AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DE POMARES CÍTRICOS DA REGIÃO DE BEBEDOURO



Documentos relacionados
MÉTODOS DE CORREÇÃO DO SOLO

RESULTADOS E DISCUSSÃO

CALAGEM, GESSAGEM E AO MANEJO DA ADUBAÇÃO (SAFRAS 2011 E

PRODUTIVIDADE DO FEIJOEIRO COMUM EM FUNÇÃO DA SATURAÇÃO POR BASES DO SOLO E DA GESSAGEM. Acadêmico PVIC/UEG do Curso de Agronomia, UnU Ipameri - UEG.

FERTILIZANTES Fertilizante: Classificação Quanto a Natureza do Nutriente Contido Quanto ao Critério Químico Quanto ao Critério Físico

Claudinei Kurtz Eng Agr MSc Epagri EE Ituporanga Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas. Governo do Estado

Fertilização em Viveiros para Produção de Mudas

Nutrição do cafeeiro e uso de Sódio S na agricultura. de Oliveira Silva Guilherme Maluf Breno Geraldo Rabelo Leblon Urbano Guimarães

RELATÓRIO FINAL. AVALIAÇÃO DO PRODUTO CELLERON-SEEDS e CELLERON-FOLHA NA CULTURA DO MILHO CULTIVADO EM SEGUNDA SAFRA

ADENSAMENTO DE PLANTIO: ESTRATÉGIA PARA A PRODUTIVIDADE E LUCRATIVIDADE NA CITRICULTURA.

COMPARAÇÃO DE MÉTODOS PARA DETERMINAR A NECESSIDADE DE CALAGEM EM SOLOS DO MUNICÍPIO DE IPAMERI-GO


CURSO P.I. PÊSSEGO - ANTONIO PRADO - RS ADUBAÇÃO FOLIAR EM PESSEGUEIRO CULTIVADO NA SERRA GAÚCHA RESOLVE?

Aplicação de dejetos líquidos de suínos no sulco: maior rendimento de grãos e menor impacto ambiental. Comunicado Técnico

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Centro de Aquicultura - Setor de Carcinicultura Responsável: Prof. Dr. Wagner Cotroni Valenti

Comunicado Técnico. Guia de identificação de deficiências nutricionais em Brachiaria brizantha cv. marandu. Introdução

FERTILIDADE E MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO EM DIFERENTES SISTEMAS DE MANEJO DO SOLO

Interpretação da análise de solo

RESUMO. Introdução. 1 Acadêmicos PVIC/UEG, graduandos do Curso de Agronomia, UnU Ipameri - UEG.

ANÁLISE QUÍMICA DE TECIDO VEGETAL E DE RESÍDUOS AGROINDUSTRIAIS. Objetivos: ANÁLISES QUÍMICAS DE TECIDO VEGETAL E DE RESÍDUOS AGROINDUSTRIAIS

Aplicação de Nitrogênio em Cobertura no Feijoeiro Irrigado*

PLANTIO DIRETO. Definição JFMELO / AGRUFBA 1

ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DA RECUPERAÇÃO DE UMA ÁREA DEGRADADA POR EFLUENTE INDUSTRIAL

RELATÓRIO TÉCNICO GERALDO HENRIQUE FAZENDA ESTREITO FEVEREIRO 2010

COMPARAÇÃO DE DIFERENTES FONTES DE CÁLCIO EM SOJA

Há sempre resposta à adubação de manutenção do eucalipto? Um estudo de caso em Porto Velho (RO)

3. AMOSTRAGEM DO SOLO

SOLO NA FAIXA DE INFLUÊNCIA DO RIO MADEIRA, PORTO VELHO-RO A HUMAITÁ-AM

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DO SOLO/ PRODUÇÃO VEGETAL CURSO DE : MESTRADO E DOUTORADO

1. DETERMINAÇÃO DE UMIDADE PELO MÉTODO DO AQUECIMENTO DIRETO- TÉCNICA GRAVIMÉTRICA COM EMPREGO DO CALOR

CADUB 2.0. Tutorial de auxílio ao usuário

NUTRIÇÃO FOLIAR (FATOS E REALIDADES) Prof. Dr. Tadeu T. Inoue Solos e Nutrição de Plantas Universidade Estadual de Maringá Departamento de Agronomia

INDICADORES FINANCEIROS NA TOMADA DE DECISÕES GERENCIAIS

Pisa 2012: O que os dados dizem sobre o Brasil

Reconhecer as diferenças

CADUB 2.1. Tutorial de auxílio ao usuário

Recomendação de Adubação N, P e K....para os estados do RS e SC

22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental II USO DE EFLUENTES DE LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO PARA

Procedimento Técnico e Prático para Fertirrigação

FONTES E DOSES DE RESÍDUOS ORGÂNICOS NA RECUPERAÇÃO DE SOLO DEGRADADO SOB PASTAGENS DE Brachiaria brizantha cv. MARANDÚ

IT AGRICULTURA IRRIGADA. (parte 1)

PRÁTICAS SILVICULTURAIS

Lisina, Farelo de Soja e Milho

FALANDO DE CANA-DE-AÇÚCAR

UTILIZAÇÃO DOS RESULTADOS DE ANÁLISE DE LEITE: O SISTEMA DE INFORMAÇÃO DA CLÍNICA DO LEITE-ESALQ/USP

DESENVOLVIMENTO DE UM SOFTWARE NA LINGUAGEM R PARA CÁLCULO DE TAMANHOS DE AMOSTRAS NA ÁREA DE SAÚDE

AGRICULTURA DE PRECISÃO EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

INFORMAÇÕES SOBRE O PLANTIO DO EUCALIPTO NO SISTEMA DE INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA-FLORESTA

EFICIENCIA DE SISTEMAS DE APLICAÇÃO DE VINHAÇA VISANDO ECONOMIA E CONSCIENCIA AMBIENTAL

Graviola: Nutrição, calagem e adubação 36. Apresentação. Objetivo

PRODUÇÃO DO ALGODÃO COLORIDO EM FUNÇÃO DA APLICAÇÃO FOLIAR DE N E B

MRP II. Planejamento e Controle da Produção 3 professor Muris Lage Junior

AVALIAÇÃO DOS ATRIBUTOS QUÍMICOS DE UM SOLO SOB FLORESTA ATLÂNTICA NA FAZENDA SANTA RITA, FARIA LEMOS, MG

CULTIVO AGROECOLÓGICO DE TOMATE CEREJA COM ADUBAÇÃO VERDE INTERCALAR 1

CUIDADOS TÉCNICOS COM GRAMADOS

DIAGNOSE FOLIAR NAS CULTURAS DO CAJU E CAQUI. III Simpósio Brasileiro sobre Nutrição de Plantas Aplicada em Sistemas de Alta Produtividade

Adubação de plantio para Eucalyptus sp.

Recomendação de correção e adubação para tomate de mesa. Giulia Simioni Lívia Akasaka Patrick Oliveira Samara Barbosa

GSC EXPLICA SÉRIE EXPERTISE VETERINÁRIA

EFEITO DE DIFERENTES DOSAGENS DE LODO DE ESGOTO E FERTILIZAÇÃO QUÍMICA SOBRE A DISPONIBILIDADE DE FÓSFORO NO SOLO

AVALIAÇÃO DA FERTILIDADE DO SOLO

USO DE GESSO, CALCÁRIO E ADUBOS PARA PASTAGENS NO CERRADO

Recomendação de corretivos e fertilizantes para a cultura do café

Referências Bibliográficas

Composição do solo. 3 partes: Física: granulometria, porosidade, textura, dadas principalmente pelos. Químico: nutrientes disponíveis e ph

Diagnose do estado nutricional de plantas de Milho

PRODUÇÃO DE PORTA-ENXERTO DE MANGUEIRA EM SUBSTRATO COMPOSTO POR RESÍDUOS DA AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA

GASPAR H. KORNDÖRFER (Pesq. CNPq) UNIVERSIDADE FEDERAL UBERLANDIA

5 Resultados. 1 Os resultados apresentados foram obtidos com 1 rodada do simulador.

TEORES FOLIARES DE N, P E K EM MELANCIA FERTIRRIGADA COM DOSES DE NITROGÊNIO E FÓSFORO

Avaliação da fertilidade química dos solos em áreas de amoreirais utilizadas na criação do bicho-da-seda no Estado do Paraná.

Introdução a Química Analítica. Professora Mirian Maya Sakuno

POPULAçÃO DE PLANTAS DE SOJA NO SISTEMA DE SEMEADURA DIRETA PARA O CENTRO-SUL DO ESTADO DO PARANÁ

APLICAÇÃO FOLIAR DE ZINCO NO FEIJOEIRO COM EMPREGO DE DIFERENTES FONTES E DOSES

10º LEVANTAMENTO DE SAFRAS DA CONAB /2013 Julho/2013

QUESTÕES DE CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE AMBIENTAL. O 2(g) O 2(aq)

Piracicaba SP / 09 de Junho de 2016

ESTUDO DIRIGIDO Fertilidade do solo e nutrição de plantas

UTILIZAÇÃO DO LODO DE ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO PARA ADUBAÇÃO DA GOIABEIRA

INSTITUTO FLORENCE DE ENSINO COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM (TÍTULO DO PROJETO) Acadêmico: Orientador:

EXPLORAÇÃO DO CERRADO BRASILEIRO

A cultura da soja. Recomendação de correção e adubação

INSTITUTO MATO-GROSSENSE DO ALGODÃO - IMA. Boletim - Nº Outubro de 2008 QUANTO VALE A SOQUEIRA DO ALGODÃO?

MINAS, IDEB E PROVA BRASIL

Pesquisa da EPAMIG garante produção de azeitonas

AMOSTRAGEM DE SOLO PARA AVALIAÇÃO DA FERTILIDADE 1 INTRODUÇÃO

Decidir como medir cada característica. Definir as características de qualidade. Estabelecer padrões de qualidade

ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS PROGRAMAS DE APOIO ÀS PMEs NO BRASIL Resumo Executivo PARA BAIXAR A AVALIAÇÃO COMPLETA:

ESTUDO SOBRE CIRCULAÇÃO DE REVISTAS

O Plano Financeiro no Plano de Negócios Fabiano Marques

Organização em Enfermagem

INFLUÊNCIA DO LANÇAMENTO DE ESGOTO ORGÂNICO NAS CARACTERÍSTICAS LIMNOLÓGICAS DE CÓRREGOS AFLUENTES DO RIO CAMANDOCAIA, AMPARO/SP ETAPA II

Avaliação agronômica de variedades de cana-de-açúcar, cultivadas na região de Bambuí em Minas Gerais

Fertilização da Batateira. Raul Maria Cássia EMATER/MG Senador Amaral

Energia Eólica. Atividade de Aprendizagem 3. Eixo(s) temático(s) Ciência e tecnologia / vida e ambiente

2.2 - SÃO PAULO, PARANÁ, ESPÍRITO SANTO, BAHIA E RONDÔNIA.

Cláudio Tadeu Cristino 1. Julho, 2014

CAPÍTULO 1 Introduzindo SIG

O tornado de projeto é admitido, para fins quantitativos, com as seguintes características [15]:

Disciplinas. Dinâmica de Potássio no solo e sua utilização nas culturas

Transcrição:

BOLETIM CITRÍCOLA UNESP/FUNEP/EECB Junho nº 17/2001 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DE POMARES CÍTRICOS DA REGIÃO DE BEBEDOURO José Geraldo Baumgartner & José Ricardo Moreira Cabrita EECB

José Geraldo Baumgartner e José Ricardo Moreira Cabrita AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DE POMARES CÍTRICOS DA REGIÃO DE BEBEDOURO, NORTE DO ESTADO DE SÃO PAULO Jaboticabal - SP Funep 2001

Copyright : Fundação de Estudos e Pesquisas em Agronomia, Medicina Veterinária e Zootecnia - Funep Impressão e acabamento: Funep B348a Baumgartner, José Geraldo Avaliação Nutricional de pomares cítricos na região de Bebedouro/ José Ricardo Moreira Cabrita.- Jaboticabal: Funep, 2001 24p-; 21cm. -- ( Boletim Citricola) 1. Citros- Avaliação Nutricional. I. Titulo CDU - 6343 Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação - Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação 2001 Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão punidos na forma da lei. FUNDAÇÃO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM AGRONOMIA, MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA - Funep Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n 14884-900 - Jaboticabal - SP Tel.: (16) 3209-1300 / Fax: (16) 3209-1306 Home Page: http://www.funep.com.br

ÍNDICE 1. Introdução... 1 2. Amostras de Solo... 3 2.1. Critérios de Amostragem... 3 2.2. Análises Químicas... 4 2.3. Critérios Interpretativos... 4 2.4. Dados Analíticos Consolidados... 6 2.5. Variações Anuais dos Teores de P, K e da Saturação por Bases (V %)... 8 2.5.1. Teores de Fósforo Disponível... 8 2.5.2. Teores de Potássio Trocável... 10 2.5.3. Índice de Saturação por Bases (V %)... 11 3. Amostras de Folhas... 12 3.1. Critérios de Amostragem... 12 3.2. Análises Químicas... 13 3.3. Critérios Interpretativos... 14 3.4. Dados Analíticos Consolidados... 14 3.5. Deficiências de Boro e de Zinco... 20 4. Considerações Gerais... 22 5. Referências Bibliográficas... 23

1 Avaliação Nutricional de Pomares Cítricos da Região de Bebedouro José Geraldo Baumgartner e José Ricardo Moreira Cabrita 1. Introdução A região citrícola norte do Estado de São Paulo, ao redor do município de Bebedouro, representa importante pólo de produção de laranjas e de difusão de tecnologia. Abriga, desde 1982, a Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro (EECB), que desenvolve intensa atividade de pesquisa e extensão. Na área de nutrição e adubação de citros tem como suporte um moderno laboratório de análises químicas de solo, de folhas e análises tecnológicas de frutos, que vem mantendo excelente desempenho junto aos orgãos oficiais de controle de qualidade. A chamada região citrícola de Bebedouro, a priori, é constituída pelos municípios que se destacam em produção de citros, localizados num raio aproximado de 80 km daquele município. O clima subtropical da região, com inverno moderado, seco e verão quente, chuvoso (Cwa), é também privilegiado quanto a insolação para a citricultura. Com relação aos solos, predominam os ARGILOSOS VERMELHO- AMARELOS Eutróficos e ARGISSOLOS VERMELHOS DISTRÓFICOS e Eutróficos (Podzólicos), com textura arenosa/ média e média, relevo suave ondulado, bem como os LATOSSOLOS VERMELHOS (Roxos e Vermelho-Escuros), Distróficos, com texturas médias e suave ondulados (OLIVEIRA et al., 1999). Os ARGISSOLOS são originários de arenitos, formação Marília e Adamantina, enquanto os LATOSSOLOS, de partes

2 de basalto e arenito. As diferentes características texturais dos solos não chegam a recomendar variações de manejo químico da camada arável. A laranja Pêra é a variedade que predomina na região, com cerca de 60% da área plantada. Sua produtividade é relativamente baixa, da ordem de 80 kg por planta, ou pouco mais de 20t/ha, pouco evoluindo em relação aos dados de produtividade levantados por ROSSETO et al.(1988). Esses índices têm sido agravados nos últimos anos por condições desfavoráveis de distribuição de chuvas, pela incidência da clorose variegada dos citros (CVC) e por manejo irregular de calagem e adubação, que é afetado pelo preço obtido pelo produtor pela caixa de laranja nos últimos anos. Como os solos da região, sob um mesmo clima, não apresentam muitas variações, por origem, em suas características químicas da camada arável e como as práticas de calagem e adubação sofrem influências semelhantes, podese inferir que, ao longo do tempo, os pomares desenvolveram padrões de fertilidade do solo, que afetam a nutrição e adubação das plantas, característicos da região. Com base nisso, pensou-se em utilizar o banco de dados de análises de solo e de folhas dos pomares da região, obtidos nos laboratórios da Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro, SP, com a finalidade de estimar a atual situação nutricional média dos pomares, proporcionando assim aos produtores uma visão regional que possa orientá-los no manejo nutricional de suas respectivas glebas. Para representar a região foram selecionados dezessete municípios pelos critérios geográficos, de produção de laranjas e pelo número de amostras de solo e de folhas encaminhadas ao referido laboratório do ano de 1993 a 2000, os quais são os seguintes, em ordem alfabética: Barretos, Bebedouro, Colina, Colômbia, Itápolis, Jaborandi, Matão, Monte Azul Paulista, Olímpia, Pirangi, Severínea, Taiaçú, Taiuva, Tabapuã, Taquaritinga, Terra Roxa e Viradouro.

3 2. Amostras de Solo 2.1. Critérios de Amostragem As raízes das laranjeiras apresentam maior atividade de absorção de água e nutrientes em área situada entre 0,5 e 2,0 m de distância do tronco (MALAVOLTA e VIOLANTE NETTO, 1989). Em decorrência disso, a adubação é feita, preferencialmente, numa faixa lateral à planta, de largura igual ao raio da copa, localizada 2/3 para dentro e 1/3 para fora da linha de projeção da copa. Entretanto há também recomendação de adubação em área total para pomares em produção, o que, em princípio, levaria a um menor aproveitamento do adubo, na safra em curso. Em função da localização adotada para o adubo, devese estabelecer o critério de amostragem do solo, que visa, essencialmente, a reposição de fósforo e potássio via fertilizantes. A localização sistemática do adubo em faixas laterais às plantas cria padrões distintos de fertilidade em relação à região das entrelinhas (meio das ruas). As faixas adubadas são, no geral, mais ácidas e mais ricas em fósforo e potássio. Como a análise do solo visa também a correção de acidez, com aplicação de calcário que geralmente é feita em área total, pode-se recomendar uma segunda amostragem de solo a ser feita na entrelinha. Em resumo, para um pomar em produção, é aconselhável efetuar duas amostragens de solo a 0-20 cm de profundidade: uma no meio da faixa adubada, a mais ou menos 20 cm da linha de projeção da copa, e outra no meio da entrelinha. Cada amostra deve ser composta pelo solo retirado de pelo menos 20 pontos por área uniforme (quanto ao solo e à planta) do pomar. A recomendação de adubação deve ser feita com base na amostra de solo da faixa adubada, e para a dose de calcário consideram-se ambas as amostras. Para pomares em plena produção podem-se fazer análises

4 periódicas de fertilidade do solo com intervalos de 3 anos, monitorando-se as plantas com análises foliares feitas com freqüência de 1-2 anos. 2.2. Análises Químicas As análises de rotina de fertilidade do solo feitas pelo laboratório da E.E.C.B. seguem a metodologia oficial adotada pelo Sistema de Controle de Qualidade coordenado pelo Instituto Agronômico de Campinas, SP. Em resumo, os métodos analíticos, conforme RAIJ e QUAGGIO, 1983, são os seguintes: ph: Extração do H + com solução de CaCl 2 0,01 M e relação solo:solução extratora de 1:2,5. Matéria Orgânica: Oxidação por Na 2 Cr 2 O 7 4N em H 2 SO 4 10 N e quantificação colorimétrica. Fósforo: Extração por mistura de resinas (tipos base forte e ácido forte) e quantificação por colorimetria do complexo fosfomolíbdico (molibdato de amônio). Cálcio e Magnésio: Extração por mistura de resinas e quantificação pelo método complexométrico do EDTA. Potássio: Extração por mistura de resinas e quantificação por fotometria de chama de emissão. H + Al: Calculado a partir da leitura do ph em solução tampão SMP. 2.3. Critérios Interpretativos As classes de teores para interpretação de análises rotineiras de fertilidade do solo, propostas por QUAGGIO, 1996, são apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1. Classes de interpretação de resultados de análises de solo para citros no Estado de São Paulo. 5 Como se observa, a Tabela 1 não apresenta classes de teores para interpretação das análises de cálcio. Segundo RAIJ, 1991, para o Estado de São Paulo não foram encontrados critérios lógicos, em termos de fertilidade do solo, que relacionem teores de cálcio, bem como de matéria orgânica, acidez potencial (H + Al) e capacidade de troca de cátions (CTC) com produtividade ou diferenciação de manejo. Em razão disso, optou-se, neste trabalho, por não apresentar os dados de matéria orgânica e acidez potencial, mas, dada a importância do cálcio e conseqüentemente da calagem para a citricultura, decidiu-se pela avaliação dos teores de cálcio das análises, bem como os de CTC, necessários ao cálculo de doses de calcário. Para tanto, optou-se, como classes interpretativas para teores de cálcio, pelas adotadas por outros autores para outros estados brasileiros (SIQUEIRA et al., 1987) que são: Baixo: < 20; Médio: 21-40 e Alto: > 40, teores expressos em m mol c.dm -3 É importante salientar também que o banco de dados do laboratório da E.E.C.B. não tem representatividade para os micronutrientes, muito pouco solicitados pelos agricultores e em fase de estudo na citricultura. Por isso, as análises de micronutrientes em solo não constam deste trabalho, bem como os de enxofre. Este último não tem mostrado efeito na citricultura em virtude da elevada utilização de defensivos que o contêm.

6 2.4. Dados Analíticos Consolidados No período de 1993 a 2000 foram processadas 15.534 amostras de solo, provenientes dos dezessete municípios mais representativos desta região citrícola. Essas amostras foram submetidas às análises químicas rotineiras de fertilidade do solo e os dados analíticos médios, entre municípios e anos são apresentados na Tabela 2. Além dos índices de fertilidade do solo foram calculados índices de porcentagem de pomares deficientes (% Deficientes) tomando-se como referência os valores inferiores a: PH= 5; P= 13 mg.dm -3 ; K= 1,3 mmol c.dm -3 ; Ca= 20 mmol c.dm -3 ; Mg= 4 mmol c. dm -3 e V%=50. Tabela 2. Índices mínimos, médios, máximos e de pomares deficientes, das análises de fertilidade do solo, efetuadas no laboratório da E.E.C.B. Médias de 8 anos (1993-2000), da região citrícola de Bebedouro. De início, os valores da Tabela 2 mostram amplitudes largas entre os valores mínimos e máximos para os diferentes dados analíticos indicando significativa diversidade no uso de calcário e adubos. Os valores de fósforo, potássio e cálcio estão variando de muito baixos a altos enquanto os valores de magnésio entre médios e altos. A saturação por base (V %) média, entretanto, não chega a atingir níveis muito baixos. Esses valores de saturação por bases combinados com o índice de 51 % dos pomares deficientes em cálcio dificultam inferências com relação à calagem em termos de frequência

freqüência e doses necessárias. Entre as porcentagens de pomares deficientes verifica-se que o destaque é para o cálcio (51 % com teores inferiores a 20 m mol c. dm -3 ), estando a deficiência de fósforo em segundo lugar (32 %). O cálcio é o elemento que predomina destacadamente entre as bases trocáveis do solo e, dessa forma, comanda a reação do mesmo, indicada pelo ph. Neste aspecto há uma discrepância entre os dados, pois, enquanto 51 % dos pomares seriam deficientes em cálcio, apenas 24 % seriam ácidos, isto é, com valores baixos de ph e V %. Esses dados sugerem que o índice de 20 m mol c. dm -3 de cálcio parece superestimado como limite entre adequado e deficiente. Por outro lado há consistência entre os dados de ph e V %, ambos indicando, igualmente, uma média de 24 % de solos ácidos. Vale a pena lembrar que a calagem para citros em geral é recomendada para a elevação da saturação por bases a 70 % (V %). O valor médio, portanto mais representativo da região, neste período de 8 anos foi de V % = 58, sugerindo que o uso de calcário deveria ser incentivado. Há, contudo, a questão referente à V % adequada aos citros. BOARETTO et al., 1996, com base em minuciosa revisão bibliográfica concluiram que a pesquisa não indica aumentos de produtividade quando a V % é igual a 60. Ainda em relação à calagem há a questão do magnésio. Predominam na região os teores altos de magnésio nos solos (Mg > 8 m mol c. dm -3 ), com apenas 4 % de pomares deficientes nesse nutriente. É difícil compreender por que 51 % dos pomares apresentam teores baixos de Ca e apenas 4 %, teores baixos de Mg, uma vez que os calcários utilizados na região, predominantemente, são os dolomíticos com média de 24 % de CaO, 15 % de MgO e PRNT de 70 %, e os magnesianos com 30 % de CaO, 10 % de MgO e PRNT de 90,1 %. Apesar dos dados indicarem índices elevados de pobreza em cálcio e riqueza em magnésio, não há ainda justificativa 7

8 para indicação de uso de calcário calcítico. As plantas em geral, inclusive citros, apresentam alta tolerância ao magnésio, apesar deste ser um competidor na absorção e utilização de manganês. Estando o micronutriente adequadamente suprido, pode-se usar, na região, qualquer tipo de calcário, prevalecendo na escolha o preço e sua eficiência relativa (PRNT). Entretanto, para os poucos pomares que apresentam teores baixos de magnésio (< 4 mmol c. dm -3 ), recomenda-se o calcário dolomítico, pois a deficiência de magnésio pode ser induzida por altas doses de potássio às vezes empregadas. Com relação aos teores de fósforo e potássio encontrados, observa-se claramente que o problema maior é a deficiência de fósforo, presente em 32 % dos pomares, enquanto a de potássio situa-se na faixa dos 15 %. Os dados sugerem cuidados nos programas de adubação com uso de fórmulas contendo baixas proporções de fósforo, tipo 20-05-20 que, feito sistematicamente, poderá agravar a deficiência do nutriente para um número representativo de pomares. 2.5. Variações Anuais dos Teores de P, K e da Saturação por Bases (V %) A análise do solo é básica para a recomendação da calagem, através da V % e da adubação fosfatada e potássica, já que a adubação nitrogenada é indicada com base na análise foliar. Em vista disso, resolveu-se detalhar as variações anuais desses parâmetros, isto é, teores disponíveis de fósforo e potássio além da V %, para visualizar os efeitos recentes da calagem e da adubação na fertilidade dos solos dos pomares da região. 2.5.1. Teores de Fósforo Disponível Na Figura 1 são representadas as variações anuais dos teores máximos, médios e mínimos de fósforo no período 1993 a 2000, como médias de todos os municípios da região coletar

9 100 93 P solúvel mg.dm-³ 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 4 20 63 3 19 68 6 23 59 4 26 80 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Anos 3 29 Figura 1. Teores de fósforo solúvel (mg.dm -3 ) no período de 1993 a 2000. Médias de 17 municípios da região de Bebedouro, SP. A Figura 1 mostra oscilação nos teores máximos, médios e mínimos de fósforo solúvel das amostras, indicando que não há tendência de enriquecimento progressivo ou de empobrecimento dos solos em função da adubação fosfatada que vem sendo praticada. Verifica-se um contraste entre o ano de 1995 (valores mais baixos) e o de 1997 (valores mais altos), com posição intermediária para o ano de 1996, sugerindo que, nesse período, pode ter havido incremento no uso do nutriente por meio de doses e/ou freqüência de aplicação. As fórmulas e doses de adubos flutuam em função de diversas variáveis como produtividade, preço do produto, mudanças de critérios de recomendação, etc. Os dados médios das análises mostraram variação, no período, entre 19 mg.dm - 3 de P (1994) e 29 mg.dm -3 de P (1997). Esses valores estão dentro da classe considerada média de teores de fósforo, portanto com baixa probabilidade de resposta à adubação. O Grupo Paulista, 1994, recomenda a eliminação de fósforo na adubação quando o teor no solo estiver acima de 30 mg.dm -3, enquanto QUAGGIO, 1996, verificou que acima de 20 mg.dm -3 não foi obtida resposta à adubação 3 24 82 3 24 71 3 28 80 30 Teores Mínimos Teores Médios Teores Máximos 13 Faixa Adequada

10 fosfatada dos citros. Dessa forma, as oscilações de teor de fósforo nas análises da região, no período, justificam o decréscimo de uso de fósforo na adubação, mas os dados da Tabela 2 indicam necessidade de cautela nessa prática, pois um número significativo de amostras (32 %) apresentou valores abaixo de 13 mg.dm -3, que é considerado o valor limiar entre adequado e deficiente. 2.5.2. Teores de Potássio Trocável Na Figura 2 são apresentadas as variações dos teores máximos, médios e mínimos de potássio trocável no do período de 1993 a 2000, como médias de todos os municípios da região. 12 10 10,3 K trocável mmolc.dm-³ 8 6 4 2 0,8 2,6 6,5 0,8 2,8 0,8 2,5 5,4 1 2,7 5,3 0,7 2,6 5,4 0,7 2,7 6,6 0,6 2,1 5,8 0,8 2,3 6,1 Teores Mínimos Teores Médios Teores Máximos 3,0 1,6 Faixa Adequada 0 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Anos Figura 2. Teores de K trocável (mmolc.dm -3 ) no período de 1993 a 2000. Médias de 17 municípios da região de Bebedouro, SP. A Figura 2 mostra que os teores médios anuais de potássio trocável estão todos dentro de faixa adequada, indicando baixa probabilidade de resposta à adubação potássica, no geral. As adubações fosfatadas e potássicas, na maioria dos casos, são feitas simultaneamente e guardando certa relação

entre as doses de cada nutriente. Entretanto a distribuição anual de teores disponíveis, entre esses nutrientes, é distinta. Para o fósforo, no período de 1995 a 1997 houve acréscimo gradativo de teores solúveis nas amostras analisadas, enquanto, para o potássio houve estabilização e com teores máximos, inferiores aos valores registrados nos demais anos do período, ocorrendo um destaque para o ano de 1994, com o registro de teores muito altos do nutriente. De forma semelhante ao critério para a adubação fosfatada, no caso do potássio recomenda-se suprimir a adubação quando os teores no solo atingem valores iguais ou superiores a 3 mmol c. dm -3. A freqüência de dados nessa faixa (> 3 mmol c. dm -3 ) é relativamente alta, indicando que, em muitos casos, o mais razoável é a adubação individualizada com fósforo e potássio, em detrimento das fórmulas tradicionais de fertilizantes. 2.5.3. Índice de Saturação por Bases (V %) 11 Na Figura 3 são representadas as variações anuais dos teores máximos, médios e mínimos de saturação por bases no período de 1993 a 2000, para toda a região. Os dados da Figura 3 mostram que os valores médios obtidos para saturação por bases (V %) estão situados acima de 50 e abaixo de 70, com pequenas variações entre os diferentes anos. Isso indica que a maioria dos pomares demanda calagem, mas que a probabilidade de resposta a essa prática, em produção, é pequena, como foi discutido anteriormente. O V % abaixo de 50 representa apenas 24 % dos pomares (Tabela 2), e para esses valores a calagem é indispensável. Pressupõe-se que a maioria, se não a totalidade, das amostras encaminhadas tenham sido retiradas da faixa adubada que sofre processo de acidificação devido às reações dos adubos, no solo, principalmente. Nesta situação causam surpresa os valores máximos encontrados no diferentes

12 anos, que giram em torno de V % = 80 % e indicam excesso de calcário, por tratar-se de faixa adubada. É possível que o critério para calcular doses de calcário que utiliza a saturação por bases deva ser repensado para citros, pois as doses assim calculadas estabelecem a necessidade do corretivo para neutralizar a acidez da camada arável (0-20 cm), e nos pomares o calcário é aplicado em superfície. 90 80 80 80 77 82 77 82 81 78 70 60 50 55 52 54 59 53 60 62 60 70 50 Faixa de Referência V% 40 30 25 21 29 26 21 29 31 30 Mínimos Médios Máximos 20 10 0 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Anos Figura 3. Índices de saturação por base (V%) no período de 1993 a 2000. Médias de 17 municípios da região de Bebedouro, SP. 3. Amostras de Folhas 3.1. Critérios de Amostragem Os teores de nutrientes nas folhas variam em função de múltiplos fatores como a idade da folha, localização desta em ramo frutífero ou não frutífero, altura do ramo na planta, exposição ao sol, entre outros. Assim, para evitar erros = 2,0; 2) Micronutrientes (mg.kg -1 ): B = 36,0; Cu = 4,0; Fe = 50,0; Mn = 35,0; e Zn = 35,0.

exposição ao solo, entre outros. Assim, para evitar erros sistemáticos de amostragem, recomenda-se, para citros, as 3 as ou 4 as folhas de ramos frutíferos, com 6 meses de idade, da brotação da primavera anterior, tendo o fruto diâmetro máximo de 4 cm. Coletam-se 4 folhas por planta, uma em cada quadrante (norte, sul, leste, oeste), na altura média da copa, em número de 25 plantas por área uniforme, totalizando 100 folhas por amostra. Na região de Bebedouro, SP, a amostragem, como é indicada, coincidirá no período de meados de fevereiro a meados de março de cada ano, variando um pouco em função do início das chuvas e da brotação da primavera. Deve-se observar um mês de intervalo entre a última adubação via solo ou foliar e a coleta das amostras. 3.2. Análises Químicas 13 As análises foliares de teores totais de macro e micronutrientes nas folhas feitas pelo laboratório da E.E.C.B. seguem a metodologia indicada por BATAGLIA et al., 1983. A amostra, depois de lavada, seca, moída e peneirada, é submetida à digestão para extração dos diferentes nutrientes. Usa-se mistura digestora à base de ácido sulfúrico para extração do nitrogênio, mistura de ácidos nítrico e perclórico para extração de fósforo, potássio, cálcio, magnésio, cobre, ferro, manganês e zinco, e finalmente a incineração para extração de boro e molibdênio. A análise de nitrogênio é feita por destilação, as de fósforo, enxofre e boro, por colorimetria, e as de potássio, cálcio, magnésio, cobre, ferro, manganês e zinco, por espectrofotometria de absorção atômica. As análises foliares, no Estado de São Paulo, são submetidas ao Programa de Controle de Qualidade coordenado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - USP.

14 3.3. Critérios Interpretativos Os teores de nutrientes nas folhas são interpretados mais comumente por meio das faixas de suficiência, embora já existam programas de computação para avaliação pelo sistema integrado de diagnóstico e recomendação (índices DRIS). Na Tabela 3 são apresentadas as faixas de suficiência atualmente em uso, propostas pelo GRUPO PAULISTA, 1994, para citros. Tabela 3. Faixas de teores adequados para macro e micronutrientes em amostras de terceira ou quarta folhas de ramos frutíferos de citros. 3.4. Dados Analíticos Consolidados No período de 1994 a 2000 foram processadas 1.749 amostras de folhas de citros pelo laboratório da E.E.C.B. provenientes dos dezessete municípios representativos da região. Os dados analíticos médios, dos teores totais de macro e micronutrientes, entre municípios e anos, são apresentados na Tabela 4. Além das análises rotineiras de diagnose foliar, foram calculados índices de pomares deficientes tomando-se como referência os valores inferiores a: 1) Macronutrientes (g.kg -1 ): N = 23,0; P = 1,2; K = 10,0; Ca = 35,0; Mg = 2,5; S = 2,0;2) Micronutrientes (mg.kg -1 ): B = 36,0; Cu = 4,0; Fe = 50,0; Mn = 35,0; e Zn = 35,0.

Tabela 4. Índices mínimos, médios e máximos de teores totais de macro e micronutrientes nas 3 as ou 4 as folhas de ramos frutiferos de citros e de porcentagens de pomares deficientes. Médias de 7 anos (1994 a 2000), da região de Bebedouro. Índices Macronutrientes (g.kg -1 ) Micronutrientes (mg.kg -1 ) N P K Ca Mg S B Cu Fe Mn Zn Mínimos 20 0,7 7,2 21 2,2 1,6 24 5 90 29 18 Médios 25 0,9 12,8 32 3,8 2,4 35 14 148 54 44 Máximos 33 1,3 20,6 47 5,9 3,2 55 38 222 101 97 % Deficientes 28 % 78 % 22 % 38 % 30 % 10 % 56 % 9 % 1 % 23 % 49% 15 Os dados da Tabela 4 mostram que, em termos de freqüência de pomares deficientes, os problemas nutricionais de citros da região podem ser ordenados da seguinte forma : P > B > Zn > Ca > Mg > N > Mn > K > S > Cu > Fe. Entretanto, considerando os valores médios (Tabela 4) que são os mais representativos, em comparação com as faixas adequadas (Tabela 3), verifica-se que os teores de N, K, Mg, S e Zn estão dentro dessas faixas, os teores de Cu, Fe e Mn, acima da faixa adequada, e apenas os teores médios de P, Ca e B situam-se abaixo da mesma. Combinando-se então freqüência de pomares deficientes com os índices médios de teores foliares, pode-se concluir que os problemas nutricionais mais importantes são os de deficiência de fósforo e de boro. Para auxiliar na interpretação desses dados de análises foliares, recorreu-se ao sistema DRIS, disponibilizado em caráter experimental pela Potafós (Piracicaba, SP). Os valores médios da Tabela 4 foram encaminhados, via Internet, a essa Entidade, recebendo a interpretação constante da Figura 4. Os índices DRIS obtidos (Figura 4) destacam a deficiência de boro em primeiro plano, seguida da deficiência de fósforo. Por outro lado, há um destaque para excesso de magnésio, superando inclusive o índice obtido para o ferro, freqüentemente presente em níveis altos nas análises foliares.

16 Fonte: Potafós, Piracicaba-SP Figura 4. Diagnóstico nutricional DRIS para citros, para os valores médios regionais, período de 1994 a 2000. As análises de solo (Tabela 2) já haviam destacado os mesmos problemas relativos aos macronutrientes P e Mg, mas, infelizmente, não foram requisitadas análises de B pelos produtores. Assim sendo, para uma observação comparada dos diagnósticos via análises de solo e foliares, entre municípios, nos períodos de 1994 a 2000, foram preparadas as Figuras 5 (fósforo) e 6 (magnésio), relativas aos índices de pomares deficientes. Embora os índices DRIS não tenham evidenciado problemas de deficiência de potássio, mas apenas ligeiro excesso, optou-se por comparar as análises de solo e de folhas também para esse nutriente, considerando a importância dessas análises na recomendação anual das doses de NPK (Figura 7). A Figura 5 mostra que há significativa discrepância entre os diagnósticos de deficiência via análise de solo ou análise foliar para o fósforo. Na média entre os 15 municípios considerados, as análises de solo indicam 33 % de pomares deficientes, enquanto as análises foliares, 84 %. É preciso destacar aqui que esses valores diferem um pouco dos apresentados nas Tabelas 2 e 4, pois para a elaboração das figuras foram omitidos os dados de análise de solo do ano de 1993, quando não havia ainda condições de

laboratório para a execução de análises foliares. Também não constam os dados dos municípios de Taiaçu e Taiúva, pois não foram recebidas amostras de folhas dos mesmos, ao longo de todo o período considerado. 17 Municípios 73% Barretos 47% 78% Bebedouro 39% 96% Colina 38% 84% Colômbia 23% Itápolis 91% 32% Jaborandi 71% 22% Matão 96% 38% Monte Azul Pta. 93% 36% 89% Olímpia 32% Pirangi 56% 48% 97% Severínia 16% 97% Tabapuã 35% 90% Taquaritinga 25% 57% Terra Roxa 38% 100% Viradouro 30% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% % Análises de Folha Análises de Solo Figura 5. Porcentagens de pomares deficientes em fósforo, conforme análises de solo e de folhas, por município, no período de 1994 a 2000. Há poucos trabalhos na literatura que visam a comparação entre análises de solo e de folhas para citros, mas estes mostram, em geral, baixa correlação entre as mesmas. Du PLESSIS, 1977, comparou análises de solo e de folhas para citros na África do Sul, e suas conclusões têm encontrado apoio em outros trabalhos de diferentes países. No caso do fósforo, os trabalhos de pesquisa sugerem que o diagnóstico via solo é mais eficiente que o via foliar, e a utilização conjunta pouco acrescenta à avaliação feita apenas via solo. No geral, teores altos de fósforo no solo não correspondem a aumentos do mesmo nas folhas, pois as plantas em deficiência respondem com emissão de ramos e folhas, diluindo os teores foliares, além do que nem tudo

18 que é disponível no solo é acessível às raízes. Isso é válido para os diferentes nutrientes, mas tem importância relativamente maior para o fósforo. O ideal para comparar as análises de solo e de folhas que as amostras sejam provenientes da mesma área, o que não ocorre neste trabalho, em que se tem número muito maior de amostras de solo. Levando-se em conta essas considerações e limitações pode-se, pela análise de solo, admitir que cerca de 33 % dos pomares da região apresentaram-se deficientes em fósforo (teores disponíveis inferiores a 13 mg.kg -1 ). A avaliação de 84 % de pomares deficientes, via análise foliar (teores inferiores a 1,2 (g.kg -1 ), parece exagerada, mas reforça a idéia de que a omissão do nutriente na adubação, que já vem sendo aplicada em alguns casos, exige cautela. Barretos 4% 18% Municípios Bebedouro Colina Colômbia Itápolis Jaborandi Matão Monte Azul Pta. Olímpia Pirangi Severínia 2% 2% 1% 1% 1% 1% 2% 1% 1% 5% 12% 20% 21% 19% 26% 36% 44% 48% 61% 60% Análises de Folha Análises de Solo Tabapuã 3% 44% Taquaritinga Terra Roxa Viradouro 2% 5% 1% 28% 35% 49% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% % Figura 6. Porcentagens de pomares deficientes em magnésio, conforme análises de solo e de folhas, por município, no período e 1994 a 2000 A Figura 6 mostra alta divergência entre análises de solo e de folhas na identificação dos pomares deficientes em magnésio. As análises de solo mostram, em média, apenas 2 % dos pomares deficientes em magnésio, o que deixa margem para alta porcentagem com teores adequados e altos.

Ë bom lembrar que os índices DRIS, aplicados aos valores médios das análises foliares, também apontam para excesso de magnésio. No entanto a avaliação feita pelas faixas de suficiência nas folhas mostra que, dos 15 municípios avaliados, 6 apresentam porcentagens relativamente altas (entre 44 % e 61 %) de pomares deficientes (teores inferiores a 2,5 g.kg -1 ) e, na média geral, 35 % de pomares deficientes. Du PLESSIS, 1977, e outros consideram que para o diagnóstico de magnésio em citros têm-se usado preferentemente as análises foliares em relação às de solo devido à interferência de outros cátions trocáveis do solo, Ca 2+ e K +, especialmente esse último, na absorção de Mg 2+ pelas plantas. Isso dificulta o estabelecimento dos índices interpretativos de Mg 2+ disponível no solo, isoladamente. Assim sendo, é preferível optar pela avaliação de 35 % de pomares deficientes em magnésio, das análises foliares, o que ameniza a pressão de recomendação de calcários calcíticos para a região. 19 Municípios Barretos Bebedouro Colina Colômbia Itápolis Jaborandi Matão Monte Azul Pta. Olímpia Pirangi Severínia Tabapuã Taquaritinga Terra Roxa Viradouro 3% 3% 4% 6% 7% 7% 10% 16% 14% 13% 15% 12% 15% 17% 14% 20% 22% 24% 27% 27% 28% 27% 30% 31% 31% 31% 40% 39% 45% 50% Análises de Folha Análises de Solo 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50% % Figura 7. Porcentagens de pomares deficientes em potássio, conforme análises de solo e de folhas, por município, no período de 1994 a 2000

20 A Figura 7 relaciona os dados de análises de solo e de folhas para o potássio nos diversos municípios. Diferentemente do que se observou em relação aos dados de fósforo (Figura 5) e magnésio (Figura 6), em que as análises foliares, mais rigorosas, indicaram porcentagens de pomares deficientes bem mais altas que as de solo, para o potássio (Figura 7) as avaliações de ambas as análises praticamente se equivalem. Observa-se em alguns municípios que as análises de solo indicam maiores porcentagens de pomares deficientes, e em outros essa indicação é feita pelas análises foliares. Os trabalhos de Du PLESSIS (1977) indicam que para o potássio há um ganho no diagnóstico nutricional quando são combinadas as duas análises. Seguindo esse critério, a média entre análises de solo (15 %) e de folhas (25 %) será de 20% de pomares deficientes em potássio entre os municípios da região. Esse índice recomenda também cautela na retirada do potássio da adubação, devendo-se, para isso, combinar os diagnósticos das análises de solo e de folhas e levar em conta a alta exportação do nutriente através dos frutos. 3.5. Deficiências de Boro e de Zinco As avaliações para os micronutrientes foram feitas apenas por meio das análises foliares. Também via foliar são feitas aplicações rotineiras de boro, manganês e zinco, embora a deficiência de boro possa ser corrigida mais eficientemente via solo. Os dados da Tabela 4 mostram que a deficiência de manganês é de ocorrência significativamente menor que as de boro e zinco, em média, na região, e por isso resolveu-se detalhar a distribuição desse último por município (Figura 8). Os dados da Figura 8 mostram larga amplitude de porcentagens de deficiência para boro, desde zero (Tabapuã) até 86 % dos pomares (Matão), e também para zinco, desde

21 18 % (Matão) até 95 % (Jaborandi). Na média geral a deficiência de boro predomina, com 56 % dos pomares apresentando teores foliares abaixo de 36 mg.kg -1. Mas também a porcentagem de pomares deficientes em zinco é expressiva, com 49 % dos mesmos apresentando teores abaixo de 35 mg.kg -1. Entretanto, os valores médios mais freqüentes, para o zinco situam-se em 44 mg.kg -1, dentro da faixa adequada. Esses valores médios relativamente altos são favorecidos pelos teores máximos encontrados, da ordem de 97 mg.kg, -1 que refletem, provavelmente, contaminação das amostras, decorrente das pulverizações rotineiras. Isso ocorre também para o manganês, pondo em evidência a importância de respeitar um intervalo mínimo de 30 dias entre uma pulverização foliar e a amostragem de folhas. É sabido que a lavagem das folhas, feita nos laboratórios, não permite a descontaminação de nutrientes recentemente pulverizados. Municípios Barretos Bebedouro Colina Colômbia Itápolis Jaborandi Matão Monte Azul Pta. Olímpia Pirangi Severínia Tabapuã Taquaritinga Terra Roxa Viradouro 0% 18% 19% 32% 34% 33% 28% 40% 40% 42% 42% 45% 47% 51% 56% 53% 55% 55% 58% 54% 54% 62% 62% 61% 65% 68% 69% 74% 86% 95% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% % Deficiência em Zinco Deficiência em Boro 4Figura 8. Porcentagens de pomares deficientes em boro e em zinco, conforme análises foliares. Médias de 7 anos (1994-2000), para os diferentes municípios da região de Bebedouro, SP.

22 4. Considerações Gerais As análises de solo (15.534 amostras) tiveram ampla preferência em relação às de folhas (1.749 amostras) para avaliação do estado nutricional dos pomares, na região de Bebedouro, no período considerado (1993 a 2000). Essas análises se complementam, e o ideal seria que se tivesse, no mínimo, um número igual delas. Além do monitoramento anual do desempenho do programa de adubação, as análises foliares são indispensáveis para avaliar o estado nutricional em relação ao nitrogênio e aos micronutrientes, enquanto as análises de solo são as únicas ferramentas disponíveis para quantificar a acidez dos solos e as doses de corretivos. As análises de solo, isoladamente, indicaram como principais problemas da região a deficiência de fósforo e a acidez. Além disso, indicaram, na média, teores altos de magnésio e um número relativamente baixo de pomares deficientes em potássio (15 %). As análises de folhas, isoladamente, indicaram a seguinte sequência de problemas nutricionais em termos de porcentagens de pomares deficientes: P > B > Zn > Ca > Mg > N > Mn > K > S > Cu > Fe. Entretanto a avaliação pelos índices DRIS dos teores médios regionais mostraram a seguinte ordem de problemas: deficiência de boro > excesso de magnésio > deficiência de fósforo. Confrontando-se as análises de solo com as de folhas, em relação ao magnésio, concluiu-se que 30 % dos pomares são deficientes no nutriente, apesar dos teores elevados encontrados nas análises de solo, indicando que, em muitas situações, se não no todo, não há motivos ainda para se pensar em substituir os calcários dolomíticos ou magnesianos. Combinando-se os dados de análises de solo e de folhas, concluiu-se que 20 % dos pomares analisados

23 deficiência de potássio, e esse número, apesar de baixo, recomenda cautela na retirada desse nutriente da adubação. Para essa arriscada decisão, devem-se combinar as informações dos dois tipos de diagnóstico. Com relação aos micronutrientes, avaliados apenas pela diagnose foliar, concluiu-se que os problemas podem ser assim representados: (B > Zn) >> Mn, isto é, os problemas relativos ao manganês são bastante inferiores aos de boro e zinco. A deficiência de cobre pode ocorrer esporadicamente, e a de ferro é nula. 5. Referências Bibliográficas BATAGLIA, O.C., FURLANI, A.M.C., TEIXEIRA, J.P.F., FURLANI, P.R., GALLO, J.R. Métodos de Análises Químicas de Plantas. Campinas, Instituto Agronômico. 1983. 48p. (Boletim Técnico, 78). BOARETTO, A.N., MURAOKA, T., RÊGO, I.C. Calagem e Gessagem em Citricultura. In: Seminário Internacional de Citros, 4- Nutrição e Adubação. Fundação Cargill (ed.) Bebedouro, SP, 1996, 236 p. Du PLESSIS. S.F. Soil analysis as a necessary complement to leaf analysis for fertilizer advisory purposes. Proc. Int. Soc. Citriculture 1:15-19.1977. GRUPO PAULISTA DE ADUBAÇÃO E CALAGEM PARA CITROS. Recomendações de Adubação e Calagem para Citros no Estado de São Paulo. 3ª ed. Laranja, Cordeirópolis, 1994, 27 p. MALAVOLTA, E., VIOLANTE NETTO, A. Nutrição Mineral, Calagem, Gessagem e Adubação dos Citros. (POTAFÓS) (ed). Piracicaba. 1989. 153 p. OLIVEIRA, J.B., CAMARGO, M.N., ROSSI, M., CALDERANO FILHO, B. Mapa Pedológico do Estado de São Paulo- Legenda Expandida. Campinas: Instituto Agronômico; Rio de Janeiro: Embrapa- Solos. 1999. 64 p.

24 QUAGGIO, J.A. Análises de solos para citros: Métodos e critérios para interpretação de resultados. In: Seminário Internacional de Citros, 4 - Nutrição e Adubação. Fundação Cargill (ed). Bebedouro, 1996. 236 p. RAIJ, B van. Fertilidade do Solo e Adubação. Editora Agronômica Ceres e Potafós (ed). 1991. 343 p. RAIJ, B. van., QUAGGIO, J.A. Métodos de análise de solo para fins de fertilidade. Campinas: Instituto Agronômico. 1983. 31 p. (Boletim Técnico n o 81). ROSSETO, J., LORENA, B., COUTINHO, E.L.M., SOUZA, E. C.A., FERREIRA, M.E., CANTARELLA, H., QUAGGIO, J.A., CARMELLO, Q.A.C., SILVEIRA, R.J. Produtividade de laranjais paulistas. Cordeirópolis. Laranja 9 (1): 53-64. 1988. SIQUEIRA, J.F., SHERER, E.E., TASSINARI, G., ANGINONI, I., PATELLA, J.F., TEDESCO, M. J., MILAN, P.A., ERNANI, P.R. Recomendação de Adubação e Calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Passo Fundo, Embrapa / CNPT. 1987. 100 p.