A Justiça quer acabar com as acções de cobrança de dívida em que as o empresas já só visam a recuperação do IVA e entopem os tribunais. Sobretudo em tempos de crise, são situações que se repetem quase diariamente: uma empresa vende um produto ou um serviço, emite a factura e fica à espera do respectivo pagamento. Este tarda em chegar, muitas vezes nunca chega, porque o cliente não tem meios ou pura e simplesmente desapareceu, mas, entretanto, a empresa já teve de entregar as Finanças o IVA facturado. Se mais tarde o quiser recuperar, na esmagadora maioria dos casos terá de ir para tribunal, para que este lhe reconheça a dívida e as Finanças acedam à devolução. Entretanto, alimentou o número das pendências e a pesada máquina da acção executiva. O objectivo do Governo é, agora, acabar com estes casos: em vez de terem de ir para tribunal, as empresas vão passar a poder recuperar o imposto directamente junto das Finanças de forma mais rápida e eficaz. A medida está a ser preparada pelos ministérios da Justiça e das Finanças, confirmou ao Negócios o gabinete de Paula Teixeira da Cruz. O objectivo, explica, é "encontrar soluções que, de forma sustentável, permitam retirar dos tribunais processos que não existiriam se não houvesse a necessidade de obtenção, pelos credores, de um título que permita a consideração de que certos créditos são incobráveis, com os efeitos fiscais daí advenientes". Afinal, prossegue a mesma fonte, "a caracterização da litigância cível potencia a conclusão de que poderá existir um número significativo de acções intentadas apenas com vista à recuperação do IVA referente a um crédito que não chegou a ser cobrado e que se prevê que o não venha a ser". Actualmente é obrigatório recorrer aos tribunais sempre que os sujeitos passivos de IVA pretendam deduzir o imposto respeitante a créditos considerados incobráveis, recorrendo a uma acção executiva Também o poderão fazer se o devedor for declarado insolvente, mas a insolvência tem igualmente de ser decretada por um tribunal. Há já uma pequena abertura, para dívidas que não sejam superiores a 750 euros e que durem há mais de seis meses, mas a dedução só é possível sem o recurso aos tribunais se o devedor for uma pessoa singular que realize exclusivamente operações isentas que não confiram direito a dedução. Para os outros devedores e para dívidas superiores (até aos 8.000 euros), só se afasta a necessidade de uma acção executiva de os mesmos estiverem incluídos na lista pública de devedores, onde se inscrevem os nomes de pessoas que já foram executadas e em que os tribunais concluíram 1 / 5
não ter quaisquer bens penhoráveis que justifiquem novas acções executivas. "Mecanismos de controle terão de funcionar bem" Há efectivamente um elevado número de acções de cobrança de dívida que têm apenas como objectivo recuperar o IVA, porque os créditos esses há muito foram dados como perdidos, confirma José Carlos Resende, da Câmara dos Solicitadores. O responsável considera "positiva" a medida que o Governo tem em preparação, mas deixa o alerta: "Ou têm mecanismos de controle que funcionem muitobem,ouserámuito arriscado." Isto porque este tipo de facilidades pode ser aproveitado pelos "profissionais da fraude", por exemplo das conhecidas como "carrosséis do IVA". Isso poderá justificar "as reticências que as Finanças sempre têm tido a medidas desse género", mas "que diminuiria muito o número de execuções, disso não há dúvida", conclui. Farmacêuticas não recebem, mas têm de pagar É ao Estado - o mesmo que lhes deve milhares de euros - que as farmacêuticas continuam a entregar dinheiro periodicamente, por via da entrega do IVA. Os laboratórios são apenas um dos muitos exemplos, e talvez o mais flagrante, de empresas que saem duplamente penalizadas com o incumprimento por parte dos clientes. Neste caso, têm a particularidade de ter como devedor o próprio Estado. Os hospitais públicos devem à indústria farmacêutica mais de 1.300 milhões de euros, dos quais mais de mil milhões em atraso há mais de 90 dias. O Governo, dando cumprimento ao acordado com a troika, tem vindo a negociar um calendário para o pagamento das dívidas aos fornecedores. No caso da Saúde, o problema é mais urgente, tendo já um laboratório suspendido a venda a crédito a 23 hospitais incumpridores. O QUE ESTIPULA A LEI ACTUAL? 2 / 5
REGRA GERAL PREVISTA NO CÓDIGO DO IVA O código do IVA prevê que os sujeitos passivos podem deduzir o imposto respeitante a créditos considerados incobráveis mediante um processo de execução e depois de este ser dado como findo por não terem sido encontrados bens penhoráveis. O mesmo poderá acontecer na sequência de um processo de insolvência, quando a mesma seja decretada, ou se o credor estiver ao abrigo de um acordo obtido em procedimento extrajudicial de conciliação. DÍVIDAS ABAIXO DOS 750 EUROS Sempre que os devedores sejam particulares ou sujeitos passivos que realizem exclusivamente operações isentas que não confiram direito a dedução, os sujeitos passivos de IVA podem igualmente deduzir o imposto respeitante aos créditos de valor abaixo dos 750 euros e quando a mora no pagamento se arraste para além dos seis meses. DEVEDORES COM NOME NA LISTA PÚBLICA DE EXECUÇÕES Para os créditos que sejam superiores a 750 euros e inferiores a oito mil (IVA incluído), há ainda uma outra excepção: quando o devedor, sendo um particular ou um sujeito passivo que realize exclusivamente operações isentas que não conferem o direito à dedução, conste no registo informático de execuções como executado contra quem foi movido processo de execução anterior entretanto suspenso ou extinto por não terem sido encontrados bens penhoráveis. Neste caso, também não é preciso recorrer aos tribunais para recuperar o IVA. QUANDO OS DEVEDORES SÃO, ELES PRÓPRIOS, SUJEITOS PASSIVOS DE IVA São os casos que caem na regra geral, ou seja, em que para recuperar o IVA o credor tem de avançar com uma acção em tribunal para ver reconhecida a existência do crédito em causa. Só depois disso poderá solicitar o imposto junto das Finanças. Filomena Lança Jornal de Negócios 19-03-2012 A Justiça quer acabar com as acções de cobrança de dívida em que as o empresas já só visam a recuperação do IVA e entopem os tribunais Sobretudo em tempos de crise, são situações que se repetem quase diariamente: uma empresa vende um produto ou um serviço, emite a factura e fica à espera do respectivo pagamento. Este tarda em chegar, muitas vezes nunca chega, porque o cliente não tem meios ou pura e simplesmente desapareceu, mas, entretanto, a empresa já teve de entregar as Finanças o IVA facturado. Se mais tarde o quiser recuperar, na esmagadora maioria dos casos terá de ir para tribunal, para que este lhe reconheça a dívida e as Finanças acedam à devolução. 3 / 5
Entretanto, alimentou o número das pendências e a pesada máquina da acção executiva. O objectivo do Governo é, agora, acabar com estes casos: em vez de terem de ir para tribunal, as empresas vão passar a poder recuperar o imposto directamente junto das Finanças de forma mais rápida e eficaz. A medida está a ser preparada pelos ministérios da Justiça e das Finanças, confirmou ao Negócios o gabinete de Paula Teixeira da Cruz. O objectivo, explica, é "encontrar soluções que, de forma sustentável, permitam retirar dos tribunais processos que não existiriam se não houvesse a necessidade de obtenção, pelos credores, de um título que permita a consideração de que certos créditos são incobráveis, com os efeitos fiscais daí advenientes". Afinal, prossegue a mesma fonte, "a caracterização da litigância cível potencia a conclusão de que poderá existir um número significativo de acções intentadas apenas com vista à recuperação do IVA referente a um crédito que não chegou a ser cobrado e que se prevê que o não venha a ser". Actualmente é obrigatório recorrer aos tribunais sempre que os sujeitos passivos de IVA pretendam deduzir o imposto respeitante a créditos considerados incobráveis, recorrendo a uma acção executiva Também o poderão fazer se o devedor for declarado insolvente, mas a insolvência tem igualmente de ser decretada por um tribunal. Há já uma pequena abertura, para dívidas que não sejam superiores a 750 euros e que durem há mais de seis meses, mas a dedução só é possível sem o recurso aos tribunais se o devedor for uma pessoa singular que realize exclusivamente operações isentas que não confiram direito a dedução. Para os outros devedores e para dívidas superiores (até aos 8.000 euros), só se afasta a necessidade de uma acção executiva de os mesmos estiverem incluídos na lista pública de devedores, onde se inscrevem os nomes de pessoas que já foram executadas e em que os tribunais concluíram não ter quaisquer bens penhoráveis que justifiquem novas acções executivas. "Mecanismos de controle terão de funcionar bem" Há efectivamente um elevado número de acções de cobrança de dívida que têm apenas como objectivo recuperar o IVA, porque os créditos esses há muito foram dados como perdidos, confirma José Carlos Resende, da Câmara dos Solicitadores. O responsável considera "positiva" a medida que o Governo tem em preparação, mas deixa o alerta: "Ou têm mecanismos de controle que funcionem muitobem,ouserámuito arriscado." Isto porque este tipo de facilidades pode ser aproveitado pelos "profissionais da fraude", por exemplo das conhecidas como "carrosséis do IVA". Isso poderá justificar "as reticências que as Finanças sempre têm tido a medidas desse género", mas "que diminuiria muito o número de execuções, disso não há dúvida", conclui. Farmacêuticas não recebem, mas têm de pagar É ao Estado - o mesmo que lhes deve milhares de euros - que as farmacêuticas continuam a entregar dinheiro periodicamente, por via da entrega do IVA. Os laboratórios são apenas um dos muitos exemplos, e talvez o mais flagrante, de empresas que saem duplamente penalizadas com o incumprimento por parte dos clientes. Neste caso, têm a particularidade de 4 / 5
ter como devedor o próprio Estado. Os hospitais públicos devem à indústria farmacêutica mais de 1.300 milhões de euros, dos quais mais de mil milhões em atraso há mais de 90 dias. O Governo, dando cumprimento ao acordado com a troika, tem vindo a negociar um calendário para o pagamento das dívidas aos fornecedores. No caso da Saúde, o problema é mais urgente, tendo já um laboratório suspendido a venda a crédito a 23 hospitais incumpridores. IDEIAS-CHAVE O QUE ESTIPULA A LEI ACTUAL? REGRA GERAL PREVISTA NO CÓDIGO DO IVA O código do IVA prevê que os sujeitos passivos podem deduzir o imposto respeitante a créditos considerados incobráveis mediante um processo de execução e depois de este ser dado como findo por não terem sido encontrados bens penhoráveis. O mesmo poderá acontecer na sequência de um processo de insolvência, quando a mesma seja decretada, ou se o credor estiver ao abrigo de um acordo obtido em procedimento extrajudicial de conciliação. DÍVIDAS ABAIXO DOS 750 EUROS Sempre que os devedores sejam particulares ou sujeitos passivos que realizem exclusivamente operações isentas que não confiram direito a dedução, os sujeitos passivos de IVA podem igualmente deduzir o imposto respeitante aos créditos de valor abaixo dos 750 euros e quando a mora no pagamento se arraste para além dos seis meses. DEVEDORES COM NOME NA LISTA PÚBLICA DE EXECUÇÕES Para os créditos que sejam superiores a 750 euros e inferiores a oito mil (IVA incluído), há ainda uma outra excepção: quando o devedor, sendo um particular ou um sujeito passivo que realize exclusivamente operações isentas que não conferem o direito à dedução, conste no registo informático de execuções como executado contra quem foi movido processo de execução anterior entretanto suspenso ou extinto por não terem sido encontrados bens penhoráveis. Neste caso, também não é preciso recorrer aos tribunais para recuperar o IVA. QUANDO OS DEVEDORES SÃO, ELES PRÓPRIOS, SUJEITOS PASSIVOS DE IVA São os casos que caem na regra geral, ou seja, em que para recuperar o IVA o credor tem de avançar com uma acção em tribunal para ver reconhecida a existência do crédito em causa. Só depois disso poderá solicitar o imposto junto das Finanças. 5 / 5