria especial nos RPPS

FORMULÁRIO PARA REQUISIÇÃO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE OU PERICULOSIDADE

Aposentadoria Especial

Previdência social LEGISLAÇÃO SOCIAL E TRABALHISTA. Os beneficiários

Dir. Previdenciário Marcos. Alterações: Salário Maternidade

A aposentadoria especial por sua vez poderá ser concedida aos 15, 20 ou 25 anos dependendo da penosidade da atividade de cada trabalhador

MANUAL DO SERVIDOR ADICIONAL DE INSALUBRIDADE OU DE PERICULOSIDADE

PARECER TÉCNICO PERICIAL IMPUGNAÇÃO DE LAUDO PERICIAL

Sendo assim, saiba quais são os tipos de aposentadoria e quais as condições que o trabalhador deve observar para cada um deles:

XIII Congresso Nacional de Previdência Social Caracterização de Atividades Periculosas na esfera Administrativa e Judicial Prof. Paulo Vitor Nazário

Ministério da Previdência Social Conselho de Recursos da Previdência Social 2ª Composição Adjunta da 13ª Junta de Recursos

Insalubridade e Periculosidade

Ministério da Previdência Social Conselho de Recursos da Previdência Social 2ª Composição Adjunta da 27ª Junta de Recursos

MUDANÇAS NAS REGRAS DO SEGURO-DESEMPREGO, ABONO SALARIAL ANUAL, AUXILIO-DOENÇA E PENSÃO POR MORTE

INFORMAÇÕES GERAIS. 2. Todos os campos do item 1 - Dados do servidor - devem ser preenchidos.

SOLICITAÇÃO DE CONCESSÃO / CESSAÇÃO DE ADICIONAL DE INSALUBRIDADE / PERICULOSIDADE

REVOGADA PELA PORTARIA Nº 7.796, DE (D.O.U ) PORTARIA Nº 4.882, DE 16 DE DEZEMBRO DE 1998 (D.O.U

INSALUBRIDADE Igor Vasconcelos Engenheiro de Segurança do Trabalho

SÚMULAS DO TST EM SEGURANÇA DO TRABALHO

O que é Adicional de Periculosidade

ADICIONAL POR PERICULOSIDADE

Superior Tribunal de Justiça

JORNADA: HORAS ( ) CLT ( ) ESTATUTÁRIO Deverão ser preenchidos somente os campos em que o servidor apresentar exposição.

Atividades e operações insalubre e periculosas (NR 15 e 16)

UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA PRÓ-REITORIA DE GESTÃO DE PESSOAS INSTRUÇÃO NORMATIVA PROGEPE Nº 003, DE 07 DE JUNHO DE 2017

LEI N.º 2.146, DE 31 DE JANEIRO DE O povo do Município de Ubá, por seus representantes, decretou, e eu, em seu nome, sanciono a seguinte Lei:

PERÍCIAS DE INSALUBRIDADE, PERICULOSIDADE E APOSENTADORIA ESPECIAL. Novas Diretrizes para Aposentadoria Especial

Seguridade do Servidor Federal Lei 8112/1990

CARTILHA APOSENTADORIA ESPECIAL PARA MÉDICOS VETERINÁRIOS E ZOOTECNISTAS

Esclareça todas as suas dúvidas!

LAUDO 005/2017 GERÊNCIA DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO - SMS

CASTELINHOS REFEIÇÕES LTDA UNIDADE: HOSPITAL GETÚLIO VARGAS

INSALUBRIDADE & PERICULOSIDADE

Ministério da Previdência Social Conselho de Recursos da Previdência Social 2ª Composição Adjunta da 13ª Junta de Recursos

MANUAL SOBRE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE NO SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL:

Fundamentação Legal: Lei nº 8.212, de e alterações posteriores; Lei nº 8.213, de e alterações posteriores.

ADICIONAL DE INSALUBRIDADE OU DE PERICULOSIDADE

Lei nº 8.212, de e alterações posteriores; e Lei nº 8.213, de e alterações posteriores.

Assunto: Cirurgião-Dentista/ Adicional de Insalubridade/ Adicional de Periculosidade. PARECER

ANEXO I DESPACHO E ANÁLISE ADMINISTRATIVA DA ATIVIDADE ESPECIAL

Ministério da Previdência Social Conselho de Recursos da Previdência Social 2ª Composição Adjunta da 13ª Junta de Recursos

POSTED BY DIEGO CASTRO ON 27/10/2015 IN NOTICIAS VIEWS 21 RESPONSES

SECRETARIA DE ESTADO DA ADMINISTRAÇÃO E DO PATRIMÔNIO INSTRUÇÃO NORMATIVA SEAP Nº 05, DE 28 DE ABRIL DE 1999.

Disciplina de Saúde do Trabalho

Manual da aposentadoria especial dos deficientes e fatores multiplicadores

ABRO ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RADIOLOGIA ODONTOLÓGICA. 1 O contrato de experiência deve ser anotado na CTPS do funcionário?

RELATOR: Francisco Humberto Simões Magro, Atuário MIBA n 494

OS DESAFIOS PARA A ELABORAÇÃO DO PPP E DO CONSTRUÇÃO

Data: / / Assinatura e carimbo do Diretor do Campus

UNIDADE DE RECURSOS HUMANOS

O CONGRESSO NACIONAL decreta:

RELATÓRIO VOTO. É o relatório.

Matéria elaborada com base na legislação vigente em: 06/08/2010.

Transcrição:

São Paulo, 13 de dezembro de 2010. À DIRETORIA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA SBN Rua Machado Bittencourt, 205, conj. 53 VI Vila Clementino São Paulo/ SP Brasil CEP 04044-000 Ref.: insalubridade no exercício da atividade como médico nefrologista. Prezados Senhores, Atendendo à solicitação de Vossas Senhorias, servimo-nos da presente para expor nossas considerações acerca dos critérios e procedimentos para a caracterização da insalubridade no exercício da atividade de médico nefrologista, bem como sobre os direitos que assistem ao profissional que eventualmente se enquadrar nessa situação, consoante termos que seguem: Dentre o universo de direitos trabalhistas previstos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), temos o adicional de insalubridade, preconizado na Seção XIII Das Atividades Insalubres ou Perigosas, do Capítulo V, do Título II, que, adotando medidas protecionistas, destina-se a proporcionar uma compensação ao trabalho realizado em condições de agressão à saúde e ao bem estar do trabalhador. Assim é que, na legislação em vigor, são consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos (art. 189, CLT).

Veja-se, então, que a definição de insalubridade leva em conta o tempo de exposição do trabalhador ao agente nocivo, o tipo de atividade desenvolvida no curso da jornada de trabalho, os limites de tolerância, as taxas de metabolismo e os respectivos tempos de exposição. Ainda nessa seara, cumpre esclarecer que por limite de tolerância entende-se a concentração ou intensidade do agente potencialmente insalubre, máxima ou mínima, que não causa dano à saúde do trabalhador durante a sua vida laboral. Igualmente, no que tange ao tempo de exposição a agentes agressivos considerados insalubres, temos que isso deve ocorrer de forma permanente, não ocasional nem intermitente, sob pena de não ser devido qualquer adicional por insalubridade. No mais, em decorrência do art. 190 da CLT, cumprirá ao Ministério do Trabalho aprovar o quadro das atividades, substâncias e operações consideradas insalubres, adotando normas específicas sobre os critérios de sua caracterização, os limites de tolerância aos agentes agressivos, os meios de proteção e o tempo máximo de exposição do empregado a esses agentes. Disso decorre que, juridicamente, a insalubridade somente será reconhecida quando a atividade ou operação estiver relacionada nas listas elaboradas pelo Ministério do Trabalho, que, no caso, estão previstas na Norma Regulamentadora nº 15, aprovada pela Portaria nº 3.214 de 08.06.78 do Ministério do Trabalho. Em suma, podemos listar as seguintes atividades ou operações que a NR15 considera como sendo insalubres 1 : a) Aquelas que se desenvolvem acima dos Limites de Tolerância previstos nos Anexos 1, 2, 3, 5, 11 e 12 da NR15, os quais disciplinam sobre: ruído contínuo ou itinerante (anexo 1); ruído de impacto (anexo 2); exposição ao calor (anexo 3); radiações ionizantes (anexo 5); agentes químicos cuja 1 Cada atividade ou operação considerada insalubre encontra-se descrita e especificada nos anexos da NR15, razão pela qual enviaremos a V.Sas., também, a íntegra da NR15 e anexos, para possibilitar uma melhor avaliação, caso necessário.

insalubridade é caracterizada, também, por inspeção no local de trabalho (anexo 11) e; poeiras minerais (anexo 12). b) As atividades previstas nos Anexos 6, 13 e 14 da NR15, que consistem em: trabalho sob condições hiperbáricas (anexo 6); agentes químicos (anexo 13) e; agentes biológicos, cuja insalubridade é caracterizada mediante avaliação qualitativa (anexo 14). c) Quando há insalubridade comprovada por meio de laudo de inspeção do local de trabalho, em decorrência do previsto nos Anexos 7, 8, 9 e 10 da NR15, no que se refere a: radiações não-ionizantes (microondas, ultravioletas e laser), sem a proteção adequada (anexo 7); atividades e operações que exponham os trabalhadores, sem a proteção adequada, às vibrações localizadas de corpo inteiro (anexo 8); atividades ou operações executadas no interior de câmaras frigoríficas ou em locais que apresentem condições similares, que exponham os trabalhadores ao frio, sem a proteção adequada (anexo 9); atividades ou operações executadas em locais alagados ou encharcados, com umidade excessiva, capazes de produzir danos à saúde dos trabalhadores (anexo 10). Importante destacar, portanto, que para se caracterizar e classificar a insalubridade, necessária se mostra a previsão dessa atividade ou operação como insalubre na relação oficial elaborada pelo Ministério do Trabalho (NR15 e anexos). No entanto, apenas isso não basta. Há de se proceder, também, à constatação da insalubridade por meio de laudo pericial, realizado por profissional competente e devidamente registrado no Ministério do Trabalho e Emprego (médico ou de engenheiro do trabalho) 2. No caso de comprovada a existência de insalubridade, as Delegacias Regionais do Trabalho (DRT) notificarão as empresas, estipulando prazos para a eliminação ou neutralização da insalubridade, com a adoção de medidas que conservem o ambiente de trabalho dentro dos limites de tolerância e/ou com a utilização de equipamentos de proteção individual ao trabalhador, que diminuam a intensidade do agente agressivo a limites de tolerância. 2 A legislação possibilita, às empresas e aos sindicatos das categorias profissionais interessadas, requer ao Ministério do Trabalho, por meio das Delegacias Regionais do Trabalho (DRTs), a realização de perícia em estabelecimento ou setor específico, com o objetivo de caracterizar e classificar ou delimitar as atividades insalubres. Contudo, essa possibilidade não impede que se processe a ação fiscalizadora do Ministério do Trabalho, tampouco a realização de perícia por iniciativa deste último.

Uma vez expostas essas breves considerações, passamos à análise da insalubridade no exercício da atividade como médico nefrologista, sobretudo no que tange ao contato permanente com agentes biológicos nocivos a que esses profissionais estão sujeitos. Segundo o Anexo 14 da NR15, haverá de se falar em insalubridade de grau máximo quando ela decorrer de trabalho ou operações, em contato permanente com pacientes em isolamento por doenças infecto-contagiosas, bem como objetos de seu uso, não previamente esterilizados. Haverá de se falar, no entanto, em insalubridade de grau médio quando houver trabalhos e operações em contato permanente com pacientes ou com material infecto-contagiante em hospitais, serviços de emergência, enfermarias, ambulatórios, postos de vacinação e outros estabelecimentos destinados aos cuidados da saúde humana (aplica-se unicamente ao pessoal que tenha contato com os pacientes, bem como aos que manuseiam objetos de uso desses pacientes, não previamente esterilizados). Também é aplicável, dentre outros, aos trabalhos e operações em laboratórios de análise clínica e histopatologia (aplica-se tão-só ao pessoal técnico). Nessa seara, aproveitamos o ensejo para colacionar trecho do parecer emitido pela Delegacia Regional do Trabalho e citado no Recurso de Revista nº TST-RR-85200-41.2004.5.20.0005 3, de onde se percebe que a ocorrência de insalubridade em grau médio ocorrerá pelo simples contato [em caráter permanente] com pacientes, senão vejamos: (...) Entendemos também que para percepção do Adicional de insalubridade de grau médio (20%) basta que os trabalhos e operações sejam realizados em contato permanente com pacientes, seja o mesmo portador ou não de doença infecto-contagiosa, uma vez que o texto do Anexo 14 não detalha o tipo de paciente como verificamos quando se 3 Citação extraída do Recurso de Revista nº TST-RR-85200-41.2004.5.20.0005, Rel. Min. Maria de Assis Calsing, Quarta Turma do Tribunal Superior do Trabalho, julgado em 04/08/2010, por votação unânime.

trata de insalubridade de grau máximo (Pacientes em isolamento por doenças infecto-contagiosas). Na caracterização da insalubridade de grau médio, o texto entra em detalhes apenas ao tipo de material (que deve ser infecto-contagiante). Desta forma ficou caracterizado o contato permanente com pacientes, apesar dos mesmos serem portadores de Doença Psiquiátricas (...). Portanto, não obstante possíveis contatos do médico nefrologista em sua atividade laboral com outros agentes nocivos, também discriminados nos demais anexos da NR15, em face da interpretação que conferimos especificamente ao Anexo 14 vislumbramos que, no caso dos médicos nefrologistas que mantêm contato permanente com pacientes (em hospitais, serviços de emergência, enfermarias, ambulatórios, postos de vacinação e outros estabelecimentos destinados aos cuidados da saúde humana) haveria de se falar, s.m.j., pelo menos, na existência de insalubridade de grau médio. Essa insalubridade, uma vez caracterizada por meio de laudo pericial, ensejará, portanto, a percepção do respectivo adicional ao médico celetista que mantiver contato permanente com pacientes, independentemente destes últimos possuírem ou não doenças infecto-contagiosas, por aplicação dos artigos 189 e seguintes da CLT, bem como no Anexo 14, da NR15, aprovada pela Portaria 3.214/78 do Ministério do Trabalho. Quanto aos direitos trabalhistas decorrentes da constatação de trabalho do médico celetista em condições insalubres, se verificado por laudo pericial que, de fato, o exercício do trabalho se realiza em condições acima dos limites de tolerância estabelecidos pelo Ministério do Trabalho, o empregado, além do salário normal, receberá um adicional de 40% (quarenta por cento), 20% (vinte por cento) ou 10% (dez por cento) do salário-mínimo da região, segundo se classifiquem nos graus máximo, médio e mínimo de tolerância. Assim, quanto à fixação dos percentuais, uma vez comprovada a insalubridade por laudo técnico de engenheiro ou médico do trabalho devidamente habilitado, incumbirá à autoridade regional competente em matéria de

segurança e saúde do trabalhador fixar o adicional devido aos empregados expostos à insalubridade, quando impraticável a eliminação ou neutralização dos agentes nocivos, consoante tabela: ANEXO DA NR15 ATIVIDADE OU OPERAÇÃO INSALUBRE A QUE O TRABALHADOR ESTÁ EXPOSTO PERCENTUAL 1 Níveis de ruído contínuo ou intermitente superiores aos limites de tolerância fixados no Quadro constante do Anexo 1 e no item 6 do mesmo Anexo. 20% 2 Níveis de ruído de impacto superiores aos limites de tolerância fixados nos itens 2 e 3 do Anexo 2. 20% 3 Exposição ao calor com valores de IBUTG, superiores aos limites de tolerância fixados nos Quadros 1 e 2 20% 4 (Revogado pela Portaria MTE n.º 3.751, de 23 de novembro de 1990) 5 Níveis de radiações ionizantes com radioatividade superior aos limites de tolerância fixados no Anexo 5. 40% 6 Ar comprimido. 40% 7 Radiações não-ionizantes consideradas insalubres em decorrência de inspeção realizada no local de trabalho. 20% 8 Vibrações consideradas insalubres em decorrência de inspeção realizada no local de trabalho. 20% 9 Frio considerado insalubre em decorrência de inspeção realizada no local de trabalho. 20% 10 Umidade considerada insalubre em decorrência de inspeção realizada no local de trabalho. 20% 11 Agentes químicos cujas concentrações sejam superiores aos limites de tolerância fixados no 10%, 20% e Quadro 1. 40% 12 Poeiras minerais cujas concentrações sejam superiores aos limites de tolerância fixados neste Anexo. 40% 13 Atividades ou operações, envolvendo agentes químicos, consideradas insalubres em 10%, 20% e decorrência de inspeção realizada no local de trabalho. 40% 14 Agentes biológicos descritos no Anexo 14 20% e 40% Isso porque, a eliminação ou neutralização da insalubridade que comprove a inexistência de risco à saúde do trabalhador, somente caracterizável por meio de nova avaliação pericial, faz cessar o pagamento do respectivo adicional. É importante mencionar, ainda, que a caracterização da insalubridade garante ao empregado perceber, durante as férias, a remuneração que lhe for devida na data da sua concessão, sendo, então, computado o adicional de insalubridade no salário que servirá de base de cálculo da remuneração de férias. Contudo, é importante destacarmos algumas regras inerentes ao adicional de insalubridade, tal como o fato de que, se houver incidência de mais de um fator de insalubridade, considerar-se-á, apenas, o de grau mais elevado para efeito de acréscimo salarial, já que é vedada a percepção cumulativa. Ainda, se houver afastamento ou desligamento do empregado no decorrer do mês, o adicional de

insalubridade será calculado proporcionalmente ao número de dias trabalhados. Em acréscimo, no caso de faltas injustificadas o empregado estará sujeito a sofrer o desconto do adicional de insalubridade proporcionalmente aos dias em que tiver faltado, além do desconto do salário. Por fim, não é possível ao empregado receber simultaneamente adicionais de insalubridade e periculosidade, devendo haver o pagamento de somente um dos dois, à escolha do empregado. Por fim, verifica-se, também, que ao médico segurado da Providência Social que trabalhe em condições insalubres, seja ele empregado (celetista), trabalhador avulso ou contribuinte individual (neste caso somente quando cooperado filiado a cooperativa de trabalho ou de produção), também é assegurado o direito de ter reconhecida a atividade exercida em condições especiais e, assim, de ter a concessão de aposentadoria especial, ou contagem diferenciada do tempo de contribuição. A aposentadoria especial é um benefício previsto no artigo 57 da Lei nº 8.213/91, concedido ao segurado que tenha trabalhado em condições prejudiciais a sua saúde ou integridade física, que consiste no recebimento de renda mensal equivalente a cem por cento do salário de benefício. Uma vez cumprida a carência exigida na mencionada Lei 4, a aposentadoria especial já será devida ao segurado que tiver trabalhado nas condições especiais que prejudiquem a sua saúde ou integridade física durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, de acordo com o enquadramento legal. Para tanto, deverá comprovar, além do tempo de trabalho, a efetiva exposição aos agentes nocivos (químicos, físicos, biológicos), de modo habitual e permanente (não ocasional nem intermitente), pelo período exigido para a concessão do benefício. A comprovação de exposição aos agentes nocivos será feita por meio de um formulário denominado Perfil Profissiográfico Previdenciário, preenchido 4 Os inscritos na Previdência Social a partir de 25 de julho de 1991 devem ter realizado, ao menos, 180 contribuições mensais. Já os filiados antes dessa data devem observar a tabela progressiva, acessável por meio do site: http://www.previdenciasocial.gov.br/conteudodinamico.php?id=179.

pela empresa ou preposto, com base no laudo pericial realizado. Já a comprovação das atividades desempenhadas pode se dar mediante diferentes formas, tais como por meio do carnê de recolhimento relativo à inscrição na atividade de médico, pelos comprovantes recolhimentos do ISS, pelos recebimentos de cirurgias efetuados por operadoras etc. Nesse sentido, importante diferenciar, no que tange à comprovação da atividade pelo médico, que aquelas exercidas até 28/04/1995 gozam de presunção de insalubridade, podendo ser enquadrada como especial independentemente de ter sido exercida em estabelecimentos de saúde, sendo, inclusive, dispensável a apresentação de laudo. Contudo, quanto às atividades exercidas no período de 29/04/1995 a 05/03/1997, o médico deverá comprovar, por meio de laudo pericial, que a sua atividade foi exercida com exposição habitual e permanente a agentes nocivos à saúde. Já as atividades exercidas a partir de 06/03/1997 serão tidas como insalubres somente se enquadradas na lista da NR15 (no caso dos médicos, provavelmente no Anexo 14), consoante discorrido anteriormente. Neste caso, também deverá ser comprovada por meio de formulários e laudo pericial. Veja-se, então, que as atividades exercidas após 1995 têm a comprovação do tempo de serviço prestado em exposição a agentes nocivos dificultado, sobretudo ao contribuinte individual, pois passou a ser imprescindível a apresentação de laudo pericial. É por tal razão, inclusive, que o posicionamento comumente adotado pelo INSS, fundamentado na Instrução Normativa nº 78/02, é de que, a partir de 29/04/1995, não é possível o enquadramento do trabalhador autônomo nas questões atinentes à insalubridade, uma vez que não reconhece a existência de uma forma de comprovar a exposição a agentes nocivos prejudiciais a saúde de forma permanente, não ocasional nem intermitente. Outra questão benéfica relacionada à insalubridade é a previsão legal acerca da possibilidade de que se some, ao tempo de trabalho exercido em atividade comum, aquele tempo de trabalho que se tiver exercido sob as condições

especiais 5, após a respectiva conversão, isto é, após a aplicação de um fator multiplicador sobre esse período, segundo critérios estabelecidos pelo Ministério da Previdência e Assistência Social, para efeito de concessão de benefícios. Pois bem. Não obstante todo o exposto, ocorre que as previsões legais até o momento mencionadas direito a se aposentar/contar tempo de forma diferenciada desde 1991 (data da edição da Lei nº 8.213) não se aplicariam aos médicos servidores públicos, haja vista que se submetem a regime próprio, distinto da Lei n º 8.213/91 que regula o Regime Geral da Previdência Social (trabalhadores da iniciativa privada). Entretanto, por precedente firmado em 2008, o Supremo Tribunal Federal reconheceu o direito à aposentadoria especial, também, aos médicos servidores públicos que desenvolvem atividades de risco ou sob condições especiais, que prejudiquem a saúde ou integridade 6, senão vejamos a ementa da decisão: (...) APOSENTADORIA TRABALHO EM CONDIÇÕES ESPECIAIS PREJUÍZO À SAÚDE DO SERVIDOR INEXISTÊNCIA DE LEI COMPLEMENTAR ARTIGO 40, 4º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Inexistente a disciplina específica da aposentadoria especial do servidor, impõe-se a adoção, via pronunciamento judicial, daquela própria aos trabalhadores em geral artigo 57, da Lei nº 8.213/91. (Mandado de Injunção nº 758 / DF, Rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgado em 01/07/2008, DJE 26/09/2008 - Ata nº 30/2008 - DJE nº 182, divulgado em 25/09/2008 destaque nosso) Isso porque, no caso específico dos servidores públicos, os quais devem observar regime próprio, até o momento nada existe de regulamentação a amparar as condições decorrentes da exposição a agentes nocivos considerados insalubres. 5 Condições especiais que sejam ou venham a ser consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física na relação oficial editada pelo Ministério do Trabalho.

Diante disso, o STF, no precedente mencionado, reconheceu a aplicação analógica ao artigo 57, da Lei nº 8.213/91, assegurando também aos médicos servidores públicos filiados à sua entidade de classe, a aplicação da aposentadoria especial em função das atividades prestadas em condições insalubres 7. Portanto, o servidor público ocupante do cargo efetivo de médico que estiver exposto às condições insalubres elencadas na NR15 (sobretudo no Anexo 14) também deve buscar o reconhecimento da contagem especial do tempo de serviço exercido em condições insalubres, bem como, se preenchidos os requisitos, requerer a aposentadoria especial. Assim sendo, expostas as observações e considerações que temos para o momento acerca da questão indagada, colocamo-nos à inteira disposição de Vossas Senhorias para prestar os esclarecimentos que se fizerem necessários. Atenciosamente, MICHELLI DE ALMEIDA ADVOGADOS ASSOCIADOS Avenida Angélica, 2.510, 11º andar - Higienópolis São Paulo/SP - Brasil - CEP 01228-200 +55 11 3159.1147 / 3258.2485 7 A aplicação analógica é para efeitos de contagem especial de tempo de serviço/aposentadoria especial, não devendo haver mescla dos sistemas jurídicos de cada qual, sobretudo no que tange à idade mínima de aposentadoria, por exemplo.