Parecer nº 002/13/PJM Referência: Processo Administrativo nº 690/2012 Origem: Gabinete do Prefeito Assunto: Prazo para inscrição de candidatos em processo seletivo simplificado Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. ADMISSÃO DE PESSOAL. PROCESSO SELETIVO SIMPLI- FICADO (PSS). PRAZO PARA INSCRIÇÃO DE INTERESSADOS. RECOMENDAÇÃO DO CONTROLE INTERNO. Indicação de inconformidade emanada do órgão de controle interno exige apreciação do Chefe de Poder, que deverá, de forma motivada, aprová-la, ainda que parcialmente, ou rejeitá-la. O prazo de dois dias úteis, fixado no art. 19, do Decreto nº 711/2011, é exíguo para divulgar adequadamente o PSS, inclusive criando embaraço aos interessados na tarefa de reunir a documentação exigida. A admoestação do controle interno merece acolhimento parcial, com a adoção de uma banda de cinco dias úteis a dez dias corridos no prazo de inscrições no PSS, graduando-se o decurso de tempo conforme a natureza da necessidade temporária de pessoal enfrentada pela Administração. 1. DO RELATÓRIO Para exame e parecer desta Procuradoria Jurídica Municipal (PJM), o Chefe do Poder Executivo da gestão 2009/2012, Sr. ADÃO ELOI DE SOUZA BATISTA, remeteu o expediente em epígrafe, solicitando parecer jurídico em relação à recomendação do sistema de controle interno que versa sobre a ampliação do prazo mínimo para as inscrições de candidatos em sede de processo seletivo simplificado. Diante do impedimento do colega Procurador, Dr. RODRIGO VELEDA MARTINS, que também atua no sistema de controle interno, o presente PA foi distribuído por compensação ao parecista infra-assinado. Consoante o despacho de fl. 02, o consulente submete a matéria à análise jurídica da PJM, para que o órgão manifeste-se em parecer técnico.
2. DA ANÁLISE JURÍDICA Feitas as considerações iniciais, passo ao exame de estilo. Trata-se de consulta sobre recomendação de integrante da Unidade Central de Controle Interno. A manifestação indica a necessidade de ampliar para dez dias úteis o prazo reservado à inscrição de candidatos em processos de seleção de pessoal para contratação por tempo determinado, com vistas a atender necessidade temporária de excepcional interesse público. Segundo o Ofício nº 045-2012/UCECOIN, o controlador interno GUIOMAR CASTANHO F. JUNIOR aponta que o art. 19, do Decreto nº 711/ 2011, ao fixar em dois dias úteis o prazo mínimo para inscrição de interessados, fere o princípio da eficiência da Administração. Aduz o r. controlador que a exigüidade de tempo reservado ao alistamento impede uma maior participação de pessoas com interesse no certame, tudo em prejuízo da escolha do candidato mais capacitado para a vaga. De chofre cumpre elucidar que o art. 5º da Lei municipal nº 922/2011, que dispõe sobre o sistema de controle interno do Município, estabelece como uma das atribuições da Unidade Central de Controle Interno o apontamento de não conformidades detectadas em procedimentos da Administração, com a indicação de possíveis soluções. Ao exame do art. 8º da Lei municipal nº 922/2011, conclui-se que as soluções visualizadas pelo controle interno são apresentadas ao Prefeito mediante recomendações, que serão aprovados ou não pelo Chefe de Poder. Útil referir que as atividades do sistema controle interno tem estatura constitucional, cumprindo importante função de fiscalização (inteligência do art. 31 da CF). Dessa forma, a recomendação de fl. 02 reclama apreciação por parte do Prefeito, que deverá, de forma motivada, decidir pelo seu acolhimento, ainda que parcial, ou rejeitá-la. Note-se que o TCE/RS, pala Resolução nº 887/2010, estabeleceu que a indicação de pessoal para contratação emergencial, em atendimento aos princípios constitucionais a que está sujeita a Administração Pública, deve ser antecedida por um procedimento de seleção que afastasse qualquer hipótese de violação dos princípios da
impessoalidade e moralidade. O art. 19, do Decreto nº 711/2011, que dispõe sobre normas relativas ao Processo Seletivo Simplificado (PSS) destinado à seleção de candidatos para contratação temporária, em razão de excepcional interesse público, diz o seguinte: Art. 19. O prazo mínimo para as inscrições dos candidatos deverá ser de 2 (dois) dias úteis. O propósito do PSS é selecionar agentes para contratação por tempo determinado, com vistas ao atendimento de necessidade temporária de excepcional interesse público. A Constituição Federal fixou o concurso público como regra geral de ingresso de pessoal dos entes públicos. Entretanto, nos moldes do estatuído no, art. 37, II e IX, da CF, a regra geral foi excepcionada nas hipóteses dos ocupantes dos cargos em comissão de livre nomeação e exoneração (inciso II) e quando se tratar de contratação, por prazo certo, de acordo com necessidade de excepcional interesse público (inciso IX). Portanto, as contratações temporárias por necessidade de excepcional interesse público só podem ser efetuadas pela Administração Pública quando configuradas situações em que não seja possível a realização de concurso público ou diante de hipóteses que não justifiquem a nomeação para cargos ou empregos públicos previamente criados por ato legislativo. A lição de Celso Antônio Bandeira de Mello baliza o entendimento acima expresso, merecendo transcrição: A razão do dispositivo constitucional em apreço, obviamente, é contemplar situações nas quais ou a própria atividade a ser desempenhada, requerida por razões muitíssimo importantes, é temporária, eventual (não se justificando a criação de cargo ou emprego, pelo que não haveria cogitar do concurso público), ou a atividade não é temporária, mas o excepcional interesse público demanda que se faça imediato suprimento temporário de uma necessidade (neste sentido, necessidade temporária), por não haver tempo hábil para realizar concurso, sem que suas delongas deixem insuprido o interesse incomum que se tem de acobertar. (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 18. ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 263). Assim, via de regra, a contratação temporária tem lugar em situações em
que o concurso público não é indicado, porque a atividade é temporária, com prazo certo, não havendo justa causa para prover cargo efetivo. Ou, numa outra circunstância, a atividade é permanente, pressupõe o concurso público e o provimento de cargo efetivo, mas a necessidade temporária consolida-se no fato de não existir lista de aprovados e o serviço reivindicar atuação imediata de pessoal novo, de maneira que o processo seletivo simplificado apresenta-se como mecanismo insubstituível para o atendimento do interesse público. Disso resulta que o PSS só tem sentido e utilidade como procedimento mais singelo do que aquele adotado para a seleção ordinária de pessoal, qual seja o concurso público, haja vista o seu caráter de enfrentamento de situação de emergência e/ou excepcionalidade, que exige uma resposta célere da Administração ante a insuficiência de pessoal. Assim, a redução de prazos em relação ao procedimento ordinário de seleção de pessoal é medida que se impõe no PSS, desde que não comprometa os princípios da isonomia, da publicidade, da razoabilidade e da eficiência, regentes da Administração Pública 1. Ocorre que a atual redação do art. 19, do Decreto nº 711/2011 não é recomendável, vez que o prazo de dois dias úteis é exíguo para divulgar adequadamente o PSS, além de dificultar sobremaneira aos interessados a coleta da documentação a que se refere no art. 9º do ato regulamentador telado. Consoante o parágrafo único, art. 7º, do Decreto nº 652/2010, que dispõe sobre o regulamento de concursos para seleção de candidatos aos cargos no serviço público municipal, o prazo para inscrições, a ser fixado no edital de chamamento, deverá ser entre dez e vinte dias, contado da data da divulgação do instrumento. Entendo que no PSS é razoável reduzir aproximadamente pela metade o prazo de inscrições do rito ordinário de seleção, fixado-o no PSS entre cinco dias úteis e dez dias corridos, graduando-se o lapso temporal conforme a natureza da necessidade temporária de pessoal, observados as seguintes balizes: 1 O PSS tem de adotar forma célere, porém sem prejuízo do emprego de critérios objetivos e que oportunizem a todos os interessados a possibilidade de serem contratados pela Administração caso preencham os requisitos estabelecidos para o exercício da atividade.
(a) Prazo mínimo de cinco dias úteis: quando a necessidade de pessoal detectada pela Administração é permanente e, por isso, deve ser suprida mediante concurso público, todavia inexiste lista de candidatos aprovados e a demora natural na realização do certame ordinário causará prejuízos ao regular andamento do serviço público. Aqui o interesse público clama por uma contratação imediata, legitimando-se a redução drástica do prazo para inscrição de candidatos; (b) Prazo de até dez dias: nas situações em que a necessidade apresentase tipicamente temporária de prazo certo -, não se justificando a criação ou investidura em cargo de provimento efetivo, de tal sorte que se afasta por completo o emprego de concurso público. Nessas circunstâncias, o concurso público é dispensável, mas a contratação não precisa ser imediata, urgentíssima, o que obriga a utilização de um prazo mais dilatado de divulgação do PSS. 3. DA CONCLUSÃO Pelo fio do exposto, em resposta ao quesito formulado pelo consulente, sou do alvitre segundo o qual a recomendação do órgão de controle interno, posta na fl. 02 do expediente sob análise, merece acolhimento parcial, providenciando o Chefe do Poder Executivo a necessária alteração no art. 19, do Decreto nº 711/2011, com a adoção de uma banda de cinco dias úteis a dez dias corridos no prazo de inscrições no PSS, elegendo-se o lapso temporal conforme a natureza da necessidade temporária de pessoal da Administração, nos moldes da fundamentação do presente parecer. Sob censura da autoridade superior. Rolador (RS), em 04 de janeiro de 2013. Charles Leonel Bakalarczyk Procurador Jurídico Municipal OAB/RS nº 56.207 Matrícula nº 661