AVALIAÇÃO DE UM MÉTODO COMPUTADORIZADO PARA DIAGNÓSTICO DAS DISCREPÂNCIAS DENTÁRIAS



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Transcrição:

Anna Clara dos Santos Vilela AVALIAÇÃO DE UM MÉTODO COMPUTADORIZADO PARA DIAGNÓSTICO DAS DISCREPÂNCIAS DENTÁRIAS Belo Horizonte dezembro, 2002

Anna Clara dos Santos Vilela AVALIAÇÃO DE UM MÉTODO COMPUTADORIZADO PARA DIAGNÓSTICO DAS DISCREPÂNCIAS DENTÁRIAS Dissertação apresentada à Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Odontologia. Orientador: Eustáquio Afonso Araújo Co-orientador: Hélio Henrique Araújo Brito Área de concentração: Ortodontia. Belo Horizonte dezembro, 2002

Anna Clara dos Santos Vilela Avaliação de um método computadorizado para diagnóstico das discrepâncias dentárias Dissertação apresentada à Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Odontologia. Belo Horizonte, 2002. Eustáquio Afonso Araújo (Orientador) - PUC-Minas Hélio Henrique Araújo brito (Co-orientador) PUC- Minas

Dedico este trabalho, A Aquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós. A Ele seja a Glória para todo o sempre! (Ef. 3: 20-21)

AGRADECIMENTOS À minha família, meus pais Raymundo e Bernadete, meus irmãos Annunziata e Leonardo, que sempre me apoiaram e me incentivaram na minha escolha profissional, e, pela graça de Deus, suportaram os momentos de saudades com coragem para que eu pudesse concluir esta etapa da minha vida. Ao meu cunhado Brito e às minhas sobrinhas Beatriz e Maria Clara que renovaram as minhas forças com momentos de alegria, durante este período. À minha família mineira Denardi, pela conquista da amizade, pelos ensinamentos e pelas muitas orações que me trouxeram segurança do amor do Nosso Pai. À minha amiga Maria Carmen, pela amizade sincera e verdadeira, fundamental para enfrentar os momentos difíceis desta caminhada. À minha amiga e sócia Ana Patrícia, que não poupou esforços para superar a minha ausência durante este período no nosso serviço. À supervisora do Serviço Odontológico do Tribunal de Justiça da Bahia, Fátima Mendonça, ao ex-presidente Desembargador Robério Braga e atual presidente Desembargador Carlos Cintra pelo licenciamento das minhas funções profissionais durante este período. Ao Professor Eustáquio Afonso Araújo, Diretor da Faculdade de Odontologia da PUC-Minas, pela orientação e oportunidade de realizar este trabalho. Ao Professor Hélio Henrique de Araújo Brito pela disponibilidade e seriedade no exercício das atividades de professor e pelo compromisso de co-orientar este trabalho. Ao Professor Jánes Landre Júnior pela simplicidade e, com sua conhecida capacidade, trouxe valiosas contribuições para este trabalho. Ao Professor Johnny José Mafra pelo exemplo de sabedoria, dedicação ao ensino e presteza ao revisar este trabalho.

Ao Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Odontologia, Professor Roberval de Almeida Cruz. Ao Coordenador da Área de Concentração, Professor Ênio Tonani Mazzieiro. Ao Professor Heloísio Rezende Leite, Coordenador Clínico, pelo carinho, disponibilidade e presteza no ensino da ortodontia. trabalho. À Radiomemory que disponibilizou o Radioimp2000 para ser utilizado neste trabalho. Ao colega Marcelo Quiroga Souki, pelo apoio e incentivo na realização deste Aos meus colegas de turma, Ana Cristina, Claudia, Cláudio, Henrique, Ludimila, Marcelo, Ricardo e Tarcísio pela saudável e excelente convivência neste período. A todos os professores da área de concentração. Cada qual, com sua identidade e dedicação contribuiu para minha formação profissional e pessoal e para excelência deste curso. À todos os pacientes que depositaram confiança em mim. Aos funcionários da PUC-Minas que, dedicando-se em suas diferentes atividades, tiveram fundamental importância para o andamento das nossas atribuições no curso.

RESUMO O objetivo deste trabalho foi avaliar um programa computadorizado para estudo das discrepâncias dentárias. Foram examinados modelos de gesso e telerradiografias iniciais e finais de 30 pacientes que submeteram-se a tratamento ortodôntico com finalização clinicamente aceitável. Os indivíduos foram divididos em 3 grupos de acordo com o valor do ângulo interincisivos no início do tratamento: grupo I β< 124 (n=12); grupo II 124 β 132 (n=9) e grupo III β>132 (n=9). Os modelos de gesso iniciais e finais foram escaneados com Scanjet 3200C e, com auxílio do Radioimp2000, tomou-se as medidas do trespasse horizontal inicial e final, diâmetro mésio-distal dos dentes anteriores e distância intercaninos para comparações com os dados sugeridos na análise de Braun. Os dados do diâmetro mésio-distal dos dentes anteriores e distância intercaninos, obtidos nos modelos de gesso foram submetidos à análise de Braun. Os resultados das telerradiografias mostraram que o tratamento ortodôntico levou a alterações no ângulo interincisivos em 12/12 indivíduos do grupo I, 7/9 indivíduos do grupo II e em 8/9 indivíduos do grupo III. O trespasse horizontal preconizado pela análise de Braun não coincidiu com o obtido clinicamente nos grupos I, II e III. A análise sugeriu acréscimo ou redução de material dentário nos arcos superior e inferior nos pacientes dos grupos I, II e III, embora este procedimento não tenha sido realizado em nenhum paciente. Concluiu-se que, para reduzir os erros do método, uma análise de discrepâncias dentárias deve levar em consideração as alterações angulares, alterações nas distâncias intercaninos, espessura vestíbulo lingual e forma inicial do arco, e que a discordância com os resultados clínicos alcançados pode ser proveniente do ajuste de curva obtido por funções trigonométricas.

ABSTRACT The objective of this study was to evaluate a software used to determine anterior tooth size discrepancy. The sample consisted of pre and post treatment lateral cephalograms and dental cast of 30 patients who had gone through orthodontic treatment with clinically acceptable results. The subjects were divided in 3 groups based on the interincisal angle (β) at the beginning of treatment: group I, β < 124 (12 subjects); group II, 124 β 132 (9 subjects) and group III, β > 132 (9 subjects). The Scanjet 3200C was utilized to scan all the models and the following parameters were measured with Radioimp 2000 (Radiomemory, Belo Horizonte): pre and post treatment overjet; mesial-distal width of the anterior teeth and intercanine width. The data obtained was submitted to the Braun Analysis. The results showed that the orthodontic treatment altered the interincisal angle in all subjects of group I, in 7 out 9 in group II and 8 out 9 in group III. The overjet recommended by Analysis of Braun did not correspond to the one measured in all three groups. Although the Braun Analysis recommended increases and reductions of tooth material for all subjects in groups I, II and III the procedures were not performed in any of them. It can be concluded that, in order to controle errors in the tooth size discrepancy analysis, the intercanine width changes, labiolingual thickness, arch depth and angular changes of upper and lower incisors should be considered.

LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1: Ajuste de curvas à partir de pontos fornecidos... 37 GRÁFICO 2: Variação dos indivíduos nos grupos com o tratamento ortodôntico... 55 GRÁFICO 3: Distribuição da proporção anterior de Bolton nos indivíduos da amostra... 58 GRÁFICO 4: Diferença percentual do trespasse horizontal (Braun/Clínico)... 60

LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1- Dimensões do segmento anterior mandibular... 38 FIGURA 2 - Estruturas dento-esqueléticas... 43 FIGURA 3 - Identificação dos pontos cefalométricos... 45 FIGURA 4 - Demarcação de planos e linhas... 46 FIGURA 5 - Grandezas cefalométricas angulares... 47 FIGURA 6 - Paquímetro digital (FOWLER-NSK), com precisão de medida de 0,01 mm... 49 FIGURA 7 - Posicionamento dos modelos desarticulados no escâner... 49 FIGURA 8 - Medida do diâmetro mésio-distal dos dentes anteriores superiores, no modelo final... 50 FIGURA 9 - Medida do diâmetro mésio-distal dos dentes anteriores inferiores, no modelo final... 51 FIGURA 10 - Medida do trespasse horizontal e distância intercaninos, nos modelos finais... 51 FIGURA 11 - Tela principal da análise de Braun... 52

LISTA DE TABELAS TABELA 1: Caracterização da amostra de acordo com o valor do ângulo interincisivos (β) no início do tratamento... 47 TABELA 2: Caracterização da amostra de acordo com o valor do ângulo interincisivos (β) ao final do tratamento... 48 TABELA 3: Grandezas angulares e variações nos grupos I, II e III no início do tratamento... 54 TABELA 4: Variações nas distâncias intercaninos inferiores, ângulo Y e profundidade do arco durante o tratamento ortodôntico... 56 TABELA 5: Dados de entrada da análise de Braun e proporção anterior de Bolton57 TABELA 6: Dados de saída da análise de Braun comparados com os resultados clínicos... 59 TABELA 7: Comparações das alterações no Y e na profundidade do arco... 60 TABELA 8: Comparação entre os resultados do trespasse horizontal, preconizado por Braun, com as distâncias intercaninos inicial e final... 61

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 13 2 REVISÃO DE LITERATURA... 15 2.1 Dimensões dentárias... 15 2.2 Proporções de tamanho dentário... 20 2.3 Relações das dimensões dentárias com a maloclusão... 24 2.4 Método de medida do tamanho dos dentes... 30 2.5 Método de análise do tamanho e proporções dos dentes... 33 2.6 Auxílio numérico no cálculo das discrepâncias dentárias... 36 3 PROPOSIÇÃO... 41 4. MATERIAL E MÉTODO... 42 4.1 Seleção da amostra... 42 4.2 Avaliação das telerradiografias... 42 4.2.1 Traçado cefalométrico... 43 4.2.2 Pontos cefalométricos... 44 4.2.3 Planos e linhas cefalométricas... 45 4.2.4 Medidas angulares... 46 4.3 Divisão em grupos... 47 4.4 Medidas manuais e computadorizadas... 48 4.5 Medidas nos modelos... 50 4.6 Entrada de dados para a análise de Braun... 52 5 RESULTADO... 53 6 DISCUSSÃO... 62 7 CONCLUSÃO... 72 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 73

12 ANEXO A: Tomada de medidas manuais e computadorizadas em 3 pacientes da amostra... 80 ANEXO B: Comparações das médias manuais e computadorizadas nos 6 dentes anteriores de 3 pacientes... 81 ANEXO C: Distribuição das medidas manuais e computadorizadas dos dentes anteriores dos três pacientes... 82 ANEXO D: Comparações das medidas 1, 2 e 3 (manuais e computadorizadas)com a média Paciente 1... 83 ANEXO E: Comparações das medidas 1, 2 e 3 (manuais e computadorizadas)com a média Paciente 2... 84 ANEXO F: Comparações das medidas 1, 2 e 3 (manuais e computadorizadas)com a média Paciente 3... 85 ANEXO G: Tomadas das medidas computadorizadas da amostra... 856

13 1 INTRODUÇÃO O objetivo da Ortodontia, através do diagnóstico e planejamento, é alcançar os melhores resultados estéticos e funcionais. Considera-se a fase de finalização do tratamento ortodôntico de difícil execução, necessitando detalhes do diagnóstico para se alcançar uma intercuspidação final adequada. A oclusão final excelente é caracterizada por trespasses horizontais e verticais normais. Existem fatores que influenciam esta relação anterior, um deles é a relação da largura mésio-distal total dos dentes superiores com inferiores. Apesar de os dentes naturais se combinarem muito bem na maioria dos indivíduos, aproximadamente 5% da população tem algum grau de desproporções entre os tamanhos dos dentes individualmente. A isso denomina-se discrepâncias de tamanho dentário. Este problema é evidente para o ortodontista, especialmente nos estágios de finalização do tratamento ortodôntico. Considera-se uma discrepância de tamanho dentário menor que 1,5 mm raramente significativa, mas discrepâncias maiores criam dificuldades na finalização e devem ser incluídas na lista de problemas ortodônticos. (Proffit, 1993). Dentre as pesquisas implementadas com o propósito de estudar as proporções dentárias destaca-se a de Wayne Allen Bolton, publicada em 1952, que estabelece as proporções de diâmetro mésio-distal entre os dentes inferiores e superiores. A partir de então, este assunto ficou em evidência e a pesquisa de Bolton tornou-se conhecida como Discrepância de Bolton ou Análise de Bolton. Apesar de ser considerada, até os dias atuais, um importante auxílio diagnóstico, alguns autores acreditam que a análise de Bolton é limitada por não avaliar aspectos como angulações dentárias, espessura vestíbulo-lingual, forma do arco e relação das bases ósseas. Existem, no entanto, outros métodos de análise das proporções dentárias (Lundström, 1981; White, 1982; Binder, Cohen,1998; Braun et al. (1999), que

14 procuram estabelecer proporções dentárias inter-arcos ideais, aperfeiçoando as eventuais falhas da análise de Bolton. Em 1999, o ortodontista e engenheiro Stanley Braun desenvolveu um método computadorizado com o objetivo de facilitar a avaliação das proporções dentárias. Descreveu os arcos dentários matematicamente, mais precisamente o segmento anterior, correlacionando-os com variáveis como distância intercaninos e tamanho mésio-distal dos dentes anteriores e superiores. Este método de avaliação de Braun et al. (1999) desperta interesse clínico para o diagnóstico dos problemas das proporções dentárias, causa de dificuldade na finalização ortodôntica. Porém, é necessário conhecer detalhadamente as suas possibilidades e limitações em diversas situações clínicas. O presente trabalho foi conduzido com o propósito de avaliar a aplicação clínica da análise de Braun como método diagnóstico na avaliação das discrepâncias dentárias em casos tratados ortodonticamente.

15 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Dimensões dentárias Horowitz, Osborne e De George (1958) analisaram a variação hereditária quantitativa que ocorre na dimensão dentária mésio-distal dos seis dentes ânterosuperiores. Obteve-se as medidas dentárias de 54 pares de gêmeos (33 pares monozigóticos e 21 dizigóticos) pareados em sexo, com idade média de 27 anos, utilizando-se compasso de pontas secas posicionado paralelamente à borda incisal dos dentes. Nos gêmeos monozigóticos o incisivo central esquerdo exibiu a menor média da diferença de tamanho dentário (0,17) enquanto o incisivo lateral esquerdo a maior (0,24). Nos gêmeos dizigóticos a menor diferença foi para o canino superior esquerdo (0,14) e a maior para o lateral superior direito (0,56). Os autores demonstraram que variações condicionadas geneticamente, de natureza altamente significante, ocorreu em 8 dos 12 dentes estudados. Os caninos demonstraram o menor componente hereditário quanto a variabilidade. Avaliando a determinação genética na variabilidade de tamanho dentário, Garn, Lewis e Kerewsky, em 1964 conduziram um estudo a fim de estabelecer se há diferença no tamanho dentário absoluto entre os sexos. Utilizou-se a medida coronária mésio-distal dos dentes de 243 crianças brancas de classe média. Os autores demonstraram que a diferença entre os sexos no tamanho dentário foi maior para os caninos (6%) e menor para o grupo de incisivos (3%). Lundström (1964) pesquisou as diferenças inter-indivíduos em gêmeos monozigóticos e dizigóticos em relação as seguintes dimensões: largura mésiodistal dos dentes anteriores, largura do arco dentário superior (pré-molares e molares), comprimento da linha S-N, altura facial total e comprimento da mandíbula. Avaliou-se os modelos de estudo e telerradiografias de 97 pares de gêmeos com idade variando entre 10 e 19 anos. Os resultados mostraram correlação entre o tamanho dentário para os pares de gêmeos, sendo esta muito mais forte para os pares monozigóticos do que para os dizigóticos, confirmando que o tamanho dentário é determinado por fatores genéticos.

16 Garn, Lewis e Kerewsky, em 1966 constataram uma diferença entre os sexos no diâmetro vestíbulo-lingual da coroa dos dentes de 5,6%, em média, maior para o sexo masculino mostrando-se superior quando comparada a 4,2% para o diâmetro mésio-distal dos mesmos dentes. Os indivíduos do sexo masculino mostraram uma tendência de forma dentária mais quadrada e os indivíduos do sexo feminino tiveram maior redução de tamanho vestíbulo-lingual do que mésiodistal. Em estudo posterior (1967), os autores detectaram um dimorfismo sexual na forma dentária, comprovada pela maior variação encontrada para o sexo masculino. A maior diferença na forma dentária foi para o segundo molar inferior, incisivos laterais superiores e segundo pré-molares inferiores. Em um trabalho realizado em 1968, Garn, Lewis e Kerewsky correlacionaram o diâmetro coronário mésio-distal com o diâmetro vestíbulo-lingual. Os autores consideraram que a magnitude da relação entre o diâmetro mésio-distal e vestíbulo-lingual é de grande importância teórica. Uma alta correlação sugere que um único fator afeta ambas as dimensões e uma baixa correlação indicará autonomia nos fatores que controlam o diâmetro mésio-distal e vestíbulo-lingual. Os resultados deste trabalho mostraram correlações interdimensionais maiores no sexo feminino do que no masculino e menores para os dentes inferiores do que superiores, 26% da variância de tamanho dentário mésio-distal e vestíbulo-lingual é determinada por fatores em comum. Keene (1971), avaliou um grupo de 387 recrutas navais sem experiência de cárie associando o diâmetro mésio-distal dos dentes às seguintes variáveis: origem geográfica, ausência congênita de dentes, peso ao nascimento e tipo de maloclusão. O coeficiente de variação foi calculado multiplicando-se o desvio padrão por 100, dividindo-se pela média. Os primeiros molares superiores apresentaram o menor coeficiente de variação (4,98) e os incisivos laterais o maior (8,35). A medida individual dos dentes e a soma dos 28 dentes foram homogêneos entre as regiões geográficas. Os dentes anteriores mostraram maiores diferenças de tamanho do que os dentes posteriores nos indivíduos com ausência congênita ou baixo peso ao nascimento. O tamanho dentário individual foi maior no grupo de maloclusão.

17 Potter (1972) realizou um estudo com 309 homens e 326 mulheres índios pima, considerando 56 características de tamanho dentário. O autor considerou que a comparação de tamanho dentário no sexo masculino e feminino demonstram resultados diferentes quando o efeito da correlação entre as variáveis são eliminadas pela análise multivariada. Concluiu-se que a distribuição multivariada entre os sexos diferem significantemente na dimensão média mesio-distal e vestíbulo-lingual dos dentes permanentes. A diferença entre a média das amostras deve-se, principalmente a 12 das 56 características. Observando que não haviam informações consistentes se o tamanho de dentes e arcos dentários são afetados pelas alterações seculares ou somente por certas dimensões específicas, Lavelle, em 1973, realizou um estudo com o objetivo de examinar a tendência secular dos arcos e dentes em uma população relativamente homogênea. Foram avaliadas 150 famílias de uma comunidade rural inglesa de indivíduos caucasianos nas quais todos eles (pai, mãe, filho e filha) possuíam dentadura permanente completa, ausência de anormalidade esquelética ou história de tratamento ortodôntico. Os modelos de gesso foram avaliados nas dimensões do arco e dos dentes diâmetro coronário mésio-distal e vestíbulolingual. O teste de erro de medida (p<0,02) exibiu concordância adequada. Os resultados mostraram que não há dimorfismo sexual aparente para as dimensões dentárias entre pais e filhos. No geral, as dimensões dentárias superiores e inferiores acompanharam o padrão do aumento secular entre pais e filhos, assim como as proporções dentárias. Garn, Cole e Wainright (1977), correlacionou as medidas de dentes decíduos e permanentes em 208 indivíduos do sexo masculino e feminino, utilizando o diâmetro mésio-distal e vestíbulo-lingual de modelos de gesso. Na amostra total, as correlações entre os dentes decíduos e seus sucessores permanentes variaram de 0,23 a 0,61 para o diâmetro mésio-distal e 0,11 a 0,44 para o diâmetro vestíbulolingual. Baseado nestas correlações, a previsão de dentes permanentes à partir de dentes decíduos é impraticável.

18 Townsend e Brown (1978) estudaram a questão da herança no tamanho dentário, em particular a influência do cromossomo sexual, em indivíduos aborígenas da mesma família. Mediu-se 392 modelos de estudo (184 do sexo feminino e 208 do sexo masculino) com compasso de pontas secas posicionado paralelamente à superfície oclusal e vestibular da coroa para o diâmetro mésiodistal. Não houve diferenças significantes na correlação das medidas mésio-distal e vestíbulo-lingual para diferentes grupos de irmãos, não sendo encontrada nenhuma evidência de envolvimento do cromossomo sexual. Os autores sugeriram a realização de estudos com amostras maiores e testes estatísticos apurados para esclarecer o envolvimento do cromossomo sexual na determinação da variabilidade do tamanho dentário. Com o objetivo de estabelecer dados normativos das dimensões mésiodistais de dentes permanentes de uma população iraquiana, Ghose e Baghdady (1979) avaliaram modelos de gesso de 161 indivíduos do mesmo grupo étnico, as medidas foram tomadas por 2 examinadores com um compasso de pontas secas paralelo à superfície oclusal e vestibular. Não houve diferenças entre as medidas dentárias do lado direito e esquerdo. Observou-se que os incisivos laterais e os primeiros molares superiores foram os dentes que apresentaram maior variabilidade de tamanho, e os incisivos centrais inferiores mostraram a maior estabilidade das dimensões. Houve dimorfismo sexual nos valores médios das dimensões coronárias, os indivíduos do sexo masculino exibiram as maiores dimensões, sendo estatisticamente significante (p<0,05) para os caninos e primeiro molar inferior direito. Na tentativa de proporcionar dados odontométricos para indivíduos americanos negros do sexo masculino, Keene (1979) conduziu um estudo comparando as informações deste grupo com um grupo de indivíduos caucasianos da mesma área geográfica. A amostra constituiu-se de 56 indivíduos negros com dentadura permanente íntegra, mediu-se o diâmetro coronário mesio-distal com compasso de ponta sêca pelo método de Moorrees et. al. (1957). Calculou-se o erro de medida intra-examinadores e aplicou-se o teste t para amostras independentes. Os resultados mostraram diferenças altamente significantes no

19 tamanho dentário (p<0,001) favorecendo maiores dimensões para os negros, em todos os dentes. A magnitude da diferença de tamanho variou de 4,2%, para o incisivo central inferior a 12,5% para o primeiro pré-molar superior. Ocorreu maior variabilidade de tamanho coronário no incisivo lateral superior (média, 10,7%). Garn et al. (1980) avaliaram a influência de fatores maternos pré-natais (diabetes, hipotireoidismo e hipertensão) nas dimensões dentárias mésio-distal e vestíbulo-lingual. Estudou-se as variáveis como duração da gestação, peso e tamanho ao nascimento. As três variáveis maternas foram associadas aos desvios de tamanho dentário nos descendentes. O hipotireoidismo e diabetes foram associados com maiores dimensões dentárias enquanto a hipertensão foi associada a dimensões dentárias menores. O tempo de gestação prolongado, maior tamanho e peso ao nascimento foram associadas a dentes mais largos, enquanto tempo curto de gestação, baixo peso e tamanho ao nascimento foram associados a tamanho dentário menor. Os autores concluíram que existem claras indicações de que o diâmetro da coroa é afetado durante a vida pré-natal. O estudo de Merz et al. (1991) foi realizado a fim de avaliar se existe diferença entre uma amostra de pacientes negros e brancos em relação ao tamanho mésio-distal dos dentes, perímetro do arco e padrão esquelético. Avaliouse modelos de gesso de 51 negros (35 mulheres e 16 homens) e 50 brancos (34 mulheres e 16 homens). Os modelos foram medidos por um único examinador com um paquímetro manual. Em relação ao quadrante inferior esquerdo, o diâmetro mesio-distal do incisivo central e lateral não diferiu entre os grupos, entretanto o canino, primeiro e segundo pré molares e primeiro molar foram estatisticamente mais largos nos negros do que nos brancos. Os negros não manifestaram apinhamento ântero-inferior aumentado em relação aos brancos apesar de exibirem 4mm a mais de massa dentária. Otuyemi e Noar (1996) compararam as dimensões coronárias mésio-distal e vestíbulo-lingual de um grupo de crianças nigerianas pareadas em sexo com um grupo de crianças britânicas. A amostra constituiu-se de 30 pares de modelos de estudo com os seguintes critérios: presença de dentes permanentes até o primeiro

20 molar, ausência de cáries ou fratura, ausência de tratamento restaurador exceto restauração oclusal de classe I, ausência congênita ou alteração de desenvolvimento. Foi utilizado um paquímetro digital eletrônico (Mitutoyo, Japão) com 0,01 mm de precisão. Os resultados mostraram dimensões dentárias no sentido mésio-distal maiores para o grupo nigeriano do que o britânico (p<0,01). Não foi observada diferença significante entre os lados direito e esquerdo em ambos os grupos raciais (p>0,05). Com exceção dos incisivos centrais inferiores e os caninos superiores, não houve diferença significante nas dimensões coronárias vestíbulo-lingual nas duas populações. Hattab, Al-Khateeb e Sultan (1996) determinaram o diâmetro mésio-distal em dentes permanentes de indivíduos jordanianos. Avaliou-se modelos de estudo de 198 indivíduos (86 do sexo masculino e 112 do sexo feminino) com dentes morfologicamente normais: ausência de cáries, restaurações ou atrição e completamente irrompidos. Mediu-se o maior diâmetro mésio-distal com um paquímetro digital paralelo ao plano oclusal e vestibular. O teste t pareado mostrou que a diferença no diâmetro da coroa entre os lados direito e esquerdo do arco dentário não foram significantes, sugerindo que medidas de ambos os lados podem ser tomadas para estudo de populações. Os indivíduos do sexo masculino tiveram dentes significantemente mais largos do que os indivíduos do sexo feminino, variando de p< 0,05 para incisivos até 0,001 para primeiros molares. Em ambos os sexos, os incisivos laterais superiores exibiram maior coeficiente de variabilidade (8,8%) e os primeiros molares o menor (5,8%). Os caninos apresentaram o maior dimorfismo sexual entre os grupos de dentes. A largura dentária cumulativa dos homens excederam as mulheres na soma em 3,1 mm na maxila e 3,6 na mandíbula, com diferenças estatísticamente significantes. 2.2 Proporções de tamanho dentário Com o objetivo de sugerir um método para melhor avaliar as proporções dentárias anteriores ajustando-as a medidas matemáticas próprias, Neff, em 1949, mediu, diretamente na boca, o tamanho dentário dos seis dentes anteriores superiores e inferiores transferindo as medidas para uma linha reta e

21 estabelecendo uma proporção, a qual chamou de coeficiente anterior. Determinou que o coeficiente anterior foi de 1,22, variando de 1,17 e 1,41, considerando-se o trespasse horizontal equilibrado de 20%. Através de computação matemática com o triângulo de Hawley- Bonwell, determinou-se que o coeficiente para uma relação topo-a-topo foi de 1,10 e para trespasse horizontal total 1,52. Quanto menos espesso o incisivo central superior, mais largo será o diagrama. Neff (1957) na tentativa de correlacionar o tamanho dentário na região anterior com o trespasse vertical, revisou o seu trabalho original de 300 indivíduos com maloclusão. Foram tomadas medidas diretamente da boca e sugeriu-se uma relação percentual anterior (RPA) em que o segmento anterior superior é de 18 a 36% maior que o segmento anterior inferior. O autor observou que em 10% dos casos analisados houve indicação de redução de tamanho dentário, considerando rara esta situação. Já Stifter (1958) admite que, até então, muitos métodos de análise vinham sendo formulados, baseados inicialmente em casos tratados com sucesso. Desta forma, planejou um estudo a fim de testar a validade de 5 modelos de análise da oclusão normal Pont, Howes, Rees, Neff e Bolton. A partir de modelos de estudo de 58 indivíduos (34 oclusão normal e 24 oclusão ideal). Dentre os seus resultados estatísticos encontrou que na análise de Pont houve correlação entre a combinação de largura dos incisivos com a largura de pré-molares e molares na oclusão normal, porém não ocorrendo na oclusão ideal. A relação percentual de Bolton total e anterior mostrou-se com comparações favoráveis. Bolton (1958) examinou modelos de estudo de 55 pacientes com oclusão normal dos quais, 44 tinham se submetido a tratamento ortodôntico. Foi avaliado o diâmetro mésio-distal do primeiro molar permanente direito ao esquerdo de ambos os arcos com o objetivo de se estabelecer uma proporção ideal entre os dentes inferiores e superiores visando uma intercuspidação ideal. Além destas medidas, foram estudados o grau de trespasses vertical e horizontal, o ângulo de incisivos superiores e inferiores ao plano oclusal, comprimento de incisivos centrais e altura de caninos. As medições foram feitas por meio de um compasso de ponta seca,

22 tomando-se o maior diâmetro mésio-distal dos dentes, sendo adotada uma precisão de medida de 0,25mm. O autor propôs como valores ideais o somatório dos dentes mandibulares correspondendo a 91,3%, desvio padrão (DP)= 1,91% dos maxilares e para a região anterior 77,2%, DP=1,65%. Os valores maiores que 1DP apresentavam excesso de massa dentária inferior e menores, excesso superior. A fim de investigar as proporções dentárias em população de americanos negros, Richardson e Malhotra (1975) avaliaram modelos de estudo de 162 indivíduos (81 do sexo masculino e 81 do sexo feminino), medindo a dimensão coronária mésio-distal, de incisivo central à molar de ambos os lados nos arcos superior e inferior utilizando-se paquímetro com escala de Vernier com precisão de 0,1mm. O paquímetro foi posicionado paralelamente ao plano oclusal e vestibular. As medidas foram tomadas por 2 examinadores e adimitiu-se erro de até 0,2mm. Os critérios para seleção da amostra foram superfície mesial e distal íntegras, dentes permanentes completamente irrompidos e ausência de defeito congênito. Aplicou-se as proporções descritas por Bolton e observou-se que as proporções anteriores de 77% foram semelhante aos resultados de Bolton no entanto, a proporção geral foi de 94% em ambos os sexos, consideradas maiores em relação ao estudo de Bolton. No sexo masculino, os dentes foram maiores que o feminino com padrões de tamanho dentário semelhantes. Halazonetis (1996) utilizando o Microsoft Excel v.5 propôs uma maneira simples de avaliar a análise de Bolton, incluindo outras importantes informações como a espessura vestíbulo-lingual e a forma do arco. De acordo com o autor, quando o arco dentário apresenta-se com uma curvatura menos acentuada, bem como espessuras vestíbulo-linguais mais estreitas, há uma tendência para que a proporção anterior seja maior do que a proposta por Bolton, com isso demonstrou que a curvatura do segmento anterior tem uma grande influência na análise da discrepância dentária, sendo portanto crítico descrever os arcos dentários superior e inferior matematicamente com o objetivo de prever as relações entre si. Binder e Cohen (1998) preconizaram um método para análise de discrepância de tamanho dentário durante o exame clínico. Os autores sugerem

23 que o paciente desloque a mandíbula numa relação topo-a-topo de modo que a superfície mesial do incisivo lateral inferior esteja alinhada com a mesma superfície do incisivo lateral superior. Comparando-se a largura dos incisivos laterais pode-se determinar o excesso relativo de estrutura dentária maxilar ou mandibular baseado em tabela de dados que preconizam que os incisivos laterais superiores são de 12-14% mais largos que os incisivos laterais inferiores. Com o objetivo de testar a aplicabilidade da análise de Bolton em grupos populacionais distintos, Smith, Buschang e Watanabe (2000) avaliaram modelos de estudo iniciais de 180 pacientes 30 do sexo masculino e 30 do sexo feminino de 3 grupos populacionais (negros, hispânicos e brancos). Foram identificados e digitalizados 48 pontos de contato mésio-distal de cada modelo, bem como calculado o comprimento do arco anterior, posterior e total. Os resultados mostraram diferenças significantes entre os grupos étnicos, com os indivíduos brancos exibindo as menores proporções no segmento geral do arco (92,3%) seguida pelos hispânicos (93,1%) e negros (93,4%). Estas diferenças aconteceram primariamente devido ao segmento posterior. A análise de regressão múltipla mostrou que as diferenças individuais na proporção geral estavam mais intimamente relacionada com o tamanho do 2º pré-molar inferior, incisivo lateral superior, segundo pré-molar superior e incisivo central inferior. Os autores concluíram que a relação de tamanho dentário inter-arco são específicas para populações e sexos distintos não devendo ser aplicada indiscriminadamente. Trabalhando com indivíduos dominicanos, Santoro et al. (2000) conduziram um estudo a fim de estabelecer dados normativos nas dimensões coronárias mésio-distais de 54 indivíduos (36 do sexo masculino e 18 do sexo feminino) Os modelos de gesso pré-tratamento ortodôntico foram avaliados de acordo com os seguintes critérios: todos os dentes permanentes presentes (exceto 3ºs molares) e integridade da superfície mesial e distal. O tamanho mésio-distal foi medido com compasso e escala de Vernier com precisão de 0,1 mm, à partir do ponto de contato em uma linha paralela ao plano oclusal. Um único examinador tomou as medidas, admitindo-se uma diferença de 0,2 mm na medida. Se a diferença ultrapassasse este valor, tomava-se a medida novamente. Foram calculados a

24 média, variação e desvio-padrão do tamanho dentário e comparados com a análise de Bolton. As medidas dentárias nos homens foram levemente maiores e com maior variabilidade do que nas mulheres. A amostra dominicana apresentou dimensões dentárias superiores e inferiores levemente menores do que a amostra de americanos africanos, com exceção dos incisivos centrais e laterais inferiores. Os resultados deste estudo demonstraram uma equivalência na proporção geral, com 28% dos indivíduos exibindo discrepâncias dentárias no segmento anterior maiores que 2 desvios-padrão. Assim, os autores sugerem que uma análise cuidadosa da relação inter-arcos deverá ser incluída nos procedimentos de diagnóstico. 2.3 Relações das dimensões dentárias com a maloclusão Steadman (1949) estudou o problema dos trespasses horizontal e vertical na finalização do tratamento ortodôntico, observou casos com boa intercuspidação posterior e relação de classe I com diferentes trespasses horizontal e vertical. O autor considera necessário determinar inicialmente, a massa dentária superior e inferior e em seguida, determinar a angulação da superfície lingual do incisivo superior à superfície vestibular do incisivo inferior no caso finalizado e posteriormente, determinar se os caninos estarão ou não numa relação de classe I. A partir destes três fatores é possível predeterminar o trespasse vertical e horizontal na finalização do caso. Bolton (1962) realizou um estudo com o objetivo de sedimentar o emprego clínico da análise proposta por ele anteriormente. Neste novo trabalho revisou 100 casos tratados ortodonticamente, constatando que 29 deles apresentavam alterações de tamanho dentário, ainda apresentou 12 exemplos práticos e detalhados da utilização de suas medidas, discutindo as informações derivadas de sua análise. Dentre as situações clínicas abordadas pelo autor estavam o padrão de extração nos casos tratados. Ao final do trabalho, o autor chama a atenção para a influência da angulação dos incisivos na avaliação das proporções dentárias, especialmente nos casos de verticalização dos incisivos inferiores, biprotrusão maxilar e espessura vestíbulo-lingual alterada.

25 Beresford (1969) realizou um estudo a fim de investigar se há alteração na proporção de tamanho dentário nos diferentes tipos de maloclusão de Angle. Foram avaliados 2000 pacientes entre 6 e 18 anos e 500 pares de modelos de estudo. Registrou-se a maior largura mésio-distal, paralela à superfície vestibular e à borda incisal de modelos de gesso e dentes naturais. Os primeiros foram avaliados com precisão de 0,1mm e os seguintes a 0,05mm. Os resultados indicaram uma leve tendência para as medidas clínicas excederem as medidas do modelo de gesso, os incisivos laterais superiores foram os dentes de maior variabilidade na largura mésio-distal. O incisivo central superior mostrou um alto coeficiente de correlação com os demais dentes anteriores inferiores (r=0,68). Obteve-se um coeficiente de correlação médio quando dividiu-se o grupo em diferentes tipos de maloclusão de Angle ( Classe I, Classe II divisão 1 e 2), constatando que os indivíduos do sexo masculino exibiram, em média, dentes mais largos que o sexo feminino. Observando a influência da discrepância de tamanho coronária na finalização ortodôntica, Sanin e Savara (1971) examinaram 101 pacientes de ambos os sexos, portadores de oclusão normal ou não, apresentando uma avaliação efetiva de localização e análise das alterações de tamanho dentário. Os autores constataram que o padrão de tamanho coronário difere mesmo nos pacientes de oclusão normal e que além de irregularidades como o apinhamento inferior, posição ectópica de caninos, relação topo-a-topo de pré-molares, a inclinação vestibular de dentes anteriores influenciaram na discrepância dentária de portadores de maloclusão. Demonstrando preocupação com as discrepâncias de tamanho dentário na finalização ortodôntica em casos com extração, Claridge (1973) propôs um método de avaliação destas alterações nestes casos. Foram examinados 45 modelos de estudo, sendo 15 casos concluídos idealmente. Os casos que não alcançaram oclusão ideal foram estudados através de set-up. Destacou-se que variáveis como trespasses vertical e horizontal exagerados, influência da curva de Spee e angulação de incisivos podem alterar os resultados da análise. Segundo o autor, discrepâncias de 1 mm não são preocupantes para o clínico, de 5 a 6 mm são facilmente notadas, entretanto de 2 a 4 mm são as mais difíceis de serem

26 determinadas clinicamente. Arya et al., em 1974, investigou as diferenças de tamanho dentário entre os sexos considerando-se diferentes categorias oclusais (classe I e II de Angle) eliminando-se as diferenças relativas ao sexo e a interação do sexo e classificação oclusal. A amostra constituiu-se de 48 indivíduos do sexo masculino e 47 indivíduos do sexo feminino. Vinte e cinco indivíduos do sexo masculino e 20 indivíduos do sexo feminino possuíam oclusão normal, os demais indivíduos possuíam Classe II de Angle. Nenhum indivíduo submeteu-se a tratamento ortodôntico. Mediu-se o diâmetro coronário mésio-distal, definido como a maior distância entre os pontos de contato. O método de medida consistiu de um sistema de coordenadas cartesianas X e Y dos pontos com um comparador modificado, após digitalização por conversão decimal, as distâncias dessas coordenadas são avaliadas por computador. Quando os tamanhos dentários foram comparados com a maloclusão, independente do sexo, mais da metade das médias observadas (em 12 de 22 indivíduos) foram idênticas nos 2 grupos. O tamanho dentário no sexo masculino mostrou-se maior do que no sexo feminino. Os autores concluíram que não houve interação entre o sexo e a maloclusão com o tamanho dentário. Norderval, Wisth e Böe (1975) investigaram a condição de espaçamento do segmento ântero-inferior em adultos com maloclusão classe I de Angle correlacionando-a com variáveis dentárias e crânio-faciais. A amostra constituiu-se de 66 indivíduos divididos em 2 grupos: oclusão normal (n=27) e maloclusão com leve apinhamento ântero-inferior (n=39). Obteve-se os dados de modelos de gesso e telerradiografias laterais. As medidas nos modelos (diâmetro mésio-distal de incisivos e distância intercaninos) foram tomadas com paquímetro de precisão de 0,1 mm, e repetidas em duas semanas para obtenção de uma média para avaliação estatística. Para as telerradiografias foram utilizados pontos e linhas de referência da base do crânio, maxila, mandíbula e incisivos superior e inferior. Os resultados revelaram incisivos inferiores com diâmetro mésio-distal significantemente maiores (p<0,05) para o grupo com apinhamento leve. A análise de Bolton foi significantemente maior (p<0,01) no grupo com apinhamento. A relação sagital entre as bases ósseas mostrou ângulo significantemente maior

27 (p<0,05) e inclinação mandibular maior quando relacionada com a base maxilar, no grupo com apinhamento. Os autores sugerem que maiores informações devem ser obtidas de estudos longitudinais de alterações de crescimento, oclusão e função muscular. Com o objetivo de investigar a freqüência da magnitude do excesso de estrutura dentária mandibular em indivíduos portadores de maloclusão classe III e ilustrar a aplicação clínica da análise de discrepância dentária no tratamento do prognatismo mandibular, Sperry (1977), avaliaram 78 modelos de gesso de pacientes orto-cirúrgicos (classe III) comparando-os com 2 grupos controle de classe I (n=26) e classe II (n=26). Todos os modelos de estudo pré-tratamento foram medidos, por um único examinador, com compasso de ponta sêca com precisão de 0,1 mm, aplicando-se a análise de Bolton. O teste qui-quadrado mostrou que o grupo de classe III apresentavam um número significantemente maior (0,01<p<0,05) de pacientes com excesso de tamanho mandibular para a proporção geral do que o grupo de classe I e II. O teste t de Student sugeriu (0,05<p<0,10) que os pacientes portadores de classe III apresentaram uma média relativamente maior de excesso de tamanho dentário comparado com o grupo de classe I e II. Os autores concluem que a decisão de tratamento em muitos casos serão baseadas em fatores com maior prioridade do que as discrepâncias de tamanho dentário. No entanto, estas alterações devem ser incluídas nos registros diagnósticos da análise do prognatismo mandibular. Doris, Bernard, Kuftinec (1981) conduziram um estudo a fim de comparar a largura mésio-distal dos dentes de pacientes com e sem apinhamento, entre dois grupos (40 homens e 40 mulheres). Considerou-se arcos com apinhamentos os que apresentavam 4 mm ou mais de deficiência de espaço. A análise de dados multivariada indicou que os dois grupos apresentavam diferenças no tamanho dentário, especialmente nos incisivos laterais e segundos pré-molares superiores e caninos e pré-molares inferiores. O tamanho dentário, aliado a outros fatores, tais como o comprimento e largura do arco, apresentavam grande variação entre os grupos com maior ou menor apinhamento. Baseado neste estudo de 80 indivíduos caucasianos norte-americanos, sugere-se considerar a soma da largura mésio-

28 distal, além da análise do comprimento do arco, na elaboração do plano de tratamento ortodôntico. Crosby e Alexander (1989), conduziram um estudo a fim de investigar a ocorrência da discrepância de tamanho dentário entre diferentes maloclusões (classe I, classe II- 1ª e 2ª divisão e classe II com tratamento orto-cirúrgico). A amostra constitui-se de 109 pacientes, cuja proporção de tamanho dentário foram avaliadas nos modelos iniciais, seguindo a análise de Bolton. Os resultados não mostraram diferenças significantes na incidência da discrepância de tamanho dentário nas diferentes maloclusões e na magnitude das proporções dentárias, quando considerou-se a amostra como um todo e comparada com a análise de Bolton. Os autores concluíram que, embora sem diferenças significantes nos diferentes grupos de maloclusões, houve uma grande discrepância de tamanho dentário em cada grupo e este achado já sugere que a análise de discrepância dentária seja realizada antes do início do tratamento ortodôntico. Com a proposta de investigar se existe discrepâncias severas de tamanho dentário inter-arcos em diferentes maloclusões, Nie e Lin (1999) avaliaram os modelos de estudo de 60 indivíduos chineses com oclusão normal e 300 indivíduos portadores de cinco tipos de maloclusão. Os indivíduos foram divididos em 6 grupos, cada grupo com 30 indivíduos do sexo masculino e 30 do sexo feminino oclusão normal, classe I biprotrusão, classe II (1ª divisão), classe II (2ª divisão), classe III e classe III tratada cirurgicamente. Os critérios para seleção dos modelos pré-tratamento foram: todos os dentes permanentes irrompidos, integridade da superfície mesial e distal, ausência de defeitos congênitos. Utilizou-se uma máquina de medição tridimensional (YM-2115) com precisão nos três eixos de 0,01 mm. Determinou-se erro de medida em 5 conjuntos de modelos avaliados pelo mesmo examinador. Os resultados não mostraram dimorfismo sexual e nem diferenças significantes nas subcategorias da maloclusão. Portanto realizou-se multicomparação dos 3 novos grupos. Os resultados estatísticos, à nível de 5%, exibiram diferenças nas proporções dentárias geral para classe III ( 95,59 +/- 2,58), classe I (93,39 +/- 2,46) e classe II (92,06 +/- 2,47), além das diferenças na proporção anterior e posterior.ficou demonstrado que a discrepância da proporção

29 dentária poderá ser um importante fator na causa de maloclusões, especialmente nas Classe II e III. Portanto, este estudo confirma a importância da análise de Bolton durante o diagnóstico e terapia ortodôntica. Souki (2000), com o objetivo de analisar a correlação entre as discrepâncias dentárias anteriores e maloclusão, avaliou modelos de gesso de 300 indivíduos, de ambos os sexos, portadores de maloclusão classe I (n=100), classe II (n=100) e classe III (n=100) de Angle. Mediu-se o maior diâmetro mésio-distal dos seis dentes anteriores superiores e inferiores com um paquímetro digital, FOWLER- NSK, com precisão de 0,01 mm. Aplicou-se o método de avaliação das discrepâncias dentárias de Bolton. Observou-se maior prevalência de discrepâncias dentárias nas maloclusão classe I e III, em relação à classe II, os indivíduos portadores de maloclusão classe III apresentavam valores médios para porporção dentária anterior de Bolton maiores que aqueles das duas outras classes. Heusdens, Dermaut e Verbeeck (2000) preocupados com o efeito da discrepância de tamanho dentário na oclusão, conduziram um estudo experimental que, dentre outros objetivos, comparou as proporções de tamanho dentário total e anterior, relatadas por Bolton (1958), aos valores encontrados em estudos epidemiológicos da literatura, determinou a precisão do método de medida das discrepâncias dentárias e investigou o quanto a discrepância de tamanho dentário afeta a oclusão. Os resultados não revelaram diferenças significantes para a proporção total quando comparados com quatro estudos da literatura, mas a proporção anterior foi significantemente diferente. Houve alta reprodutibilidade (99%) no método de medida das discrepâncias dentárias. A discrepância dentária severa afeta pouco a oclusão. Os autores concluem que a diferença na proporção anterior deve-se provavelmente a variabilidade morfológica do incisivo lateral superior e que tanto a resina epoxe como os modelos de gesso são utéis para avaliação das discrepâncias dentárias. A fim de aplicar a análise de Bolton em diferentes grupos de maloclusão de indivíduos chineses, Ta, Ling, Hägg (2001) determinaram o diâmetro mésio-distal em modelos de gesso com um paquímetro digital TESA com precisão de 0,1 mm,

30 foram escolhidos 20 modelos com oclusão em classe I para determinar o erro do método como descrito por Dahlberg. O tamanho da amostra foi determinado estatisticamente consistindo-se de 50 indivíduos de classe I, 30 de classe II e 30 de classe III, de ambos os sexos. Os resultados não demostraram diferenças significantes quanto ao sexo na proporção total e anterior. Na proporção anterior, encontrou-se diferença estatisticamente significante para o grupo de classe III. Na proporção geral, as diferenças estatisticamente significantes foram para o grupo de classe II e entre os grupos de classe II e III. Encontrou-se valores superior a 2 desvios-padrão em 3/50 casos do grupo de classe I e em 6/30 do grupo de classe III. Os autores consideram a discrepância de tamanho dentário mais frequente na região anterior e sugerem que padrões específicos devam ser usados para indivíduos chineses. 2.4 Método de medida do tamanho dos dentes Hunter e Priest (1960) realizaram um estudo para avaliar o erro experimental e as discrepâncias envolvidas na medição do tamanho dentário utilizando-se modelos de gesso de 24 indivíduos escolhidos aleatoriamente com dentadura permanente completa e íntegra. A primeira parte do trabalho consistiu na avaliação do erro e discrepância entre dois investigadores e dois instrumentos de medida (compasso e paquímetro), com precisão de 0,1 mm. A medida foi tomada com o instrumento paralelo ao longo eixo do dente, no ponto de contato. A leitura da medida foi realizada de modo a minimizar o efeito paralaxe. Os resultados mostraram que, em todas as posições dos dentes, o compasso fornece medida significantemente maior que o paquímetro. Na segunda parte do trabalho, comparou-se a variança para os dentes individualmente e estudou-se o erro experimental e acidental entre os investigadores. Os resultados mostraram que a variabilidade nas discrepâncias aumentou do incisivo central ao segundo molar, permanecendo dentro de limites aceitáveis de erro experimental. A diferença entre os investigadores foi menor que 0,1 mm, considerada pelos autores sem significância prática. Na terceira parte do estudo, comparou-se as medidas tomadas diretamente na boca e nos modelos de gesso. Os autores admitiram maior dificuldade de medir os dentes na boca comparada com o modelo, entretanto esta

31 dificuldade não é importante para os dentes anteriores, afirmam que os incisivos laterais superiores e caninos inferiores são mais difíceis de mensurar devido a características morfológicas. O objetivo do estudo de Brook (1986) foi quantificar a confiabilidade de medidas analisadas por imagens com medidas manuais do diâmetro mésio-distal dos dentes. Avaliou-se 50 modelos de estudo de estudantes de odontologia, com média de idade de 20,4 anos. A imagem dos modelos foram obtidas por uma câmara de TV, digitalizados e estabelecido o contorno dos dentes em 32 pontos. Os dentes eram visualizados no aspecto vestibular e oclusal, calculando-se automaticamente o diâmetro mésio-distal. Os mesmos modelos foram medidos manualmente com paquímetro digital Mitutoyo, obtendo-se o maior diâmetro mésiodistal com o paquímetro paralelo à superfície vestibular e oclusal. Os resultados mostraram que a análise das imagens produziram médias levemente maiores que as medidas manuais. A exceção foi para a vista vestibular, na qual a análise da imagem dos incisivos laterais superiores e inferiores e primeiros molares superiores foram menores do que as médias correspondentes para as medidas manuais. Houve maior correlação da imagem na vista oclusal do que na vista vestibular com as medidas manuais. As medidas manuais produziram menor variabilidade do que o método de análise por imagem. A média de reprodutibilidade foi 96% para medidas manuais, comparado com 81% e 66% para análise da imagem na vista oclusal e vestibular, respectivamente. Richmond (1987) descreveu um método para registrar medidas tridimensionais dos arcos dentários, utilizando variáveis de utilidade clínica tais como: trespasses vertical e horizontal, desvio de linha média, largura mésio-distal, ângulo interincisal e largura intercaninos, plano oclusal, distâncias intermolares e comprimento e discrepância da curva parabólica. Utilizou-se 12 conjuntos de modelos selecionados aleatoriamente. Identificou-se 110 pontos registrados pelo metrograph reflex. Os resultados mostraram que os erros intra e inter-observadores foram aceitáveis e sem diferenças significantes para o valor de p > 0,05 para o intra-observador e p> 0,01 para a leitura inter-observadores. Os autores consideram que a análise pode ilustrar e quantificar características de uma