11 Aleitamento Materno Exclusivo (AME), pré-natal particular e pré-natal público: estudo de casos cadastrados em um Programa de Saúde da Família do sul fluminense Clarissa Oliveira Muniz Silva 1 Mariane Oliveira da Silva 1 Maíra Kaizer Janetti Perusso 1 Cláudia Regina Oliveira da Costa 2 Marcelo Genestra 3 Palavras-chaves: Aleitamento Materno Exclusivo Saúde da família Orientação Desmame Precoce Resumo O aleitamento materno exclusivo (AME) nos primeiros meses de vida cada vez mais tem sido valorizado na promoção da saúde da criança. O leite materno é o alimento completo para o crescimento e desenvolvimento das crianças até os seis meses. O objetivo deste estudo foi avaliar as práticas do aleitamento materno até o quarto mês de vida em crianças menores de um ano cadastradas no Programa de Saúde da Família (PSF) do bairro Vila Rica na cidade de Volta Redonda (RJ), e caracterizar a incidência do AME na rede particular e pública. Foi realizado inquérito domiciliar com uma amostra de 38 crianças, através de questionários, onde se constatou a importância em relação aos grupos comunitários ao orientarem, estimularem e resgatarem a prática da amamentação. Encontramos como causa do desmame precoce desde disfunções em relação à produção láctea até a decisão materna. 1. Introdução A partir da década de 80 o aleitamento materno exclusivo passou a ser considerado de fundamental importância para o crescimento e desenvolvimento infantil, além de atuar também na prevenção de doenças. O leite materno é considerado como fonte primordial para a alimentação, pois em sua composição temos elementos necessários para a promoção da saúde do lactente. Sendo assim, a Organização Mundial de Saúde preconiza que as crianças sejam alimentadas exclusivamente até 4-6 meses de vida e que o leite materno seja componente alimentar até pelo menos o primeiro ano de vida. (KUMMER et al,2000; CAMILO et al,2004) Estudos mostram que dentre as causas do desmame precoce os fatores culturais sobressaem-se diante dos fatores mamários (mamilos invertidos, fissuras, mastite, dentre outros). As mudanças ocorridas na sociedade moderna tais como: estrutura familiar, alteração do papel desempenhado pela mulher 1 Acadêmica - Ciências da Saúde UniFOA 2 Especialista - Ciências da Saúde UniFOA 3 Doutor - Ciências da Saúde UniFOA e valorização das mamas como símbolo sexual, causaram impacto no estímulo ao aleitamento materno. (GARCIA-MONTRONE & DE ROSE,1996) Sendo assim, tornam-se necessárias estratégias focadas no aspecto educativo, abrangendo a importância do Aleitamento Materno Exclusivo (AME), incluindo a instrução das mães sobre a forma correta de amamentar e de técnicas especiais para compatibilizar suas funções no mundo moderno com o papel de mãe amamentadora. (GRACIA-MONTRONE & DE ROSE,1996) Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho foi verificar a prevalência do aleitamento materno exclusivo até o 4º mês de vida em menores de um ano de idade, no PSF Vila Rica em Volta Redonda, RJ, e comparar a incidência de AME no âmbito público e privado. A avaliação da prática do aleitamento materno envolveu entrevistas com as mães, envolvendo questões relacionadas ao
12 nível sócio-econômico, pré-natal e história alimentar. particular, 19 (50%) realizaram o pré-natal na rede pública. (GRÁFICO: 1 A) 2. Casuística e Métodos O Conjunto Habitacional Vila Rica é um bairro do município de Volta Redonda, estado do Rio de Janeiro. Situado na Zona Sul da cidade, este bairro, criado a partir de um acordo entre a Companhia Siderúrgica Nacional no início da década de 90, é predominantemente residencial. É um dos bairros que mais crescem em Volta Redonda contando, atualmente, com cerca de 15 mil moradores pertencentes, em sua maioria à classe média. Foi realizado um estudo transversal no bairro Vila Rica entre os meses de Abril e Maio de 2008 onde foram aplicadas entrevistas em 38 mães de crianças entre 4 meses e 1 ano de vida. As entrevistas foram realizadas por acadêmicos do 5º ano do curso de Medicina do Centro Universitário de Volta Redonda- RJ, através de um questionário aplicado às mães ou responsáveis das crianças no posto de saúde do bairro Vila Rica e durante visitas domiciliares. O questionário é composto de perguntas objetivas sobre a condição sócioeconômica, realização do pré-natal, orientação sobre a importância do aleitamento materno, tempo do aleitamento materno exclusivo e causa do desmame. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define aleitamento materno como o mecanismo pelo qual o lactente recebe leite materno independentemente de consumir outros alimentos. A criança é considerada em aleitamento materno exclusivo quando ela recebe somente leite humano, seja através da sua mãe, nutriz ou leite materno extraído; não recebendo outro alimento líquido ou sólido, exceto gotas ou xaropes de vitaminas, complementos minerais ou medicamentos. Quando ocorre a interrupção da amamentação antes dos quatro meses de vida do lactente é considerado desmame precoce. (WHO,1995) 3. Resultados Do total de 38 mães participantes, 19(50%) realizaram o pré-natal na rede Do total das 19 mães que realizaram o pré-natal em rede particular, 17 (89,48%) receberam orientação quanto à importância do aleitamento materno, e 2 (10,52%) não receberam orientação. Das 19 mães que realizaram o pré-natal em rede pública, 17 (89,48%) receberam orientação quanto à importância do aleitamento materno, enquanto que 2 (10,56%) não foram orientadas. (GRÁFICO: 2 A) Das 19 mães que realizaram o pré-natal em rede particular, 6 (31,58%) amamentaram exclusivamente até o 4º mês e 13 (68,42%) não amamentaram até o 4º mês. Das 19 mães que realizaram o pré-natal em rede pública, 9 (47,37%) amamentaram exclusivamente até o 4º mês e 10 (52,63%) não amamentaram exclusivamente até o 4º mês. (GRÁFICO: 3 A) Das 13 mães que realizaram o prénatal na rede particular e que não amamentaram exclusivamente até o 4º mês, 1 (7,69%) o fizeram por aconselhamento médico, 1 (7,69%) por recusa alimentar da criança,
1(7,69%) por pequeno ganho de peso ponderal da criança, 1 (7,69%) por trabalho materno, 2 (15,39%) por opção materna, 1 (7,69%) por falta de produção de leite materno, 1 (7,69%) por permanência da criança na UTI nenonatal e 5 (38,47%) por outros motivos. (GRÁFICO 4 A) Das 10 mães que realizaram o prénatal na rede pública e que não amamentaram exclusivamente até o 4º mês, 1 (10%) o fez por recusa alimentar, 2 (20%) por trabalho materno, 3 (30%) por falta de produção de leite materno, 2 (20%) por fissura mamária e 2 (20%) por outros motivos. (GRÁFICO 4 B) 4. Discussão Este estudo revelou que 50% das mulheres dos bairros Vila Rica e Jardim Tiradentes realizam pré-natal em rede particular e os outros 50% das mulheres realizam pré-natal na pública. Sendo que 89,48% das mulheres que realizaram o prénatal tanto na rede particular quanto na rede pública disseram receber orientação sobre a importância do aleitamento materno. Verificou-se que 31,58% das mulheres que realizaram pré-natal na rede particular praticaram o aleitamento materno exclusivo até o 4º mês de vida de seus filhos, enquanto que das que realizaram pré-natal na rede pública a porcentagem encontrada foi de 47,37%. As mães que realizaram o pré-natal em rede pública, além de terem sido orientadas sobre a importância do aleitamento materno durante as consultas, também foram alocadas para as sessões de grupo onde foram encorajadas pelos profissionais de saúde do posto a trocar experiências. Entre os tópicos abordados estavam os benefícios da amamentação, como o leite materno é produzido, como fazer a ordenha e a estocagem do leite para conciliar amamentação e trabalho. Já as mães que realizaram pré-natal na rede particular, apesar de terem recebido orientação, não participaram de grupos de apoio. (CARVALHO & TAMEZ,2005) Dentre as causas de desmame encontradas, verificou-se que das mães que realizaram o pré-natal na rede particular a mais prevalente foi a opção materna, enquanto que para as mães que realizaram o pré-natal na rede pública problemas relacionados com a produção do leite materno foi a causa mais citada. Através de um estudo realizado no interior de São Paulo que utilizou um programa educacional elaborado por Garcia-Montrone, pode-se comprovar que quando devidamente instruídas e acompanhadas, mais da metade das mães realizaram aleitamento exclusivo até o sexto mês de vida das crianças, enquanto que com as mães que não participaram do programa ocorreu desmame precoce. (GARCIA-MONTRONE & DE ROSE,1996) Desta forma, através dos resultados obtidos verificamos o quão importantes são os programas de orientação e estimulação do aleitamento materno. Na rede pública podemos encontrar grupos de gestantes nos postos de saúde, que além de receberem instrução, também têm a oportunidade de trocar experiências e aconselharem-se. Na rede particular, além da orientação que deve ser dada durante as consultas de pré-natal, é importante que sejam formados grupos na sala de espera para que se tenha uma proximidade maior com as mães. GARCIA- MONTRONE & DE ROSE,1996; BELEZA et al, 2006) 5. Conclusão Uma das mais valiosas importâncias da Medicina Preventiva foi e continua sendo o desenvolvimento e aprimoramento contínuo da assistência pré-natal prestada a diversas 13
14 mulheres de diferentes classes sociais e localidades. Em relação à orientação dada às gestantes, os números encontrados tanto na rede pública quanto na rede privada são exatamente iguais. Porém, ao compararmos as mães que amamentaram exclusivamente seus filhos até o quarto mês de vida na rede pública e na rede particular, encontramos uma porcentagem maior nas mães que realizaram o pré-natal em rede pública. Nesse contexto inserem-se as políticas públicas na promoção do aleitamento materno exclusivo, as quais são de suma importância para que as mães sejam informadas dos benefícios do leite materno, sejam orientadas em relação à forma correta de amamentar e que tenham o estímulo e a segurança necessários para que o AME seja praticado com sucesso. (BELEZA et al.,2008). Pública v.12 n.1, Rio de Janeiro, janeiro/março, 1996. Disponível em: http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0102-31 1X1996000100017&nrm=iso&lng=pt&tlng= pt Acesso em: 5 de junho de 2008. KUMMER, C.S., GIUGLIANI, E.R.J., SUSIN, L.O., FOLLETTO, J.L., LEMEN, N.R., WU,V.Y.J., SANTOS, L. e CAETANO, M.B. Evolução do padrão de aleitamento materno. Revista de Saúde Pública v.34 n.2, São Paulo, abril, 2000. Disponível em: http:// www.scielo.br/scielo.php?pid=s0034-89102 000000200007&script=sci_arttext&tlng=en Acesso em: 5 de junho de 2008. WHO - World Health Organization. The World Health Organization s infant-feeding recommendation. Bull World Health Organ 1995;73:165-74. 6. Referências BELEZA, A.C.S., NAKANO, A.M.S., FERREIRA, C.H.J. e PITANGUI, A.C.R. Orientações sobre o Aleitamento Materno Inseridas na Prática do Cuidado Pré-Natal no Brasil. Revista Fafibe On Line ano.2 n.2, Bebedouro, maio, 2006. Disponível em: http://www.fafibe. br/revistaonline/arquivos/anacarolina_ orientacoesaleitamentomaternopre_natal.pdf Acesso em: 7 de junho de 2008. CAMILO, D.F., CARVALHO, R.V.B., OLIVEIRA, E.F. e MOURA, E.C. Prevalência da amamentação em crianças menores de dois anos vacinadas nos centros de saúde escola. Revista de Nutrição v.17 n.1, Campinas, janeiro/março, 2004. Disponível em: http:// www.scielo.br/scielo.php?pid=s1415-52732 004000100003&script=sci_arttext&tlng=es Acesso em: 7 de junho de 2008. CARVALHO, M.R. e TAMEZ, R.N. Amamentação: bases científicas. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. GARCIA-MONTRONE, V. e DE ROSE, J.C. Uma experiência educacional de incentivo ao aleitamento materno e estimulação do bebê, para mães de nível sócio-econômico baixo: estudo preliminar 1. Cadernos de Saúde
7. Anexos Questionário Saúde Coletiva PSF Vila Rica Amamentação 15 1) Identificação: Nome: Sexo: ( ) masculino ( ) feminino Endereço: Data de nascimento: 2) Situação sócio-familiar: Nome da mãe: Idade: Escolaridade: Etilista ( ) tabagista ( ) Nome da pai: Idade: Escolaridade: Etilista ( ) tabagista ( ) Nº de irmãos: nº de outros moradores: nº de pessoas que trabalham: 3) Habitação: Alvenaria( ) madeira( ) estuque( ) outros: Rede elétrica? Sim( ) não ( ) outros: Água? Encanada( ) poço( ) mina ( ) outros: Esgoto? Rede ( ) fossa ( ) vala ( ) Ensolação:adequada( ) inadequada( ) 4) Pré- natal Foi realizada consultas de pré - natal? ( ) sim ( ) não Quantas? 1 a 2 ( ) 3 a 4 ( ) 4 a 6 ( ) mais de 6 ( ) Onde foi realizado as consultas? público baixo risco( ) público alto risco ( ) particular( ) Foi orientada sobre a importância do aleitamento materno? Sim ( ) não ( ) Teve alguma complicação durante a gravidez? Sim ( ) não ( ) 5) Antecedentes pessoais, obstétricos e perinatais Teste do pezinho normal? Sim ( ) não ( ) não fez ( ) Vacinação: em dia ( ) incompleta ( ) Internações? Sim ( ) não ( ) Mãe - idade nesta gestação: gesta: para: filhos vivos: Doenças maternas na gestação: Medicamentos utilizados: Parto: hospitalar ( ) domiciliar ( ) pré-termo ( ) a termo ( ) pós-termo ( ) normal ( ) cesariana ( ) fórceps ( ) simples ( ) múltiplo ( ) Peso ao nascer? Estatura? Apgar: 1º 2º Reanimação? Sim ( ) não ( ) Patologias do período peri-natal: hiperbilirrubinemia ( ) Patologia Neurológica ( ), Anomalias congênitas ( ), Trauma ( )
16 Dificuldades respiratórias ( ), Sífilis ( ), Outros ( ) Alta do RN: sadio ( ) patológico ( ) Puericultura: posto de saúde ( ) hospital ( ) particular ( ) 6) História alimentar Teve aleitamento materno exlusivo? menos de 4 meses ( ) até 4 meses ( ) até 6 meses ( ) mais de 6 meses ( ) Causa do desmame: Tipo de leite substituto? Há alguma intolerância alimentar? Sim ( ) não ( ) tipo: vômito ( ) regurgitação ( ) cólica ( ) diarréia ( ) Há alguma dificuldade alimentar? Sim ( ) não ( ) Faz uso de suplementação vitamínica ou de ferro: sim ( ) não ( ) Informações bibliográficas: Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: SILVA, C. O. M.; SILVA, M. O.; PERUSSO, M. K. J.; COSTA, C. R. O.; GENESTRA, M.. Aleitamento Materno Exclusivo (AME), pré-natal particular e pré-natal público: estudo de casos cadastrados em um Programa de Saúde da Família do sul fluminense, Volta Redonda, ano III, edição especial, outubro. 2008. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/pesquisa/caderno/ especiais/pmvr/11pdf>