O perfil político dos dirigentes de rádios comunitárias de Curitiba e Região Metropolitana



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Transcrição:

ALINE DE OLIVEIRA GONÇALVES O perfil político dos dirigentes de rádios comunitárias de Curitiba e Região Metropolitana CURITIBA, 2007 ALINE DE OLIVEIRA GONÇAVES

2 O perfil político dos dirigentes de rádios comunitárias de Curitiba e Região Metropolitana Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Sociologia Política, Departamento de Ciências Sociais, da Universidade Federal do Paraná como requisito parcial para obtenção de título de especialista em sociologia política Orientador: Prof. Emerson Urizzi Cervi CURITIBA, 2007

3 FOLHA DE APROVAÇÃO ALINE DE OLIVEIRA GONÇAVES O perfil político dos dirigentes de rádios comunitárias de Curitiba e Região Metropolitana Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Sociologia Política, Departamento de Ciências Sociais, da Universidade Federal do Paraná, como requisito parcial para obtenção de título de especialista em sociologia política Aprovado em,, BANCA EXAMINADORA

4 LISTA DE TABELAS TABELA 01 - Aspectos da formação da cultura política...32 TABELA 02 - Perfis dos dirigentes de rádios comunitárias...32

5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO...06 I RÁDIOS COMERCIAIS, LIVRES, PIRATAS E COMUNITÁRIAS: ABORDAGEM HISTÓRICA E COMPARATIVA DE OUTROS PAÍSES COM O BRASIL...11 BREVE HISTÓRICO...11 EUROPA BERÇO DAS RÁDIO LIVRES...13 RÁDIOS LIVRES NO BRASIL...14 A BUSCA DA LEGALIDADE...15 LEGALIDADE, BUROCRACIA E RESTRIÇÕES...19 AÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA...21 II CULTURA POLÍTICA E PARTICIPAÇÃO...23 2.1 CULTURA POLÍTICA: UMA ANÁLISE PERSPECTIVA...23 2.2 O INDIVÍDUO E A POLÍTICA...25 2.3 PERFIL DE DIRIGENTES DE RÁDIOS COMUNITÁRIAS DE CURITIBA E REGIÃO METROPOLITANA...27 2. 4 ANÁLISE DE PERFIS POLÍTICOS...33 CONCLUSÃO...37 REFERÊNCIAS...39

6 INTRODUÇÃO A relação entre os meios de comunicação social e a política, assim como entre seus atores, é tema de estudo de diferentes áreas acadêmicas. A cultura política, linha de estudos inserida nas ciências sociais, é uma das que estuda a relação do indivíduo com os sistemas políticos. Os meios de comunicação de massa, na atualidade, são uma das principais vias de diálogo entre o cidadão e o estado. Diante dessas variáveis, este trabalho visa analisar as rádios comunitárias, especificamente algumas rádios comunitárias da região metropolitana de Curitiba, e o perfil político de seus dirigentes. As rádios comunitárias, assim como determina a legislação vigente sobre o tema, devem ser um espaço de convergência e expressão de várias organizações da sociedade civil, associações de moradores, sindicatos, movimentos populares e religiosos, que atuem em um mesmo espaço geográfico. A ocupação desses espaços, em princípio, teria características distintas dos veículos comerciais, uma vez que traria à pauta as questões pulsantes no âmbito popular. Dessa forma podem ser consideradas ferramentas de combate ao monopólio dos veículos eletrônicos de comunicação, que, no Brasil, historicamente estão em poder de poucas famílias que pertencem às elites econômicas das diferentes regiões. As rádios comunitárias, como meios de efetivar o direito à comunicação, potencialmente podem transformar tanto os comunicadores populares quanto os ouvintes em atores do processo de democratização. Porém, nem todos os comunicadores e grupos que mantêm as rádios comunitárias são autênticos representantes dos anseios populares. Grupos políticos, religiosos e outros conquistam concessões de rádios comunitárias utilizando associações criadas ou mantidas para favorecê-los e/ou acabam veiculando nessas emissoras conteúdos muito similares aos das emissoras comerciais. Algumas informações levantadas nesse trabalho apontam que emissoras de Curitiba e

7 região metropolitana podem representar exemplos do uso distorcido desses meios de comunicação. Isso também é verificado em diversas outras localidades, como no estado do Maranhão, como relatado por ARAÚJO (2006), no artigo Rádios Comunitárias no Maranhão. Em nossa pesquisa para dissertação de mestrado, finalizada em novembro de 2003, levantamos dados sobre o perfil das emissoras comunitárias na região metropolitana de São Luís, que compreende os municípios de São Luís (capital), São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa. Na época, os dados já apontavam que a metade (50%) das emissoras pesquisadas invertia os objetivos e os princípios da comunicação comunitária, executando na programação os mesmos conteúdos das emissoras comerciais. Registramos ainda uma presença significativa de emissoras pseudocomunitárias controladas por grupos evangélicos (16,6%), cuja programação é totalmente voltada para o proselitismo religioso. BARBOSA FILHO (2001), no artigo As políticas públicas de comunicação para o rádio brasileiro: regulação, digitalização e integração, confirma que ainda são poucas as rádios verdadeiramente comunitárias. São exemplos dignos de nota de um procedimento verdadeiramente comunitário: a emissora fluminense Pop Goiaba que oferece programação alternativa ou as com propostas legítimas de divulgação da cultura e da diversidade; a Rádio Constelação, de uma comunidade de deficientes visuais de Belo Horizonte; a Rádio Muda, da UNICAMP, criada pelos alunos na tentativa de exercitar novas propostas de linguagem sonora; e a Rádio Heliópolis, fincada em meio à explosão populacional da favela Heliópolis na Grande São Paulo. São exemplos reais, concretos do que se pode fazer em prol da liberdade de expressão, da diversidade cultural e do desenvolvimento local através da ferramenta de radiodifusão sonora. Mas entre as estimadas 14 mil emissoras não autorizadas e que transmitem em sinal de FM em baixa potência, elas são exceções.

8 O objetivo desta monografia é verificar se as emissoras da região de Curitiba são usadas como meios de participação popular na vida pública, como determina a legislação vigente, ou para atender outros fins, como interesses pessoais ou de pequenos grupos. No ano de 2005, estavam em funcionamento sete rádios comunitárias em Curitiba e Região Metropolitana, espaço urbano formado por 26 municípios, com uma população de 3.261.168 habitantes (estimativa IBGE/2006). Na capital, eram duas emissoras com licença definitiva, instaladas nos bairros do Boqueirão e na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). Na Região Metropolitana, estavam outras cinco emissoras com licença definitiva e em funcionamento nos municípios de Campo Largo, Itaperuçu, Quitandinha, Pinhais e Rio Branco do Sul. A análise de aspectos da cultura política das pessoas que dirigem alguns desses veículos visa verificar se são coerentes com a proposta legislativa. Segundo Suley Maciel, (...) a busca de novos paradigmas e de uma nova proposta de radiodifusão e de democratização dos meios, implementada pelas rádios alternativas, torna importantes as figuras dos comunicadores da comunidade, que passam a representar o duplo papel de instâncias de produção e de recepção, como dito anteriormente. Ter como foco o personagem do comunicador, sua trajetória pessoal e sua inserção nesse universo comunicacional/comunitário é importante para observar uma sistemática social de suma relevância na contemporaneidade (MACIEL, 2006). Foram analisados os perfis de líderes de quatro rádios, três comunitárias com licença definitiva e uma rádio livre, que aguarda a liberação de sua licença pelo Ministério da Comunicação. São eles Círio Custódio da Silva, do Centro de Atendimento Comunitário São Jorge (CEACOM) e Marcelo Deonízio Bedmatchuk Gaiovicz, da Associação Comunitária Cultural e Artística Folha do Boqueirão, em Curitiba; Geferson Antônio Marcon, da Fundação

9 Nossa Senhora da Piedade, em Campo Largo; e Ronny Roque da Silva, da rádio livre do Pinheirinho. Esses dirigentes não são somente profissionais técnicos que usam as ondas eletromagnéticas para transmitir mensagens, músicas e entreter a população. Eles, como todos os comunicadores que atingem um grande número de pessoas, tornam-se produtores de sentidos na sociedade. Quando o comunicador popular é reconhecido pelo seu público, seus conhecimentos, assim como valores morais, tendem a ser valorizados e até reproduzidos, criando condições para que se torne sujeito da emancipação popular. A fundamentação teórica dessa análise foi feita a partir do conceito de cultura política de Almond e Verba, apresentado no livro The Civic Culture (ALMOND e VERBA, 1965). Para contextualizar o trabalho, desenvolveu-se um breve histórico das rádios de pequeno alcance no mundo e no Brasil, assim como foram analisados alguns pontos da legislação vigente, sob o foco dos processos de democratização dos meios de comunicação, um dos desafios da sociedade contemporânea. A Lei Federal 9.912/98, que rege a habilitação de licenças e forma de funcionamento das rádios comunitárias, criou a possibilidade legal de associações sem fins lucrativos, de caráter comunitário, manterem rádios de pequeno alcance. Muito antes da criação dessa Lei, desde a década de 60, as rádios de baixa freqüência despertam discussões entre aqueles que defendem o direito de livre expressão e as ações governamentais que visam limitar e controlar o uso do espaço eletromagnético em nome da segurança pública. Historicamente, o potencial do rádio como um meio de informação e mobilização de massas é disputado pelos detentores do poder político, econômico e cultural. Assim, as emissoras são bastante disputadas por diferentes grupos de interesses. Atualmente, o rádio é o meio de comunicação mais abrangente no Brasil. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de

10 Domicílios realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Pnad/IBGE 2005), estima-se que mais de 88% dos lares brasileiros tenham pelo menos um aparelho de rádio. A maior parte das emissoras de rádios tem caráter comercial e está em poder da iniciativa privada, por meio de concessões públicas. O número de emissoras comunitárias está crescendo ano a ano, porém a demanda ainda é muito superior ao número de licenças obtidas. Segundo o Relatório Anual 2006 da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), em dezembro daquele ano, 2.302 rádios comunitárias operavam no país. Em 2006, foram concedidos 726 novos atos de autorização de novas emissoras incluindo as comerciais, entre elas, 07 de radiofusão sonora em Onda Média (OM), 75 em Freqüência Modulada (FM), e 521 de rádios comunitárias.

11 I. RÁDIOS COMERCIAIS, LIVRES, PIRATAS E COMUNITÁRIAS: ABORDAGEM HISTÓRICA E COMPARATIVA DE OUTROS PAÍSES COM O BRASIL 1. BREVE HISTÓRICO O rádio foi criado em meados do século XIX e chegou ao Brasil oficialmente em 1922, quando a Rádio Westinghouse, iniciativa do Governo Federal, transmitiu o discurso do presidente Epitácio Pessoa. Porém, somente no ano seguinte é que começou a funcionar a primeira emissora de rádio com uma programação continuada, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada por Roquete Pinto e Henry Morize. Nesses primeiros anos, as rádios eram mantidas por clubes ou sociedades e ainda não possuíam caráter comercial. A primeira legislação específica sobre a radiodifusão no Brasil foi criada em 1931, com o decreto nº 20.047, pelo qual o Governo Federal assegurou a sua condição de concessor das redes radiofônicas. Segundo Gilsela Ortriwano 1, entre as funções sociais das emissoras de rádios estão a coleta e difusão de informações, a expressão de opiniões, a função econômica e de organização social, entretenimento e distração, psicoteráptica, de identidade e envolvimento social, ideológica, coesão social e legitimação política a serviço da ideologia dominante na sociedade. Para atender a tão amplas funções, existem diferentes tipos de emissoras de rádios, segundo divisão do Ministério das Comunicações. Somente nos anos 30, as emissoras brasileiras começaram a ter caráter comercial. Em 1932, foi criado o documento oficial sobre a radiodifusão no país (Decreto, de nº 21.111), que autorizava veicular propagandas na programação. No contexto histórico da Revolução de 30, com a crescente industrialização e urbanização, o rádio torna-se um importante instrumento de 1 ORTRIWANO, Gilsela S. A Informação no Rádio Os Grupos de Poder e a Determinação dos Conteúdos. São Paulo. Summus, 1985.

12 influência à opinião pública e de incentivo ao consumo. O então chefe do governo provisório, Getúlio Vargas, soube usar o potencial político desse meio de comunicação. Com a possibilidade de obter recursos de empresas e do próprio governo, as emissoras tinham como expandir sua atuação. Essas mudanças transformaram o caráter dos programas, que deixaram de ser eruditos e culturais para se tornarem populares, com maior apelo comercial. Com o passar dos anos, as emissoras delinearam seus perfis, algumas mais populares, outras noticiosas ou ainda eruditas e culturais. A rádio comercial e a popularização do veículo implicaram a criação de um elo entre o indivíduo e a coletividade, mostrando-se capaz não apenas de vender produtos e ditar modas, mas também de mobilizar massas, levando-as a uma participação ativa na vida nacional (ORTRIWANO, 1985). A época de ouro do rádio brasileiro, a década de 40, consolidou a expansão do meio e a disputa pelo público. As emissoras procuravam usar linguagens mais populares, e até chegavam a baixar o nível, a fim de atraírem mais audiência e consequentemente mais patrocinadores e comerciais. Com esse intuito, foi que em 1942 surgiu a primeira rádio novela, lançada pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro. O gênero conquistou o público e predominou na programação de praticamente todas as emissoras nos anos seguintes. No final da década 40, os programas de radiojornalismo começam a ser melhor estruturados. Alguns programas criados nessa época entram para a história, como o Repórter Esso, que ficou 27 anos no ar, e o Grande Jornal Falado Tupi. Se a disputa entre as emissoras radiofônicas fortaleceu a expansão do meio, a concorrência da televisão, que chegou ao Brasil na década de 50, causou a perda de público e anunciantes, estremecendo a sua viabilidade econômica. Devido à queda das verbas comerciais e à perda de profissionais e artistas para o novo meio, foram necessárias muitas adequações, substituição de programas ao vivo por gravados, inclusão de mais notícias e menos rádio novelas, menos programas de auditório e mais serviços. Nos anos 60, duas estratégias contribuíram para reconquistar o público das rádios. A especialização em programas musicais e mais espaço para serviços públicos, como informações meteorológicas, ofertas de emprego, achados e perdidos, entre outros. Foi nessa década que

13 surgiram as primeiras emissoras em freqüência modulada (FM) que, desde o início, tiveram um perfil essencialmente musical. Na década de 70, a rádio recuperou sua expressividade, que estava empobrecida desde a década de 50, por ofertar uma programação cada vez mais dinâmica e segmentada. Em 1976, foi criada a Radiobras, pelo Governo Brasileiro, com o objetivo de produzir e transmitir uma programação educativa, informativa e de recreação para todo o país, com atenção especial para a região amazônica. A proposta de formar grandes redes de produção e transmissão também chegou à iniciativa privada, com empresas como a Studio Free e a Rede L&C de rádio, que, além de conteúdo, forneciam patrocinadores para os programas, o que facilitou o trabalho e a sustentação de emissoras de menor porte. Nos anos 80 e 90, a segmentação teve continuidade e, de forma crescente, as emissoras FM ganharam mais espaço, público, anúncios comerciais e mais investimentos técnicos que as emissoras AM. 1.2 EUROPA, BERÇO DAS RÁDIOS LIVRES No início do século XX, na Europa, especialmente na Inglaterra, França, Alemanha e Itália, os estados nacionais controlavam os sistemas de radiodifusão. Os grupos que não concordavam com o estado ser o único detentor desse poder criaram meios de manifestarem-se contra ele e mesmo de burlá-lo. Fala-se pela primeira vez em rádios clandestinas, no Velho Continente, durante o período da Primeira Guerra Mundial, quando exércitos e grupos políticos usavam esse meio de comunicação para informar à população de seus países o estado da guerra. Também durante a Segunda Grande Guerra, as rádios clandestinas foram bastante usadas, principalmente na França, na tentativa de resistência aos ataques alemães (SILVEIRA, 2001). O termo rádio pirata surgiu na Inglaterra, na década de 60, quando a British Broadcasting Corporation (BBC) detinha o monopólio de rádio e televisão naquele país. Jovens estudantes, que queriam expressar sua visão de mundo, criaram uma rádio clandestina, a Rádio Caroline, e, para não infringirem a legislação vigente, instalaram os transmissores em navios fundeados, porque assim seus equipamentos não podiam ser apreendidos, sendo que estavam além do espaço

14 territorial marítimo controlado pelas autoridades governamentais (há mais de 12 milhas marítimas). Por deboche, os jovens colocaram uma bandeira pirata no navio, o que reforçou o uso do termo. Nesse período histórico, não só a Inglaterra, mas a maioria dos países europeus tinha políticas de monopólio em relação às telecomunicações. Assim, o termo rádio pirata ganhou força e tornou-se um referencial para as emissoras que tentam de alguma forma driblar as restrições governamentais às formas de expressão popular. Outro termo bastante difundido, as Rádios Livres, também surgiu na Inglaterra. Elas se diferenciavam das rádios piratas porque seus transmissores eram instalados em terra. As rádios livres se espalharam por vários países da Europa e se proliferaram com maior intensidade nos Estados Unidos da América país em que é incentivado o sistema de rádios livres e onde as emissoras com esse perfil não são regulamentadas pelo governo. Estima-se que há aproximadamente 40 mil rádios livres naquele país. 1.3 RÁDIOS LIVRES NO BRASIL A disputa por um espaço eletromagnético para transmitir suas informações, idéias, produtos culturais e comerciais não é questão recente. Desde que o rádio se tornou um meio de comunicação com grande representatividade social, diversos grupos, políticos ou não, tentam conquistar e manter formas de utilizá-lo. Algumas experiências brasileiras merecem ser destacadas para melhor contextualizar o processo de criação das rádios comunitárias. Inspirados na experiência dos estudantes britânicos da década de 60, estudantes paulistas de Sorocaba também fundaram rádios livres. Em poucos anos, havia mais de cem rádios naquela cidade, e o movimento ficou conhecido como Verão 82 da Livepool Brasileira. Os líderes do movimento realizaram diversos eventos e criaram o jornal Rádio Comunidade, veículo oficial do Fórum de Democratização da Comunicação (NETO, 2002).

15 No mesmo período, também foram instaladas várias rádios livres na cidade de São Paulo. A rádio Xilique, iniciativa de professores da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), foi um marco histórico nesse processo. Além da programação radiofônica, o grupo produzia informativos populares que tiveram grande repercussão e tornaram-se mais conhecidos que a própria rádio. A ação era também uma forma de protesto ao monopólio estatal dos veículos de comunicação, sobretudo contra a Rede Globo. Devido a sua postura, a rádio Xilique foi repreendida pelo poder público, porém, não foi fechada pela polícia federal porque Dom Paulo Evaristo Arns, então chanceler da Universidade, interveio junto aos órgãos estatais. Na cidade de São Paulo, o movimento das rádios comunitárias ganhou mais expressividade depois da promulgação da Constituição Federal, em 1988. O primeiro grande evento na capital paulista sobre as rádios livres aconteceu em 1989, com a participação de aproximadamente 20 rádios e apoio de simpatizantes, profissionais e estudiosos da comunicação na Universidade de São Paulo (USP). O evento, que ficou conhecido como o I Encontro de Rádios Livres, teve como principais resultados a criação do Movimento Nacional de Rádios Livres (MNRL) e do Coletivo Estadual de Rádios Livres de São Paulo. Como conseqüência do fortalecimento do movimento das rádios livres, o poder estatal também reforçou a repreensão a elas. No final de 1991, foram contabilizadas 400 rádios fechadas pela Polícia Federal somente em São Paulo. 1.4 A BUSCA DA LEGALIDADE Na década de 1990, as lideranças do movimento popular articulavam a favor do projeto da Lei da Informação Democrática, em Brasília. O projeto era resultado de um trabalho iniciado

16 pelo professor doutor José Carlos da Rocha de Carvalho 2, da Universidade de São Paulo (USP), com o apoio de lideranças políticas como Luiza Erundina 3 e Vicente Paulo da Silva (Vicentinho) 4, que também foi subscrito pelo então deputado federal Zaire Rezende 5. Um dos principais tópicos do projeto dizia: É livre a emissão da radiodifusão sonora de sons e imagens, com ou sem fio, por emissoras de baixa potência e alcance local, de caráter comunitário e sem fins lucrativos, mediante registro no cartório local (NETO, 2002). É importante enfatizar o termo que direciona a legalização das emissoras em âmbito local (cartórios locais), muito diferente do que é apresentado na Lei posteriormente estabelecida (Lei 9.612/1998). A apresentação do projeto deu nova força aos movimentos pelas rádios livres e a conseqüente mobilização causada foi intensa. Em três anos, de 1991 a 1993, foram realizados mais de cem seminários, em dezessete estados do país, para discutir a proposta. Decisões judiciais favoráveis às rádios comunitárias também deram nova força ao movimento. Um exemplo expressivo foi a decisão do juiz federal Casem Mazloum, da 4ª Vara Federal favorável a Leo Tomaz Pigatti, coordenador da Rádio Livre Reversão, fechada em 1991. No julgamento, o juiz proclamou a essência libertária da Constituição Federal. No mesmo ano, outro juiz, João Batista Gonçalves, absolveu outro coordenador de rádio livre. Pela primeira vez na história judicial brasileira, foi usado como fundamento judicial o Pacto de São José de Costa 2 José Carlos da Rocha Carvalho, professor doutor da Escola de Comunicação e Artes da USP. Faz parte do Departamento de Jornalismo e Editoração, no qual desenvolve o projeto pessoal de pesquisa intitulado A elaboração legislativa brasileira para as áreas de informação e a comunicação. 3 Luiza Erundina de Souza, assistente social, atualmente deputada federal pelo estado de São Paulo, pertencendo à bancada do Partido Socialista Brasileiro. Foi a primeira mulher eleita a prefeita representando um partido de esquerda na cidade de São Paulo, em 1988. 4 Vicente Paulo da Silva, sindicalista, é um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT), atualmente deputado federal pelo PT. 5 Zaire Rezende, médico mineiro de Uberlândia, filiado ao PT. Foi prefeito de sua cidade natal e deputado federal entre os anos 1990 e 2002.

17 Rica 6, tratado internacional que defende a livre expressão, assinado pelo Governo Brasileiro em 1992. Um novo impulso ao movimento das rádios comunitárias foi dado em 1995 quando o então Ministro das Comunicações, Sérgio Motta, declarou-se favorável à legalização das rádios piratas. Segundo o professor José Carlos da Rocha de Carvalho, naquele ano houve uma verdadeira corrida de ocupação do espaço eletromagnético. Só no estado de São Paulo, estima-se que foram criadas, em média, cinco rádios por dia, num período de dez meses. No estado do Paraná, as lideranças do movimento, naquele período, foram Zilcar Pereira da Silva, Elias Oliveira Maciel e Sidney Pirroti de Moraes. É estimado que, como conseqüência dessa onda otimista, em 1996, estivessem no ar aproximadamente quatro mil rádios livres em todo o Brasil. Nesse mesmo período, foi apresentado um anteprojeto de decreto presidencial, chamado de II Carta de São Paulo, elaborado pelo professor José Carlos Rocha, que visava regular a radiodifusão de pequeno alcance no país. O documento provocou o comprometimento de Sérgio Motta, fundador do PSDB, então Ministro das Comunicações, com a regulamentação que deveria acontecer até fevereiro do ano seguinte (1997). Porém, quem tomou uma atitude concreta em relação ao anteprojeto foi o deputado Arnaldo Faria de Sá (PPT-SP), que subscreveu a II Carta de São Paulo no projeto de Lei n. 1.521/96. Faria de Sá teve importante papel no processo, sendo que defendeu as causas do movimento pelas rádios livres dentro do Governo Federal. Entre suas ações políticas e de mobilização popular, conseguiu que fosse estabelecido o dia 23 de maio como data de sessão solene, no Plenário da Câmara dos Deputados, em Comemoração ao Dia Mundial das Comunicações e do Dia Nacional da Radiodifusão Livre Comunitária. 6 Pacto de São José de Costa Rica tratado internacional aberto à assinatura na Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, em San José de Costa Rica, em 22.11.1969 - ratificada pelo Brasil em 25/09/1992.

18 No mesmo ano de 1996, apareceram na Câmara Federal outros dez projetos de lei sobre a radiodifusão no país, assinados por políticos como Fernando Gabeira (PV-RJ) e Franco Montoro (PSDB-SP), além de um com a assinatura do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Porém, em um movimento contrário à articulação dos movimentos populares, o Ministério das Comunicações apresentou um documento que argumentava que as rádios comunitárias podem intervir nas freqüências usadas pela aviação, colocando a segurança de vôo em risco 7. Em contraponto, todos os deputados estaduais paulistas assinaram a Moção de n. 50 que pedia ao presidente da república a regulamentação das rádios comunitárias. No mesmo período, o jurista Celso Ribeiro Bastos, então presidente do Instituto Brasileiro de Direito Constitucional da PUC-SP, apresentou à Prefeitura de São Paulo um documento que defendia a legalidade, garantida pela constituição, da exploração do espaço eletromagnético. No dia 23 de outubro de 1996, foi votada na Câmara Federal a Lei da Regulamentação da Radiodifusão Comunitária, com base no substitutivo do relator Edson Queiroz ao Projeto de Lei 1.512/96, assinado pelo deputado federal Arnaldo Faria de Sá, na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CTCI) da Câmara Federal. Nessa votação, foi decidido que as rádios comunitárias têm que usar uma mesma freqüência em todo o país (FM 104,9) e que nenhuma deverá ter alcance maior que mil metros quadrados. Também foi decidido que deveriam ser fechadas todas as rádios amadoras, apreendidos os seus equipamentos e que os responsáveis pelas rádios fechadas não poderiam ser contemplados com a nova Lei. A reação política do movimento pelas rádios foi a elaboração de um recurso parlamentar. No Senado, o ex-senador e atual governador paranaense Roberto Requião (PMDB-PR) foi convencido, pela bancada do PT, a não apresentar o projeto que defendia o ponto de vista dos 7 A suposta interferência das rádios livres nos sistemas de comunicação em aeronaves é um argumento frequentemente usado pelos grupos políticos contrários à liberação das mesmas. Porém técnicos em telecomunicações afirmam que tecnicamente é impossível tal interferência.

19 movimentos populares e ainda a fazer um relatório contrário a ele, segundo Armando Coelho Neto, autor de Rádio Comunitária Não é Crime. Porém, havia outro projeto que atendia as demandas do movimento pelas rádios comunitárias, de autoria do senador José Ignácio Ferreira (PSDB-ES), que segundo o mesmo autor foi convencido pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso a não apresentá-lo no Senado, minutos antes da votação. 1.5 LEGALIDADE, BUROCRACIA E RESTRIÇÕES A Lei n. 9.612, de 19 de fevereiro de 1998, institui o serviço de radiodifusão comunitária e dá outras providências. A atual legislação remete aos mandamentos das legislações anteriores: Lei n.4.117, de 27 de agosto de 1962, modificada pelo Decreto-Lei n.236, de 28 de fevereiro de 1967, e demais disposições legais, e ao Art. 223 da Constituição Federal. A descrição dada oficialmente para tais veículos no primeiro artigo sobre as rádios comunitárias é: Denomina-se Serviço de Rádio Difusão Comunitária a radiodifusão sonora, em freqüência modulada, operada em baixa potência e cobertura restrita, outorgada a fundações e associações comunitárias, sem fins lucrativos, com sede na localidade de prestação de serviço. De antemão são feitas diversas restrições. Pela Lei, a rádio comunitária é um meio que deve ser utilizado para levar informações a apenas uma comunidade de um bairro ou vila. Esta é a justificativa usada para que a potência máxima permitida seja de 25 watts ERP e a altura do sistema irradiante (antena) não superior a 30 metros, características que não só limitam, mas impossibilitam tecnicamente a instalação de rádios em diversas localidades, sendo que as características geográficas locais são determinantes para a radiodifusão. Entre as finalidades previstas para o Serviço de Rádio Difusão Comunitária e a sua programação, são citados o estímulo ao convívio social e a capacitar os cidadãos ao exercício do direito de expressão da forma mais acessível possível. A Lei outorgada impôs um processo

20 bastante burocrático de liberação para as rádios comunitárias em todo o território brasileiro. O trâmite tem início no Ministério das Comunicações, passa pela Câmara Federal e pelo Senado, para que então a licença seja, ou não, concedida. As dificuldades para obtê-la ficam evidentes quando são analisados exemplos de associações comunitárias como das cidades de Curitiba e Região Metropolitana. Antes de chegar a enfrentar o trâmite no Governo Federal, é preciso superar outras barreiras impostas pela Lei. Entre os principais pontos questionados pelos grupos que querem mudanças no processo atual de obtenção de licenças, está a necessidade de que os associados que requerem a licença residam no mesmo raio de um quilômetro em que se pretende instalar a rádio. Na prática, é muito difícil que isso aconteça. Sendo assim, a Lei pode acabar estimulando associações artificiais, uma vez que muitas delas são criadas com a finalidade de obter uma licença e aquelas que já atuam junto às comunidades encontram barreiras impeditivas (art. 7º). A Lei pretende assegurar a participação comunitária exigindo que pelo menos cinco pessoas, representantes de associações de classe, beneméritas, religiosas ou de moradores acompanhem a programação da rádio (art.8). No entanto, novamente, na prática é difícil que na extensão de um quilômetro haja residentes que estão envolvidos em todos os órgãos citados acima. Caso haja duas ou mais organizações que queiram assumir a rádio comunitária no mesmo local, a Lei prevê que como primeira alternativa elas se associem. Se não houver acordo, será contemplada aquela que comprovar maior representatividade junto à comunidade local; se a representatividade for igual, será feito um sorteio. A associação detentora da concessão não pode ter vínculo financeiro, administrativo, político, religioso ou familiar como nenhuma outra instituição (art. 11º). Novamente é uma restrição questionável, uma vez que não há como o poder público federal controlar a existência

21 desses vínculos, principalmente se forem de caráter político a não ser pelo acompanhamento sistemático da programação das emissoras, ação que se torna inviável devido ao número de rádios em todo o país. Aqueles que conseguem superar todos esses obstáculos, e também passar pelo trâmite da Câmara dos Deputados e do Senado, que pode demorar até dez anos, obtêm uma habilitação valida por três anos, sendo que pode ser renovada por igual período, desde que tenham sido cumpridas todas as exigências da Lei (art.6º). Não é permitida a formação de redes entre as rádios comunitárias, o que significa que um mesmo programa não pode ser compartilhado ou reproduzido de forma sincronizada por mais de uma rádio comunitária. As dificuldades de produção são agravadas pela limitação na obtenção de recursos financeiros para as rádios, uma vez que os anúncios comerciais são proibidos e os patrocínios, sob forma de apoio cultural, são restritos aos estabelecimentos situados na área da comunidade atendida (art. 18º). 1.6 AÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA Mesmo com a instauração da Lei 9.612/98, o número de rádios de baixo alcance não deixou de crescer e o movimento por mudanças no processo de regulamentação continua articulado em muitos estados do país, especialmente em São Paulo, Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Pernambuco. A demora no processo burocrático de liberação das concessões e novamente a pressão dos movimentos populares fizeram com que o Presidente da Republica, Fernando Henrique Cardoso, promulgasse a medida provisória 2.143, em 31 de maio de 2001, dando ênfase ao cumprimento

22 do art. 223 da Constituição Federal 8 e ainda estabelecendo que, se não forem cumpridos os prazos previstos no art. 64 2 e 4 da Constituição, o Poder Concedente terá que expedir autorização de operação, em caráter provisório, que perpetuará até apreciação do ato de outorga pelo Congresso Nacional. Nos últimos anos surgiram organizações da sociedade civil que trabalham para combater as dificuldades criadas pela legislação vigente e a forte repreensão da Anatel. Entre elas está a Abraço (www.abraconet.org.br), maior entidade representativa da radiodifusão (radio e TV) comunitária no Brasil, que conta com mais de 100 delegados e está representada em 17 Unidades da Federação; e a Amarc, Associação Mundial de Rádios Comunitárias (www.amarc.org), organização não-governamental internacional a serviço do movimento das rádios comunitárias, que agrupa cerca de três mil membros e associados em 110 países, com o objetivo de apoiar e contribuir para o desenvolvimento desses meios de comunicação de acordo com os princípios de solidariedade e a cooperação internacional. Em Curitiba e Região Metropolitana, essas organizações não têm delegados oficiais, sendo que as iniciativas da sociedade civil, em defesa e promoção das rádios, ocorrem de maneira isolada pela busca de concessões por associações de bairro, por organizações como o Cefúria, ou mesmo pelo Programa Paranização, do Governo do Estado do Paraná, embora não haja ainda uma ação integrada entre elas. A seguir serão analisados os perfis de alguns dos dirigentes das rádios comunitárias em funcionamento nesse espaço geográfico. 8 Art. 223. Compete ao Poder Executivo outorgar e renovar concessão, permissão e autorização para o serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens, observado o princípio da complementaridade dos sistemas privado, público e estatal. 2º - A não renovação da concessão ou permissão dependerá de aprovação de, no mínimo, dois quintos do Congresso Nacional, em votação nominal. 4º - O cancelamento da concessão ou permissão, antes de vencido o prazo, depende de decisão judicial.

23 II CULTURA POLÍTICA E PARTICIPAÇÃO 2.1 CULTURA POLÍTICA: UMA ANÁLISE PERSPECTIVA A análise dos perfis dos dirigentes das rádios pesquisadas será feita a partir dos conceitos de cultura política desenvolvidos por Almond e Verba no livro The Civic Culture. A noção de cultura política é tão antiga quanto a preocupação e o interesse do homem por assuntos políticos. Gabriel Almond A chamada cultura política é um conceito que combina as perspectivas sociológica, antropológica e psicológica no estudo da política e sociedade. O marco do início da utilização acadêmica da expressão Cultura Política foi o estudo realizado por Gabriel Almond e Sidney Verba, The Civic Culture, publicado na década de 60, que é considerado a primeira tentativa de formulação sistemática e aplicação do conceito de cultura política. Até hoje, grande parte dos estudiosos e pesquisadores da área faz referência à obra. Porém, a influência dos aspectos culturais de uma sociedade nas estruturas políticas das mesmas é observada e analisada desde a antigüidade. Obras como A República, de Platão, têm o tema como um dos principais focos de discussão. Para Almond, um dos autores de The Civic Culture, a noção de cultura política é tão antiga quanto a preocupação e o interesse do homem por assuntos políticos. No livro O Espírito das Leis, Montesquieu também já afirmava que não basta à democracia um conjunto de leis que assegurem o direito à igualdade política. Como no caso das rádios comunitárias, não bastou criar a lei para que as associações interessadas e com perfil adequado obtivessem as licenças. Para ele, um Estado que se fundamentasse apenas em uma estrutura legal estaria condenado à instabilidade e à crise. Assim, para que haja estabilidade

24 democrática, é necessário que exista virtude e respeito à pátria e às leis criadas pelos representantes. O estudo de Almond e Verba, The Civic Culture, dá início a uma corrente de pesquisas que estabelece a relação entre as atitudes e motivações subjetivas individuais e os sistemas políticos em seus diferentes aspectos. A principal preocupação foi identificar congruências ou incongruências entre as duas esferas. Ao analisar a cultura política, os autores de The Civic Culture admitem que as reações dos indivíduos em situações sociais não são conseqüências de um único fator, uma vez que vários fatores subjetivos intervêm no processo de decisão. Assim, o comportamento político é resultado de avaliações subjetivas que o ator realiza destas situações sociais. Pretende-se com este trabalho, a partir da análise da cultura política de alguns dos indivíduos que dirigem rádios comunitárias em Curitiba e região metropolitana, identificar se os objetivos e motivações dos mesmos condizem com o que é proposto na legislação vigente sobre as mesmas. A principal referência usada pelos autores de The Civic Culture para definir o conceito de cultura política foi a chamada Escola de Cultura e Personalidade, que teve início nos Estados Unidos nos anos 20 e se estendeu até aproximadamente o final da década de 60. No período da Segunda Guerra Mundial, as concepções e métodos de pesquisa da Escola de Cultura e Personalidade começam a ter como foco aspectos nacionais, linha que foi seguida por Almond e Verba. A noção de cultura utilizada tem como umas das principiais referências Patterns of Culture, de Ruth Benedict (1934), que apresenta a cultura como uma articulação de padrões de comportamentos apreendidos socialmente através de processos de transmissão de tradições e idéias, sem qualquer determinação biológica.

25 O objetivo de Almond e Verba, mais que definir um conceito de cultura, foi criar um novo método de estudo sobre política que abrangesse a complexidade das sociedades contemporâneas. 2.2 O INDIVÍDUO E A POLÍTICA A cultura política está presente no cotidiano dos indivíduos, regulando a transmissão de valores políticos e/ou legitimando o funcionamento das instituições políticas. A construção e a difusão dessa cultura estão diretamente relacionadas à reprodução de comportamentos, às normas e aos valores políticos de determinada comunidade. Assim, parte-se da compreensão de que indivíduo e sociedade reforçam-se mutuamente, não podendo ser analisados separadamente. Cultura política é o padrão de atitudes e orientações individuais com relação à política compartilhadas por membros de um sistema político. O reino pessoal é a base das ações políticas e o que lhes confere significação. (ALMOND, 1965) Ao considerar que os indivíduos são a base das ações políticas, Almond e Verba analisaram os seguintes aspectos na formação da cultura política: cognitivo: conhecimentos precisos ou não sobre objetos e credos políticos; afetivo: sentimentos de ligação, envolvimento, rejeição e respeito; avaliativo: formação de opiniões sobre objetos políticos, aplicação de padrões de valores aos objetos e fatos políticos. A partir dessas análises, os pesquisadores perceberam que as orientações do indivíduo como um ator político têm relação direta com a sua autopercepção como agente público. O cidadão só vai tomar atitudes prepositivas quando se sentir apto e em um ambiente favorável a sua participação (inputs).

26 A cultura política pode ser descrita a partir da consciência das pessoas sobre esses aspectos. Segundo Almond e Verba, são chamadas de paroquiais as pessoas que têm pouca ou nenhuma consciência do sistema político nacional. Sujeitos são aquelas pessoas conscientes do sistema político e do efeito que seus outputs (assistência social, leis, estruturas públicas) podem ter nas suas vidas, mas que não têm iniciativa de participar das estruturas de inputs. São chamados de participantes aqueles que, além de serem conscientes, são engajados na articulação e expressão de demandas e nas tomadas de decisões. Os cidadãos mais ativos na vida pública, chamados de participantes por Almond e Verba, tendem a usar a sua competência política para influenciar a estrutura do estado para favorecer questões de seu interesse. Para isso, eles precisam conhecer quais são os canais de ação que os possibilitam influenciar as ações do governo. Entender de forma racional como a sociedade está estruturada politicamente é um pré-requisito para a participação nas preposições e decisões políticas. Sem ter consciência de quais são os deveres do Estado, o cidadão sente-se mais vítima da estrutura do que sujeito participante da mesma. Mas não basta o conhecimento cognitivo; questões afetivas e avaliativas, relacionadas às experiências vividas, são decisivas na formulação da postura política de uma sociedade. A cultura política dos brasileiros, analisando de forma genérica, tende a ser paroquial, embutida de apatia e falta de consciência sobre o sistema político (...) De maneira geral, nos últimos anos, as pesquisas de opinião pública têm revelado um declínio acentuado da confiança que os brasileiros depositam nas instituições políticas e particularmente na classe política. (BAQUERO, 2001) Marcello Baquero, pesquisador brasileiro do tema cultura política, afirma que as pesquisas de opinião mostram haver a institucionalização de uma cultura política fragmentada e de desconfiança. Ele acredita que, para reverter essa situação, seria preciso incentivar o

27 desenvolvimento de associações informais, que promovam o exercício da cidadania de forma crítica. Porém, tanto a grande mídia quanto as instituições da sociedade civil ainda não têm participação efetiva na construção do sistema político vigente no Brasil (BAQUERO, 2001). O papel dos meios de comunicação no processo de consolidação de uma cultura política participativa é fundamental, uma vez que na sociedade contemporânea esse é um dos meios mais importantes do relacionamento entre o indivíduo, os órgãos estatais e demais organizações sociais. Os meios de comunicação podem ser considerados instrumentos que ocupam o espaço público, sendo que eles podem ser apontados como centralizadores da esfera pública nas sociedades contemporâneas, uma vez que são o principal canal de troca de informações entre os poderes estatal e econômico e o público em geral. Essa abordagem é bastante estereotipada e não é a única, uma vez que existem outros canais de expressão popular que são ocupados por grupos organizados da sociedade civil e eles mesmos, quando bem articulados, conseguem atuar nas esferas públicas constituindo o diálogo com o poder público, seja por meio da mídia ou de outros canais de relações públicas (eventos, articulação política). Nesses casos, é preciso fazer uma ressalva porque esses grupos, associações, organizações da sociedade civil, muitas vezes, visam defender interesses de parcelas ou segmentos muito específicos da população (direitos das minorias, da população de um bairro), enfim, não trabalham em prol da sociedade como um todo e sim de interesses específicos.

28 2.3 - PERFIL DE DIRIGENTES DE RÁDIOS COMUNITÁRIAS DE CURITIBA E REGIÃO METROPOLITANA As informações históricas e referências legislativas relacionadas às rádios de pequeno alcance serão usadas para analisar o perfil das pessoas que são responsáveis pela programação e gestão de algumas rádios comunitárias da região metropolitana de Curitiba. Foram entrevistadas seis pessoas, de quatro rádios, três de bairros de Curitiba e uma da região metropolitana. São elas: Associação Comunitária do Boqueirão Rádio Comunitária da Cidade Industrial de Curitiba (CIC) Associação Comunitária do Jardim Esperança Fundação Nossa Senhora da Piedade (Rádio Onda Livre) A Associação Comunitária do Boqueirão obteve a licença definitiva para o funcionamento da Rádio Comunitária do Boqueirão em 17 de abril de 2005. Quando a pesquisa foi realizada, quatro colaboradores mantinham a programação. Segundo Marcos H. R. Moreira, diretor, programador e locutor da rádio, o principal objetivo do trabalho é dar acesso à população menos favorecida à comunicação. Para isso, a equipe de colaboradores desejava maior participação de outras organizações locais e apoio financeiro para aquisição de novos equipamentos, como novos computadores, acesso à Internet banda larga (ADSL) e também uma sede própria e mais ampla. Os equipamentos usados para o funcionamento da rádio foram obtidos e são mantidos por doações do presidente da Associação, um comerciante do bairro. A rádio opera em uma pequena sala, na qual um estúdio é improvisado, com isolamento acústico, um computador, uma mesa de som de 16 canais e três microfones. Marcos H. R. Moreira, 40 anos, ensino médio completo, é assessor político e estava exercendo o mandato de vereador de Quitandinha, cidade da região metropolitana de Curitiba.

29 Sua experiência em rádio era de três anos. Na Rádio Comunitária assumia as funções de diretor, programador e locutor. É filiado ao Partido Liberal (PL), mas não teve influência familiar na opção de atuar na política, o que faz desde 1984. Ele também atua em outras três associações Associação de Moradores de Quitandinha, Federação das Rádios Comunitárias do Paraná e o Centro de Tradições Gaúchas (CTG) de Quitandinha. Afirma que lê jornais e revistas quase todos os dias e se reconhece como agente que influencia a programação da rádio e as políticas públicas locais. Seu colega de trabalho na rádio, Mauro Sérgio Conte, 26 anos, também com formação no ensino médio, é locutor, DJ e produtor musical; trabalha na rádio há dois anos como programador e locutor. Não é filiado a partido político e também não tem influência política da família. Nunca participou de campanhas ou outras atividades políticas partidárias, mas, pelo seu trabalho na rádio, sente-se com poder de influenciar as políticas públicas locais, assim como acredita que a rádio comunitária também tem essa influência. Diz não ter nenhum interesse por política e que não participa de outras associações. Mas busca informações políticas em jornais e revistas quase todos os dias. Rádio Comunitária da Cidade Industrial de Curitiba (CIC) A licença definitiva da rádio que opera no bairro industrial de Curitiba foi obtida no dia 02 de março de 2005, mas ela está no ar desde março de 2004, quando obteve a licença provisória. Participam da programação cinco associações que compõem o Conselho do Centro de Atendimento Comunitário São Jorge (Ceacom), entre elas, a Associação Frei Miguel, Centro de Atendimento Comunitário São Jorge, Associação de Moradores da CIC, Clube de Mães da CIC e duas entidades religiosas.

30 Segundo Círio Custódio da Silva, gestor da rádio, os principais objetivos da mesma são promover a comunidade local, ser auto-sustentável e quebrar paradigmas da comunicação. Desde setembro de 2004, a rádio passou a manter uma programação 24h. Na data da entrevista, Custódio afirmou que a sua principal meta é mantê-la assim. Círio Custódio da Silva tem 43 anos, é graduado em administração, pós-graduado em marketing e está cursando especialização em magistério para ensino superior. Trabalha na rádio há um ano e seis meses, como gestor institucional. Apesar de se dizer muito interessado por política, não é filiado a nenhum partido, mas é irmão de um vereador da cidade de Curitiba, Cristóvão da Silva (PRTB). Afirma nunca ter participado de campanhas políticas, mas que, pelo seu trabalho na rádio, sente-se influente nas políticas públicas locais. Também atua em outras instituições sociais e é presidente do Centro de Atendimento Comunitário São Jorge, desde 1991. Fez parte do Conselho Municipal de Assistência Social (Ceacom) por quatro anos, era suplente no processo das Conferências das Cidades, participou do Conselho Distrital da Saúde. Busca informações políticas em jornais e revistas quase todos os dias e acredita que seu poder de influenciar as decisões tomadas na rádio é grande. Porém, diz que seu interesse por política não aumentou depois que começou a trabalhar na rádio comunitária. O principal locutor da rádio e assessor direto de Círio é Adriano Bedin, 27 anos. Ele, que cursou ensino médio completo, é locutor, comunicador e apresentador de eventos. É vicepresidente da Fundação, mas exercia essa função há apenas dois meses. Ele é responsável pela programação e questões administrativas da rádio. Não é filiado a nenhum partido, nunca participou de campanhas políticas e nem tem parentes que atuam na política partidária. Acredita que a rádio comunitária influencia as políticas públicas locais, porque a palavra transforma as pessoas, promove a conscientização, podemos trabalhar questões sociais e ambientais, segundo suas palavras. Assim, ele pessoalmente também sente que pode influenciar as políticas públicas

31 locais. Não participa de outras associações e diz ler informações políticas em jornais e revistas quase todos os dias. Acredita que seu poder de influenciar as decisões tomadas na rádio é grande e afirma que seu interesse por política depois que começou a trabalhar na rádio comunitária permaneceu o mesmo. Rádio Comunitária Onda Livre FM, de Campo Largo A proposta de criar a rádio Onda Livre surgiu em 1994, quando foi criada a Fundação Nossa Senhora da Piedade. A entidade nasceu com a proposta de desenvolver trabalhos de educação ambiental e pleitear uma rádio educativa. Um dos seus fundadores e principal entusiasta, Jéferson Antônio Marcon, afirma que a sua motivação, em relação à rádio, é a satisfação pessoal, uma vez que desde adolescente atua em programas de rádio e gosta de exercer essa função. Em dezembro de 1998, foi encaminhado ao Ministério das Comunicações o primeiro pedido de habilitação de rádio comunitária, depois que outra instituição conseguiu a concessão de rádio educativa na mesma região. Somente em abril de 2004, cinco anos e quatro meses depois, foi concedida a licença provisória da rádio comunitária. Os equipamentos foram conseguidos com ajuda financeira de empresários locais em troca de divulgação na futura rádio, como apoio cultural. Atualmente, estima-se que a rádio atinja um público de cinco mil ouvintes, sendo que a cidade de Campo Largo tem 100 mil habitantes. A programação atual estende-se de segunda a sexta-feira por 18h (ao vivo) e aos sábados por 11h. Quatro pessoas mantêm voluntariamente a rádio no ar. Além da Fundação mantenedora, outras associações participam da programação, entre elas a Pastoral da Sobriedade, grupo ligado à igreja católica; Associações de Pais e Mestres de