SEXUALIDADE E LOGOTERAPIA: UM ESTUDO COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES DEFICIENTES VISUAIS

Documentos relacionados
Projeto Atitude para Curtir a Vida e a importância da educação sexual no ensino fundamental

DEFICIÊNCIA VISUAL NA REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL: MAPEAMENTO DAS PRODUÇÕES CIENTÍFICAS ENTRE 2008 E

ADOLESCÊNCIA E SEXUALIDADE: INFLUÊNCIA DO CONHECIMENTO EMPÍRICO NO COMPORTAMENTO SEXUAL DE RISCO

Amauri de Oliveira Jesus Universidade do Estado da Bahia

O SENTIDO DA VIDA SOB A ÓTICA DE UM GRUPO DE IDOSOS

5 A pesquisa de campo

FAMÍLIA, ESCOLA E ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO: DESAFIOS E PERSPECTIVAS.

Maria Santa Simplicio da Silva

O estirão Nos meninos, ocorre entre 14 e 16 anos. Nas meninas entre 11 e 12 anos. É a fase que mais se cresce.

situado à 187 km da cidade do Recife. O município dispõe de 8 Escolas Municipais,

PROGRAMA: DST/AIDS/UENF PROJETO: TRANSFORMANDO VIDAS: Formação de multiplicadores para a prevenção das IST/AIDS

CONSIDERAÇÕES SOBRE O DESENVOLVIMENTO DE UMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO SEXUAL EM UMA ESCOLA PÚBLICA DO MUNIÍPIO DE IPORÁ, GOIÁS, BRASIL

Palavras chaves: Síndrome de Down, sexualidade, representações sociais

Congresso Nacional de História da Universidade Federal de Goiás Campus Jataí (1.:2010:Jataí,GO)

Pesquisa de opinião Você está satisfeito com a sua vida conjugal?

Relato de caso: educação sexual para crianças e adolescentes.

ABORDAGEM DA SEXUALIDADE NO CONTEXTO DA VIOLÊNCIA. Marcos Antonio Ribeiro Moraes Coordenação de DST/Aids SPAIS - SMS -GO

V Encontro de Pesquisa em Educação Física

GÊNERO E SEXUALIDADE NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES. Palavras-chave: Formação de professores. Prática pedagógica. Diversidade de gênero.

Sexualidade e TEA. Modos de subjetivação do sujeito com deficiência no discurso midiático. Ana Cláudia Serra Passos Psicóloga Sexóloga Psicanalista

TRABALHANDO O PRECONCEITO E A ACESSIBILIDADE A PARTIR DE UMA INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL: PERCEPÇÕES DE PROFESSORES E ALUNOS DO 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA ESCOLA COMO ESTRATÉGIA DE PREVENÇÃO DE ISTS E GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA

II SIEPS XX ENFERMAIO I MOSTRA DO INTERNATO EM ENFERMAGEM

GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA NUMA ESCOLA PÚBLICA NA CIDADE DE AREIA: um trabalho educativo

EDUCAÇÃO SEXUAL INFANTIL: RELATOS DE PAIS E MÃES

SEXUALIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: CONCEPÇÕES DE PROFESSORAS NO MUNICÍPIO DE CAMPINA GRANDE-PB

O PAPEL DAS INTERAÇÕES PROFESSOR-ALUNO NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA

QUEM SOU EU? A BUSCA PELA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NA ADOLESCÊNCIA

ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL LUIZ CLÁUDIO MAGNANTE GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA. Orientadora: Pricila Rocha dos Santos

SEXUALIDADE: O CONHECIMENTO DO CORPO COMO EDUCAÇÃO EMANCIPATÓRIA

A Sexualidade no Lesionado Vertebro Medular e a Intervenção do Enfermeiro de Reabilitação

PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO NO ESPAÇO ESCOLAR: UM ESTUDO DE CASO COM BASE NO PERFIL DE ALUNOS DO 8º E 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL 1

Nesta série de textos, será tratado o capítulo sétimo da exortação que trata exclusivamente dos filhos. Sete temas serão abordados:

ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO MARÇAL RAMOS PORNOGRAFIA, SENSUALIDADE E VULGARIDADE. Orientadora: Carmem Zeli Vargas

INFÂNCIA NA MÍDIA 2010

QUESTÃO 1: Sexo dos entrevistados: Coluna B

Assistência ao Adolescente com Ênfase em Saúde Sexual e Reprodutiva

O PAPEL DAS CRENÇAS NA ORGANIZAÇÃO DO PENSAMENTO HUMANO

Pró-Reitoria de Graduação. Plano de Ensino 1º Quadrimestre de 2016

INSERÇÃO SOCIAL DOS PORTADORES DE DEFICIÊNCIA VISUAL: UM ESTUDO A PARTIR DO TRABALHO ASSALARIADO.

CONSTRUINDO LAÇOS RESILIENTES: ESTUDO SOBRE OS PROCESSOS DE RESILIÊNCIA.

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE PLANO DE ENSINO

A primeira visita ao ginecologista

Carmem Lúcia de Arroxelas Silva; Steófanes Alves Candido; Alessandro Cesar Bernardino; Layanne Kelly Gomes Angelo; Olagide Wagner de Castro.

Publicidade Digital Desenvolvida para a Campanha de Arrecadação de Recursos para a Associação de Cegos Louis Braille 1

ESCOLA, PAIS, AMIGOS E MÍDIA: RELAÇÕES MULTIDISCIPLINARES QUE INFLUENCIAM NA VIVÊNCIA DA SEXUALIDADE SAUDÁVEL DOS ADOLESCENTES.

O AMAMENTAR PARA MÃES COM NECESSIDADES ESPECIAIS

A SEXUALIDADE NO ÂMBITO EDUCACIONAL: UM DILEMA

IFAL Campus Piranhas Engenharia Agronômica Disciplina: Estatística Básica Professor: Ms. Aédson Nascimento Góis

CONHECIMENTO E VISÃO DOS ALUNOS SOBRE EDUCAÇÃO SEXUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL DAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE PALMAS/TO

Biblioteca Falada: Garantindo o Acesso à Informação¹

APLICAÇÃO DO SOROBAN PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA PARA DEFICIENTES VISUAIS Apresentação: Pôster

A IMPORTÂNCIA DA UTILIZAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC S) NA EDUCAÇÃO INFANTIL

TÍTULO: AUTORES: INSTITUIÇÃO: ÁREA - TEMÁTICA

EDUCAÇÃO INCLUSIVA E DIVERSIDADE JUSTIFICATIVA DA OFERTA DO CURSO

ESTILO DE VIDA: PERCEPÇÃO DE SAÚDE E COMPORTAMENTO PREVENTIVO

APÊNDICE 7 ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS DO TCC NO FORMATO DE RELATÓRIO TÉCNICO GERENCIAL

PERCEPÇÃO DE UM GRUPO DE PARATLETAS DO MEIO OESTE CATARINENSE SOBRE A PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA PCD.

CONTRIBUIÇÕES DA PRÁTICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR PARA PORTADORES DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA

Estudo de caso num Centro Comunitário da RAM

METODOLOGIA TIPOS DE PESQUISA

Influência das atitudes dos professores em relação à matemática

CUIDADOS DE ENFERMAGEM ÀS PESSOAS PORTADORAS DE COLOSTOMIA E/OU ILEOSTOMIA NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA: NOTA PRÉVIA

UM PAPO SÉRIO SOBRE SEXUALIDADE 1. Professora de Ciências do Instituto Estadual de Educação Professor Osmar Poppe. 3

TÍTULO: IMPORTÂNCIA DO PROJETO SÓCIO EDUCATIVO COMO INSTRUMENTO DE ENFRENTAMENTO DA VULNERABILIDADE SOCIAL E A MELHORIA NO RELACIONAMENTO FAMILIAR.

É fato! Histórico de BONS RESULTADOS

SEXUALIDADE E ADOLESCÊNCIA

CONTRIBUIÇÕES DE UMA OFICINA SOBRE GENÊRO E SEXUALIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR

Inclusão social dos Surdos na escola: uma visão do professor

A FORMAÇÃO INICIAL DO PEDAGOGO PARA ATUAR NO AMBIENTE HOSPITALAR: LIMITES E PERSPECTIVAS

O DALTONISMO E SUAS LIMITAÇÕES VISUAIS: UM ESTUDO DE CASO NA CIDADE DE QUEIMADAS-PB

PESQUISA DE SATISFAÇÃO DE UMA LOJA DE AUTOPEÇAS DO MUNICÍPIO DE BAMBUÍ-MG RESUMO

INCLUSÃO: UMA PRÁTICA POSSÍVEL NA ESCOLA JOÃO BATISTA LIPPO NETO NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DA CIDADE DO RECIFE.

CONHECENDO AS ADOLESCENTES DO PSF SÃO SEBASTIÃO 1

EDUCAÇÃO INFANTIL E A SEXUALIDADE: O OLHAR DO PROFESSOR

TÍTULO: ENTRE OS LIMITES E AS POSSIBILIDADES DE UMA PERSPECTIVA PEDAGÓGICA COM A CRIANÇA TRANSGÊNERO.

ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO NO PROCESSO DE INCLUSÃO EM ESCOLAS DA REDE MUNICIPAL DA CIDADE DE PATOS- PARAÍBA

EDUCAÇÃO SEXUAL: UM RETRATO HISTÓRICO DO CONHECIMENTO DE ESTUDANTES DA EDUCAÇÃO BÁSICA

A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NO PROCESSO EDUCACIONAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM DEFICIÊNCIA

Adolescência. Matéria: D.B.D.H. II Profa.: Janine Lopes 2º e 3º Períodos de Ed. Física

EDUCAÇÃO SEXUAL: UMA ABORDAGEM NECESSÁRIA NO ÂMBITO EDUCACIONAL Jacineirde Gabriel Arcanjo. Paulo Ricardo dos Santos

Jörg Garbers Ms. de Teologia

Texto de apoio ao curso de Especialização Atividade Física Adaptada e Saúde Prof. Dr. Luzimar Teixeira A Sexualidade do Deficiente Mental

ABORDANDO A TEMÁTICA SEXUALIDADE EM GRUPO DE ADOLESCENTES DO NUCLEO DE ATENÇÃO A SAÚDE INTEGRAL DO ADOLESCENTE (NASA) RIO DAS OSTRAS/RJ

EDUCAÇÃO SEXUAL: UMA ANÁLISE DO CONHECIMENTO DE ESTUDANTES DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO MUNICÍPIO DE UBERABA

A contribuição do movimento humano para a ampliação das linguagens

UMA VISÃO DA CÉLULA PARA TODOS, NA BIOLOGIA DO 1º ANO DO ENSINO MÉDIO

REFLEXÕES SOBRE A FORMAÇÃO PELA PESQUISA SEGUNDO PROFESSORES DO ENSINO MEDIO POLITÉCNICO 1

CAMINHOS E ESCOLHAS: TRAJETÓRIAS, HISTORIAS E VIDA DOS EX- ALUNOS DO IBC QUE SÃO PROFESSORES DO INSTITUTO NO ANO DE 2015

A ORGANIZAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS DE EXTENSÃO DE GINÁSTICA GERAL: REFLEXOS NO PROCESSO FORMATIVO

TÍTULO: A PERCEPÇÃO DOS IDOSOS EM RELAÇÃO AO CONHECIMENTO E PREVENÇÃO DE DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS

PLANO DE DISCIPLINA NOME DO COMPONENTE CURRICULAR: Sociologia III CURSO: Técnico em Edificações Integrado ao Ensino Médio ANO: 3º ANO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS CENTRO DE ENSINO E PESQUISA APLICADO À EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA ENSINO FUNDAMENTAL

A FORMAÇÃO CONTINUADA NO CONTEXTO ESCOLAR: O QUE REVELAM OS PROFESSORES?

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA CENTRO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CEAD PLANO DE ENSINO

Palavras-chave: Educação sexual, gênero, diversidade sexual, adolescência, identidade sexual.

EXPERIMENTOTECA: UM RECURSO DIDÁTICO PARA AUXILIAR A APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

O RACIOCÍNIO PROPORCIONAL UTILIZADO PELOS ALUNOS DO 1 ANO DO ENSINO MÉDIO AO RESOLVER PROBLEMAS

Transcrição:

SEXUALIDADE E LOGOTERAPIA: UM ESTUDO COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES DEFICIENTES VISUAIS INTRODUÇÃO Camila Patrício Guedes cpgcamilaguedes@gmail.com Ênnia Priscila de Melo Costa enniapriscila@hotmail.com Marinalva da Silva Mota marinasmota@gmail.com Victória Rayane Silva Freitas Vivifreitas18@gmail.com A temática central desta pesquisa, qual seja, a sexualidade, tem como base teórica e epistemológica a Logoterapia e Análise Existencial de Viktor Emil Frankl. Para Frankl (1973), o ato sexual deve efetivar-se com naturalidade, numa atitude de entrega, onde os amantes se encontram espiritualmente. Deve ser uma culminância do amor autêntico entre dois parceiros. Para o referido autor a sexualidade nos dias atuais vem sendo banalizada, confundida com o ato sexual limitando-se à liberação de impulsos e à busca de prazer, desconsiderando que se trata de uma dimensão humana, que está presente em todas as experiências que o ser humano vivencia, consigo mesmo e com outras pessoas ao longo de sua existência. Sendo

assim, muito mais que o ato sexual, a sexualidade aqui entendida é expressão da personalidade. Com base nesta visão de sexualidade, as crianças e adolescentes devem ser conscientizados de que as mudanças psicossexuais que ocorrem ao longo do desenvolvimento (PEREIRA, 2005), devem ser orientadas para o encontro verdadeiro com o outro, no amor e na autotranscedência e não apenas no ato sexual, sem amor, responsabilidade ou compromisso. No entanto, crianças e adolescentes têm aprendido do meio sociocultural (sociedade, mídia, família, religião, escola) uma visã o de sexo e sexualidade muitas vezes preconceituosa, confusa e focada no corpo e no prazer, findando por internalizar comportamentos que expressam valores presentes neste meio. Como mencionado anteriormente, a sexualidade nos dias atuais, vem sendo reduzida à liberação do desejo sexual e do prazer físico, reverberando em vários problemas sexuais modernos: sexo livre, prostituição, gravidez na adolescência, bebês mortos ou abandonados, violência sexual, pedofilia, entre outros (PEREIRA, 2005). Neste sentido torna-se imperativo promover educação e orientação sexual, não apenas voltadas para o uso de preservativos, mas para o conhecimento de si mesmo, do corpo e da sexualidade como parte do ser humano integral. Em se tratando de crianças e adolescentes deficientes visuais, faz-se necessário um conhecimento mais apurado a respeito do desenvolvimento psicossexual dos mesmos, uma vez que a deficiência visual limita as informações vindas do meio externo, diminuindo uma grande quantidade de estímulos necessários à construção de conhecimentos do mundo. O que não pode ser interpretado como impedimento ao desenvolvimento da sexualidade e demais dimensões humanas. De acordo com Sá; Campos; Silva (2007) uma das peculiaridades da pessoa cega é a forma de apreensão do mundo exterior, isto é, os deficientes visuais lançam mão dos outros sentidos para estabelecer contato com o meio que os cercam. Ante a ausência da visão, os sentidos como o tato, a audição, o olfato e o paladar, por exemplo, tornam-se mais desenvolvidos por força da necessidade.

É sabido que, o final da infância e início da adolescência são etapas do desenvolvimento psicossexual marcadas por modificações físicas e subjetivas, que despertam nos meninos e meninas novos desejos, fantasias e incertezas, que envolvem a sexualidade. Assim, questionamos: Como os púberes e adolescentes deficientes visuais têm vivenciado tais mudanças? Que conhecimentos têm a respeito do corpo e suas transformações biológicas? Para eles/elas o que é sexo, sexualidade e suas expressões? Quais dúvidas e expectativas são geradas em torno de si mesmos/as e do encontro com o outro? Nesta perspectiva esta pesquisa-ação, de cunho também interventivo, teve como objetivo analisar o desenvolvimento da sexualidade de crianças e adolescentes deficientes visuais, alunos/as do Instituto de Educação e Assistência aos Cegos do Nordeste de Campina Grande-PB. METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo pesquisa-ação. Segundo Thiollent (2011) e Caleffe & Moreira (2008) este é um tipo de pesquisa social com base empírica, na qual há uma ampla interação entre pesquisadores e pessoas envolvidas na situação problema. Este tipo de pesquisa qualitativa demonstra ser o mais indicado para atender os objetivos propostos, uma vez que, os pesquisadores desempenham um papel ativo na resolução ou compreensão das questões levantadas na situação observada, buscando resolver problemas, ampliar o conhecimento e o nível de consciência dos indivíduos alvo da pesquisa. A amostra não aleatória constituiu-se por sete alunos/as deficientes visual, de ambos os sexos, com idade entre 10 e 15 anos, do Instituto de Educação e Assistência aos Cegos do Nordeste de Campina Grande, Paraíba. Para a realização da coleta de dados foram utilizados os seguintes instrumentos: observação participante; questionário sócio demográfico e entrevistas semiestruturadas gravadas em áudio. O primeiro momento foi destinado à aplicação do questionário sócio demográfico e no segundo momento foi realizada a entrevista semiestrutura contendo questões embasadas no tema supracitado, a observação fez parte dos dois momentos. Para análise dos dados coletados teve-se como base a técnica de análise de conteúdo proposta por Bardin (1977) onde, a partir da s observações e

entrevistas aplicadas junto aos sujeitos da pesquisa, fez-se a descrição analítica e interpretação inferencial das informações coletadas. Após a coleta de dados foi realizada intervenção pelos pesquisadores que teve como tema norteador a sexualidade como dimensão da personalidade humana e suas manifestações no decorrer da vida. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os sete púberes e adolescentes entrevistados têm entre 10 e 14 anos, sendo cinco meninos e duas meninas, quatro (4) são portadores de cegueira total e três (3) tem baixa visão. No que tange a questão da religiosidade, três afirmaram ser católico, outros dois disseram ser protestantes e dois não tem religião. Todos moram com familiares (a maioria com pai e mãe) e frequentam o ensino regular em outra escola. Dos sete sujeitos, três praticam esporte (judô e futsal), um estuda música e teclado e três não fazem nenhuma dessas atividades oferecidas pelo Instituto dos cegos. Quanto aos dados da entrevista semiestruturada, na qual foram abordados temas diversos sobre a sexualidade, as respostas dos participantes foram concisas demonstrando desconforto, timidez e falta de informação sobre o tema em questão. Com a divisão da entrevista por temáticas (a saber: sexo e sexualidade; o corpo e suas mudanças; a cultura e seus valores; participação/influência da mídia, família e escola) foi facilitada a realização da mesma quanto à apreensão do tema supracitado. Em relação às perguntas sobre as mudanças do corpo, eles se sentiram acanhados para responder, mas citaram algumas mudanças como: aumento dos seios; pelos no corpo; estatura; tom da voz; crescimento das partes íntimas ratificando o pouco conhecimento que têm. Quando indagados sobre a forma de aquisição das informações sobre sexualidade, responderam em unanimidade, que seus pais ou responsáveis não conversam sobre esse tema. No que tange a obtenção destas informações o grupo afirmou busca-las através de professores, meios de comunicação (TV, internet) e amigos. Acrescentaram ainda, que os conhecimentos que possuem sobre sexualidade foram, em suma, adquiridos na escola, no instituto (Local da pesquisa) e em conversas com os colegas. Por fim, alguns acrescentaram terem algum tipo de experiência sexual, seja através da masturbação, ou até mesmo através do ato sexual em si; em contrapartida, outros (a maioria) não tiveram experiências

sexuais e afirmaram que a relação sexual é algo importante para a vida e que só deve acontecer com a pessoa certa, ou seja, com quem se tem afinidade. Assim, pudemos constatar na fala dos entrevistados que discorrer sobre sexo/sexualidade causa vergonha, mexe com tabus e conceitos remetidos tão somente ao ato sexual. Que os pais ou responsáveis não participam da educação sexual dos/as filhos/as, o que os obrigam a procurarem entender seus conflitos e compreender suas mudanças, sozinhos. Constatamos ainda que, mesmo sendo deficientes visuais, totais ou parciais, os entrevistados demonstraram ter interesse em entender o sexo e, mesmo de forma sucinta, suas falas indicaram que, assim como os púberes e adolescentes videntes, eles passam por situações semelhantes. E como diz Sá; Campos; Silva (2007) os deficientes visuais lançam mão dos outros sentidos para estabelecer contato com o meio que os cercam. Mesmo quando este meio é limitado pelo preconceito dos adultos que os rodeiam. É importante lembrar que a pesquisa teve um cunho interventivo e para tanto, foi realizado um encontro com o grupo estudado para esclarecer questões relacionadas ao sexo e sexualidade compreendidos como expressão do amor a si mesmo e ao outro, como afirma Frankl (1973). REFERÊNCIAS CALEFFE, Luís Gonzaga; MOREIRA, Herivelto: Metodologia da Pesquisa para o professor pesquisador. Ed. Lamparina, 2ª. Ed., Rio de Janeiro, 2008. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdos. Lisboa: Edições 70 1977. FRANKL, V. E. Psicoterapia e Sentido da Vida: fundamentos da Logoterapia e análise existencial. São Paulo: Quadrante, 1973. PEREIRA, Antonio C. Amador. O adolescente em desenvolvimento. São Paulo: HARBRA, 2005. SÁ, Elizabet Dias de; CAMPOS, Izilda Maria de; SILVA, Myriam Beatriz Campolina. Atendimento educacional especializado: deficiência visual. São Paulo: MEC/SEESP, 2007. THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação.18.ed. Cortez, 2011. São Paulo: