S 2017
Agronegócio fecha 2017 com volume recorde de vendas Oagronegócio brasileiro exportou volume recorde em 2017. Apesar de iniciar o ano com embarques abaixo dos observados nos primeiros meses de 2016, a partir de março, com a entrada da colheita da supersafra de grãos, as vendas externas ganharam força. Como mostram cálculos do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, o volume exportado pelo setor agrícola (IVE-Agro/Cepea) cresceu 14,5% no ano. Só em dezembro de 2017, comparativamente a dezembro de 2016, o aumento foi de expressivos 44%, sendo que, mais uma vez, o impulso veio dos grãos. Os embarques da soja em grão tiveram aumento de 32,1% e os do milho de 33,9%. As vendas externas de carne bovina cresceram significativos 14% em 2017 frente às de 2016. Os preços em dólares recebidos pelos exportadores do setor também apresentaram alta em 2017. A média anual ficou 3,8% acima da de 2016. No começo do ano esses preços estavam acima dos preços registrados em 2016, mas a partir de junho iniciaram queda, como mostra a comparação mensal, dezembro/17 com dezembro/16, quando os preços retraíram 11% (IPE-Agro/Cepea). Esse comportamento deveu-se à confirmação da boa oferta mundial e, principalmente a brasileira (Figura 1). A taxa de câmbio efetiva real do agronegócio (IC-Agro/Cepea), calculada com base nas exportações brasileiras para os 10 principais parceiros comerciais, iniciou trajetória de queda em 2016; em 2017, acumulou redução de 7%, mesmo com a inversão de tendência verificada a partir de maio de 2017, o que mostra a desvalorização do Real no segundo semestre. Na comparação de dezembro/17 com dezembro/16, a moeda nacional se desvalorizou 8%. Mais uma vez, a alta dos preços em 2017 não compensou a valorização do Real, na média do ano, e, com isso, a atratividade do setor Índice de Atratividade do Agronegócio (IAT-Agro/ Cepea) caiu 3,3% em 12 meses e 3,8% em dezembro/17 contra dezembro/16 (Figura (1). Com o crescimento das vendas (em volume) a preços mais elevados, na média do ano, o faturamento em dólar do setor cresceu 12% em 2017, fechando em US$ 96 bilhões. Em Reais, o faturamento cresceu apenas 4%, em decorrência da valorização do Real. Figura 1 - IPE-Agro, IVE-Agro, IAT-Agro e IC-Agro. Dados mensais de janeiro de 2016 a dezembro de 2017 (índice: jan/14=100). 2
A Figura 2 ilustra o comportamento dos índices calculados pelo Cepea ao longo dos últimos 18 anos (de 2000 a 2017). Nesse período, o volume exportado pelo agronegócio brasileiro (IVE-Agro/Cepea) apresentou forte crescimento (323%), os preços médios em dólar (IPE-Agro/ Cepea) subiram 69% (apesar das quedas a partir de 2011) e o Real (IC-Agro/Cepea) se valorizou 48%. Como resultado, nesses 18 anos, a atratividade das exportações agro (IAT-Agro/Cepea) caiu 19%, ficando mais estável entre 2016 e 2017. Figura 2 - - IPE-Agro/Cepea, IVE-Agro/Cepea, IAT-Agro/Cepea e IC-Agro/Cepea. Dados anualizados (Índice: 2000=100). Balança comercial Em 2017, o setor agrícola brasileiro mais uma vez teve um bom desempenho externo. A farta oferta agrícola desse ano, que cresceu aproximadamente 30% segundo a Conab, foi suficiente para atender com folga a demanda brasileira por alimentos, fibras e energia, além disso, gerou excedentes para que as exportações atingissem patamares recordes. Desse modo, além de contribuir para a queda dos índices de inflação, que ficou abaixo da meta estabelecida pelo governo federal, foi fundamental também para a estabilidade do câmbio, visto que resultou em expressivo superávit nas relações comerciais com o resto do mundo, gerando significativa entrada de divisas, que compensaram o déficit comercial proveniente de outros setores produtivos. Enquanto o saldo comercial dos outros setores ficou negativo em quase US$ 15 bilhões em 2017, o superávit gerado pelo agronegócio foi superior a US$ 81 bilhões no ano, mais que compensando toda saída de moeda estrangeira (dólar) do País. Nesse cenário, a balança comercial brasileira fechou 2017 com superávit superior a US$ 66 bilhões. A participação do agronegócio nas exportações totais do País foi de 44% e ficou um pouco abaixo da participação do ano anterior. No acumulado dos últimos 18 anos (de 2000 a 2017), o saldo comercial do agronegócio brasileiro, receitas das exportações menos gastos com importações em dólares, aumentou em cinco vezes, com crescimento de 447% (Figura 3). 3
Figura 3 - Evolução do saldo comercial do agronegócio brasileiro (índice:2000=100). Fonte: Cepea/Esalq/USP; com base em dados do MDIC Exportações dos principais produtos Em 2017, os produtos que contribuíram para o crescimento das exportações (volume) do setor agro (IVE Agro/Cepea), em relação ao ano anterior, foram o milho (33,9%), a soja em grão (32,1%), a carne bovina (12,5%), as frutas (7,8%), o óleo de soja (7,0%) e o algodão em pluma (3,6%). Os embarques de etanol (-20,9%), café (-9,4%), suco de laranja (-7,1%), carne suína (-5,1%), farelo de soja (-1,8), carnes de aves (-1,5%), açúcar (-0,8%), celulose (-0,8%) e madeira (-0,7%) recuaram em relação aos volumes exportados em 2016 (Figura 4). 4
Figura 4 - Volume das Exportações para Produtos Específicos (IVE-Agro/Cepea) variações percentuais referentes a jan-dez de 2017 em comparação com jan-dez de 2016. O preço em dólar (IPE-Agro/Cepea) subiu para a maioria dos principais produtos exportados pelo agronegócio brasileiro em 2017, frente ao ano de 2016. Nesse período, não subiram os valores do milho (-6,7%), do farelo de soja (-2,4%) e da celulose (-0,1%). A soja em grão (0,7%) manteve seus preços praticamente constantes na média do ano, enquanto os valores se mantiveram em alta para os demais produtos, como as carnes de suínos (15,5%), o etanol (13,8%), o açúcar (10,2), o suco de laranja (9,2%), a madeira (8,5%), o algodão em pluma (7,8%), as carnes de aves (7,6%), o óleo de soja (7,2%), o café (6,4%), a carne bovina (4,1%) e as frutas (3,0%), no mesmo período (Figura 5). Figura 5 - Preços de Exportação para Produtos Específicos (IPE/Cepea) variações percentuais referentes a 2016 em comparação com 2015 Fonte: Cepea/Esalq/USP; com base em dados do MDIC 5
6 A valorização do Real em 2017 reduziu a atratividade das exportações do agronegócio, assim, os preços internalizados em reais (IAT-Agro/Cepea) caíram para milho (-14,0%), farelo de soja (-9,3%), celulose (-7,2%), soja em grão (-6,5%), frutas (-4,4%), carne bovina Figura 6 - Índices de Atratividade da Exportação de Produtos Específicos (IAT/Cepea) variações percentuais referentes 2016 em comparação com 2015 A China segue como principal destino das exportações dos produtos do agronegócio brasileiro e tem aumentado sua participação nas vendas externas totais do setor nos últimos anos. Em 2017, a participação chinesa foi de 28,2% e ficou acima da participação de 2016. A soja em grão continua sendo o principal produto enviado ao país, que adquiriu 79% de toda soja em grão exportada pelo Brasil nesse ano (Figura 7). A Europa também é um destino importante para os produtos brasileiros, ficando na segunda posição (Figura 7). Os países da Zona do Euro compraram 16% do volume total do agronegócio brasileiro em 2017, percentual que continua se reduzindo ano a ano, cedendo espaço para a China. (-3,3%), café (-1,2%), óleo de soja (-0,4%) e carnes de aves (-0,1%). A alta nos preços dos outros produtos, no entanto, foi mais que suficiente para compensar a valorização do Real em 2017, e os mesmos conseguiram manter atratividade positiva Figura 6. Principais destinos Os Estados Unidos são o terceiro destino das exportações do agronegócio brasileiro, e tem mantido sua participação próxima de 7% nos últimos anos (Figura 7). Outros países asiáticos que têm aumentado sua participação são: Japão, Hong Kong, Irã, Rússia, Arábia Saudita e Coreia do Sul. A participação do grupo dos demais países caiu um pouco em relação a 2016 e ficou 32% do total no ano de 2017 esse grupo engloba 189 países com pequena participação individual, mas que, juntos, tiveram maior relevância em 2017 (Figura7). Ressalta- -se o crescimento contínuo da participação dos países asiáticos, com destaque para a Índia.
Figura 7 - Principais destinos das exportações do agronegócio brasileiro em 2016, de acordo com participação no faturamento em dólar Principais setores Em relação aos destinos dos principais produtos do agronegócio, o Irã foi responsável por demandar 17,14% do total exportado de milho pelo Brasil, seguido pelo Egito (10,96%), Japão (9,90%), Espanha (9,57%) e Vietnã (9,03%). Os principais destinos dos embarques do etanol foram majoritariamente os Estados Unidos, com 71,6% das exportações brasileiras do produto, e Coreia do Sul (18,4%). No caso do mercado do farelo de soja, os destaques em termos de destino das exportações nacionais foram os Países Baixos, que compraram 21,56% do produto, a Tailândia, que adquiriu 13,08%, Indonésia com 10,52% e Coreia do Sul, com 10,41%. A Índia tem sido o destino mais importante para o óleo de soja, demandando 36,59% desse derivado brasileiro, e a China aparece em segundo lugar de destaque, com 23,95% do total exportado deste produto. Em relação ao açúcar, os países mais relevantes foram Bangladesh (9,48%), Índia (8,10%), Argélia (7,68%) e os Emirados Árabes Unidos (7,63%). O forte crescimento dos embarques da soja em grão contribuiu para o bom desempenho do complexo da oleaginosa em 2017. Assim, o valor das vendas externas brasileiras do grupo cereais/leguminosas/oleaginosas representou 37% do total nacional. Cana e sacarídeas (12,8%), produtos florestais (11,8%), bovídeos (9%), suínos e aves (9,2%), café e estimulantes (6%) e frutas (3,5%) aparecem em seguida. O setor de carnes em seu conjunto (bovina, de aves e de suínos) obteve participação de quase 20% no total das exportações agro do Brasil. Com exceção da complexo da soja que teve participação acrescida de quase 4 pontos percentuais (p.p) em relação ao ano de 2016, os outros setores (sucroalcooleiro, carnes, madeira, tec) mantiveram participação próxima a observada em 2016 (Figura 8). 7
Figura 8 - Exportações brasileiras por grupo de produto, em 2015 e 2016. Grupo de produtos jan/dez16 jan/dez16 Variação Valor (US$ bi) % Valor (US$ bi) % % Texteis 1,90 2,24% 2,02 2,1% 6,0% Bovídeos 7,99 9,38% 8,65 9,0% 8,2% Pescado 0,25 0,29% 0,25 0,3% 0,2% Café e esterídeos 5,95 6,98% 5,72 6,0% -3,8% Cana e Sacarídeas 11,37 13,35% 12,26 12,8% 7,8% Frutas 3,17 3,72% 3,34 3,5% 5,3% Olerícolas 0,34 0,40% 0,37 0,4% 10,6% Flores e ornamentais 0,03 0,03% 0,03 0,0% -4,5% Cereais/leguminosas/Oleaginosas 28,83 33,86% 36,02 37,6% 24,9% Gorduras Vegetais 1,24 1,46% 1,43 1,5% 14,7% Grãos p/ consumo direto 0,30 0,36% 0,34 0,4% 12,2% Produtos Florestais 10,61 12,46% 11,32 11,8% 6,6% Suínos e aves 8,30 9,74% 8,85 9,2% 6,6% Fumo 2,12 2,49% 2,09 2,2% -1,5% Agronegócios Especiais 1,54 1,80% 1,68 1,8% 9,4% Nichos produção Vegetal 1,22 1,43% 1,33 1,4% 9,2% Total 85,16 100,00% 95,69 100,0% 12,4% 8
Em 2017, a boa notícia foi o clima, que, favorável à produção agrícola, contribuiu para desempenho recorde da colheita brasileira que cresceu em torno de 30%, comparativamente a 2016, e favoreceu o crescimento do volume exportado, que teve alta de 14% nesse período. Assim, o faturamento em dólar do setor cresceu 12%, enquanto o faturamento em Real cresceu apenas 4%, pois houve valorização da moeda nacional em 2017. A valorização da moeda nacional frente às moedas dos principais parceiros comerciais do Brasil reduziu a atratividade das vendas externas do agronegócio em 3,3% no ano, mas o aumento dos preços em dólar compensou parte da perda com o câmbio Em ano de supersafra de grãos, milho e soja lideraram o crescimento das exportações agro (em volume). A carne bovina também teve bom desempenho, mesmo em ano crítico para o setor. A China manteve-se como o principal destino das exportações do agronegócio brasileiro, e o bloco de países da Zona do Euro ficou com a segunda posição, com 28,3% e 16%, respectivamente, dos embarques (em receita) em 2017. Estados Unidos, Japão e Hong CONCLUSÕES Kong também se destacaram como importantes parceiros comerciais do Brasil. Os grupos de produtos que mais geraram receita em dólar para o setor foram os do complexo soja, carnes, sucroalcooleiro, produtos florestais e café. Para 2018, a expectativa é que a produção agropecuária brasileira fique um pouco abaixo da obtida em 2017, segundo a Conab, mas não deve pressionar as cotações, pois há bons estoques dos produtos agrícolas em nível mundial. Do lado da demanda, um crescimento mais acelerado e sincronizado da economia mundial deve manter a procura firme, o que seria bom para o setor exportador do agronegócio brasileiro. Em ano de eleições internas, o câmbio pode registrar elevada volatilidade. Evidentemente, desvalorizações da moeda nacional podem favorecer exportadores. Ainda há riscos de restrições ao comércio por parte de importantes parceiros comerciais do País. Mesmo em um ambiente de tantas incertezas, tanto em relação ao futuro da economia mundial quanto em relação ao ambiente doméstico, fica a expectativa para que o agronegócio mantenha-se em alta em 2018. 9 EXPEDIENTE COORDENAÇÃO GERAL: Geraldo Sant Ana de Camargo Barros, Ph.D, Pesquisador Chefe/Coordenador Científico do Cepea-Esalq/USP PESQUISADORA DO CEPEA: Andréia Cristina de Oliveira Adami, Dra. EQUIPE TÉCNICA: Victor Suursoo de Souza, graduando em Ciências Econômicas CONTATOS: (19) 3429-8836/37 CEPEA - CENTRO DE cepea@usp.br ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA - ESALQ/USP MAIS INFORMAÇÃO: www.cepea.esalq.usp.br