NARRATIVA SOBRE FORMAÇÃO DE LEITORES: O JORNAL NA SALA DE AULA Gabriela Gonzaga Pereira Orientadora Profª. Drª. Lidia Maria Gonçalves RESUMO O presente artigo apresenta o resultado de um trabalho realizado com o jornal em sala de aula com alunos do ensino médio. Objetivamos desenvolver práticas de letramento, ao colocarmos adolescentes em contato com os gêneros do discurso da esfera jornalística. Nosso intuito é de torná-los cidadãos mais críticos e cientes de seu papel na sociedade. O trabalho desenvolvido promove o ensino da língua materna por meio do jornal em sala de aula. Este suporte textual é instrumento útil para formar jovens mais críticos e conscientes de seu papel na sociedade, pois o jornal contém abordagens dos fatos ocorridos no mundo, enfatiza grandes questões da vida política e social, discute questões vitais para o conceito de cidadania (GONÇALVES, 2004). É indispensável, no entanto, saber como utilizá-lo numa perspectiva interacionista. E, a participação no projeto extensionista Formação de Leitores: O Jornal no ensino Médio foi experiência gratificante, que é a fomentação de leitores através do uso do jornal impresso, escolhemos enfatizar o caderno cultura e, de modo mais concentrado, trabalhamos com a sinopse de filmes, para desenvolvermos práticas de leitura e de produção textual. O uso do jornal em sala comprovou ser um recurso pedagógico dinâmico, capaz de promover a formação de leitores cidadãos, o qual impulsionou esta qualificação, como o relato desta experiência revela. 613
Introdução O Projeto de Extensão Universitária Formação de Leitores: O jornal no Ensino Médio, coordenado pela Prof.ª Dr.ª Lidia Maria Gonçalves, o qual participo desde maio de 2010, desenvolveu estudos teóricos, reflexões e discussões sobre as práticas de leitura desenvolvidas pelas instituições de ensino e, o que é possível fazer para contribuir no processo de aprendizagem, no intuito de desenvolver atividades com alunos do ensino médio de escolas situadas na região de Londrina/PR. O primeiro semestre de 2010 foi dedicado a grupos de estudo sobre o que é letramento e como promovê-lo, ainda para a elaboração de subprojetos extensionistas. No segundo semestre, iniciamos um trabalho de observação com os alunos da turma escolhida na instituição onde o projeto seria desenvolvido por esta colaboradora, nosso foco foi a pesquisa etnográfica. E, a partir de 2011 passamos a desenvolver um trabalho de interação na escola, tendo o jornal como suporte, No nosso foco o caso específico, enfatizamos a leitura de textos do gênero Sinopse, presentes no Caderno Cultura, dos jornais Folha de Londrina e Jornal de Londrina. A leitura é atividade indispensável na construção de uma sociedade mais crítica e consciente de seu papel, pois o leitor enxerga melhor as fronteiras da sua comunidade, compreende melhor os limites das suas participações e intervenções sociais (SILVA, 2007, p.71). O trabalho desenvolvido por este projeto conduz à prática de leitura do jornal em sala de aula e tal prática costuma despertar o interesse dos educandos, pois, o jornal trata de temas atuais e de interesse público; o jornal contém abordagens dos fatos ocorridos no mundo, enfatiza grandes questões da vida política e social, discute questões vitais para o conceito de cidadania (GONÇALVES, 2004). Por intermédio deste projeto extensionista trabalhamos com o jornal em sala de aula e instigamos os alunos a se tornarem leitores e para que, a partir do jornal possam desenvolver o interesse pela leitura de textos de 614
outras esferas, inclusive para que possam participar de forma mais ativa na vida da sociedade. Afinal o ato de ler é interação verbal entre indivíduos e indivíduos socialmente determinados: o leitor, seu universo, seu lugar na estrutura social, suas relações com o mundo e com os outros (SOARES, 2005, p. 18). Portanto, a leitura é um ato enriquecedor na formação do indivíduo e na construção de uma sociedade menos alienada e, assim, capaz de ser mais participante. O jornal no ensino médio contribui de forma significativa para a formação de leitores por desenvolver práticas de letramento, sendo estas um conjunto de práticas sociais ligadas à leitura e à escrita em que os indivíduos se envolvem em seu contexto social (SOARES, 1999, p. 72) Justificativa e objetivos Na seleção do gênero textual a ser enfocado em cada projeto específico durante o trabalho desenvolvido com o jornal na sala de aula, resolvemos dar foco na Sinopse, gênero publicado no Caderno Cultura. Utilizamos dois jornais locais: Folha de Londrina e Jornal de Londrina. Justificamos que a escolha por realizarmos as atividades utilizando dois jornais distintos, recorremos do intuito de mostrar formas ou posicionamentos diferentes, pois cada empresa apresenta os fatos de acordo com a sua ótica política. A sinopse foi eleita por ser gênero de maior interesse dos adolescentes envolvidos neste projeto, por tratar dos eventos culturais realizados na cidade, desta forma levamos o grupo a entrar em maior contato com a linguagem jornalística e esta adota a modalidade culta. Nosso objetivo geral é levar os alunos a criar gosto pelo hábito de ler, de forma que possam se tornar leitores não apenas da sinopse, mas expandir o interesse desses jovens para os demais cadernos do jornal. Nosso objetivo específico é gerar conhecimentos sobre características dos gêneros textuais trabalhados Enfim, objetivamos torná-los indivíduos letrados e colaborar para que se tornem mais participantes da construção da história da comunidade em que vivem. E menos indiferentes a esta. O jornal é um meio 615
eficaz de convidar o aluno a uma leitura prazerosa, sendo uma porta de entrada para o conhecimento, a cultura, a ciência, a religião. (CORTELLA, 2007, p. 23). Metodologia O projeto Formação de Leitores: O Jornal no Ensino Médio busca pessoas que atuam na área de Letras para o tratio com a mídia impressa mostrando aos universitários pesquisa sobre a importância do ato de ler na construção de uma sociedade melhor e o peso da leitura midiática. Os encontros do projeto aconteceram semanalmente, em sala do Centro de Letras e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Londrina. No início da fase de intervenção pedagógica, apresentamos o jornal aos educandos do nível médio da educação básica, mostramos a organização dos cadernos, sempre criando estimulo, para desenvolver o interesse pela leitura do jornal. Inicialmente, mostramos que jornal com liberdade, não era apenas para adultos, deixando-os folhearem o jornal, permitindo aos alunos a escolha do caderno que mais lhes interessava e dando tempo para lerem, conscientizando-os de que um dos melhores caminhos para iniciar uma viagem até a informação e ao conhecimento é o jornal (CORTELLA, 2007, p. 20) O caderno cultura apresenta os eventos culturais do município. Nós utilizamos a sinopse para desenvolvermos atividades acerca das características deste gênero textual e percebemos a intertextualidade presente. Assim levamos a uma melhor compreensão produção de textos, dos textos lidos e tais como resumo e resenha. Testemunhamos que o uso do jornal em sala de aula possibilita ao professor desenvolver o ensino da língua materna e colaborar para que seus alunos tornem-se cidadãos politizados. Sem dúvida, o jornal é uma ferramenta de grande valor no ensino, por tratar de temas distintos e por apresentar assuntos do cotidiano, o que favorece o trabalho desenvolvido por este projeto na formação de leitores. 616
Os adolescentes demonstram interesse por assuntos recentes e, ao promovermos a realização de debates sobre os tema(s) lido(s), favorecemos a tomada de posicionamento por parte de cada indivíduo; sempre buscamos realizar a reflexão sobre o assunto lido e sobre a forma adotada para expressálo. Para uma melhor particitação por parte dos jovens envolvidos neste projeto buscamos selecionar textos que estejam relacionados à realidade do grupo. Com esta estratégia, obtivemos um maior interesse pelas aulas de leitura. Realizamos trabalhos de produção de resumo e resenha, a partir da leitura de sinopses veiculadas nos jornais, com isso aproximamos os educandos das matérias jornalísticas da área à cultura, favorecemos a compreensão de textos e a produção textual de gêneros relevantes para a esfera acadêmica. Sempre buscamos a reflexão dos alunos dos alunos, instigando os alunos a tomarem um posicionamento diante dos fatos abordados na mídia impressa. Partimos do pressuposto de que o jornal é uma ferramenta importante na construção de uma sociedade leitora e as atividades escolares devem contribuir para a formação de cidadãos capazes de atuarem na construção da história da comunidade de forma mais ativa. O jornal é um instrumento de transformação da realidade e colabora para que a comunidade possa, pelo domínio da informação, garantir pleno exercício de sua cidadania. (PAVANI, 2007, p.15). A partir destes pressupostos, desenvolvemos ações didáticas em prol da formação de leitores em uma escola pública localizada na região central de Londrina. Resultados Durante o período em que ocorreram os encontros com os colegiais participantes do projeto, foi possível constatar que, no início, eles não sabiam manusear direito o jornal e nem se interessavam pela leitura desse suporte textual ou por qualquer outra atividade de leitura que exigisse o esforço da interpretação. Diante desse quadro, buscamos mostrar a variedade de informações existentes no jornal e a pertinência destas questões. Criar o 617
interesse pela leitura desse meio de informação foi o primeiro passo dessa trajetória. A seguir, trabalhamos com a produção de resumos e de resenhas a partir das sinopses de filmes. Tais sinopses eram apresentadas no caderno cultural dos dois jornais de maior circulação em nossa comunidade. Nas resenhas verificávamos posicionamento de cada aluno diante da opinião do autor. ; nos resumos, atentávamos para o poder de síntese. Como esclarecem Machado et al (2004, (B) p. 15) Inúmeros tipos de textos se caracterizam por apresentar informações selecionadas e resumidas sobre o conteúdo de outro texto. Outros, além de apresentar essas informações, também apresentam comentários e avaliações. Os primeiros são resumos e os segundos são resenhas. Durante o decurso do nosso projeto extensionista, tivemos a oportunidade de orientar os alunos da educação básica a condensar informações provenientes de jornais de grande circulação local; assim, exercitamos a concisão e a objetividade. Os estudantes enxergaram que sumarizados de forma diferente, conforme o tipo de destinatário, de acordo com o que julgamos que ele deve conhecer sobre o objeto sumarizado e de acordo com o que julgamos ser objetivo desse destinatário (MACHADO, et al. 2004 (A), p.31). Este entedimento apresentou reflexos nas produções textuais. Na sequência das atividades realizamos alguns debates, para discutirmos um tema importante na escola envestigada:o bullying. Antes de, debatemos sobre a prática de Bullying, lemos uma reportagem veiculada na Revista Veja, de 23 de abril de 2011, edição 2213. Houve a participação de todos os alunos, sendo algo positivo para aquela turma, pois, por meio de uma 618
reportagem tratamos de um assunto presente no cotidiano dos adolescentes. Julgamos importante trabalhar com temas relacionados à vida dos alunos, pois eles sentem-se motivados a participar e tais reflexões corroboram para instalarmos um ambiente menos hostil e mais favorável para o ensino e para a aprendizagem. O jornal permite ao professor o desenvolvimento de diversas atividades no caso do ensino de Língua Portuguesa, em sala de aula e a turma cria mais entusiasmo à medida que desenvolve maior autonomia em relação às práticas de leitura. O trabalho em sala de aula com o uso do jornal permitiu aos alunos aumentar o hábito de leitura e cultivá-lo não apenas na escola, mas em casa, na biblioteca e em outros locais. Os envolvidos nesta proposta tornam-se pessoas melhor informadas e capacitadas para se posicionarem diante dos fatos de interesse público. Ao longo dos meses, os adolescentes foram demonstrando interesse por este suporte textual, o que colaborou para que fosse possível promovemos os debates em sala de aula, algo decisivo no processo de promovendo a formação de leitores no ambiente escolar. Formar o hábito de leitura de jornais nos estudantes é algo muito mais simples do que se pensa. Basta lembrar o que fazemos com o jornal no dia-a-dia, que é ler com curiosidade, comentar o que nos agrada, concordar ou discordar, guardar o que nos interessa (SILVA, 1997, p. 43) O trabalho desenvolvido por este projeto contribuiu de forma significativa para a vida dos adolescentes que dele participaram, pois sentiram que a leitura é fundamental para a ampliação do universo cultural. Leitores críticos, são capazes de formar suas opiniões e contextualizá-las. De acordo com as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para o Ensino Médio do Estado do Paraná, (2006, p.35) a prática da leitura é um ato dialógico, interlocutivo em que o aluno/leitor tem um papel ativo no processo de leitura e é o responsável por reconstruir o sentido do texto. Nesse sentido caminhamos. 619
Considerações Finais Neste artigo apresentamos parte dessa experiência gratificante que é a fomentação de leitores através do uso do jornal impresso, escolhemos enfatizar o caderno cultura e, de modo mais concentrado, trabalhamos com a sinopse de filmes, para desenvolvermos práticas de leitura e de produção textual. O uso do jornal em sala comprovou ser um recurso pedagógico dinâmico, capaz de promover a formação de leitores cidadãos. Para tanto, a abordagem a ser feita deve promover a práticas de reflexão, comparação, análise, promover a capacidade de síntese e conduzir a elaboração de uma conclusão sobre os temas abordados. Assim desenvolvemos o gosto pela leitura dos jornais e ofertamos conhecimentos acerca da língua culta. A linguagem jornalística oferece hoje uma espécie de português fundamental, uma língua de base, não tão restrita que limite o crescimento lingüístico do aluno e nem tão ampla que torne difícil ou inacessível o texto escrito ao comum dos estudantes.(faria,2003, p. 12). 620
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CORTELLA, Mário Sérgio. O Professor e a Leitura do Jornal. IN SILVA, Ezequiel Theodoro da.(org) O jornal na vida do Professor e no Trabalho Docente. São Paulo. Global: campinas, SP: ALB Associação de Leitura do Brasil, 2007. FARIA, Maria Alice. O jornal na sala de aula. 8ªed. São Paulo: Contexto, 2003. GONÇALVES, Lidia Maria. Do ledor ao leitor: Um estudo de caso sobre as insuficiências do jornal em sala de aula no ensino fundamental. Tese de Doutorado. Defendida em setembro de 2004, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS. MACHADO, Anna Rachel; LOUZADA, Eliane Gouvêa; ABREU-TARDELLI, Lília Santos. RESUMO. São Paulo, Parábola Editirial, 2004. (Série Leitura e produção de textos técnicos e acadêmicos, volume 1). MACHADO, Anna Rachel; LOUZADA, Eliane Gouvêa; ABREU-TARDELLI, Lília Santos. RESENHA. São Paulo, Parábola Editirial, 2004. (Série Leitura e produção de textos técnicos e acadêmicos, volume 2). PARANÁ / SEED. Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para os Anos Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio. SEED, 2008. PAVANI, Cecília (org.). Jornal: Uma abertura para a educação/ Cecília Pavani, Ângela Junquer, Elizena Cortez, Campinas, SP: Papirus,2007. IN SILVA, Ezequiel Theodoro da.(org) O jornal na vida do Professor e no Trabalho Docente. São Paulo. Global: campinas, SP: ALB Associação de Leitura do Brasil, 2007 SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte. Autêntica, 1998. 621