EXPEDIENTE. Fotografias Paulo Lázaro Silvio N. Amorim Arquivo DPT Capa. Fábio Souza



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ANEXO X DIAGNÓSTICO GERAL

Celebrado em Brasília, aos 20 dias do mês de março de 1996, em dois originais, nos idiomas português e alemão, ambos igualmente válidos.

Transcrição:

EXPEDIENTE Prova Material - Revista Científica do Departamento da Polícia Técnica, vinculado à Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia. Av.Centenário, s/nº, Vale dos Barris, Salvador/ Bahia, CEP 40.100-180. Telefone (71) 324-1692 Esta revista é um periódico quadrimestral com distribuição gratuita. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores. Tiragem desta edição: 1000 exemplares, 32p. Paulo Ganem Souto Governador do Estado da Bahia General Edson Sá Rocha Secretário da Segurança Pública Luiz Eduardo Carvalho Dorea Diretor Geral do Departamento de Polícia Técnica Antonio dos Santos Vital Neto Coordenador Executivo Rita de Cássia Monteiro de Carvalho Diretora do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues Iracilda Mª de Oliveira Santos Conceição Diretora do Instituto de Identificação Pedro Mello Marcelo Antonio Sampaio Lemos Costa Diretor do Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto José Felice Cunha Deminco Diretor do Laboratório Central da Polícia Técnica Editora Geral Mariacelia Vieira Jornalista - RG DRT/MG nº 2266 Editor Gráfico Luciano Soares Rego Jornalista RG MTB nº 958 Artefinalista Fábio Souza Fotografias Paulo Lázaro Silvio N. Amorim Arquivo DPT Capa Fábio Souza Secretária Tania Cristina Brites Gesteira Revisão Tania Brites Gesteira e Mariacelia Vieira Conselho Editorial Antonio César Morant Braid (ICAP) Elson Jeffeson Neves da Silva (LCPT) Hélio Paulo de Matos Júnior (IMLNR) Luis Geraldo Nascimento Luciano de Sena (ICAP) Maria de Lourdes Sacramento Andrade (DPT/A.T) Paulo César Teixeira Vieira (ICAP) Tania Cristina Brites Gesteira (LCPT) Prova Material - v. 3 - n. 3 - dez. 2004 Salvador: Departamento de Policia Técnica, 2004. Quadrimestral ISSN 1679-818X 1. Criminalística Bahia Periódico CDU 343.9 (813.8) (05) 4

SUMÁRIO Editorial... 06 A mortalidade e anos produtivos de vida perdidos precocemente nos homicídios por armas de fogo na Região Metropolitana do Salvador (Artigo Original) Hélio Paulo de Matos Júnior... 07 A missão superior da Polícia Técnica (Ponto de Vista) João Freitas Neto... 11 O calibre de armas e munições (Artigo de Atualização) Adeir Boida de Andrade... 14 A perícia nos casos de poluição sonora desenvolvida pela Coordenadoria Regional de Santo Antonio de Jesus (Artigo Original) Gerson Alves de Santana, Hénel Francisco da Silva Filho... 16 Fonética Forense: Identificação dos falantes (Artigo de Discussão) Antonio César Morant Braid... 19 Considerações a respeito da economia do crime (Artigo Original) Elson Jeffeson Neves da Silva... 22 Investigação do sexo através de mensurações de suturas cranianas (Artigo original) Jeidson Antonio Morais Marques, Patrícia Keler Freitas Machado, Luis Carlos Cavalcante Galvão... 25 Resenha Literária... 29 Normas... 30 5

EDITORIAL VENCER FRONTEIRAS A Polícia Técnica encerra este ano com bons resultados para apresentar. A identificação da Bahia passa a fazer parte do Sistema Nacional de Informação Criminal SINIC e vai dispor ainda do Sistema Automatizado de Identificação por impressão digital AFIS. O método ACEC também permitiu a otimização e a modernização dos arquivos de identificação. O DNA Forense estará implantado até abril, no DPT, permitindo à Polícia Técnica se destacar também na biologia molecular. Reformularam-se procedimentos, projetos foram implantados. Sempre na busca da modernização, da qualidade e do cumprimento dos prazos legais. Tem-se planejado, treinado e informado, com a determinação de atingir os objetivos de uma contínua melhoria. A Medicina Legal e a Criminalística também apresentam novas realidades, com destaque, nessa segunda área, para a Balística Forense e o seu Sistema Integrado de Identificação - IBIS. Com o apoio institucional da Secretaria da Segurança Pública da Bahia, através do Exmº. Sr. Secretário General Edson Sá Rocha, e a ajuda financeira da Secretaria Nacional de Segurança Pública, crescemos e melhoramos em vários setores. O convênio com o Banco Expansion, da Espanha, também se constituí em importante fonte de recursos. Assim, o DPT evoluiu na pesquisa e na qualidade da prova material que produz. A aprovação da sua nova estrutura, que passa a vigorar a partir de 1º de Janeiro, cria, entre outras coisas, a Diretoria de Polícia Técnica do Interior, destinada a gerir as atividades periciais nos diversos municípios baianos, através de seis Coordenadorias Regionais. Em breve o quadro funcional será ampliado, com profissionais que chegarão através de concurso a ser realizado em breve. Com esses novos meios será possível investir na construção de um novo futuro. Assim, o DPT venceu e vencerá desafios. E atravessara fronteiras. 6

A MORTALIDADE E ANOS PRODUTIVOS DE VIDA PERDIDOS PRECOCEMENTE POR HOMICÍDIOS POR ARMAS DE FOGO NA REGIÃO METROPOLITANA DO SALVADOR HÉLIO PAULO DE MATOS JÚNIOR Perito Médico Legal Instituto Médico Legal Nina Rodrigues Artigo Original RESUMO O autor estudou os homicídios por arma de fogo que ocorreram na Região Metropolitana de Salvador em 1996, quanto ao sexo, idade e determinou o APVD (anos produtivos de vida perdidos). Para determinação dos APVP foi utilizada a fórmula de Romeder e McWhinnie modificada para anos potenciais de vida perdidos entre 10 e 70 anos. Foi feita a comparação dos APVD por sexo e diferentes causas de morte na região metropolitana do Salvador neste mesmo ano. O Autor encontrou maior concentração na faixa etária entre 10-29 anos, em ambos os sexos, atingindo a população em sua fase economicamente mais produtiva que foi responsável pela perda de 31.771 anos de vida produtiva em 1996, correspondendo a 50.2% dos APVP das demais causas externas de óbito na mesma faixa etária. PALAVRA CHAVE Medicina Forense. Anos produtivos de vida perdidos. ABSTRACT The author studied the homicides for firearm that happened in the metropolitan area of Salvador in 1996, as for the sex, age and it determined productive years of life lost. To determination of productive years of life lost was used the formula of Romeder and McWhinnie modified for potential years of life lost between 10 and 70 years. It was made the comparison of productive years of life lost by sex and different death causes in the metropolitan area of Salvador on this same year. The Author found larger concentration in the age group among 10-29 years, in both sexes, reaching the population economically in this phase more productive than was responsible for the 31.771 year-old loss in 1996, corresponding to 50.2% of productive years of life lost of the other external causes of death in the same age group. KEY WORDS Forensic Medicine. Productive years of life lost. INTRODUÇÃO Políticas na área de saúde têm sido freqüentemente planejadas com base em informações sobre mortalidade. Esperança de vida, mortalidade geral e por causas especificas e taxas de mortalidade infantil são indicadores largamente utilizados na avaliação das condições de saúde de populações, assim como em comparações entre diferentes populações. No entanto medidas de mortalidade são incompletas para avaliar o estado real de saúde de uma população, medidas sintéticas de saúde devem integrar informações de mortalidade e morbidade. Um avanço nesta direção é a utilização do cálculo de anos produtivos de vida perdidos. Para determinação dos APVP foi utilizada a fórmula de Romeder e McWhinnie modificada para anos potenciais de vida perdidos entre 10 e 70 anos. OBJETIVOS Determinar os APVP relacionados a homicídios por arma de fogo ocorridos na região metropolitana do Salvador no ano de 1996. Compara com os APVP relacionados com outras causas de morte no mesmo período. MATERIAL E MÉTODO AMOSTRA Óbitos ocorridos na região metropolitana do Salvador e que tiveram como causa de morte lesão por projétil de arma de fogo, necropsiados no IML NR. Número da amostra: 725 indivíduos Período de observação: Janeiro a dezembro de 1996 Faixa etária: Variou entre 10 e 70 anos. Ambos os sexos. Coleta dos dados: análise dos laudos necroscópicos do IML NR. Para determinação dos APVP foi utilizada a fórmula de Romeder e McWhinnie modificada para anos potenciais de vida perdidos entre 10 e 70 anos. RESULTADOS O Autor encontrou como principais causas de morte na região metropolitana de Salvador no ano de 1996 as doenças cárdio-circulatórias, seguida das neoplásicas, endócrino-metabólicas, respiratórias, infecciosa e causas externas (figura 1). 7

A MORTALIDADE E ANOS PRODUTIVOS DE VIDA PERDIDOS PRECOCEMENTE POR HOMICÍDIOS POR ARMAS DE FOGO NA REGIÃO METROPOLITANA DO SALVADOR A população economicamente ativa da região metropolitana de Salvador, estratificada por faixa etária, mostrou maior concentração entre 30 e 39 anos em ambos sexos, seguida de perto pela faixa de 20 a 29 anos e 40 a 49 anos (figuras 2 e 3). O levantamento dos homicídios por lesão de projétil de arma de fogo mostrou que a faixa etária de 20 a 29 anos é a mais acometida, seguida de 10 a 19 anos e 30 a 39 anos, em ambos os sexos (figuras 4 e 5). O cálculo dos APVD por causa de morte na região metropolitana de Salvador no ano de 1996 no sexo feminino evidenciou as doenças do aparelho circulatório como as que apresentaram maior índice de anos perdidos seguida das doenças neoplásicas, doenças infecto-contagiosas e causas externas. Os homicídios por arma de fogo individualmente como causadores de anos de vida perdido ficou abaixo das doenças endócrinometabólicas.(figura 6). Quando observamos os APVP por faixa etária comparando as doenças circulatórias com as causas externas no sexo feminino observamos que nas doenças circulatórias a perda se concentrou em idades mais avançadas, predominando de 40 a 49 anos, seguida de 50 a 59 e 30 a 39 anos (figura 7), nas doenças de causas externas a perda se concentrou numa faixa etária menor, entre 10 e 19 anos e se manteve estável nas faixas etárias seguintes (figura 8). No sexo masculino, ao contrario do que se observa no sexo feminino, a maior concentração dos APVP foram nas causas externas seguida de doenças cárdio-circulatórias. Como no sexo feminino as doenças cárdio-circulatórias os APVP concentrou-se nas faixas etárias mais altas, predominando de 40 a 49 anos, seguida de 50 a 59 e 30 a 39 anos (figura 9). As causas externas foram as principais responsáveis pelo maior APVP e tem como segunda causa estratificada os homicídios por arma de fogo (figura 10). Quando observamos os APVP por faixa etária nos homicídios por arma de fogo a grande maioria se localiza na faixa etária de 10 a 19 anos seguida da faixa etária de 20 a 29 anos (figura 11). 8

HÉLIO PAULO DE MATOS JÚNIOR DISCUSSÃO Políticas na área de saúde têm sido freqüentemente planejadas com base em informações sobre mortalidade. No entanto medidas de mortalidade são incompletas para avaliar o estado real de saúde de uma população, medidas sintéticas de saúde devem integrar informações de mortalidade e morbidade. Para medir estas necessidades, o ideal seria utilizar indicadores de morbidade, mas estes dados não estão usualmente disponíveis, daí que se utilizam, com maior freqüência, dados de mortalidade, principalmente as taxas de mortalidade. Contudo, alguns autores têm argumentado que seria preferível que o indicador utilizado desse mais peso aos grupos mais vulneráveis e sobre os quais os serviços de saúde pudessem ter um maior impacto, características próprias do indicador APVP. O cálculo dos APVP em conseqüência das mortes por causas externas tanto no sexo masculino quanto no feminino mostram uma realidade extremamente cruel, pois as mortes por causas externas atingem a população na sua faixa etária mais jovem, entre 10 e 29 anos, justamente a população preste a entrar no mercado de trabalho ou economicamente ativa, o que demonstra uma perda social muito importante. No sexo masculino foi o que apresentou a maior mortalidade por causas externas, e dentre estas os homicídios por arma de fogo foi a que evidenciou a maior perda de anos produtivos. CONCLUSÕES As causas externas são responsáveis pelo maior índice de APVP na faixa etária de 10-29 anos comparando-se com as demais causas de óbito. Os APVP relacionados a homicídios por arma de fogo correspondem a 50.2% dos APVP das demais causas externas na mesma faixa etária. Os homicídios por arma de fogo: Acometem principalmente o sexo masculino (95%) Concentram-se na faixa etária entre 10-29 anos, em ambos os sexos. Atingem a população em sua fase economicamente mais produtiva. Foram responsáveis pela perda de 31.771 anos de vida produtiva em 1996, comparandose com 42.824 anos para doenças circulatórias. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BORJA-ABURTO, V.H et al.anos de vida potencial perdidos en Mexico: aplicaciones en la planificacion de serviços de salud. Salud Pública Mex; 31(5):601-9, 1989 Sep-Oct. BUSTAMANTE,M.L.P.et al. Efectos de la 9

A MORTALIDADE E ANOS PRODUTIVOS DE VIDA PERDIDOS PRECOCEMENTE POR HOMICÍDIOS POR ARMAS DE FOGO NA REGIÃO METROPOLITANA DO SALVADOR aplicacion del indicator de anos productivos perdidos (modelo inversion produccion consumo) en el ordenamiento de las causas de muerte en Mexico, 1990. Rev Saude Publica; 28(3): 198-203, 1994 Jun. GARDNER JW, Sanborn JS. Years of potencial life lost (YPLL) - What does it measure? Epidemiology 1990; 1:132-9 MARLOW, A.K. Potencial Years of life lost: what is the denominator?. Journal Epidemiol Community Health; 49(3):320-2, 1995 Jun. 10

A MISSÃO SUPERIOR DA POLÍCIA TÉCNICA JOÃO FREITAS NETO Perito Criminal Coordenaçãode Fonética Forense Instituto de Criminalistica Afrânio Peixoto - ICAP Ponto de Vista A vida moderna acelerou o passo, encurtou as distâncias e tornou a sociedade altamente complexa pelas facilidades que gerou e pelos conhecimentos que passou a exigir dos seus cidadãos. Nesse contexto, de grande velocidade e exigência de conhecimento, muitas pessoas tornaram-se indefesas diante da impossibilidade de acompanhar o ritmo das mudanças que, na vertente policial, favorece grandemente a ação dos criminosos dado à inovação permanente na prática de crimes que lhes permite fazer uso da maior das estratégias: o elemento surpresa. A surpresa é um aliado poderoso da criminalidade porque atinge a sua vítima na boa-fé, desarmada para a defesa, impulsionando os desequilíbrios no já frágil tecido social, desacreditando as instituições e fortalecendo o equívoco de que a cada um cabe promover a sua própria segurança. Contrária a essa conjuntura é que se apresenta a Polícia Técnica, com o trabalho de revelar à sociedade a sua complexidade, traduzida e simplificada no esclarecimento dos fatos, com resposta rápida para quebra do elemento surpresa ainda nas primeiras ações, ao tornar o modus operandis conhecido e compreensível aos olhos de todos e em especial daqueles que têm o ofício de julgar os atos praticados por seus cidadãos. Com isso, contribui para o estabelecimento da verdade e o cumprimento da lei, devolvendo a todos a confiança nas instituições e fazendo o próprio cidadão mais cauteloso e elemento ativo na segurança da sociedade, inibindo a ação criminal de maneira eficaz. Para esse mister, o homem da Polícia Técnica há de se manter na vanguarda da sociedade, aprimorando o seu comportamento e o seu conhecimento para maior eficácia da sua organização, onde deverá continuamente contribuir na redefinição dos papéis e dos métodos, objetivando o cumprimento da sua missão superior, qual seja a de estabelecer a verdade dos fatos nos crimes de natureza penal, de forma a permitir o pleno cumprimento da lei, contribuindo para a excelência da justiça e da sociedade. Convém reforçar que estabelecer a verdade e cumprir a lei é retomar o fio de ligação entre o menor vestígio observado e analisado no local do crime, identificando os seus autores, o modo e os instrumentos pelos quais foi praticado, na forma e no tempo adequados para fornecer como resultado a liberdade dos justos e a punição dos culpados. Não há verdade quando um culpado é liberto ou quando um inocente é preso. Como também não existem verdades possíveis, verdades necessárias, verdades parciais ou verdades transitórias, toleradas como decorrentes do despre- paro, da falta de objetivos, de materiais ou de métodos por parte de quem compete estabelecê-la. O trabalho pericial há de ser meticuloso e preciso, assim como há de chegar às mãos da justiça na condição de permitir a justa sentença. Pois, ainda que uma sentença injusta possa ser revista e um inocente possa ser ressarcido nos seus direitos materiais, jamais serão obtidas a plenitude da lei e a excelência da justiça enquanto um inocente tiver consigo a mácula da violência moral e um culpado, a sensação de que possa haver recompensa no crime. Em todas essas situações, a verdade não se estabelece e a sociedade perde por se alimentar do erro e por perpetuar um estado de coisas não desejado. O foco nos crimes de natureza penal visa concentrar esforços para preservar os cidadãos quanto à conduta ética e moral, não se ocupando das questões materiais relacionadas aos contratos e à propriedade, cuja ação recai na esfera civil. Uma vez esclarecido o caráter superior da missão, como em todo processo de qualificação, é necessário que ela venha associada a um programa, no qual se proponha planejar e levantar informações, traçar um diagnóstico da situação vigente e apontar as soluções de melhoria através de um plano de ação. Durante a aplicação do plano de ação, devem ocorrer avaliações para aferir os pontos fortes e os pontos fracos do programa, devendo estes últimos ser reestruturados através de ações corretivas para início de um novo ciclo de atividades: mais aprimorado e adequado aos objetivos da organização. É um ciclo que se repete progressivamente, planejando e executando ações, avaliando resultados para novo diagnóstico e aplicando ações corretivas num planejamento de ações melhoradas. Pelo que se pode depreender, o primeiro passo do programa foi estabelecer a missão da organização, ou seja, definir a sua razão de existir, porque isso orienta o foco das suas ações. Em seguida, para a consecução da missão, vêm as políticas para definir o que será feito e por que meios a missão será cumprida. Depois, vêm os procedimentos, definindo os processos produtivos, o fluxo da informação e dos materiais, no contexto da inter-relação entre as pessoas e os setores organizacionais, assim como das ferramentas de controle. Finalmente, vêm as instruções de trabalho como uma ação individual no cumprimento de uma tarefa específica. Note-se que há um nível de detalhamento cada vez maior que se desdobra do topo da administração até o executor final, na seguinte ordem: missão - políticas - procedimentos - instruções de trabalho. Como sistema de controle, 11

A MISSÃO SUPERIOR DA POLÍCIA TÉCNICA há a necessidade permanente de se verificar se a instrução de trabalho, na ponta final do processo, está em consonância com a missão estabelecida no topo da organização, tanto no nível normativo, pela coerência das políticas e dos procedimentos, quanto no nível executivo, pelo fiel cumprimento deles. É importante perceber que um processo de qualificação de uma organização começa necessariamente de cima para baixo. Isso significa tratar a questão da qualidade como a vontade do líder maior da organização, imbuído do propósito e revestido da autoridade necessários para levar à cabo a árdua tarefa de mudar comportamentos e redefinir rumos. Mas, para lograr sucesso, é necessário o envolvimento de toda a comunidade na qual se destina regular as relações das pessoas e os processos de produção. É de fundamental importância o envolvimento de toda a comunidade e é esse o maior desafio, porque papéis escritos não mudam comportamentos se não forem assimilados no nível da consciência, com a aceitação de que as mudanças são necessárias e que produzirão melhores resultados para todos. É sabido que as pessoas têm resistência natural às mudanças, que é enormemente agravada quando se sentem alijadas do processo criativo da nova forma de trabalho, independentemente da boa intenção dos seus agentes. As boas intenções, embora essenciais, por si mesmas não têm força suficiente para alavancar um processo de qualificação. As ações é que determinam o sucesso ou o fracasso de um programa bem intencionado. É preciso envolver a todos, informar, ouvir, convidar, realizar encontros e seminários, fazer perceber que o espaço está aberto, que a mudança é pra valer e que é irreversível, mostrando que todos podem contribuir verdadeiramente. É preciso que o responsável pelo programa faça o seu papel de motivador e facilitador, ainda que muitos se recusem a exercer o direito de participar dele, sendo quase certo que os descontentes atribuirão as conseqüências das suas omissões a terceiros, mas, em verdade, elas são o reflexo da falta do alinhamento que não se permitiram realizar, frustrando as suas aspirações mais profundas: o desejo de reconhecimento e de aceitação na comunidade da qual faz parte. No nível concreto da realização, cabe ao comando da organização disponibilizar os recursos materiais e humanos necessários para a organização do programa, traçar o plano de ação, desenvolver procedimentos, instruções de trabalho e sistemas de controle, assim como para assegurar o cumprimento deles. Como uma sugestão de roteiro, desenha-se a seguir uma estrutura organizacional voltada para a qualidade na Polícia Técnica. 1) MISSÃO DO ICAP/DPT Estabelecer a verdade dos fatos nos crimes de natureza penal, de forma a permitir o pleno cumprimento da lei, contribuindo para a excelência da justiça e da sociedade. Veja-se que a missão é de caráter superior, elevado e filosófico, arremessando os seus agentes para uma ação de melhoria contínua na busca da excelência. É a missão que determina em cada um o nível de satisfação e o sentimento do dever cumprido, por isso deve impulsioná-los para além das tarefas de apenas fazer perícias e elaborar laudos, levando-os a perseguir o ideal de fazê-las precisas, no tempo hábil para o cumprimento da lei e com qualidade continuamente crescente, colocando-os no mais alto nível das aspirações humanas: a satisfação de contribuir para a construção de um mundo melhor. 2) POLÍTICAS DO ICAP/DPT a) Realizar perícias relacionadas a crimes de natureza penal com elevada precisão científica, atendendo aos prazos processuais; b) Desenvolver um ambiente de trabalho com crescente padrão de atendimento e comprometimento com a sociedade; c) Estabelecer programas de permanente desenvolvimento pessoal e técnico-científico do corpo pericial; d) Promover programas de integração com os sistemas policiais e judiciários. Veja-se que as políticas ainda são macrodiretrizes para alcançar a missão estabelecida e que deverão nortear a organização dos procedimentos. 3) PROCEDIMENTOS DO ICAP/DPT: a) Procedimentos administrativos Procedimento para o recebimento de solicitação de perícias Procedimento para concessão de férias Procedimento para uso e condução de viatura Procedimento para concessão de treinamento Procedimento para o recebimento de material para perícia Procedimento para expedição de laudo pericial, etc. b) Procedimentos técnicos Procedimento da Coordenação de Perícias Internas Procedimento da Coordenação de Perícias Externas Procedimento da Coordenação de Fonética Forense 12

JOÃO FREITAS NETO Procedimento da Coordenação de Crimes contra a Pessoa, etc. Veja-se que os procedimentos já são ações executivas dentro do processo de produção, garantindo a inter-relação das partes para alcançar as políticas e fazer cumprir a missão. É fundamental verificar se, no conjunto, estão obedecendo às políticas e conduzindo para a missão estabelecida, porque é aonde se dão as relações para o encadeamento das partes no todo, definindo os papéis para eliminar áreas de conflito e fazendo convergir as ações para os objetivos da organização. 4) INSTRUÇÕES DE TRABALHO PARA O ICAP/DPT: a) Instruções de trabalhos administrativos Instrução para protocolar o recebimento de materiais para perícia Instrução para recepção e acesso de pessoas às instalações do ICAP/DPT Instrução para a condução de viaturas policiais do ICAP/DPT Instrução para a coleta e classificação de dados estatísticos do ICAP/DPT, etc. b) Instruções de trabalhos técnicos Instrução para elaboração de laudo pericial Instrução para o levantamento de local de crime contra a pessoa Instrução para o cadastramento de perícias realizadas Instrução para tomadas fotográficas em locais de crime Instrução para o cálculo de velocidade em acidentes de veículos, etc. Veja-se que as instruções de trabalho são ações individuais e específicas, ou seja, é uma pessoa que segue passo a passo a execução de uma tarefa, como um receituário: pegue isso, faça aquilo, aguarde tantos minutos, depois vire, etc. Evidentemente, cada instrução de trabalho está ligada a um procedimento de uma dada coordenação ou setor da organização. É na instrução de trabalho que se patenteia a credibilidade do processo de qualificação e onde se mensura o nível de sucesso do programa, porque é aonde as ações concretas acontecem e onde se manifesta, de forma indubitável, o nível de assimilação e aceitação do modelo de gestão da qualidade implantado. Aqui se dá a ação no nível mais simples, repetitivo e mecânico, sendo imperioso o perfeito alinhamento ao conjunto normativo da qualidade, de forma que o executante perceba a tarefa mais humilde com um ato sublime, condizente com a envergadura da sua missão. 13

O CALIBRE DE ARMAS E MUNIÇÕES ENG.º ADEIR BOIDA DE ANDRADE Perito Criminal Balística Forense Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto Artigo de Revisão No artigo, o autor renova conceitos relativos ao calibre das armas de fogo e suas munições, esclarecendo pontos obscuros, que não raras vezes dificultam o trabalho pericial. Quando se trata de artefatos tubulares, a palavra calibre refere-se sempre ao seu diâmetro interno, em unidades do sistema métrico decimal. O mesmo ocorre na lingua inglesa, onde caliber é também designativo do diâmetro interno de um cano, ou do diâmetro externo de um projétil ogival de arma de fogo. Em Balística Forense, deve-se, porém, considerar a grande diferença entre o substantivo calibre, e a expressão calibre nominal (em inglês, cartridge para canos raiados ou gauge para os canos lisos das espingardas). Enquanto calibre refere-se ao diâmetro (do cano ou do projétil), a segunda expressão deve ser entendida como uma nomenclatura identificadora, um nome de batismo pelo qual a munição (ou a arma que a utiliza) é conhecida em qualquer lugar do planeta. Cartuchos de diferentes calibres nominais são constituídos por projéteis do mesmo calibre, e é aí que está a diferença... A dificuldade reside, parcialmente, no emprego corrente de medidas em unidades inglesas, já que foram norte-americanos os inventores do revólver (Samuel Colt, por volta de 1850) e da pistola semi-automática (John Moses Browning, em 1900). É importante fixar alguns conceitos antes de prosseguir com o texto: 1" = uma polegada (unidade de comprimento) = 2,54 cm = 25,4 mm 1 = um pé (comprimento) = 12" = 12 polegadas = 12 x 2,54 =30,48 cm 1 Lb = uma libra (unidade de massa) = 453,6 g = 7.000 grains O zero à esquerda é desprezado, e o ponto (.) é empregado para separar as casas decimais, enquanto que a virgula (,) indica a casa do milhar, exatamente o oposto do que fazemos. Ex: U$ 1,536.47 ou.45" O CALIBRE NOMINAL DAS ESPINGARDAS Nas armas de retrocarga de cano liso (espingardas), o calibre nominal (gauge em inglês) é sempre um número inteiro (Ex.: diz-se calibre 28, e não.28), indicativo do diâmetro interno do cano, e equivale ao número de esferas de chumbo, do diâmetro, necessárias para completar a massa de uma libra. Por este motivo, o calibre diminui, na medida em que o número indicativo aumenta, conforme tabela abaixo: Nomeclatura indica o número de balins (esferas) de chumbo,do diâmetro do calibre, necessários para completar uma libra (453,6g) de massa de chumbo. Ex.: Calibre 12 - são nacessárias 12 esferas no diâmetro do calibre para completar uma libra de chumbo. As espingardas de antecarga não têm calibre específico, mas existem registros de armas deste tipo com diâmetro de cano superior aos 18,5mm (mormente naquelas de fabricação artesanal), indicando tratar-se de arma de calibre equivalente superior ao calibre 12 (máximo permitido pela legislação brasileira), motivo pelo qual este fato deve ser consignado no Laudo Pericial. O CALIBRE NOMINAL DAS ARMAS RAIADAS Nos canos raiados, temos em verdade dois calibres ou diâmetros internos: o primeiro é o diâmetro entre cheios (conhecido como calibre real), correspondente ao diâmetro original do tubo utilizado, antes da abertura do raiamento; o segundo é o diâ- 14

ENG.º ADEIR BOIDA DE ANDRADE metro entre os cavados do raiamento, levemente superior, e dimensionado na exata medida do calibre do projétil a ser utilizado. É esta diferença a maior no diâmetro que vai forçar o projétil de encontro ao raiamento, para adquirir a rotação necessária à estabilização da sua trajetória. O calibre nominal, ou a nomenclatura designativa das munições e armas de fogo de cano raiado, não segue uma regra determinada, como ocorre com as espingardas. O calibre nominal de uma munição, em verdade, corresponde a uma identidade e tem por objetivo sua individualização, num universo de muitas outras constituídas por projéteis do mesmo calibre, porém com características balísticas e estojos de dimensões distintas. No sistema inglês ou norte-americano, o calibre nominal é sempre indicado por números (relativos a uma dimensão em fração da polegada e, portanto, sempre precedidos por um ponto), seguidos de palavras ou letras destinados à sua individualização. O sistema é, de certa forma anárquico, já que os números, ora indicam o diâmetro entre cheios do cano (calibre real), ora o diâmetro do projétil, e, muitas vezes, nem uma coisa nem outra! No sistema métrico decimal, os calibres são usualmente designados por dois números, em milímetros, seguidos ou não por letras ou palavras. O segundo número sempre se refere ao comprimento do estojo, podendo ser dispensado no caso de calibres muito conhecidos como o 9x19mm (9mm Luger ou 9mm Parabellum). No caso das armas de fogo, o calibre nominal indica a munição para a qual a arma foi dimensionada. Importante consignar no Laudo Pericial a eventual constatação da conversão ilegal (proibida pela lei brasileira) do calibre nominal da arma examinada. É o caso dos revólveres fabricados para o calibre.38 Special, quando convertidos para o calibre.357 Magnum (mediante a simples extensão da câmara), e, mais recentemente, da conversão de pistolas 7,65mm Browning para o calibre.380 Auto (feito mediante a reabertura do cano e feitura de um novo raiamento), como tem sido constatado nas pistolas Taurus modelo PT-57. Saliente-se que, embora seja corrente na linguagem coloquial, tecnicamente é incorreto afirmar que um revólver é do calibre 38 ou.38" (trinta e oito centésimos da polegada). Afinal, nem o cano nem o projétil que a arma dispara têm este calibre (9,65mm) restando, ainda, a dúvida: se não se trataria do.38 ACP, do.38 Long Colt, do.38 Smith & Wesson, do.38 Short Colt ou do.38 Super Auto. Da mesma forma, o 7,65mm poderia ser o 7,65 mm Roth-Sauer, 7,65mm Borchardt, 7,65mm Mas, ou o 7,65mm Luger. Nas munições, deve-se considerar que os cartuchos +P (recurso utilizado pela indústria apenas para velhos calibres, dotando-os de mais energia, conforme permite a tecnologia das armas modernas) não caracterizam novos calibres nominais. Ex.: cartucho do calibre nominal.380 Auto, com inscrição (ou carga propelente) +P. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS RABELLO, Eraldo. Balística forense. 3ª ed. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1995. 488p TOCHETTO, Domingos. Balística forense: aspectos técnicos e jurídicos. 3ª ed. Campinas, São Paulo: Millennium, 2003. 352p. Introduction to Ballistics. Website Firearmsid. Disponível em www.firearmsid.com. Acessado em 08.07.2004 às 15h25min. 15

A PERÍCIA NOS CASOS DE POLUIÇÃO SONORA DESENVOLVIDA PELA COORDENADORIA REGIONAL DE POLÍCIA TÉCNICA DE SANTO ANTÔNIO DE JESUS, PERÍODO 2000-2003. GERSON ALVES DE SANTANA Perito Criminal C.R.P.T. Santo Antônio de Jesus. HÉNEL FRANCISCO LOPES DA SILVA FILHO Perito Criminal C.R.P.T. Santo Antônio de Jesus. Artigo Original RESUMO Com a intensificação dos trabalhos periciais para constatação de poluição sonora, realizada por peritos de diferentes áreas de formação da Coordenadoria Regional de Policia Técnica Santo Antônio de Jesus, foi surgindo a necessidade de padronização dos exames. Dessa forma, os peritos da regional criaram um roteiro onde constavam dados a serem verificados no local dos exames, proporcionando, assim, um trabalho mais direcionado e objetivo. Quando reunidos em quadro estatístico, tais dados ainda permitiram melhor compreensão do problema ambiental. A tomada dessas iniciativas levaram, sem dúvida alguma, a uma maior segurança durante a execução dos exames e resultaram na melhoria de qualidade do Laudo Pericial. PALAVRAS CHAVES Poluição Sonora. Problema Ambiental. ABSTRACT With the intensification of the works for verification of resonant pollution, accomplished by experts of different areas of formation of Regional Coordination of Technical Police. - Santo Antônio de Jesus, went appearing the need of standardization of the exams. In that way, the experts of the regional created an itinerary with information to be verified at the place of the exams, providing a work more addressed and objective. When such data were inserted in statistical program, they allowed a better understanding of the environmental problem. The initiatives taken by the experts resulted, without any doubt, in a larger safety during execution of the exams and in the improvement of quality of the conclusive report. KEY WORDS Resonant Pollution. Environmental Problem. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS Dentre as várias formas de poluição que comprometem a qualidade de vida das pessoas, encontra-se a poluição sonora. Considerada atualmente uma forma grave de agressão ambiental, esse tipo invisível de poluição atinge níveis intoleráveis, e, dependendo, de fatores como intensidade e tempo de exposição, pode trazer sérias conseqüências à saúde da população. Embora estipulado o limite tolerável de 65db pela OMS, a contínua e excessiva emissão de ruídos, ocorrida principalmente nos centros urbanos, vem se tornando cada vez mais um caso de saúde pública. Concomitante ao agravamento das questões ambientais, especificamente nos casos de poluição sonora, intensificou-se, também, a participação dos órgãos do governo, juntamente com representantes da sociedade civil, visando amenizar o problema. Foram criadas, nesses últimos anos, normas e leis ambientais, incluindo-se as que tratam da poluição sonora, destacando-se, dentre outras, a Constituição Federal (art. 225) e a Lei de Crimes Ambientais 9.605/98 (art.2 o ), como instrumentos jurídicos para controlar a emissão excessiva de ruídos, assegurando assim, o sossego público, bem como o direito de todos ao meio ambiente equilibrado. A polícia técnica também se encontra cada vez mais engajada nas questões ambientais, atuando constantemente nas realizações de perícias na referida área. Uma comprovação dessa intensificação dos trabalhos periciais ambientais desenvolvidos pela Polícia Técnica pode ser feita na Coordenadoria Regional de Santo Antonio de Jesus. Nessa regional, que abrange 29 municípios, foram atendidas 44 solicitações para realização de exames periciais ambientais nas suas diversas formas de degradação, no período compreendido entre 2000 e 2003. Desse total, 18 exames (39,5%) referiam-se à prática de emissão de ruídos. Durante a realização dos exames, os peritos tinham como objetivo não apenas constatar a ocor- 16

ENG.º ADEIR BOIDA DE ANDRADE rência de crime ambiental devido à emissão exagerada de ruídos, como também obter dados que caracterizassem a área examinada. METODOLOGIA Consistia no deslocamento do perito até o local onde se encontrava a fonte geradora da poluição sonora, conforme especificada em guia ou oficio, procurando informar-se previamente, junto à autoridade requisitante, quanto ao dia da semana e horário a serem efetuados os exames; tomada de medições dos níveis máximo e mínimo de ruído, com utilização de aparelho decibelímetro, direcionado para frente da fonte emissora do ruído, situando-se em local onde se encontrava a parte prejudicada; preenchimento de roteiro adotado pelos peritos da regional (em anexo); introdução dos dados em quadro estatístico e análise dos resultados, tendo como referência os níveis de som toleráveis para uma pessoa sem que venham a afetar a sua saúde, determinados de acordo com a zona e o horário, conforme norma da ABNT n o 10.151 em quadro abaixo. RESULTADO Das 18 solicitações emitidas pelas autoridades requisitantes para constatação de poluição sonora, 16 (88,8%) foram provenientes do Ministério Publico de Santo Antonio de Jesus. Os peritos constataram, durante a realização dos exames, ocorrência de poluição sonora em 15 casos (83,3%), todos ocorridos em área urbana. Desse total, verificou-se que a maior parte (33,3%) tinha origem em bares e 26,6 % de carros de propaganda. Além disso, verificou-se que 10 casos (66,6%) de emissões excessivas foram efetuados em áreas predominantemente residenciais, sendo 50% destes em período noturno, após as 22:00hs. das delegacias de polícia nas questões ambientais, especificamente no que se refere à poluição sonora, acionando mais freqüentemente os peritos criminalísticos para a realização dos trabalhos ambientais. Entendemos que a compilação e análise dos dados obtidos durante as perícias ambientais podem direcionar melhor quanto à tomada de medidas conscientizadoras que visem a amenizar o problema, e que, atuando de forma conjunta e ordenada, bem como criteriosa, conforme requer o trabalho cientifico, é que poderemos auxiliar o judiciário na comprovação material dos crimes ambientais e contribuir cada vez mais para a preservação da saúde ambiental. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL, Lei de Crimes Ambientais. Lei n o 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Disponível em: http://www.planalto.gov.br>. CONSTITUIÇÃO Brasil (1988). Constituição da República Federativa do Brasil Brasília, Senado Federal, Centro Gráfico, 1988; 292p. MACHADO, Paulo A. Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 4 a ed. Revista e Ampliada Malheiros Editores, 1992; 606p. ODUM, Eugene P. Fundamentos de Ecologia. 4 a ed. (Tradução: Antonio Manuel de Azevedo Gomes), Fundação Calouste Gulbekian; Lisboa, Nov. 1988, p.927 SANTOS, Antônio Silveira Ribeiro. Programa Ambiental: A Última Arca de Noé, 1999. http:/ /www.aultimaarcadenoe.com/index1.htm ANEXO - ver página 18 CONCLUSÃO Os dados acima citados, embora ainda representem uma pequena amostra, diante da magnitude em que se apresenta o problema, refletem o descaso por parte dos infratores com a saúde ambiental coletiva, ocorrida, principalmente na cidade de Santo Antônio de Jesus. Torna-se necessário, entretanto, um melhor aparelhamento da Regional e maior envolvimento 17

A PERÍCIA NOS CASOS DE POLUIÇÃO SONORA DESENVOLVIDA PELA COORDENADORIA REGIONAL DE POLÍCIA TÉCNICA DE SANTO ANTÔNIO DE JESUS, PERÍODO 2000-2003. 18

FONÉTICA FORENSE: IDENTIFICAÇÃO DE FALANTES ENG.º ANTONIO CÉSAR MORANT BRAID Perito Criminal Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto Artigo de Discussão A FONÉTICA FORENSE Os aspectos comuns de comportamento dos indivíduos expressam características adquiridas do grupo regional e social em que tiveram a sua formação cultural. Os modos comportamentais de um homem são reflexos de suas experiências vividas, sobretudo no seu período de formação e crescimento. Assim, os traços lingüísticos do falante também são marcados pelo ambiente de sua formação e crescimento, portanto, ao se comunicar através da fala, o indivíduo expressa o seu pensamento de acordo com a sistemática de suas idéias, de seu conhecimento, dos padrões de comportamento adquiridos, e atitudes que dão pistas do seu perfil e ambiente de origem. Nessa perspectiva, a fala não transmite apenas uma mensagem em sentido estrito, como numa simples frase escrita numa folha de papel, ela veicula, ao mesmo tempo, informações de caráter pessoal que qualificam o falante quanto à sua formação lingüística e cultural, sua origem regional e social, além de estabelecer dados sobre sua identidade física e o seu estado de humor momentâneo. A Fonética (do grego, phonetiké) tem por objeto a fala, mediante o estudo da produção e percepção dos seus sons. Portanto, trata-se de um extraordinário meio que pode ser utilizado para o conhecimento dos traços característicos de um indivíduo, do seu perfil e de todas as outras pistas que puderem ser inferidas a partir do seu material fonético. Assim, este tipo de informação vem a ser um meio de identificação humana e, em muitos casos, quando existe apenas a voz como fator de identificação, o único. A análise da fala apresenta-se como uma ferramenta auxiliar a várias áreas, sobretudo a forense. A utilização da Fonética na área forense é necessária e, quase sempre, insubstituível para a solução de crimes em relação aos quais existam vozes registradas em algum tipo de mídia, sendo possível a identificação do falante. A IDENTICAÇÃO DE FALANTES A identificação de falantes é a atividade pericial dentro da Fonética forense capaz de determinar se duas falas foram produzidas por um mesmo indivíduo. Este tipo de exame é realizado por meio de análises técnico-comparativas das vozes dos falantes para que o perito possa concluir quanto a unicidade. A análise da fala possibilita a identificação de elementos característicos do falante, no entanto, para que seja realizada de modo eficaz, é preciso conhecê-la segundo vários aspectos. Através de um deles, pode-se buscar compreender o comportamento anatômico e fisiológico do aparelho fonador, estudando seus órgãos e articuladores e os sons por ele produzidos, além de suas configurações durante a produção desses sons. O aparelho fonador representa-se por um tubo ressonante com início nos pulmões e final ramificando-se para a boca e o nariz, portanto composto pelas seguintes partes: pulmões, traquéia, laringe com as pregas vocais, faringe, nariz e boca. Do ponto de vista fisiológico, a produção da fala ocorre segundo três sistemas, atuando de modo sucessivo, controlados pelo falante, cada qual contribuindo especificamente para o resultado final, estando descritos a seguir: Respiratório: há a emissão de corrente de ar dos pulmões, que é a fonte de energia aerodinâmica da fala, percorrendo a traquéia e alcançando a laringe. Por meio do sistema respiratório, o falante controla vários aspectos de sua fala, como a intensidade sonora ou as pausas durante uma locução. Laringeal: na laringe, a corrente de ar atravessa as pregas vocais, podendo ou não esta corrente transformar-se em pulsos de ar pela vibração das pregas vocais. Neste sistema, o falante decide se quer produzir um som vibratório, como o existente em [a], ou sem vibração, como ocorre em [s]. Supralaringeal: os pulsos ou a corrente contínua de ar, após atravessarem a laringe e alcançarem a faringe, poderão sofrer as mais diversas obstruções ou constrições à sua passagem, em vários pontos de articulação desse sistema, até serem irradiados pelos lábios ou o nariz, formando o som desejado pelo falante e completando a cadeia da produção da fala. Configurando os órgãos e articuladores do sistema supralaringeal, o falante determina qual código sonoro da fala quer produzir, como abaixando a língua para realizar [a], ou elevá-la, em [i]. A produção de cada código sonoro da fala exige configurações específicas do aparelho de fala, seja, por exemplo, pela vibração ou não das pregas vocais ou o posiciona- 19

FONÉTICA FORENSE: IDENTIFICAÇÃO DE FALANTES mento adequado de lábios e língua, como em [p], [t] e [g]. Pode-se perceber que, apesar das pessoas procurarem produzir sons padronizados para serem compreendidos e interpretados pelo ouvinte, há diferenças entre as falas. Este fato se deve às naturais diferenças motoras, anatômicas e fisiológicas dos aparelhos fonadores dos indivíduos, resultando em configurações geométricas e texturas de material distintas, agravando-se pelo alto dinamismo do ato de falar. Além disso, por ser a fala um fenômeno aprendido, a formação lingüística do indivíduo exerce forte influência no comportamento da sua fala, acentuando ainda mais as distinções entre elas. O exame de identificação de falantes, assim, exige um método que permita analisar a fala como o resultado acústico de tubos ressonantes do aparelho fonador associado às influências exercidas pela formação lingüística do indivíduo. Este método corresponde à análise perceptual conjugada com a análise acústica. Numa primeira fase da identificação de falantes, a impressão auditiva serve para determinar os traços fonéticos do indivíduo, fazendo uma seleção dos aspectos de sua fala, para comparação perceptual com os traços de outro locutor. A análise perceptual é fundamental e corresponde a exames qualitativos que enfocam desde a Fonética articulatória da produção dos sons da fala, passando pela Fonologia, até a Lingüística. Trata-se de exames que atuam sobre as falas dos locutores visando a compará-las, observando-se aspectos do tipo: Segmentais: estudando os padrões de vogais e consoantes, suas qualidades, aplicações e articulações; Supra-segmentais: analisando os padrões de entonação e acentuação, o ritmo de fala e seu comportamento temporal; Fatores paralingüísticos: observando fenômenos relativos à qualidade de voz do falante e à sua velocidade de fala, além de ocorrências como cacoetes, risos, tosses e outros eventos afins; Dialetais: investigando a aplicação de palavras nas sentenças, o uso das regras gramaticais, a prosódia típica e demais aspectos que denotam hábitos adquiridos pelo falante a partir do grupo do qual ele faz parte; Socioleto: estabelecendo inferências sobre o nível social do falante a partir do modo de se expressar pela fala; Idioleto: verificando características individuais do falante, como sexo, faixa etária, estado emocional e outros fatores correlatos; Fatores fisiológicos: constatando caracterís- ticas fisiológicas que podem ser refletidas na fala, como anomalias, protusões ou ausências dentárias e gagueira; Idiossincrasias: constatando a forma própria do falante de reagir e empregar a fala. A conjugação adequada de todos os fatores de caráter perceptual permite se estabelecer um perfil do falante e também se obter elementos qualitativos de sua fala de modo a compará-la com a de outros indivíduos. Apesar de toda a capacidade perceptiva da audição, a fala é um ato que se realiza de modo transiente e não deixa vestígios no ar. Portanto, logo após a sua produção, todos os seus efeitos físicos desaparecem, só podendo ser resgatados recorrendo-se à memória auditiva. Entretanto, os eventos da fala mais marcantes lingüística ou foneticamente, em geral, se sobrepõem quanto à fixação das informações, fazendo com que os de incidência menos acentuada sejam pobremente fixados na memória auditiva, e nem sempre os eventos mais marcantes lingüística e foneticamente são os mais importantes na comparação de detalhes acústicos. Também, os eventos acontecem de modo muito rápido e dinâmico, e a quantidade de informações acústicas reunidas é enorme. Assim, torna-se indicada a realização de exames que permitam observar todos os detalhes acústicos que não podem ser examinados e mensurados mediante a análise perceptual, registrando-os eletronicamente em sistemas de processamento e análise acústica. Portanto, associada à análise perceptual, deve estar a análise acústica, sendo possível, dessa forma, se obter informações além da impressão auditiva, mas também acústica, observando em modelos gráficos, numéricos e estatísticos, o comportamento acústico da fala e os efeitos das configurações do aparato vocal. A análise acústica possibilita a mensuração, através de valores numéricos de freqüência, energia e tempo, de fenômenos da fala que indicam os efeitos produzidos a partir de configurações específicas do aparelho fonador, como devido às geometrias na cavidade oral e as vibrações das pregas vocais. A análise de espectrogramas, por exemplo, fornece informações para se observar o comportamento dos parâmetros das vozes investigadas e para se extrair valores de freqüência, energia e tempo. A figura abaixo mostra dois espectrogramas, correspondentes à palavra Geraldo, utilizados como um dos exames acústicos num caso real de verificação de locutor que, quando comparados, forneceram informações convergentes quanto à unicidade do locutor que produziu as falas. 20

ENG.º ANTONIO CÉSAR MORANT BRAID Espectrogramas da palavra Geraldo Laudo n º 5356 DPT-BA. CONCLUSÃO A identificação de falantes, assim, tem o objetivo de determinar a autoria de uma voz e, portanto, serve como meio de prova, na área forense, para atribuir a alguém a autoria de um crime, a sua participação nele, ou a ele relacionar. Na maioria dos casos, é um meio suficiente de prova e, em outros, e não pouco freqüentes, o único, sem o qual jamais poderá ser comprovado o autor do delito. Um exame de identificação de falante também é capaz de desvincular o envolvimento de um inocente num crime que lhe possa estar sendo imputado, o que talvez seja até mais importante do que incriminar um culpado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Braid, Antonio César Morant. Fonética Forense. 2. ed. - Campinas, SP: Millennium, 2003. 21

CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DA ECONOMIA DO CRIME ELSON JEFFESON NEVES DA SILVA Perito Criminal Mestre em Análise Regional - UNIFACS Especialista em Comunicação e Política-UFBA Químico e Sociólogo - UFBA Artigo Original RESUMO Este artigo analisa a relação entre o crime organizado e a política de segurança pública, buscando evidenciar os principais elementos desse fenômeno criminal e ressaltando fatores sociais, causadores de desequilíbrios que provocam o crescimento da violência urbana. PALAVRA CHAVE Crime Organizado, Economia do Crime. ABSTRACT This article analyzes the relation between the organized crime and the politics of public security, searching to evidence the main elements of this criminal phenomenon and being standed out social, causing factors of disequilibria that provoke the growth of the urban violence. KEY WORD Economy of the crime, organized crime. INTRODUÇÃO O tema violência urbana está na ordem do dia e este artigo pretende fazer uma leitura do fenômeno, analisando seus efeitos sobre a sociedade e seus desdobramentos, realçando a economia do crime como principal elemento da ascensão da criminalidade. O crescimento da violência nos países de economia periférica deve ser analisado levando em consideração a fragilização dessas economias, ocasionada por mudanças estruturais nos mercados de trabalho, que provocaram o desemprego estrutural, mudanças culturais e alterações das aspirações de consumo. Isto aliado à crise do Estado do bem-estar social, desagregação da família patriarcal sem a substituição desses modelos por uma forma alternativa de convívio social e o surgimento de uma economia do crime global, causou a intensificação da criminalidade nos centros urbanos. Esse crescimento substancial da violência urbana é a conseqüência mais visível da penetração da economia do crime nas esferas da sociedade e nas suas instituições, que se apoderaram de territórios, onde segmentos da população pobre destituída dos direitos básicos de cidadão não são assistidos, transformando-se em bases operacionais dessas organizações. Para Castells (1999) a discriminação social e segregação espacial são os principais fatores de formação e consolidação de guetos como sistema de exclusão social, que torna o ambiente propício para a proliferação do crime. A economia do crime oferece aos segmentos dessas populações estratégias de sobrevivência que têm como conseqüência o aumento da violência urbana. Nesse contexto, a cidade torna-se o local do embate social, entre grupos aceitos como legítimos e grupos excluídos social e economicamente. Em sua obra A Economia Urbana, Fernando Pedrão (2002) diz que nas cidades brasileiras grande parte do corpo social se organiza segundo regras que são formalmente ignoradas, mas que de fato se impõem sobre a maioria dos habitantes. Esse processo se apresenta no campo físico, isto é, na forma como são construídas as casas e habitações em geral, e também nas formas de organização social e nas estratégias de sobrevivência que tendem a refletir no campo da segurança pública. As estatísticas demonstram o efeito da violência no comportamento da sociedade, modificando sensivelmente a organização urbana, principalmente em regiões onde há maior exclusão social e maior penetração de organizações criminosas. CRIME ORGANIZADO: UMA QUESTÃO CONCEITUAL O avanço da economia do crime nas grandes cidades brasileiras, principalmente o tráfico de drogas, que seguramente é o ramo mais lucrativo e de maior visibilidade das atividades criminosas, nos leva à análise dos conceitos de crime organizado e suas diversas facetas na sociedade. Devem ser mencionados outros tipos de modalidades operadas pelo crime organizado para o melhor dimensionamento desse gênero criminoso que se amplia com o advento da globalização: tráfico de armas, tecnologia, materiais radioativos, órgãos humanos, contrabando e descaminho dos mais diversos, cujos crimes devem ter o mesmo tratamento pelo aparelho repressivo do Estado. Essas modalidades são tratadas principalmente pela imprensa como atividade secundária e de pouca importância, mas, na verdade, elas também alimentam a desestabilização e subversão do Estado Nação. 22