CARACTERIZAÇÃO DIAGNÓSTICA DAS LER/DORT NA AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA

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Transcrição:

CARACTERIZAÇÃO DIAGNÓSTICA DAS LER/DORT NA AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA ALVES, Ana Caroline Marques¹ DE MORAES, Bruna Lorena Lacerda¹ FREIRE, Aléxia Carlos¹ PEDROSA, Ana Luiza de Paiva¹ DE ALENCAR, Jerônimo Farias² Centro de Ciências da Saúde /Departamento de Fisioterapia/PROBEX. RESUMO Os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) ou Lesões por Esforços Repetitivos (LER) são termos de natureza coletiva que traduzem quadros clínicos de dor crônica de origem ocupacional. O objetivo desse relato é apontar a importância da avaliação fisioterapêutica com ênfase na cinesiologia do trabalho para LER/DORT. Neste sentido, o projeto visou estudar, desenvolver e validar instrumentos de avaliação da capacidade cinético-funcional e outros protocolos avaliativos relacionados à saúde do trabalhador, estabelecendo critérios para caracterizar o diagnóstico, tendo como meta criar uma metodologia adequada de avaliação e de atendimento fisioterapêutico em LER/DORT. No processo avaliativo destacamos como aspecto fundamental, correlacionar os sintomas apresentados com a organização, história ocupacional, fatores de risco para fundamentar a cinesiologia do trabalho ante as atividades ocupacionais desenvolvida pelo trabalhador. A avaliação engloba os seguintes domínios: identificação e anamnese clínica e ocupacional, avaliação física e funcional, além da avaliação dos aspectos psicossomáticos e distúrbios do sono. Ao analisar os dados colhidos durante as avaliações foi possível destacar que a maioria das ocupações investigadas exigia movimentos precisos, de receptividade e posturas prolongadas comprometendo as estrutura do sistema musculoesquelético e, portanto o estabelecimento de LER/DORT. Para uniformizar condutas avaliativas torna-se importante ampliar a percepção dos efeitos adversos de condições inadequadas do trabalho sobre o sistema músculo-esquelético e ter uma visão da globalização de todo o processo relacionado ao trabalho. PALAVRAS-CHAVE: LER/DORT, avaliação, fisioterapia. 1 UFPB Discentes colaboradores 2 UFPB Docente coordenador Jerônimo.alencar@gmail.com

INTRODUÇÃO: 2 As afecções do trabalho constituem-se em um conjunto de lesões que incidem sobre a saúde do trabalhador e ocorrem associadas a vários fatores de risco presentes no local do trabalho. Entre as várias patologias relacionadas ao trabalho, destacam-se as Lesões por Esforços Repetitivos ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT). Em termos conceituais Entende-se LER/DORT como uma síndrome relacionada ao trabalho, caracterizada pela ocorrência de vários sintomas concomitantes ou não, tais como: dor crônica, parestesia, sensação de peso, fadiga, de aparecimento insidioso. [ ] (BRASIL, 1998), com comprometimento de nervos, músculos, tendões, sinóvias, fáscias e ligamentos, de forma isolada ou associada(settini E SILVESTRE, apud CODO e ALMEIDA 1998), acarretando diminuição da função e incapacidade para o trabalho. Considerando a problemática das LER/DORTs do ponto de vista conceitual e de diagnóstico, o Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) em 1998, criou o Projeto de Fisioterapia do Trabalho (PROFIT - LER/DORT) com o objetivo de prestar assistência fisioterapêutica preventiva e terapêutica da saúde dos trabalhadores portadores de LER/DORT, provenientes do Programa de Saúde do Trabalhador do Hospital Universitário Lauro Wanderley - PROSAT /HU e do Centro de Referência da Saúde do Trabalhador - CEREST/JP, por meio da atenção individual e atividades em grupo. Neste sentido, o projeto visa estudar, desenvolver e validar instrumentos de avaliação da capacidade funcional e outros protocolos avaliativos e terapêuticos relacionados à saúde do trabalhador, estabelecendo critérios para caracterizar o diagnóstico a partir da avaliação cinético-funcional, tendo como meta criar uma metodologia adequada de avaliação e de atendimento fisioterapêutico em LER/DORT, visando sua reprodução nos demais serviços públicos de maneira descentralizada e regionalizada. O projeto integra ações coordenadas com o ensino, a pesquisa e a extensão no processo de capacitação do aluno. DESENVOLVIMENTO: A caracterização diagnóstica das LER/DORTs torna-se difícil por sua origem ser multifatorial e está associada a fatores individuais, biomecânicos, organizacionais e psicossociais que podem conduzir a diferentes diagnósticos clínicos. Entre os fatores

3 pessoais e individuais destacam-se a idade, sexo, hereditariedade, doenças sistêmicas e crônicas, fatores hormonais, dentre outros. Em relação aos fatores biomecânicos incluem-se os movimentos repetitivos, uso excessivo de forças, posturas inadequadas, compressões mecânicas, falta de repouso, equipamentos e layout do ambiente de trabalho. Já os fatores organizacionais estão relacionados à ausência de pausas entre as atividades, ritmo na execução do trabalho, forma de produção entre outros, e quanto aos fatores psicossociais podemos destacar a satisfação com o trabalho, as relações pessoais, personalidade, autonomia e expectativas individuais (GIL. et al.1999). A determinação do diagnóstico é importante para direcionar as decisões clínicas, preventivas, terapêuticas e legais. Além deste aspecto, a conclusão diagnóstica é difícil porque, na grande maioria das vezes, não existem registros que permitam a obtenção da história pregressa do trabalhador, investigação de exames clínicos préadmissionais, assim como, a exposição do trabalhador a riscos do trabalho. Estas situações são particularmente importantes no surgimento de patologias inespecíficas ou situações decorrentes de exposições mistas, ocupacionais ou não ocupacionais, o que dificulta a definição da contribuição do trabalho executado na ocorrência da patologia. Trabalhos amplos e criteriosos de revisão da literatura realizados por Strock (1991); Bernard (1997) indicam fortes evidências epidemiológicas entre essa síndrome e fatores ocupacionais. Esta correlação permite adoção de medidas e de controle adotadas em situação de riscos ocupacionais para redução de lesões musculoesqueléticas dentre trabalhadores. A manifestação clínica mais evidente dessa síndrome é a dor, de início insidioso e que com o passar do tempo pode tornar-se crônica conduzindo à incapacidade funcional e/ou laboral. Esta sensação dolorosa é acompanhada de reações cognitivas e emocionais, portanto, sua análise não pode ser vista apenas no aspecto fisiológico devido o envolvimento dos aspectos psicossociais e individuais do trabalhador (ASSUNÇÃO e ALMEIDA, 2003). O (PROFIT - LER/DORT) propõe critérios que possam ser empregados para caracterizar as manifestações sintomatológicas das disfunções musculoesqueléticas que são consideradas LER/DORT. O critério principal proposto é o desenvolvimento de uma avaliação cinético-funcional que correlaciona os sintomas apresentados com a história ocupacional e a cinesiologia do trabalho desenvolvida pelo trabalhador ante as suas atividades ocupacionais ou laborais.

METODOLOGIA: 4 O projeto é composto por atendimentos, duas vezes por semana, a um grupo de trabalhadores, portadores de LER/DORT. Inicialmente, o paciente é submetido uma avaliação criteriosa que engloba os seguintes domínios: identificação, anamnese clínica e ocupacional, avaliação física, funcional, enfatizando o histórico ocupacional, se detendo aos diversos fatores de risco envolvidos no dia-a-dia para construção da cinesiologia do trabalho do profissional. A identificação registra todos os dados pessoais do paciente, bem como as informações do histórico laboral (tempo de trabalho, profissão, função, organização do trabalho, identificação dos riscos). A anamnese clínica contém queixa principal, história da doença atual, diagnóstico médico, antecedentes pessoais e familiares, historia social do paciente e laudos de exames complementares. A avaliação física é composta de etapas adotadas na clínica: a inspeção, a palpação, a mensuração da amplitude de movimento das articulações envolvidas na patologia, capacidade de contração muscular, nos grupos musculares relacionados à patologia. Também são realizados alguns testes clínicos, com o objetivo de avaliar a condição da área testada e auxiliar a elaboração do diagnostico cinético funcional. No campo da avaliação funcional é aplicado um questionário constituído de 20 questões com diversas atividades de vida diária, cuidados pessoais, para as quais o paciente é orientado a apontar seu grau de dificuldade. A graduação é de 0 a 3, onde 0 = sem qualquer dificuldade, 1= com alguma dificuldade, 2= com muita dificuldade, 3 = incapaz de fazer. Ao avaliar a situação ocupacional os dados são coletados por meio de um formulário caracterizado por perguntas objetivas, inclui informações sobre a ocupação atual, situação previdenciária, afastamento do trabalho, emprego atual e aspectos organizacionais do trabalho referente ao emprego atual e ao anterior, os principais fatores de risco: repetitividade, movimentos e posturas durante o trabalho, exigências de produtividade, jornadas prolongadas, ritmo intenso, ferramentas de trabalho, mobiliário adequado, ambiente físico, iluminação, temperatura, ruídos e vibração. Após os procedimentos acima descritos é construído a cinesiologia do trabalho. a partir das informações descritas em relação aos fatores de risco e a tarefa realizada para caracterizar o quadro clínico disfuncional do paciente como LER/DORT. Outro ponto estabelecido pelo projeto para avaliação é a investigação dos aspectos psicossomáticos e os distúrbios do sono, manifestações comuns em trabalhadores com LER/DORT.

RESULTADOS 5 Ao analisar os dados colhidos durante as avaliações foi possível correlacionar às manifestações apresentadas com as condições de trabalho. Dentro desse contexto, a maioria das ocupações investigadas exigia movimentos de repetitividade e posturas prolongadas. Quanto ao tempo de trabalho, pôde-se constatar que os trabalhadores passavam muitas horas dedicando-se a mesma função durante anos consecutivos. Os aspectos acima relatados possuem uma grande influência na sobrecarga atribuída ao sistema musculoesquelético, fazendo com que se desenvolva um quadro álgico com conseqüente impossibilidade de realizar suas atividades laborais podendo comprometer também suas atividades de vida diária (AVD s). As limitações geradas pela LER/DORT ressoam no paciente um quadro de debilidade emocional. Foram avaliados ansiedade, depressão e distúrbios do sono, que evidenciam o agravamento da tensão muscular e da dor. Os questionários respondidos na avaliação apontam a presença da impossibilidade de realizar AVD S. O afastamento do trabalho e a limitação financeira têm sido a principal responsável pela perpetuação do quadro emocional. Os resultados mostraram a prevalência de quadros agudos acompanhada de repercussão no âmbito físico, funcional, emocional e sócio-econômico dos trabalhadores. CONCLUSÃO: No estabelecimento de diagnóstico de LER/DORT, a valorização dos aspectos pessoais, biomecânicos, organizacionais e psicossociais relacionados à história ocupacional é fundamental para considerar os riscos presentes no trabalho, como também é necessário para estabelecer a associação entre estes e a possibilidade de surgir e/ou agravar o quadro de sinais e sintomas do paciente, portanto, para o diagnóstico e à incapacidade. Para uniformizar condutas avaliativas na análise clínica da LER/DORT torna-se importante ampliar a percepção dos efeitos adversos de condições inadequadas do trabalho sobre o sistema músculo-esquelético, assim, seria necessário garantir aos profissionais da área da saúde, particularmente de fisioterapeutas, sobre como avaliar ergonomicamente o trabalho realizado por pacientes apresentando lesões com envolvimento ocupacional, melhorando a condição funcional e a qualidade de vida dos trabalhadores.

REFERÊNCIAS 6 1.SETTIMI MM, SILVESTRE MP. LER: um problema da sociedade brasileira. In: Codo W, Almeida MCG, editores. LER Lesões Por Esforços Repetitivos. 1a ed. Petrópolis: Ed. Vozes; 1998. 2. GIL COURY HJC, WALSH IAP, PEREIRA ECL, MANFRIM GM, Perez l. Indivíduos portadores de L.E.R. acometidos há 5 anos ou mais: Um estudo de evolução da lesão. Rev bras fisioter; 3(2): 79-86; 1999. 3. STROCK SR. Workplace ergonomic factors and the development of musculoskeletal disorders of the neck and upper limbs: A meta-analysis. Am J Ind Med; 19: 87 107; 1991. 4. BERNARD BP. Musculoskeletal disorders and workplace factors: A critical review of epidemiologic evidence for work related musculoskeletal disorders of the neck, upper extremity and low back. U. S. Department of Health and Human Sevices: Center for disease Control and Prevention, National Institute for occupational Safety and Health, Jully 1997. 5. ASSUNÇÃO AA, ALMEIDA IM. Doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho: membro superior e pescoço. In: Patologia do Trabalho. 2ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2003.