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Transcrição:

CAPA LUCRE EM O Brasil está prestes a experimentar um boom de aplicações financeiras que permitem investir dinheiro no exterior e aproveitar a valorização do dólar; saiba como fazer POR JOÃO SANDRINI E DIEGO LAZZARIS Imagine que um investidor que nasceu em Santa Catarina goste tanto de sua terra-natal que decida aplicar o próprio dinheiro apenas em ações de empresas fundadas por catarinenses ou com sede no Estado. Faz algum sentido investir dessa maneira? Ainda que esse catarinense possa ter obtido lucros elevados com a valorização das ações da Weg ou da BRF nos últimos anos, é bem provável que, com tão poucas possibilidades de investimento, ele também tenha aplicado em papéis como da Teka ou da Hering, do setor têxtil, e perdido dinheiro. Ao adotar um critério geográfico e pouco racional, esse investidor também não pôde pegar na veia a disparada de empresas como as paulistas Cielo, Klabin e Embraer ou a mineira Cemig durante o governo Dilma. Mas a essa altura é provável que você esteja pensando: que tipo de investidor seria tão bairrista a ponto de só comprar empresas do seu próprio Estado? Pois saiba que, de certa forma, é assim que investem mais de 99% dos brasileiros não em relação ao Estado de origem, mas em relação à nacionalidade. Pense em quantos dos seus amigos investem em ações de empresas americanas que você perceberá que o país-sede da companhia conta muito na hora em que um brasileiro vai montar seu portfólio de investimentos ainda que inconscientemente. IMAGEM SATTU RODRIGUES 11

O grande problema de concentrar a carteira no país de origem é que nem sempre as melhores oportunidades estão lá o que fica evidente nos ciclos econômicos de baixa como o atual. Com ao redor de 400 empresas abertas, a Bovespa é hoje um lago bem raso, que responde por cerca de 1% do mercado acionário mundial. Como a maioria dos peixes nem passa por suas águas, um investidor vai precisar de muita sorte pescar o maior deles na Bovespa. Se houver um boom das empresas pontocom, por exemplo, é provável que os investidores brasileiros fiquem a ver navios. Caso a indústria farmacêutica faça descobertas revolucionárias nos próximos anos, seus amigos não vão ganhar dinheiro com isso. Além de restringir as possibilidades de lucro, a baixa diversificação também aumenta o risco do investidor. Imagine, apenas por um exercício hipotético, que a presidente Dilma tenha um arroubo bolivariano e decida que é hora de estatizar a Vale. Todas as empresas da Bovespa sofreriam, não é mesmo? Mas se sairia menos mal quem aplicasse uma parte do dinheiro nos EUA. O Brasil representa 1% do mercado acionário mundial, 2% do mercado de renda fixa e 3% do PIB. Faz muito mais sentido diversificar geograficamente do que aplicar tudo aqui, diz Giuliano De Marchi, diretor comercial da gestora de fundos do JPMorgan para a América Latina. A tendência de concentrar o dinheiro em empresas locais não é exclusividade dos brasileiros, ainda que, aqui, o fenômeno seja mais acentuado. O percentual da poupança investida no mercado local é equivalente a 99% no Brasil, 82% nos EUA, 58% na Alemanha e apenas 32% na Holanda, segundo estudo da gestora de recursos Mint Capital (veja o Os países onde os investidores têm mais viés doméstico gráfico no final desta página). Os investidores brasileiros têm até mesmo preferências regionais. O levantamento da Mint mostra, entre outros exemplos, que tradicionais fundos de ações cariocas preferem investir na empresa de educação Estácio, também do Rio de Janeiro, enquanto os gestores paulistas possuem uma alocação muito mais relevante na concorrente Kroton, com sede em São Paulo. A preferência não é necessariamente irracional. Por estarem geograficamente próximos, os gestores de ações cariocas podem, por exemplo, marcar reuniões ou mesmo happy hours com executivos da Estácio com muito mais facilidade. Mas isso não significa que um paulista que passa diariamente por algum campus da Kroton no caminho para o trabalho esteja mais bem informado sobre a situação da empresa a ponto de dar preferência a ela na hora de incluir o setor de educação na carteira de investimentos. Os principais fatores que explicam o viés doméstico dos investidores brasileiros não são psicológicos. Em primeiro lugar, é preciso considerar que a maioria da população ganha em reais e tem despesas em reais. Possuir investimentos em dólar, portanto, pode não fazer sentido para uma parte dos brasileiros. O segundo fator é o desconhecimento do mercado americano ou europeu. As pessoas se sentem mais confortáveis ao investir no que conhecem. Se já é difícil para muita gente escolher ações na Bovespa para montar uma carteira, imagine quando existe a possibilidade de investir em dezenas de milhares de empresas em âmbito global. Por último, vale lembrar a existência de diversas restrições regulatórias para o investimento de brasileiros no exterior. A boa notícia é que essas PERCENTUAL DO DINHEIRO INVESTIDO NO MERCADO LOCAL 99% Brasil 89% África do Sul 85% Chile As novas regras da CVM para os fundos Duas instruções da CVM editadas em dezembro, a 554 e a 555, vão mudar as regras para o investimentos em fundos que aplicam no exterior. A instrução 554 alterou as classificações dos investidores brasileiros. A partir de julho, será considerado investidor qualificado quem tiver R$ 1 milhão em aplicações financeiras hoje o limite é de R$ 300.000. Já os investidores superqualificados passam a ser chamados de profissionais. O patrimônio mínimo para se enquadrar nessa categoria subiu de R$ 1 milhão para R$ 10 milhões. Essas classificações servem para restringir o acesso dos investidores a aplicações que a CVM considera ser de maior risco ou de difícil avaliação, como CRI (certificados de recebíveis imobiliários), FIDC (fundos de investimento em direitos creditórios), debêntures isentas de IR distribuídas em ofertas com esforços restritos (a um pequeno grupo de investidores) e também fundos que investem no exterior. Mas se CVM aumentou o patrimônio mínimo exigido para que os investidores sejam considerados qualificados e profissionais, por que as novas regras vão favorecer as aplicações em ativos no exterior? Porque a instrução 555 facilitou esse tipo de aplicação via fundos. Hoje fundos de investimento que aplicam mais de 67% do patrimônio no exterior exigem aplicação inicial mínima de R$ 1 milhão. A partir de julho, esses fundos serão restritos a investidores qualificados, mas caberá à gestora dos recursos definir o tíquete mínimo de entrada poderá ser de R$ 25.000 ou R$ 50.000, por exemplo. A mudança é importante porque investidores qualificados poderão diversificar a carteira com investimentos no exterior. Outra regra importante é que fundos destinados a investidores qualificados poderão investir até 40% do patrimônio no exterior hoje esse limite é de 20%. Já fundos voltados para o varejo poderão investir 20% dos recursos fora do Brasil. E fundos de BDR, hoje restritos a investidores qualificados, poderão ser oferecidos a qualquer investidor a partir de julho. Na visão de especialistas, as novas regras permitirão que uma quantidade muito maior de brasileiros passe a ter exposição a ativos internacionais em suas carteiras de investimento algo que já acontece nas principais economias da América Latina. Demorou, mas finalmente o investidor de varejo vai poder acessar o mercado internacional, diz Ernesto Leme, diretor comercial da Claritas. 82% EUA 65% Reino Unido 58% Alemanha 32% Holanda FONTE: MINT CAPITAL 12 IMAGENS PAVEL SHLYKOV E NASTIAMED 13

Carlos Takahashi, da BB DTVM: fundo cambial serve mais para hedge de despesas em dólar restrições serão flexibilizadas a partir de julho, quando entram em vigor as novas regras estabelecidas pelas instruções 554 e 555 da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). As duas instruções vão tornar mais acessível para as pessoas físicas o investimentos no exterior por meio de fundos (veja o box na página 13). E a indústria já se prepara para trazer ao país centenas de novas aplicações financeiras que permitirão aos brasileiros ter exposição a ativos dos EUA e da Europa. Do ponto de vista cambial, a nova regulamentação não poderia vir em melhor hora. O dólar entrou há dois anos em um ciclo de alta ante as principais moedas mundiais devido à recuperação da economia americana, à redução dos estímulos monetários pelo Federal Reserve (o banco central dos EUA) e à expectativa de início do aumento dos juros, que permanecem muito próximos a zero desde a crise do subprime. A história mostra que os ciclos cambiais costumam durar muitos verões. O real, por exemplo, se valorizou por quase uma década, entre 2002 e 2011, devido à ascensão da China e ao superciclo das commodities. Já os dois últimos grandes ciclos de valorização do dólar ocorreram entre agosto de 1980 e fevereiro de 1985 e depois entre maio de 1995 e maio de 2002. Esse é um dos motivos que leva a maior parte dos gestores de fundos a apostar que o atual ciclo da moeda americana está longe de se encerrar. Na comparação com o real, o dólar vem em um movimento de valorização desde 2011, quando chegou a cair abaixo de R$ 1,60. A valorização gradual porém contínua acumulada desde então já supera 80%. O principal fator de pressão sobre o câmbio é a desvalorização das commodities, que reduz drasticamente a entrada de dólares no Brasil. Mas também há motivos internos para a perda de valor do real. Para Eduardo Levy, gestor de investimentos no exterior da Rio Bravo, pesa sobre a moeda brasileira a perda de competitividade do setor produtivo. Como o governo não faz reformas no sentido de reduzir os custos das empresas com salários, impostos, insumos, etc., o ajuste acaba ocorrendo com a depreciação cambial. Analistas ouvidos pela Revista InfoMoney também citaram a falta de confiança no governo Dilma como fator de redução da entrada de moeda forte no país, assim como o provável racionamento duplo de água e energia. Mas até que ponto poderia ir a valorização do dólar? O economista-chefe para a América Latina do banco Goldman Sachs, Alberto Ramos, disse em fevereiro que o dólar deveria se fortalecer para R$ 3,10 ou R$ 3,20. Ainda que haja divergências sobre o tamanho da desvalorização adicional, é curioso notar que nem mesmo o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, parece confortável com o patamar atual. No final de janeiro, quando o dólar estava em R$ 2,60, ele disse abertamente que não tomaria medidas para manter o câmbio artificialmente valorizado. Outro profeta de depreciação do real é Luis Stuhlberger, o mais renomado gestor de fundos do Brasil. Na carta do Fundo Verde divulgada em fevereiro, ele disse que o dólar é o ativo com preço mais profundamente errado no Brasil. Poucas vezes em minha carreira profissional me lembro de ter visto um alinhamento de circunstâncias negativas tão forte que levaria a uma depreciação cambial, escreveu o principal sócio da Verde Asset Management. Stuhlberger também afirmou que um ajuste mais profundo no câmbio só não ocorreu ainda porque é difícil apostar contra um país que paga as maiores taxas de juros entre todas as nações com grau de investimento. Considerando que a taxa Selic garante um retorno de mais de 12% ao ano, bastante atrativo para gestores de fundos ou para qualquer brasileiro, quanto alguém deveria investir em ativos em dólar neste momento? Para Eduardo Levy, da Rio Bravo, um pessoa com patrimônio de R$ 200.000 e perfil moderado já deveria avaliar a possibilidade de ter uma exposição internacional equivalente a cerca de 15% da carteira para fins de diversificação. Mas que ativos escolher? A primeira aplicação financeira que vem à cabeça dos brasileiros é algum fundo cambial. O problema desse tipo de aplicação é que o dólar precisaria registrar uma valorização ao longo de um ano de ao menos 5 pontos percentuais acima da Selic para que a relação entre o risco e o retorno de um fundo cambial valesse a pena. Carlos Takahashi, presidente da BB DDTVM, a maior gestora de recursos do Brasil, indica fundo cambial apenas para hedge de alguma despesa em dólar que a pessoa terá dentro de alguns meses. Ter exposição a fundo cambial buscando janelas de oportunidade é muito difícil, diz. Toda a indústria parece trabalhar com essa filosofia, uma vez que os cambiais respondem por apenas 0,1% do patrimônio total dos fundos. Para investidores, o melhor é buscar ativos que paguem a oscilação do dólar somada a alguma remuneração. O número de aplicações desse tipo vai crescer muito a partir de julho, com a nova regulamentação da CVM. A seguir a Revista InfoMoney apresenta algumas possibilidades que já estão à disposição dos brasileiros: Giuliano De Marchi, do JPMorgan: não faz sentido concentrar todo seu dinheiro no Brasil IMAGENS ANDRÉ LESSA/INFOMONEY

+ S&P 500 Na Bovespa existem dois ETFs (fundos de ações com cotas negociadas em Bolsa) que garantem ao investidor uma remuneração em reais equivalente à oscilação do S&P 500, o principal índice de ações dos EUA, somada à variação do dólar. Se a moeda americana se valorizar 10% em um ano em que o S&P 500 também suba 10%, o investidor que comprar um desses produtos garantirá um retorno próximo a 21%. Um dos ETFs é o S&P 500 FI em Cotas de Fundo de Índice, negociado sob o código IVVB11 na Bovespa. Lançado no final de abril de 2014 pela gestora americana BlackRock, o fundo rendeu quase 33% em seus nove primeiros meses de existência. Em fevereiro, foi a vez da Itaú Asset Management lançar o It Now S&P500 TRN, negociado na Bovespa sob o código SPXI11. Os dois produtos investem em ETFs de S&P 500 negociados na Bolsa de Nova York. Ambos cobram uma taxa de administração bem baixa para fundos de ações: de 0,27% ao ano, sem taxa de performance. Como o lote-padrão é de 10 ETFs, com cerca de R$ 600 já é possível investir nesses ativos. O Imposto de Renda é de 15% sobre o ganho de capital obtido Os brasileiros que quiserem ter exposição a ações americanas podem comprar na Bovespa dois ETFs que seguem o S&P 500 pelo investidor. Ao contrário do investimento direto em ações, no entanto, vendas inferiores a R$ 20.000 por mês não estão isentas de IR porque a Receita Federal tem dado aos ETFs o mesmo tratamento tributário dos fundos de ações. Por já estar há quase um ano no mercado, o produto da BlackRock tem mais liquidez. Nos horários em que a Bovespa e também a Bolsa de Nova York estão abertas, sempre há no livro de ofertas grandes ordens de compra e venda com uma diferença de até R$ 0,05 o que garante ao investidor entrada e saída sem ágio ou deságio. O que afasta muitos investidores do produto é o fato de o S&P 500 já estar em alta há quase seis anos ou seja, para muita gente, já ficou caro comprar ações americanas. Em fevereiro, o S&P 500 superou pela primeira vez a barreira dos 2.100 pontos, com uma valorização acumulada de quase 250% desde março de 2009. Bruno Stein, diretor de desenvolvimento de negócios da BlackRock no Brasil, afirma, no entanto, que não basta olhar o número de pontos de um índice para tirar uma conclusão se o mercado está barato ou caro. Se houver expansão proporcional do lucro das empresas, um índice pode bater seu recorde histórico e continuar barato, afirma. Ele defende que o investidor analise a relação entre o preço da ação e o lucro por ação (o chamado P/L). Olhando para a expectativa de lucros das 500 maiores empresas americanas para os próximos 12 meses, as ações do S&P 500 negociam em média a 18 vezes o lucro o que não chega a ser uma pechincha, mas também não configura uma bolha. Nos últimos 20 anos, o menor P/L foi observado em 2012, de 12 vezes, e o maior, em 1999, de 27 vezes. Na média, o S&P tem negociado a cerca de 16 vezes o lucro das empresas. O ágio atual pode ser considerado natural dada a expectativa de valorização do dólar que beneficia quem investe nos EUA e também considerando que a economia americana tem apresentado melhores resultados que a maioria dos países desenvolvidos. Para um brasileiro que quer ter exposição em Bolsa, neste momento parece fazer muito mais sentido comprar um produto atrelado ao S&P 500 do que ao Ibovespa, que tem sofrido com a recessão econômica e a inflação elevada. O único problema do investimento em S&P 500 via ETF é que o produto da BlackRock está disponível apenas para investidores qualificados (com ao menos R$ 300 mil em aplicações financeiras) enquanto no caso do Itaú é necessário ter ao menos R$ 1 milhão em aplicações financeiras. Bolsa de Nova York: ações americanas ainda estão atrativas apesar de alta de 250% desde 2009 16 IMAGENS SHUTTERSTOCK 17

S&P 500 + SELIC Uma forma de fugir dessa restrição aos investidores de varejo dos ETFs é comprar cotas de fundos multimercados que investem em contratos futuros de S&P 500 na BM&F. Esse é o caso do Western Asset US Index 500 FI Multimercado, que permite aplicações a partir de R$ 25 mil para qualquer investidor. O fundo investe os quase R$ 130 milhões em patrimônio nos títulos públicos mais seguros do mercado, as LFT (letras financeiras do Tesouro). Paralelamente o gestor compra contratos futuros de S&P 500 na BM&F e usa os títulos públicos para o depósito das garantias exigidas em operações com derivativos. O fundo paga ao investidor a Selic (remuneração das LFT) mais a variação do S&P 500 em dólares, e não em reais. Ou seja, se o S&P 500 subir de 2.000 para 2.100 pontos em determinado período, o investidor ganha 5% mais a Selic, independente da oscilação cambial. Nos últimos 12 meses até 19 de fevereiro, o fundo garantiu um retorno de 26,8%. O fundo tem andado bem por conta da alta da Bolsa americana e dos juros elevados no Brasil. Mas não é um produto para ter exposição ao dólar, explica Marcelo Guterman, especialista de investimentos da Western Asset. O fundo também pode ser considerado menos arriscado que os ETFs de S&P 500 porque, ao contrário do dólar, a Selic sempre garante um retorno positivo ao investidor. Há fundos no Brasil que garantem um retorno igual à taxa Selic mais a valorização do S&P 500 em dólar + AÇÕES AMERICANAS Uma das principais iniciativas da Bovespa para permitir o acesso de brasileiros a ações de grandes empresas americanas e europeias foi o lançamento dos BDRs (brazilian depositary receipts) não-patrocinados. Esses papéis permitem investir em Apple, Google, Goldman Sachs e outras 88 empresas enviando ordens pelo home broker de alguma corretora - igualzinho quando você compra Vale ou Petrobras. O problema dos BDRs é a restrição para que apenas investidores institucionais (como bancos e gestoras de fundos) ou superqualificados (hoje aqueles com ao menos R$ 1 milhão em aplicações financeiras) possam negociá-los na Bovespa. Uma forma de as pessoas físicas acessarem o produto é por meio do investimento em fundos de BDRs, disponibilizados por instituições como o Bradesco, o Itaú e a Western Asset. Esses fundos estão entre os mais rentáveis dos últimos dois anos porque a Bolsa americana e o dólar andaram muito bem no período. Só que, até julho, esses fundos só poderão ser acessados por investidores qualificados (aqueles com ao menos R$ 300 mil em aplicações financeiras). A boa notícia é que a partir do segundo semestre a CVM vai autorizar qualquer investidor de varejo a comprar cotas desses fundos, tornando o produto muito mais acessível. O investidor só precisa entender que há três riscos nos fundos de BDR: de queda das Bolsas americanas ou europeias, de desvalorização do dólar ou do euro e de uma escolha ruim dos papéis comprados pelo gestor. Para minimizar esse último risco, o ideal é escolher gestores com experiência em fundos de ações no exterior e que realmente tenham capacidade de escolher os papéis com mais potencial. Outro grande problema desses fundos é que comprar ações diretamente nos EUA dá ao gestor a possibilidade de escolher entre 20.000 empresas abertas e não apenas as 91 com BDRs. Isso deve mudar com a nova regulamentação da CVM para a indústria de fundos, que entra em vigor em julho. Dezenas ou centenas de fundos de ações existentes no exterior deverão ganhar uma versão nacional para investidores qualificados ou seja, Wall Street estará ao alcance dos brasileiros. Google: é possível investir na empresa pelo home broker da Bovespa comprando BDRs Embraer: a fabricante de aviões é opção para se beneficiar caso o dólar continue em alta 18 IMAGENS SHUTTERSTOCK E DIVULGAÇÃO 19

Escritório do Itaú em Miami: o banco é líder no atendimento a brasileiros endinheirados nos EUA AÇÕES BRASILEIRAS DOLARIZADAS Comprar ações de empresas brasileiras que lucram mais com a alta do dólar é uma opção para ter exposição indireta à moeda americana. Geralmente são empresas com a maior parte das receitas em dólar, mas com custos em reais. A valorização da moeda americana, portanto, engorda diretamente as margens de lucro e irriga o caixa dessas companhias. Os papéis dolarizados mais recomendados pelos analistas são os da Suzano, Embraer e Fibria. Presente na carteira recomendada de dez corretoras em fevereiro, as ações da Suzano (SUZB5) têm se beneficiado tanto da alta do dólar quanto pelo início das operações da nova fábrica no Maranhão, que elevou em 80% sua capacidade de produção de celulose. Já as ações da Embraer (EMBR3) foram recomendadas por oito corretoras em fevereiro porque mais de 90% de suas receitas estão em dólar e porque a lista de encomendas de aviões cresceu de US$ 18 bilhões para US$ 22,1 bilhões nos últimos 12 meses. A Fibria, por sua vez, está nas carteiras recomendadas de quatro corretoras porque conseguiu diminuir o endividamento e, com a alta do dólar, obteve margem Ebtida recorde de 45,3% no quarto trimestre. + JUROS Uma forma de ganhar com a alta do dólar obtendo uma remuneração adicional é comprar cotas de fundos que investem em bonds ou títulos de dívida de empresas negociados no mercado global e que pagam juros aos investidores. O problema é que, na renda fixa, os brasileiros estão acostumados com taxas irreais para os padrões internacionais, principalmente neste momento de juros baixos. Quem investe em depósitos a prazo ou seja, em uma espécie de CDB do Banco do Brasil nos EUA vai obter uma remuneração próxima a 1% ao ano, segundo Claudio Prado, gerentegeral do BB em Miami. Já Eduardo Levy, da Rio Bravo, lembra que só 15% dos títulos de renda fixa negociados nos EUA pagam ao menos 4% ao ano em juros há dez anos, esse percentual era de 100%. Para obter um retorno mais interessante, o investidor não poderá comprar apenas títulos com grau de investimento e precisará correr o risco de empresas classificadas como high yield. Giuliano De Marchi, do JPMorgan, lembra que é preciso ser muito cuidadoso para investir nesses papéis. É como andar em gelo fino. O JPMorgan oferece a brasileiros um fundo de renda fixa desse tipo, o JPM Global High Yield Bond Fund FIM, em que o gestor compra títulos de centenas de empresas e pulveriza o risco de crédito. Com essa diversificação, se uma ou duas empresas derem calote o que é até esperado a rentabilidade do fundo não é comprometida. O fundo tem aplicação mínima de R$ 1 milhão, mas o tíquete de entrada vai cair drasticamente quando a nova regulamentação da CVM para fundos entrar em vigor em julho. De Marchi considera que o maior risco para esses fundos é o início do ciclo de alta dos juros nos EUA. Ele lembra que as taxas americanas atingiram o pico em 1982, quando chegaram a 17% ao ano. Desde então, os juros vieram cedendo gradativamente até que chegaram próximos de zero após a crise do subprime. O problema é que uma reversão de tendência parece bem próxima. Nos últimos 30 anos, tivemos um dos maiores bull markets da história da renda fixa nos EUA. Para baixo os juros não vão mais. E, quando eles começarem a subir, muita gente vai apanhar com bonds, afirma o diretor do JPMorgan. COM PROTEÇÃO 99 em cada 100 investidores profissionais acham que o dólar continuará a se valorizar ante o real nos próximos anos, mas, em se tratando de renda variável, nunca há ganho certo. Para investidores conservadores que não toleram o risco de perder dinheiro, uma possibilidade é investir em dólar com capital protegido. Os COE (certificados de operações estruturadas) cambiais permitem participar da valorização do dólar até determinado limite ou resgatar o mesmo valor aplicado caso o dólar surpreenda o mercado e se desvalorize. Em um COE, há ativos de renda fixa e variável. Um COE de dólar pode comprar um CDB de um grande banco (renda fixa) e uma opção de compra de dólares por um valor em reais e uma data pré-definida (renda variável). Por exemplo, imagine um COE atrelado ao dólar comprado com o câmbio a R$ 2,50. Se a moeda se valorizar, o investidor embolsa toda a variação até o teto de R$ 3 ou seja, ganhará até 20%. Já se o dólar se desvalorizar no período, o investidor recebe os mesmos R$ 2,50. Na pior das hipóteses você não perde o que investiu, diz Fábio Zenaro, gerente-executivo de produtos e negócios da Cetip. Esse tipo de estrutura já é feita na mesa de operações de grandes bancos e corretoras. Para aplicar não é necessário ser investidor qualificado e a decisão sobre o tíquete mínimo fica com o banco emissor já houve emissões para aplicações a partir de R$ 15 mil. Segundo dados da Cetip, mais de 35% das emissões de COE no Brasil são de câmbio. ABRIR CONTA NO EXTERIOR Para quem planeja morar, trabalhar, adquirir um imóvel, fazer uma pós-graduação ou passar um tempo viajando no exterior pode fazer muito sentido enviar parte do dinheiro para fora e investi-lo em moeda forte. Uma das vantagens de investir nos EUA é diversificar a carteira com a exposição a produtos de investimento diferentes dos existentes no Brasil, diz Rodrigo Jabali, da XP Securities. Os EUA respondem por cerca de 50% do mercado acionário mundial. As maiores empresas de outros países também costumam ter ADRs (american depositary receipts) negociados nas Bolsas americanas. O mercado de bonds é gigantesco e, ao contrário do que se vê no Brasil, bastante popular entre pessoas físicas. No entanto, não vale a pena ter conta no exterior quando o patrimônio é muito baixo ou quando é esperado que o dinheiro permaneça por pouco tempo lá fora. Os motivos são de ordem burocrática, tributária e sucessória. Em primeiro lugar, o investidor deve estar ciente de que enviar dinheiro ao exterior é uma operação 100% legal, mas que envolve três custos: 1) IOF (Imposto sobre Operações Financeiros) de 0,38% do valor da operação; 2) taxa de US$ 15 a US$ 75 por remessa; e 3) spread da casa de câmbio. Nesse último caso, alguns bancos chegam a cobrar 4% de spread sobre a cotação do dólar comercial na remessa. A dica, se isso acontecer, é procurar um banco médio, que chega a enviar dinheiro aos EUA com margens inferiores a 1%. Já os aspectos tributários e sucessórios favorecem a abertura de uma empresa para investir nos EUA (veja o box na página 23). Outro ponto importante é a escolha da instituição financeira americana onde será aberta a conta. A maioria dos brasileiros acaba escolhendo um banco também brasileiro devido à facilidade do atendimento em português. Em Miami, a liderança absoluta do mercado de private banking entre os brasileiros é do Itaú. Entre as instituições financeiras que tradicionalmente atendem clientes de alta renda no exterior, também estão o Safra, o BB, 20 IMAGENS DIVULGAÇÃO E ILYASHENKO OLEKSIY 21

IMÓVEIS NO EXTERIOR Imóveis em Miami: potencial de valorização é maior para quem compra durante a construção a XP Securities e o UBS. A quantidade de dinheiro que saiu do Brasil aumentou nos últimos anos com a valorização do dólar e depois com as eleições. Miami virou o grande hub de investidores latino -americanos que querem ter investimentos em moeda forte, afirma Claudio Prado, do BB. Temos cerca de 20 mil clientes e US$ 22 bilhões em ativos nos EUA. Escolhida a instituição, o próximo passo é decidir que ativos comprar. Há basicamente três opções: ações, títulos de renda fixa e fundos de investimento. A maior parte dos clientes compra títulos de renda fixa de empresas brasileiras em dólar pela familiaridade, e não porque são os investimentos mais indicados, principalmente em termos de diversificação. Cientes das dificuldades dos brasileiros, Leandro Ruschel e Tito Gusmão, que fizeram carreira no mercado de capitais nacional, decidiram abrir uma empresa de educação para ensinar o funcionamento do mercado dos EUA. Com sedes em Nova York e em Miami, a Liberta Global explica os mercados de ações, derivativos, fundos imobiliários, bonds, ETFs e fundos de investimento. Estudar bastante antes de investir faz todo sentido, principalmente para quem começa a dar os primeiros passos rumo à diversificação internacional. 22 Assim como o S&P 500 deu um banho no Ibovespa nos últimos cinco anos, também o mercado imobiliário americano tem tudo para apresentar resultados melhores que o brasileiro daqui em diante. E as pessoas já vem percebendo isso. Segundo a consultoria Faccin Investments, os brasileiros são os estrangeiros que mais compram imóveis em Miami, atrás apenas dos venezuelanos. Cassio Faccin, vice-presidente da consultoria, diz que a grande maioria dos brasileiros são investidores em busca da diversificação, que compram imóveis com valor médio de US$ 1 milhão. As cidades de Orlando e Nova York também estão com boa procura. Em Orlando, os investidores compram propriedades em média de US$ 250.000, buscam retorno com aluguel por temporada e aproveitam para usar o imóvel nas férias. Já os clientes de Nova York são os mais sofisticados: procuram uma segunda residência com valor médio de US$ 3,5 milhões. Em todas as cidades, a demanda é motivada pela recuperação da economia americana, que vai na direção contrária da brasileira, diz Luiz Henrique Perlingeiro, consultor sênior do Westchester Financial Group. Para quem sonha em comprar um imóvel nos EUA, o primeiro passo é ter um visto válido para entrar no país, que pode ser o de turista. Também é necessário abrir uma conta em banco americano e registrar o imóvel em nome de uma empresa aberta para esse fim, como forma de evitar a taxação sobre heranças (veja o box na página ao lado). Para os investidores que estão de olho na renda dos aluguéis, os especialistas recomendam a compra de imóveis comerciais ou residenciais que permitam a locação por temporada. Já quem está investindo na expectativa de obter uma valorização futura deve, segundo Faccin, comprar uma unidade em um empreendimento imobiliário que ainda está em desenvolvimento. Estima-se uma valorização média de 25% a 35% no período de lançamento, execução e venda do projeto, diz. Os especialistas desaconselham a compra de imóveis pela internet ainda que 85% das vendas de Faccin sejam fechadas no escritório de São Paulo. Sempre recomendamos que os clientes visitem os projetos, aconselha. IMAGENS SONGQUAN DENG E NASTIAMED Abra empresa para investir nos EUA Uma alternativa interessante para brasileiros que investem nos EUA pagarem menos impostos é com a abertura de uma empresa. Quem aplica dinheiro no país como pessoa física terá de pagar 15% de Imposto de Renda sobre o lucro obtido nos EUA sempre que vender ativos com ganho de capital. O pagamento é feito no mês seguinte à venda, por meio de um Darf (documento de arrecadação de receitas federais). Até aí nenhuma novidade em relação ao procedimento da Bovespa. Só que para aplicações em Bolsa nos EUA, eventuais prejuízos registrados em um mês não poderão ser utilizados para abater o imposto nos meses seguintes. A variação cambial também entra na conta, uma vez que o cálculo do ganho de capital será feito em reais. Dividendos também serão tributados de acordo com a tabela progressiva ou seja, com alíquotas que variam de 0 a 27,5%, de acordo com o valor dos rendimentos. Outro problema de fazer operações nos EUA com uma conta em nome da pessoa física é que em caso de falecimento do titular, será cobrado um imposto sobre a herança que pode chegar a até 50% do valor do investimento. Devido a essas regras, pode fazer mais sentido investir nos EUA por meio de um trust, uma offshore ou uma empresa americana. Todas essas estruturas são absolutamente legais. Nesses casos, não haverá cobrança de imposto sobre ganho de capital com ações e bonds. Os juros pagos pelos títulos de renda fixa são isentos. Estrangeiros, no entanto, pagam 30% de imposto sobre o recebimento de dividendos. No Brasil, só será cobrado IR sobre o ganho de capital obtido em ações nos EUA quando o dinheiro for trazido de volta ao país. E, no aspecto sucessório, não haverá a sobretaxação, já que, em caso de falecimento do dono da empresa, ela continua a existir suas cotas apenas são transferidas aos herdeiros. O único problema é que a abertura de uma empresa vai gerar custos de US$ 1.000 a US$ 1.500 por ano entre contador e taxas. Para pessoas com um patrimônio no exterior de US$ 500.000 ou mais, o custo é bem diluído e pode valer a pena abrir a empresa. 23