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Transcrição:

Coelho-bravo Nome comum: Coelho-bravo Nome científico: Oryctolagus cuniculus Peso: 1,2 a 2 Kg Comprimento: 35 a 50 cm Fenologia: Residente Espécie cinegética de pêlo, bastante apreciada pelos caçadores portugueses, pois era, até meados do século passado, muito abundante. A redução das populações deste lagomorfo na Península Ibérica deve-se a uma conjugação de factores: dois focos de doenças, mixomatose (1960) e hemorrágica viral (1990); maior competição com herbívoros de grande porte; elevada densidade de predadores generalistas, principalmente de raposa (Vulpes vulpes); acção do Homem; perda do uso tradicional do solo e consequente abandono da terra. A sua área de distribuição estende-se muito para além dos locais de onde é originário. Devido às alterações do uso do solo, à introdução de animais e à sua elevada plasticidade e adaptabilidade a diversas condições e habitats, encontra-se hoje por toda a Europa, pelo Norte de África (com particular incidência em Marrocos e na Argélia), Austrália, Nova Zelândia, Argentina e Chile. Em Portugal encontra-se em todas as regiões do continente, bem como nos Açores e na Madeira, onde foi introduzido pelos navegadores portugueses. Como curiosidade podese citar o caso da introdução dos coelhos na ilha de Porto Santo (em 1418 por Bartolomeu Perestrelo), relatada nos escritos da época, que se diz responsável pelo seu abandono em detrimento da ilha da Madeira, pois passado alguns anos nada do que se semeava dava fruto, pois estava roído. O pêlo é de uma cor pardo acinzentada terrosa, mais escura na cabeça do que no

dorso, à excepção do ventre e da parte externa das coxas que são brancos. As orelhas, medindo entre 6,5 a 7,5 cm, são acinzentadas na metade posterior (da mesma cor que o resto do corpo na parte anterior) e os pêlos do bordo anterior são esbranquiçados. À volta dos olhos apresentam um círculo claro mal definido. Os bigodes são castanhos e pouco compridos. A cauda é cinzento acastanhada na parte de cima e branca por baixo, formando um pequeno tufo (com 4 a 6 cm). As patas posteriores são alongadas (podem ter 8 a 9 cm) de cor parda acinzentadas claras, apresentando uma risca branca larga. As unhas são grandes e afiadas, constituindo uma ferramenta imprescindível para a escavação de tocas e para ajudar à rápida fuga. Esta espécie não apresenta dimorfismo sexual, pelo que somente se faz a distinção pela observação directa dos órgãos sexuais, embora as fêmeas tendam a ser mais compridas e pesadas. É bastante sociável vivendo em colónias (diminuindo o risco de predação). Constrói tocas comunitárias (com uma profundidade entre os 0,5 e os 1,50 metros) constituídas por numerosas e extensas galerias ligadas entre si com várias entradas e saídas. A distribuição das tocas (e das entradas e saídas) está relacionada com o tipo de solo, de relevo, da água, da presença de árvores, da disponibilidade de alimento. Existe alguma preferência por locais com arbustos mais altos e por zonas adjacentes às árvores (pois a estrutura radicular favorece a agregação do solo, diminuindo a probabilidade das tocas ruírem). Existem tocas específicas para os partos (normalmente situadas perto das tocas das colónias) a uma profundidade de 50 cm a 1 metro, que são construídas cerca de dois dias antes do parto. A preparação destas tocas é da responsabilidade da fêmea. No fundo destas tocas ela dispõe ervas, folhas secas e pelos que arranca do seu próprio ventre. As crias permanecem aí durante 19 a 21 dias, passando então para as tocas de habitação das colónias. Passado seis meses após o parto, os juvenis tornam-se adultos.

Costumam fazer também tocas de recurso mais ou menos dispersas junto a locais de alimentação e locais de cama ao ar livre, locais onde se estendem ao sol (em dias de bom tempo), abrigados do vento e escondidos pela densa vegetação. Normalmente não se afastam muito dos trilhos definidos e a vigilância é realizada por todos. Não vê bem em frente (visão lateral é melhor), mas a audição é excelente (apoiada pelas longas orelhas) bem como o olfacto (por isso os movimentos constantes do nariz). É vulgar ver os coelhos em alerta, erguidos sobre as patas traseiras, com as anteriores pendentes, e ao mais pequeno sinal de perigo, batem com as patas traseiras no solo produzindo um som de alarme (os restantes membros da colónia fogem para os abrigos mais próximos). O macho delimita o território da colónia e é responsável por expulsar os intrusos. Um macho pode ter várias fêmeas (espécie poligâmica) e têm a capacidade de poder reproduzir-se em qualquer altura do ano, caso ocorram condições favoráveis de clima e alimentação. A taxa de reprodução máxima é verificada nos meses de Janeiro a Maio (por isso os repovoamentos não devem ser efectuados nesta altura para não comprometer a reprodução da população natural), e normalmente durante os meses de Julho e Setembro não se reproduzem (devido ao clima e falta de alimento). Em média as fêmeas realizam 3 a 5 partos por ano, e a ninhada pode ser constituída por 1 a 7 láparos (que nascem cegos, surdos e sem pêlo) com cerca de 60 grama cada. Num ano normal podemos considerar que a uma fêmea corresponderão, em média, 15 a 20 láparos. Uma população de coelhos saudável, gerida de forma sustentável poderá assim crescer de 3 a 6 vezes num ano. De uma maneira geral, o ciclo reprodutor desta espécie é regulado pelo fotoperíodo. O começo da actividade reprodutiva é regulado pela rebentação da vegetação anual nos fins do Outono. A duração desse ciclo é determinado principalmente pela disponibilidade e qualidade do alimento. As alterações de temperatura e precipitação regulam o final da actividade reprodutora.

Os coelhos são oportunistas no que toca à alimentação, alimentando-se do que o meio lhe oferece. Come os rebentos e outras partes tenras das plantas. Tem preferência por dicotiledóneas e gramíneas, e nas áreas agrícolas come os cereais enquanto estes não estão maduros. Quando a vegetação herbácea escasseia, as raízes, rebentos e cascas de árvores são a base da alimentação. Assim, pode dizer-se que a composição da dieta muda ao longo do tempo e do espaço, consoante as alterações na quantidade e qualidade do alimento disponível. A necessidade em água é suprimida principalmente pela ingestão quer de vegetais suculentos quer de gotas de orvalho, não bebendo normalmente água. É particularmente sensível ao frio e à chuva (em caso de inundações as tocas podem ficar cheias de água), morrendo muitos láparos nas tocas quando estas são inundadas. Normalmente não são encontrados a mais de 1200 metros de altitude, em zonas húmidas e locais com vegetação herbácea densa e alta. A utilização do coberto como defesa contra predadores varia consoante a altura do dia. Durante as horas de sol a predação por rapinas é maior, e como tal os coelhos tendem a usar locais com vegetação mais densa, para tentarem assim se esconder. Contudo, à noite os mamíferos constituem um perigo maior (na grande maioria dos casos são predadores de emboscada que utilizam a surpresa para atacar) e assim, os coelhos preferem zonas mais abertas onde poderão detectar mais facilmente o perigo não caindo na armadilha. Assim, o coelho altera o seu ciclo circadiano consoante a predação é maior durante a noite ou durante o dia, consoante a disponibilidade de alimento, a distribuição possível de tocas (e de entradas e saídas) e o tipo de coberto.

O habitat preferencial do coelho é aquele onde exista alimento em quantidade suficiente e coberto vegetal de protecção, e são normalmente estas duas características que determinam a adequação da espécie ao local. Tem preferência por zonas de paisagem diversificada e fragmentada, com parcelas agrícolas, de pastagem, de matos, caracterizadas por elevadas densidades de zonas limites (várias opções de habitat para que o coelho possa escolher aquela que melhor se adaptará às condições de cada momento), que forneça alimento, abrigo contra as condições atmosféricas adversas e predadores. Como é uma espécie que se cansa rapidamente, a estratégia de fuga está em corridas rápidas e curtas em direcção às tocas ou a locais onde se possa esconder (zonas arbustivas, silvados). De uma maneira geral, pode-se dizer que estes vertebrados não se afastam muito da toca durante o dia. De noite movimentam-se mais frequentemente e percorrem distâncias mais longas (embora nunca de afastando muito da toca). Esta espécie necessita duma gestão cuidada, pois apesar ser uma espécie com elevada taxa de reprodução, nos últimos anos as populações ibéricas têm sofrido uma diminuição devido à ocorrência de duas doenças virais, a mixomatose (surge nos anos 60 e 70 no Algarve) e a doença hemorrágica viral (em 1989), causando ambas uma mortalidade elevada de indivíduos. Os principais surtos de mixomatose dão-se entre Junho e Setembro (podendo prolongar-se pelo Outono), e a transmissão dá-se por contacto directo com animais doentes ou através de insectos (carraças, mosquitos e moscas). Entre Dezembro e Janeiro ocorrem os maiores surtos de hemorrágica viral (podendo acontecer durante o Outono e Inverno), e a transmissão ocorre por contacto directo com indivíduos doentes e através do ar. As profilaxias destas doenças passam pelas vacinas (que está à espera de ver aprovada a sua utilização), pela remoção de animais doentes e mortos, a destruição de tocas infectadas, a desinfecção de focos de insectos e fumigação das entradas das tocas com insecticidas. Também se deve apostar na prevenção, disponibilizando alimento em qualidade e quantidade e a construção de tocas artificias em locais secos. O coelho pode constituir uma praga se o tamanho da população for muito grande. Nestas situações pode ser responsável por danos avultados na agricultura e silvicultura, pois alimenta-se dos rebentos, e como é uma espécie gregária e sedentária, pode provocar alterações na composição e evolução das estruturas vegetais. De Inverno

parte dos estragos podem dever-se à necessidade de usar os incisivos. A actividade herbívora dos coelhos faz-se sentir na produtividade vegetal, na altura das plantas, na diversidade e na regeneração do coberto vegetal, e os efeitos serão mais negativos quanto maior a população. No caso de ocorrer no local uma (ou mais) espécies vegetais que não sejam ingeridas, esta(s) podem-se tornar dominantes. Estes efeitos também se fazem sentir na regeneração de povoamentos florestais, pois para além de consumirem o ápice vegetativo, podem causar danos nos troncos das árvores. Esta acção do coelho foi agravada em alguns países onde foi introduzido, pois devido às alterações do uso do solo e à ausência de predadores tornou-se uma praga, tendo as suas populações atingido dimensões gigantescas. Nas áreas de onde é originária esta espécie constitui a presa preferida de muitos predadores, sendo considerada a base da cadeia trófica da grande maioria dos predadores de médio e grande porte, e nalguns casos existe quase uma exclusividade. É predada não só por predadores generalistas como a raposa, o saca-rabos e o javali, mas também por predadores especialistas como o lince e a águia-imperial-ibérica, duas espécies classificadas como ameaçadas, o que aumenta a importância da gestão racional desta espécie. Mesmo alguns necrófagos têm uma especial apetência por predar esta espécie, como o caso do abutre-do-egipto e do abutre-negro, tendo preferência por animais doentes, pois como não são tão ágeis como as outras rapinas, não conseguem capturar indivíduos adultos e sãos. É necessário assim investir muito na gestão desta espécie, contrariando os efeitos das doenças e de repovoamentos mal feitos. De entre o conjunto de medidas, podemos salientar: Controle das doenças (remoção de animais mortos e de outros possíveis focos de infecção); Alimento disponível em qualidade e quantidade; Locais secos para construção das tocas e construção de tocas artificiais caso necessário; Controle de predadores (principalmente os mamíferos) de acordo com a lei. Deve ser mais cuidado nos parques de adaptação a quando das acções de repovoamento. No caso das aves de rapina, e como estas estão protegidas por lei (e a sua acção também não é prejudicial), deve-se intervir no habitat para que o seu efeito seja diminuído. Assumem também especial importância, e por

isso carecem de especial atenção, os cães e gatos domésticos, que provocam elevada mortalidade nas populações de coelho; Gestão racional da pressão cinegética, tendo em conta os efectivos estimados e os planos anuais de caça; Os repovoamentos devem ser bem feitos (na altura correcta, utilizando parques bem construídos), respeitando o período de quarentena e tendo em atenção a proveniência dos indivíduos (efectivos vacinados e preferencialmente de zonas o mais próximo possível do local onde estes serão largados). Uma última chamada de atenção para a necessidade de estudar profundamente a biologia e dinâmicas das populações que pretendemos gerir. Em muitos dos nossos coutos, opta-se por não caçar coelhos quando estes são em pequeno número (ou por outras decisões do género). Em algumas províncias de Espanha já é permitido caçar nos finais da Primavera, pois nesta altura o impacto da caça não se fará sentir na viabilidade da população para o ano seguinte. A recuperação das populações bravias deste pequeno herbívoro é fundamental não só para o sector cinegético e para a economia das populações rurais, mas também para a conservação dos recursos naturais do nosso país. António Heitor Departamento Técnico da CONFAGRI Bibliografia recomendada Angulo, E. & Villafuerte, R. (2003). Modelling hunting strategies for the conservation of wild rabbit populations. Biological Conservation, 115, 291 301. Lombardi, L., Fernández, N., Moreno, S. & Villafuerte, R. (2003). Habitat-related differences in rabbit (Oryctolagus cuniculus) abundance, distribution, and activity. Journal of Mamalogy, 84(1), 26 36.

Villafuerte, R., Lazo, A. & Moreno, S. (1997). Influence of food abundance and quality on rabbit fluctuations: conservation and management implications in Doñana National Park (SW Spain). Rev. Ecol. (Terre Vie), 52, 345 356. Agradecimentos Ao Pedro Vaz Pinto e ao Miguel Bugalho, por gentilmente nos terem cedido algumas imagens.