Avaliação da implementação do Programa de Saúde da Família em dez grandes centros urbanos: síntese dos principais resultados.

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Transcrição:

Título do Estudo: Avaliação da implementação do Programa de Saúde da Família em dez grandes centros urbanos: síntese dos principais resultados. Instituição executora: Fundação Oswaldo Cruz FIOCRUZ / Escola Nacional de Saúde Pública ENSP / Departamento de Administração e Planejamento em Saúde DAPS / Núcleo de Estudos Político-Sociais em Saúde NUPES Instituição financiadora: Ministério da Saúde Outras Instituições / Órgãos envolvidos: FENSPTEC Convênio / Contrato: 428/2001 Vigência: 08/10/2001a03/10/2002 Período de realização do estudo: Segundo semestre de 2001 e 2002. Objetivos: Objetivo Geral Analisar fatores facilitadores e limitantes da implementação do PSF em dez grandes centros urbanos no que concerne ao estabelecimento de vínculos entre a Equipe de Saúde da Família (ESF) e a comunidade, à conversão do modelo de atenção à saúde nas unidades básicas e à sua articulação com a rede de serviços de saúde. Objetivos Específicos Analisar o contexto político e institucional de implantação e desenvolvimento do PSF; Analisar os vínculos estabelecidos entre as ESF, as comunidades adscritas e as famílias atendidas; Estudar a operacionalização da conversão do modelo de Atenção Básica à

saúde verificando avanços e limites na reorganização do trabalho e na substituição das práticas convencionais de assistência à saúde; Avaliar a conformação de uma rede integrada de serviços de saúde com o estabelecimento de mecanismos de referência e contra-referência e constituição da USF como porta de entrada; Conhecer e analisar os fatores facilitadores e dificultadores na implantação do PSF nos municípios; Apontar diretrizes e subsídios para análise dos planos de conversão, estudos iniciais e indicadores de acompanhamento do PSF nos municípios selecionados para o Projeto de Expansão para o Saúde da Família (Proesf 1 ). Metodologia: Tipo de estudo: Estudo de caso de 10 grandes centros urbanos: Aracaju (SE), Brasília (DF), Camaragibe (PE), Campinas (PR), Goiânia (GO), Manaus (AM), Palmas (TO), São Gonçalo (RJ), Vitória (ES) e Vitória da Conquista (BA). Amostra: Os municípios foram selecionados a partir de um critério geral população maior do que 100 mil habitantes e de critérios específicos: 1. bom desempenho e investimento institucional (Aracaju e Camaragibe); 2. bom desempenho na reorganização da rede de atenção com criação de sistemas de referência (Vitória e Vitória da Conquista); 3. implantação do programa bem sucedida com alta cobertura de PSF (Palmas); 4. fase inicial de mudança de modelo similar para PSF (Manaus); 5. dificuldades na implementação do PSF: programa paralelo e/ou ESF incompletas (Goiânia e Brasília); 6. processo de implantação em fase inicial (São Gonçalo). Procedimentos de coleta e fontes de dados: Foram realizados dois estudos-piloto em Vitória da Conquista e Goiânia, no segundo semestre de 2001, para teste de técnicas e instrumentos. Os municípios-piloto foram incorporados à pesquisa sem que fossem reaplicados os instrumentos de coleta reformulados. O trabalho de campo nos demais oito 1 O Proesf é uma iniciativa do Ministério da Saúde, apoiada pelo Banco Mundial BIRD, voltada para a organização e o fortalecimento da Atenção Básica à Saúde no País. Visa contribuir para a implantação e consolidação da estratégia Saúde da Família em municípios com população acima de 100 mil habitantes e a elevação da qualificação do processo de trabalho e desempenho dos serviços, otimizando e assegurando respostas efetivas à população.

municípios foi realizado em 2002, em seis municípios os estudos foram integrais e em Campinas e São Gonçalo os estudos foram parciais. Foi realizada uma visita inicial em cada município, cujos objetivos eram: apresentar a pesquisa, conhecer e sensibilizar o Secretário Municipal e membros da equipe gestora, obter os documentos solicitados, entrevistar o Secretário, selecionar os gestores e conselheiros que seriam entrevistados, preencher o instrumento de informações básicas do município, identificar o universo de profissionais das ESF, selecionar equipes e micro-áreas para sorteio de famílias de usuários e visitar unidades básicas de saúde. O trabalho de campo consistiu em: entrevistas semi-estruturadas com gerentes da Secretaria Municipal de Saúde e do PSF e conselheiros municipais de saúde representantes dos usuários; questionários auto-preenchidos pelas equipes de saúde da família; questionários aplicados por entrevistador em famílias usuárias do PSF. Não foram estudadas as equipes de São Gonçalo e Campinas porque o PSF não estava implantado no momento da pesquisa. Para o cálculo do total das equipes participantes foram realizadas amostras representativas em Manaus, Aracaju e Brasília e censo das equipes dos demais cinco municípios. Do total de profissionais das equipes selecionadas (2.955 profissionais), 2.576 responderam o questionário (13% de perdas). Foram entrevistadas 240 famílias (100 dos municípios-piloto) usuárias do PSF por município, selecionadas aleatoriamente da população cadastrada de 8 equipes escolhidas intencionalmente com a coordenação do PSF, sendo 4 equipes consideradas bem sucedidas e 4 equipes com dificuldades. Para caracterização do município, foram utilizados dados secundários de fontes como Datasus, FIBGE, Ripsa e Siab. Para cada sistema de informação, o período de referência correspondeu ao último ano com dados disponíveis, variando de 1998 a 2001. Processamento de dados: Foi realizada inspeção visual dos questionários, codificação das perguntas abertas, crítica de validação dos dados na digitação e crítica de consistência de dados. Para entrada de dados foi utilizado o software Integrated Microcomputer Processing System (IMPS versão 3.1). As respostas abertas foram submetidas a análise categorial e codificadas por especialistas em análise de conteúdo. Plano de análise: Os eixos de análise foram: características municipais e contexto políticoinstitucional da implantação, controle social, estratégias de implementação, características de vulnerabilidade das famílias usuárias do PSF pesquisadas, integração do PSF à rede de serviços de saúde, reestruturação da rede de serviços de saúde, integralidade da atenção, trabalho em equipe dos profissionais

de saúde, vínculos estabelecidos entre profissionais das ESF e famílias adscritas e desenvolvimento local do PSF em relação às normas e padrões estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Resultados Relevantes: Características principais e contexto político-institucional da implantação: Os dez municípios apresentavam grandes diferenças de porte populacional: Camaragibe e Palmas com população entre 100 a 200 mil habitantes, Vitória da Conquista, Vitória e Aracaju entre 200 a 500 mil e São Gonçalo, Campinas, Manaus, Goiânia e Brasília com mais de 500 mil habitantes. A amostra contemplou todas as macro-regiões, exceto o Sul. E os municípios eram essencialmente urbanos, exceto Vitória da Conquista (14% da população em zona rural). Foram estudadas as características epidemiológicas e de oferta e produção de serviços de saúde, destacando-se as especificidades de cada município em relação ao cenário nacional. Em relação à oferta de serviços, destacam-se os resultados quanto à participação dos procedimentos PACS/PSF nos procedimentos da atenção básica, que pode ser considerada como indicador de implementação de substituição do modelo assistencial. Apenas quatro municípios apresentaram proporções de procedimentos PACS/PSF superiores a 30%. Na maioria dos municípios, a substituição de procedimentos na atenção básica é incipiente ou parcial, ressalvando que estes dados podem resultar de problemas de informação do SIA-SUS e Siab. Os municípios apresentavam distintas trajetórias no processo de descentralização do SUS, apontando diferentes aprendizados institucionais e distintas capacidades de gestão do SUS municipal. Em relação à condição de habilitação, Vitória, Manaus e São Gonçalo estavam em gestão plena da atenção básica, Aracaju, Campinas, Camaragibe, Goiânia, Palmas, Vitória da Conquista em gestão plena do sistema municipal e Brasília (DF) em gestão plena do sistema estadual. A implantação do PSF, em geral, foi iniciativa do gestor municipal, sendo estes atores (secretários e prefeitos) que no momento inicial apoiaram muito o programa. Outros atores citados: técnicos e assessores externos de universidades, do Ministério da Saúde e UNICEF e militantes do movimento sanitário. As maiores resistências foram observadas entre os profissionais de saúde da rede municipal, referidas pelos gestores de seis das cidades estudadas. As SES, em geral, apoiaram parcialmente, e algumas, de forma insuficiente ou conflituosa. Em alguns municípios, o Conselho Municipal e as associações de moradores apoiaram a implantação do PSF, mas em outros o apoio da população não foi imediato, principalmente em cidades com unidades básica melhor estruturadas, onde foi questionada a substituição de especialistas por generalistas. Após a implantação, na maioria das vezes, o PSF conquistou maior visibilidade em razão da ampliação do acesso à população, angariando apoio dos gerentes

das SMS e da população assistida por meio das associações de moradores e organizações religiosas e de portadores de patologias. Novas resistências surgiram por parte das entidades médicas, profissionais de enfermagem e setor privado. Em geral, a análise sugeriu que em municípios com SILOS melhor estruturados e com oferta de atenção básica, as resistências à implantação do programa foram maiores do que nos casos em que significou, predominantemente, extensão de cobertura dos serviços às áreas desassistidas. A principal estratégia para ampliar a base de apoio foi a realização de debates e criação de formas amplas de participação popular e dos profissionais de saúde. Controle social: São apresentados resultados sobre o perfil dos conselheiros entrevistados, sua relação com a entidade representada, sua atuação e a participação da entidade em outros fóruns do setor saúde, composição e funcionamento do CMS e a percepção dos conselheiros sobre a influência do CMS nas políticas municipais de saúde. O controle social e a participação da população no PSF foram avaliados a partir da percepção dos conselheiros, da população usuária e dos profissionais integrantes das equipes. Estratégias de implementação do PSF: Os motivos de adesão ao programa, enunciados pelos gestores, foram similares nos diversos municípios: extensão de cobertura para áreas de difícil acesso com oferta insuficiente ou ausente (prioridade na implantação das primeiras ESF na cobertura de grupos vulneráveis identificados como população de baixa renda, de maior risco epidemiológico ou áreas de risco social) e mudança do modelo de atenção básica, embora apenas parte dos municípios pretendia simultaneamente a reorganização do sistema municipal. Quanto ao ritmo de implantação, em seis municípios observou-se processo gradual com implantação de pequeno número de equipes no primeiro ano e posterior expansão. Em quatro situações ocorreu processo rápido com implantação simultânea de grande número de ESF. Foi evidenciado que nos processos de implantação rápida as dificuldades foram maiores aflorando maiores resistências e com potencialidade de desestruturação da atenção preexistente. Em relação à concepção dos modelos implementados, o Saúde da Família foi caracterizado polarmente em seis municípios como uma estratégia que visa mudar o modelo assistencial na atenção básica e como um programa constituído de forma paralela à estrutura de atenção existente em quatro municípios. As coberturas populacionais em 2001 variaram entre 11% e 80%. Características de vulnerabilidade das famílias usuárias: O percentual de moradores adscritos ao PSF que tinha renda miserável (até 1 salário mínimo) variou entre os municípios de 38% a 68%, de trabalhadores sem carteira de trabalho de 33% a 82% e a taxa de desemprego de 9% a 22%. Maior

vulnerabilidade foi observada entre as famílias de Vitória da Conquista, Manaus e Camaragibe. Em relação aos três principais problemas de saúde referidos pelas famílias adscritas ao PSF dos oito centros urbanos, o grupo de doenças foi mencionado por todos os municípios. Em segundo lugar em maior número de municípios, as famílias referiram problemas de acesso ao atendimento e, por último, foram relatados aspectos relacionados aos profissionais de saúde, como queixa sobre falta de médicos especialistas, falta de profissionais no atendimento, falta de dentista, falta de visita domiciliar dos médicos, dificuldade dos médicos para realizar diagnóstico e número reduzidos de visitas domiciliares por ACS. Integração do PSF à rede de serviço As unidades de saúde da família eram acessíveis e conhecidas pelas famílias cadastradas. A grande maioria afirmou conhecer o local da unidade (> 90%) e, entre as famílias que conheciam, mais de 90% afirmou ser fácil chegar ao local, a maioria se deslocando a pé para unidade. A proporção de famílias que procuram a USF em primeiro lugar, quando precisam de atendimento ou auxílio variou de 26% a 77%, menores percentuais alcançados nos municípios em que o PSF foi concebido e implantado como programa paralelo. Outro indicador selecionado para inferir sobre a USF como porta de entrada do SUS, foi a proporção de entrevistados que responderam que, depois do PSF, procuraram menos hospitais, especialistas e serviços de urgência. A metade ou mais dos entrevistados respondeu que passaram a procurar menos esses serviços em sete dos oito centros pesquisados. Em cinco das oito cidades estudadas, 70% e mais das famílias consideraram a USF resolutiva. Entre as famílias atendidas nos últimos 30 dias a proporção de encaminhamentos variou de 15% a 28%. Em todas as cidades mais da metade dos médicos informaram conseguir realizar, sempre ou na maioria das vezes, agendamento de serviços ambulatoriais de média complexidade. O acesso aos exames solicitados nos atendimentos pelas ESF é considerado difícil por grande parte das famílias entrevistadas. Apenas em três municípios, mais da metade das famílias informou conseguir realizar todos os exames solicitados. Em relação aos medicamentos, observou-se também baixa proporção de famílias usuárias que geralmente recebem todos os medicamentos quando atendidas pela ESF, variando entre 40% a 10%. Na avaliação de mais da metade dos médicos, os agendamentos para os ambulatórios de alta complexidade e para as internações poucas vezes ou nunca foram conseguidos. Os resultados para maternidade são mais positivos. Mais da metade dos médicos informou conseguir agendar maternidade sempre ou na maioria das vezes. Observou-se importante dificuldade na obtenção de medicamentos pelos

usuários, variando entre 10% a 40% a proporção de famílias que recebia geralmente todos os medicamentos quando atendidas pela equipe. Na maioria dos municípios havia algum fator de regulação para estabelecimento de referência, em alguns centrais de marcação de consultas. A insuficiente realização de contra-referência foi observada na maioria dos municípios. Reestruturação da rede de serviços: Em diversos municípios ocorreu algum investimento nos demais níveis de complexidade, mas de forma ainda insuficiente em muitos casos, permanecendo os problemas relacionados ao acesso aos demais níveis da rede. Integralidade da atenção: A integralidade da atenção foi avaliada por meio da realização de atividade educativas e assistenciais na última semana. Entre 22% a 53% dos médicos e mais da metade dos enfermeiros (exceto em um município) informaram realizar atividades de educação em saúde. Atividades de grupo com pacientes em atendimento foram freqüentes e realizadas em proporções semelhantes por médicos e enfermeiros. As consultas individuais à população cadastrada foram as atividades realizadas com maior freqüência. A quase totalidade dos profissionais de nível superior informou realizar visita domiciliar e a maioria realizava reuniões com a comunidade. Em relação à intersetorialidade, mais da metade dos profissionais de nível superior afirmou que as ESF desenvolvem atividades fora do setor para resolver os problemas da comunidade. Por outro lado, baixa proporção de profissionais de nível superior informou que as ESF realizam contatos com outros órgãos governamentais e entidades, e raros profissionais haviam realizado esse tipo de atividade na semana anterior. A maioria dos profissionais de nível superior (70% ou mais) considerou muito satisfatória a capacidade da ESF conhecer os principais problemas de saúde da população, o que foi corroborado pela opinião das famílias que, em sua maioria, considerou melhor a ESF dos que os profissionais das UBS prévias no conhecimento dos problemas da comunidade (exceto em um município). Trabalho em equipe dos profissionais de saúde: Neste tópico são apresentadas as principais características das ESF e dos seus integrantes e suas motivações; as modalidades de seleção e contratação na gestão de recursos humanos do PSF; a capacitação profissional, os aspectos da organização do trabalho em equipe e das condições de trabalho oferecidas pela gestão municipal. Vínculos estabelecidos entre profissionais das ESF e famílias adscritas: No mês anterior a pesquisa, um dos integrantes de cerca da metade ou mais das famílias tivera contato para atendimento com os profissionais da ESF, principalmente com os agentes comunitários de saúde. Em todos os municípios (exceto um) a maioria das pessoas (83% ou mais) conhecia o profissional que

realizou o atendimento e 97% ou mais considerou que o profissional fora atencioso. Mais de 70% das famílias (exceto em dois municípios) considerou que o profissional demonstrara ter conhecimento para resolver o problema de saúde apresentado pelo usuário Em todos os municípios, as famílias consideraram, de maneira geral, que com a implantação do PSF melhoraram as condições de saúde do bairro, de sua família e o atendimento em caso de doença. Desenvolvimento local do PSF em relação às normas e padrões estabelecidos pelo Ministério da Saúde: A recomendação de adscrever até 1.000 famílias por ESF foi considerada elevada para garantir a atenção à população, entretanto adscrição de número de famílias ainda maior foi observado. Em alguns centros urbanos, foi estabelecido na mesma unidade de saúde um segundo nível de complexidade, constituído por especialistas nas clínicas básicas, aumentando a resolutividade e possibilitando a interconsulta. O espaço físico da USF com freqüência não atende ao conjunto de atribuições das ESF nem permite o atendimento de forma confortável e adequado tecnologicamente para usuários e profissionais. Observou-se um baixo uso do diagnóstico de saúde local na programação de atividades, indicando tendência a baixa adequação ao perfil local de necessidades de saúde. O SIAB foi com freqüência avaliado pelos gestores como um sistema de informação elaborado para um programa, sem articulação com os demais sistemas de informação, exigindo múltipla alimentação de sistemas, especialmente o SIA/SUS. Recomendações: As resistências de importantes atores, especialmente nas experiências de substituição da rede básica estruturada, exigem estratégicas abrangentes de ampliação da base de apoio com processo de discussão prévio e periódico de sensibilização de gerentes da SMS e profissionais de saúde, além da mobilização da população para diminuir resistências e conquistar legitimidade. Estabelecer processo de negociação com as corporações médicas e de enfermagem para construir consenso sobre os campos de exercício profissional de forma a ampliar as áreas de atuação de enfermeiros, auxiliares de enfermagem e ACS. Evitar a implantação paralela do PSF. No início de processos de implantação é mais favorável delimitar regiões e nelas integrar a USF aos demais serviços existentes, expandindo posteriormente para demais regiões. A população atendida pelo PSF é extremamente vulnerável, podendo considerar que a estratégia de Saúde da Família promove expansão de

cobertura para grupos desfavorecidos e potencialmente contribui para inclusão social. As percepções das famílias sobre os problemas da comunidade guardaram grande coerência com as características domiciliares e municipais. É recomendável enfatizar a realização periódica e uso rotineiro do diagnóstico de saúde, estimulando a participação da população. É recomendável criar e/ou fortalecer mecanismos de integração da rede municipal de serviços de saúde: centrais informatizadas de marcação de ações especializadas e de regulação de internações, estabelecer protocolos de atenção para evitar o uso desnecessário de procedimentos mais complexos, estimular os especialistas a realizar a contra-referência para as ESF, ampliando a comunicação entre ESF e serviços de referência. A criação de um segundo nível de complexidade da Atenção Básica, constituído por especialistas nas clínicas básicas e outras selecionadas conforme o perfil local de necessidades, possibilitaria a interconsulta, o aumento da resolubilidade dos casos, a constituição da USF como porta de entrada e a integração da rede de serviços de saúde. No caso de conversão de grandes unidades básicas preexistentes em locais com elevada densidade, esse segundo nível poderia ser instalado na mesma unidade de saúde com ESF. Redefinição dos papéis das especialidades básicas para se qualificar como referência e para atividade de supervisão, a partir de capacitação específica. A constituição de um sistema integrado de serviços de saúde exige investimentos nos demais níveis de complexidade. A mudança no modelo assistencial, centrada em programação de atividades para grupos de risco e oferta organizada, confronta-se com as demandas individuais por assistência. A adequação entre respostas às necessidades individuais e coletivas é importante nó crítico da estratégia de Saúde da Família que necessita ser equacionada. Estratégias de acolhimento podem propiciar a desejada articulação, reduzindo barreiras de acesso percebidas pelas famílias pesquisadas e contribuindo para o estabelecimento da USF como porta de entrada/serviço de primeiro contato regular. A realização das atividades preconizadas para as ESF educacionais e assistenciais, individuais e em grupo, domiciliares e intersetoriais exige a redução do número de famílias adscritas por ESF. É recomendável estimular a atuação intersetorial das ESF. Esta é facilitada quando gestores setoriais e o executivo municipal atuam na perspectiva de articular as intervenções para solução de problemas. A ação intersetorial exige capacitação em relação aos condicionantes do estado de saúde da população. A estratégia de Saúde da Família, intensiva em força de trabalho, encontra obstáculos na sua incorporação que fragilizam o processo. Vínculos empregatícios estáveis e legalmente protegidos favorecem a adesão de

profissionais e a formação de vínculos com as comunidades. A criação de incentivos salariais para ESF que atuem em áreas de maior risco social e epidemiológico possibilitaria maior permanência dos profissionais nestas áreas. Considerar a possibilidade de incentivos que apóiem a redução da rotatividade dos profissionais e fixem as ESF implantadas. É recomendável aprimorar o processo de capacitação, garantindo que todos os profissionais realizem o treinamento introdutório, superando a fragmentação programática do conhecimento e articulando na capacitação permanente os aspectos técnico-científicos mais gerais com as especificidades dos condicionantes locais, além de estratégias de humanização do atendimento. É recomendável ampliar as responsabilidades e a capacitação de ESF para o acompanhamento de doentes crônicos, tendo em vista a alta proporção de famílias com portadores. A função do médico generalista como coordenação dos cuidados ao doente crônico deve ser reforçada por meio da melhoria da comunicação entre ESF e especialistas. Fortalecer o papel desempenhado pelo Conselho Municipal de Saúde e Conselhos Locais nas políticas de saúde em geral e na reestruturação do sistema municipal de saúde. É recomendável criar meios e instrumentos para população apresentar queixas, denúncias e sugestões. A implementação do PSF em grandes centros urbanos tem potencialidades para desencadear mudanças no modelo assistencial à saúde que efetivam o direito à saúde no cotidiano dos cidadãos. Com as observações realizadas e os resultados obtidos no processo de pesquisa, é possível apontar boas práticas, assinalando caminhos que podem ser percorridos e outros que devem ser evitados. Entretanto, nenhum guia ou regulamentação deve inibir a criatividade local, nem desconsiderar a diversidade existente em nosso país que é ao mesmo tempo nossa maior riqueza e nosso maior desafio.