A MOÇA TECELÃ E OS CONTOS DE FADAS
Os contos de fadas
. O conto maravilhoso é um gênero literário de tradição oral, do qual fazem parte os contos populares e os contos de fadas.. Conto popular é um tipo de narração de histórias geralmente anônimas, que gira em torno de situações criadas pelo imaginário. É comum na tradição do conto popular a modificação da história e mesmo a inserção de personagens típicos da região em que ele é contado.. Todo conto popular tende a encantar: aquelas situações em que ocorrem transformações provocadas por algum tipo de magia, que não são explicadas de modo natural. É isso o que define o conto de fadas, tornando-o distinto do conto popular.. No espaço sobrenatural não existe lei do tempo.
Nos contos, que muitas vezes começam pelo "Era uma vez", para salientar que os temas não se referem apenas ao presente tempo e espaço, o leitor encontra personagens e situações que fazem parte do seu cotidiano e do seu universo individual, com conflitos, medos e sonhos. A rivalidade de gerações, a convivência de crianças e adultos, as etapas da vida (nascimento, amadurecimento, velhice e morte), bem como sentimentos que fazem parte de cada um (amor, ódio, inveja e amizade) são apresentados para oferecer uma explicação do mundo que nos rodeia e nos permite criar formas de lidar com isso. Entre os grandes autores estão os irmãos Grimm, com Branca de Neve, João e Maria, A Bela Adormecida; Perrault, com Chapeuzinho Vermelho, o Gato de botas; no Brasil temos Monteiro Lobato, com Reinações de Narizinho e Sítio do Pica-pau Amarelo.
Marina Colasanti Marina Colasanti (1938) nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei, mas não devia e também por Rota de Colisão.
A moça tecelã se relaciona com o universo de contos de fadas, contudo trata-se de uma reconstrução. O conto é repleto de magia e de encantamentos, encaixandose em uma modalidade de contos contemporâneos que mantém a maior parte das características dos contos tradicionais.
A narrativa se inicia com a imagem de uma moça que, sentada em seu tear, é capaz de produzir tudo aquilo de que necessita e deseja. Tece o nascer e o pôr do sol, as estações do ano, os alimentos de que precisa e faz tudo isso com satisfação. Até que um dia se sente muito sozinha e resolve tecer um companheiro. Com a chegada dele, o tear é transformado em um instrumento para aquisição de riquezas. O marido solicita à moça tecelã a construção de um castelo de luxo, com torres, cavalos e cofres. Já cansada dessas obrigações, a moça resolve voltar a sua condição inicial e, ao anoitecer, senta-se ao tear e destece tudo aquilo que o marido solicitara e até mesmo o companheiro. Ao final, a moça está sozinha em sua pequena casa, tecendo um novo amanhecer.
Tecer relaciona-se a uma atividade tradicionalmente feminina. As mulheres teceram até o aparecimento do tear mecânico, que só se difundiu na primeira metade do século XIX.
. De um lado, a submissão ao confinamento doméstico da produção, quando a tecelã é incentivada pelo marido a produzir tais riquezas, e, ao mesmo tempo, uma mulher com poder sobre sua produtividade e autonomia de criação, representado, no conto, no momento em que ela toma a iniciativa de destecer tudo aquilo que não era seu propósito de vida.. A Moça Tecelã não começa com o famoso Era uma vez, que representa no conto tradicional a entrada ao mundo maravilhoso. O que temos no conto de Marina Colasanti é o relato do cotidiano da moça ao tear, que só é revelado como mágico no decorrer do conto.
Solidão, ambição, interesse, consciência, autoconhecimento, liberdade, criação, recomeço
Nos dias atuais. Quando os papéis sociais eram bem definidos, era mais fácil tanto para a mulher quanto para o homem. Agora a mulher fica num dilema entre dois extremos: a moça frágil, meiga e desprotegida e a mulher independente e bem resolvida.. As releituras de contos de fadas tradicionais que têm sido produzidas atualmente apresentam mulheres fortes, independentes e que correm atrás de seus objetivos. O antes esperado príncipe encantado pode, no primeiro deslize que cometer, ser deixado de lado por ideais e objetivos que satisfaçam a protagonista.
Conto de fadas para mulheres modernas Era uma vez, numa terra muito distante, uma linda princesa, independente e cheia de auto estima que, enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo estava de acordo com as conformidades ecológicas, se deparou com uma rã. Então, a rã pulou para o seu colo e disse: Linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito. Mas, uma bruxa má lançou-me um encanto e eu transformei-me nesta rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir lar feliz no teu lindo castelo. A minha mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavarias as minhas roupas, criarias os nossos filhos e viveríamos felizes para sempre...... E então, naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã à sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria e pensava: Eu hein?... nem morta! Luís Fernando Veríssimo
1. A princesa possui uma atitude típica das heroínas de contos de fada? Por quê? 2. Em um conto de fadas clássico, qual seria o desfecho desse conto? 3. Qual o conceito de Felizes para sempre para o príncipe? 4. Em sua opinião, qual o conceito de felicidade na visão da princesa?