PERFIL DE CRIANÇAS ATENDIDAS EM UMA UNIDADE DE SAÚDE DA ZONA RURAL DE UM MUNICÍPIO BAIANO: ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM
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1 1206 PERFIL DE CRIANÇAS ATENDIDAS EM UMA UNIDADE DE SAÚDE DA ZONA RURAL DE UM MUNICÍPIO BAIANO: ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM Juliana Alves Leite Leal 1 ; Elisângela Lopes dos Ramos²; Mariana Helena Maranhão de Carvalho³; Natali Rosa de Oliveira 4 ; Daniela Carlos Lopes Carneiro 5 1 Orientadora. Enfermeira. Mestre em Saúde Coletiva. Doutoranda em Enfermagem (UFBA). Professora Assistente da Universidade Estadual de Feira de Santana UEFS. julileite@hotmail.com ² Discente do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Feira de Santana UEFS. ellyramoos@gmail.com ³ Discente do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Feira de Santana UEFS. maryana.maranhao@hotmail.com 4 Discente do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Feira de Santana UEFS. natali_rosa@ymail.com 5 Enfermeira do Programa de Saúde da Família do município de Feira de Santana BA. danielaclc28@gmail.com Palavras-chave: Saúde da Criança, Puericultura, Enfermagem. INTRODUÇÃO Desde 1984, foram adotadas pelo Ministério da Saúde (MS), ações básicas que possuem eficácia comprovada na redução da mortalidade infantil. Dentre as ações, a prevenção e controle das doenças diarréicas e das infecções respiratórias agudas foram enfatizadas através da Estratégia AIDPI Atenção Integrada as Doenças Prevalentes na Infância, de 1996, visando reduzir a mortalidade na infância e contribuir para o crescimento e desenvolvimento saudáveis das crianças, principalmente nas regiões menos desenvolvidas do Brasil (BRASIL, 2002). Em 1994, com o Programa Saúde da Família (PSF), uma estratégia de reorientação do modelo assistencial a partir da atenção básica, incrementou a capacidade resolutiva dos serviços de saúde na atenção à criança. Estudos apontam um declínio nas taxas de mortalidade infantil pelo aumento da cobertura vacinal, terapia de reidratação oral, ampliação dos serviços de saúde, redução da fecundidade, melhoria das condições ambientas e aumento do grau de escolaridade das mães e das taxas de aleitamento materno (FROTA et al, 2010). Tendo em vista uma melhor qualidade no atendimento às crianças, o Ministério da Saúde estabeleceu um calendário mínimo de nove consultas no primeiro ano de vida e seu início precoce antes dos 15 dias de vida, momento favorável para a realização de teste do pezinho, da orelhinha, orientação sobre imunização, aleitamento materno e cuidados gerais para com a criança e apoio psicológico à puérpera (BRASIL, 2002). Nas consultas de enfermagem de Acompanhamento do Crescimento e Desenvolvimento da Criança (ACDC), além dessas orientações, são realizadas e avaliadas medidas antropométricas, como peso/idade, estatura/idade, peso/estatura, utilizados para avaliar o processo de crescimento e desenvolvimento da criança, sendo possível estabelecer condutas dirigidas aos processos patológicos, adequadas a cada idade, em um processo contínuo de educação em saúde. Entendendo a importância e valorizando a atuação de enfermeiros no atendimento de crianças em consultas de ACDC, este artigo tem como objetivo descrever o perfil das crianças de zero a três anos de vida atendidas nas consultas de ACDC, realizadas pelas discentes do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Feira de Santana, na Unidade de Saúde da Família (USF) São José I, em Feira de Santana-BA, METODOLOGIA
2 1207 Estudo quantitativo, tipo corte transversal, realizado na USF São José I, no município de Feira de Santana-BA. A unidade de saúde situa-se na zona rural de um município do semiárido baiano e possui aproximadamente 1395 famílias cadastradas, acompanhando cerca de 154 crianças com idade inferior a três anos. Foram analisados 109 prontuários de crianças atendidas nas consultas de ACDC, na faixa etária de zero a três anos, entre outubro a dezembro de Sete prontuários foram excluídos da pesquisa devido à falta de dados, sendo a amostra final constituída por 102 prontuários (N=102). Os dados secundários foram obtidos dos prontuários e transcritos para uma ficha específica e analisados, através das frequências simples e absoluta das variáveis: idade, alimentação, situação nutricional e vacinal. RESULTADOS E DISCUSSÃO Do total de 102 crianças selecionadas para o estudo, 44,1% (45) encontravam-se na faixa etária de um a dois anos, seguida de 28,5% (29) com idade entre seis meses e um ano de vida (Tabela 01). O Ministério da Saúde recomenda a primeira consulta do recém-nascido nos primeiros quinze dias de vida, sendo estimado um número mínimo de sete consultas subsequentes no primeiro ano, duas consultas no segundo ano e uma consulta no terceiro ano de vida (BRASIL, 2002). Nessa perspectiva, é fundamental a adoção de medidas que promovam uma maior participação do binômio mãe-criança. Tabela 1: Distribuição de crianças, de 0 a 3 anos de idade, atendidas nas consultas de ACDC na USF São José I, segundo faixa etária e sexo, Feira de Santana/BA, Faixa etária n % 0 a 28 dias 3 2,9 29 dias a 5m e 30 dias 22 21,6 6 m a 11m e 30 dias 29 28,5 12 m a 23 m e 30 dias 45 44,1 > 24 meses 3 2,9 Total ,0 Em relação à situação vacinal, constatou-se que 82,4% (84) das crianças apresentavam esquema vacinal básico completo, seguido de 17,6% (18) que apresentaram cartão vacinal desatualizado. A vacinação é uma ferramenta essencial na prevenção de diversas doenças na infância e dentre as estratégias recomendadas para se atingir elevadas coberturas vacinais, destacam-se os sistemas de alerta para incentivar a adesão às vacinações agendadas, a atualização de esquemas de vacinação atrasados e o aprimoramento do monitoramento das coberturas vacinais (LUHM, WALDMAN, 2008). Ao associar tipo de alimentação e faixa etária, observou-se que das 25 crianças na faixa etária de zero a seis meses de idade, 68% (17) faziam uso de aleitamento materno exclusivo (AME), 28% (07) aleitamento misto (AM) e 4% (01) alimentação artificial (AA). Tabela 02: Distribuição de crianças, de 0 a 3 anos de idade, atendidas nas consultas de ACDC na USF São José I, segundo a faixa etária e tipo de alimentação, Feira de Santana/BA, TIPO DE ALIMENTAÇÃO
3 1208 AME AM AA Total Idade n % n % n % n % < de 6 meses 17 16,7 07 6,9 01 0, ,5 > 6 meses 1 0, , , ,5 Total 18 17, , , ,0 Legenda: AME Aleitamento Materno Exclusivo; AM Alimentação Mista; AA Aleitamento Artificial. Até os seis meses de vida o bebê não necessita de nenhum outro alimento (chá, suco, água ou outro leite) além do leite materno. Dessa forma, o AME é essencial, pois, além de servir como fonte nutricional, atua fortalecendo o sistema imunológico da criança e o vínculo entre mãe-filho. Quando a criança recebe, além do leite materno, qualquer alimento sólido ou semisólido com a finalidade de complementá-lo, e não de substituí-lo, está em uso de alimentação mista (BRASIL, 2009). A introdução de novos alimentos (carne, verduras, frutas e cereais) é fundamental ao crescimento e desenvolvimento da criança, e deve acontecer aos seis meses de vida como forma de complementar o leite materno. Durante muito tempo o leite artificial foi utilizado de forma inadequada para substituir o leite materno. Desde a antiguidade há relatos do uso do leite artificial, onde, na ausência de leite humano, as famílias eram orientadas a dar leite de vaca ou cabra para o bebê. O colostro era reconhecido como inadequado, e por isso havia uma maior aceitabilidade da alimentação artificial por parte da sociedade e dos médicos (FILDES, 1986). O peso, a estatura e as proporções corporais são meios de avaliar o crescimento infantil. Para esse acompanhamento, os profissionais de saúde utilizam gráficos de peso e curvas de crescimentos presentes no Cartão de Saúde da Criança, preconizado e recomendado pelo MS, como forma de identificar precocemente os casos de desnutrição, baixo peso, e sobrepeso. Tabela 03: Distribuição de crianças, de 0 a 3 anos de idade, atendidas nas consultas de ACDC na USF São José I, segundo Situação Nutricional e Tipo de Alimentação, Feira de Santana/BA, TIPO DE ALIMENTAÇÃO Situação Nutricional AME AM AA TOTAL n % n % n % n % Sobrepeso (>P97) , ,9 Peso Ideal (P10 a P97) 15 14, , , ,2 Risco Para Baixo Peso ,8 01 0,9 08 7,8 (P3 a P10) Baixo peso (<P3) , ,9 TOTAL 15 14, , , ,0 Legenda: AME Aleitamento Materno Exclusivo; AM Alimentação Mista; AA Aleitamento Artificial. A maior parte da população do estudo, 90 crianças, conforme tabela 03, se encontra entre os percentis 10 e 97, o que significa que se enquadram na faixa de peso ideal. Dessas 90
4 1209 crianças, 67 faziam uso do leite materno, seja de forma exclusiva ou complementada. Em estudos científicos, a superioridade do leite materno sobre os leites de outras espécies já está devidamente comprovada (BRASIL, 2009). Em relação ao sobrepeso, o estudo apontou uma frequência de 2,9% (3). Vale ressaltar que 100% dessas crianças com sobrepeso faziam uso de uma alimentação mista. Segundo a Organização Mundial de Saúde sobre evidências do efeito do aleitamento materno a longo prazo, os indivíduos amamentados tiveram uma chance 22% menor de apresentarem sobrepeso/obesidade (BRASIL, 2009). Evidenciou-se no estudo que 100% das crianças com baixo peso e com risco para baixo peso, faziam uso de uma alimentação mista ou artificial. Além disso, diarréia, infecções respiratórias, bem como o manejo inadequado da amamentação, aumentam as chances de crianças apresentarem quadros de baixo peso. CONCLUSÕES A maioria das crianças da amostra apresentavam boas condições de saúde no momento da consulta de ACDC. O acompanhamento mensal das crianças pelo enfermeiro é uma estratégia fundamental na prevenção de agravos à saúde infantil e na promoção de uma melhor qualidade de vida da população assistida. Entretanto, verificamos a necessidade de uma maior vigilância à saúde na infância, em decorrência do aparecimento de intercorrências e patologias evitáveis em algumas das crianças da amostra. É necessário que as informações e orientações realizadas às mães/família sejam precisas, para que no momento da consulta as genitoras possam absorver o máximo do conhecimento passado pelo profissional de saúde, tornando-o útil no cuidado com o seu filho. Além disso, as informações sobre peso e desenvolvimento infantil coletadas durante a avaliação do crescimento e desenvolvimento da criança, facilitam o diálogo e o aconselhamento com a mãe ou responsável, partindo-se de indicadores de saúde de fácil compreensão e próximos de seu universo cultural. Contudo, é preciso compromisso e responsabilidade dos enfermeiros nas consultas de ACDC, além de ter conhecimento sobre o contexto socioeconômico e cultural em que a criança está inserida e, assim, estabelecer medidas que visem uma melhor assistência, de forma integral, contribuindo, assim, para o fortalecimento das ações voltadas à saúde da criança. REFERÊNCIAS BRASIL, Ministério da Saúde. Saúde da Criança: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento. Série de cadernos de atenção básica. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde; 2002a. BRASIL, Ministério da Saúde. DEZ PASSOS PARA UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL: Guia alimentar para crianças menores de 2 anos. Série A normas e manuais técnicos. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde; 2002b. BRASIL, Ministério da Saúde. Nutrição Infantil: aleitamento materno e alimentação complementar. Série A Normas e Manuais Técnicos. Cadernos de atenção básica - nº 23. Brasília DF, FILDES,V.A. Breasts, bottles and babies: a history of infant feeding. Edinburgh: Edinburgh University Press, 1986.
5 1210 FROTA,M.A.; MAIA, J.A.; PEREIRA, A.S.; NOBRE, C.S.; VIEIRA, L.J.E.S. Reflexões sobre políticas públicas e estratégias na saúde integral da criança. Enfermagem em Foco, v.1, n.3, LUHM K.R.; WALDEMAN E.A. Sistema Informatizado de Registro de Imunização: uma revisão com enfoque na saúde infantil, 2008.
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