Fls 457 PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Rio de Janeiro 4 a Vara Federal de Niterói PROCESSO: 0001786-77.2018.4.02.5102 (2018.51.02.001786-0) AUTOR: JOAO GILBERTO ARAUJO PONTES E OUTROS REU: UNIAO FEDERAL E OUTROS DECISÃO Fls. 374: Trata-se de pedido de reconsideração da decisão de fls. 354/357 que deferiu, em caráter cautelar e liminar, inaudita altera parte, a suspensão da eficácia do decreto que nomeou a Exma. Deputada Federal Cristiane Brasil Francisco ao cargo de Ministra de Estado do Trabalho, bem como sua posse. Alega também a União prevenção do Juízo de Magé (processo nº 0502878-70.2017.4.02.5101) para o julgamento da causa, requerendo o declínio da competência para aquela vara federal (fls. 403/407). Fls. 403/407: Requerimento da União pelo declínio de competência para 01ª Vara Federal de Magé. Fls. 425/430: Manifestação dos autores requerendo o indeferimento do pedido da União (fls. 403/407). Fls. 440/442: Petição do Partido Trabalhista Brasileiro - PTB requerendo a sua inclusão como assistente da ré Cristiane Brasil Francisco e, nesta qualidade, a suspensão da liminar, extinção do processo e/ou final improcedência da ação. Fls. 444/447: Vieram novamente os Autores requerendo desta vez a aplicação das penalidades aos réus, sob alegação de descumprimento da decisão
judicial liminar, uma vez noticiado que a ré já exerce influência no Ministério do Trabalho, mesmo com a posse suspensa. Fls 458 É o relatório. Decido. 1) DOS REQUERIMENTOS DA UNIÃO. Inicialmente, informo que a presente ação foi distribuída por dependência na 01ª Vara Federal de Niterói (fl. 345), em 08/01/2018, às 12h07, quando o sistema detectou possível prevenção. Após verificação, entendeu aquele juízo pela não existência de prevenção, sendo o mesmo livremente redistribuído para esta Vara Federal, às 13h11 (fl. 349), fixando a competência. Processo Civil aduz: Sobre a competência e modificação da competência, o Código de Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta. (...): Art. 54. A competência relativa poderá modificar-se pela conexão ou pela continência, observado o disposto nesta Seção. Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir. 1 o Os processos de ações conexas serão reunidos para decisão conjunta, salvo se um deles já houver sido sentenciado. 2 o Aplica-se o disposto no caput: I - à execução de título extrajudicial e à ação de conhecimento relativa ao mesmo ato jurídico; II - às execuções fundadas no mesmo título executivo. 3 o Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar risco de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias caso decididos separadamente, mesmo sem conexão entre eles. Art. 56. Dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quando houver identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o pedido de uma, por ser mais amplo, abrange o das demais. Art. 57. Quando houver continência e a ação continente tiver sido proposta anteriormente, no processo relativo à ação contida será proferida sentença sem resolução de mérito, caso contrário, as ações serão necessariamente reunidas. Art. 58. A reunião das ações propostas em separado far-se-á no juízo prevento, onde serão decididas simultaneamente. Art. 59. O registro ou a distribuição da petição inicial torna prevento o juízo.
Com a entrada em vigor do Novo Código de Processo Civil, a doutrina tem se manifestado sobre não mais haver discussão sobre o momento de ocorrência da prevenção. Abaixo transcrevo os comentários de Bruno Silveira de Oliveira, na página 228, em Breves Comentários ao Novo Código de Processo Civil - Revista dos tribunais: : SOBRE A MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA Dr. Bruno Silveira de Oliveira - Doutor em Direito processual Civil pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco e Mestre Direitos e Garantias Fundamentais(FDV). Juiz de Direito do tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo. (...) "16. Onde reunir as demandas conexas? (a importância do critério de prevenção). A prevenção é um fato jurídico. Sua importância é distinguir, entre vários órgãos jurisdicionais igualmente competentes (segundo as regras de determinação) aquele perante a qual deverão ser reunidas para processamento e julgamento conjunto duas ou mais demandas conexas. Chamamos a este órgão de prevento. Felizmente, o CPC/2015 acabou com a inútil dualidade de critérios fixadores da prevenção existentes no CPC/1973. Vejamos o quadro comparativo: Fls 459 CPC/1973 Art. 106. Correndo em separado ações conexas perante juízes que tem a mesma competência territorial, considera-se prevento aquele que despachou em primeiro lugar. CPC/2015 Art. 58. A reunião de ações propostas em separado far-se-á no juízo prevento, onde serão decididas simultaneamente. Art. 59. O registro ou a distribuição de petição inicial torna prevento o juízo. Sob a égide do CPC201, portanto, pouco importa que as demandas conexas tramitem no mesmo foro ou em foro distintos, prevento será aquele perante o qual se der o registro ou a distribuição da primeira demanda (entre as conexas) proposta.a anterioridade na propositura (em verdade, no registro ou distribuição) é critério sem dúvida mais adequado e mais intuitivo do que a anterioridade no despacho da inicial (critério adotado pelo art. 106 do CPC/1973). (...) Bruno Silveira de Oliveira - pg. 228 no Livro: Breves Comentários ao Novo Código de Processo Civil - Coordenadores: Teresa Arruda Alvim Wambier, Fredie Didier Jr., Eduardo Talamini e Bruno Santas - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais.2015.
No caso concreto, nos autos o Processo 0502878-70.2017.4.02.5101, objeto da arguição de prevenção pela União, a inicial foi recebida e registrada no plantão do dia 07/01/2018, sendo prolatada decisão pela Dra. Juíza de plantão que entendeu pelo não conhecimento do requerimento de medida de urgência (ver cópias documentos - fls. 408/419), nestes termos: Fls 460 (...) Inexistindo possibilidade de perecimento de direito, é expressamente vedado o conhecimento pelo juiz plantonista. Deve ainda ser acrescentado que já houve protocolamento eletrônico de ação idêntica sob o número 0001763-95.2018.4.02.5114, que será distribuída este Juízo após o término do recesso forense, amanhã, dia 08/01/2018, após às 12:00 h; devendo ser ressaltado que cabem a Juíza Federal Substituta os processos cujos autos tenham numeração final ímpar, desconsiderando-se o dígito verificador, conforme dispõe o art. 7º da Resolução 01/2008 do CJF. Diante do exposto, não conheço do requerimento de medida de urgência. Findo o plantão, à livre distribuição. Houve, ainda, uma terceira ação (Processo nº 0001763-95.2018.4.02.5114), protocolada via internet, ainda no período do Plantão (fls. 420), e cancelada pelo juízo distribuidor por duplicidade (anexo do Termo de Autuação e a decisão às fls. 420/422). DECISÃO Considerando que a distribuição em regime de plantão somente se realiza mediante a apresentação direta da petição inicial e documentos que a instruem ao Juízo plantonista, onde é digitalizada e autuada, nos termos das Portarias 25/2003 e 57/2009 e do disposto nos artigos 117 e 119 da Consolidação de normas da Corregedoria Regional da Justiça Federal da 2ª Região, tendo sido o presente feito equivocamente protocolado pelo autor, através da internet, em 07/01/2018; que posteriormente o autor compareceu pessoalmente ao Juízo plantonista, onde a ação foi autuada e distribuída sob o nº 0502878-70.2017.4.02.5101; e que já foi proferida Decisão naqueles autos, onde foi determinada sua livre distribuição após o término do plantão; determino o cancelamento da distribuição do presente feito, observando-se os procedimentos de praxe. Magé, 8 de janeiro de 2018. TATIANA DE OLIVEIRA LAVIGNE -Juíza Federal
Por fim, resta saber se a decisão em plantão é fato indutor de prevenção, uma vez que o plantão judiciário tem por objetivo manter, sem solução de continuidade, a prestação das atividades jurisdicionais de modo a atender os casos que reclamem manifestação estatal urgente, sobre fatos juridicamente relevantes, representando todas as varas compreendidas na competência do plantonista. Vejamos o que a consolidação de Normas da Corregedoria Regional da Justiça Federal da 2ª Região aduz em seu artigo 120 e parágrafos: [...]Art. 120. Cessado o período de plantão, os processos serão regularmente distribuídos ou devolvidos ao juízo originariamente competente. 1º Todos os requerimentos, representações, inclusive documentos, despachos ou decisões, relacionados com o período de plantão judiciário, serão certificados pela Secretaria e remetidos ao juízo competente no primeiro dia útil subsequente ao término do plantão. 2º Os Juízes Plantonistas ordenarão todas as providências necessárias à solução dos casos que lhes forem submetidos e que digam respeito à matéria de plantão judicial, não se estabelecendo, de forma alguma, sua vinculação aos feitos apreciados.(grifei) Fls 461 A jurisprudência tem entendido que por ser a competência do plantão transitória, possuindo caráter precário, não induz a prevenção. Assim vejamos: CONFLITO DE JURISDIÇÃO - MEDIDA URGENTE DE MANDADO DE BUSCA E APREENSÃO DECIDIDA NO PLANTAO - JUIZ PLANTONISTA - COMPETÊNCIA TRANSITÓRIA SOBRE TODAS AS VARAS - INEXISTÊNCIA DE PREVENÇAO. 1- A competência do Juiz no Plantão é transitória, tem caráter precário, só perdurando enquanto houver necessidade de decidir medidas urgentes no citado plantão, portanto, em tais hipóteses não induzem prevenção do Juízo Plantonista, vez que quando o Juiz está respondendo pelo plantão, ele não representa apenas uma vara, mas sim, todas as varas compreendidas na competência do plantonista. (Tribunal de Justiça de Minas Gerais TJ-MG - Conflito de Jurisdição : CJ 10000130371057000 MG - Data Publicação: 01/10/2013. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. MEDIDA URGENTE DECIDIDA NO PLANTAO JUDICIAL. JUIZ PALNTONISTA. COMPETÊNCIA TRANSITÓRIA SOBRE TODAS AS VARAS. INEXISTÊNCIA DE PREVENÇAO. 1. A competência do Juiz no Plantão Judicial é transitória, tem caráter precário, só perdurando enquanto houver necessidade de decidir medidas urgentes no citado plantão, portanto, em tais hipóteses não induzem prevenção do Juízo Plantonista, vez que não
existe uma unidade judiciária denominada PLANTAO, ou seja, quando o Juiz está respondendo pelo plantão, ele não representa apenas uma vara, mas sim, todas as varas compreendidas na competência do plantonista. 2. Conflito de competência conhecido para declarar competente para julgar o feito em questão a 1ª Vara Criminal da Comarca de Teresina/PI. Decisão unânime. (Tribunal de Justiça do Piauí TJ-PI - Conflito de competência : CC 201100010061679 PI - Data Publicação : 26/01/2012) Fls 462 Assim, não obstante o referido processo de Magé tenha sido registrado no plantão do dia 07/01/2018, com decisão pelo não conhecimento do requerimento de medida de urgência, o mesmo foi distribuído (Distribuição por Dependência), no dia 08/01/2018, às 12:58, conforme Termo de Autuação, ora anexado (fls. 409), logo após autuação do presente processo (Niterói), que foi distribuído às 12h07 do mesmo dia. Processo 0001786-77.2018.4.02.5102 (Niterói) 1) Ação distribuída por dependência - 08/01/2018-12h07. (fl. 345) 2) Ação redistribuída - 08/01/2018-13h11 (fl. 349) Processo 0502878-70.2017.4.02.5101 (Magé) 1) Plantão - Não conhecimento de medida de urgência - em 07/01/2018-18h10 2) Ação distribuída por dependência - dia 08/12/2018 - às 12h58. (fl. 409). Uma vez que o artigo 55 do CPC aduz que se reputam "conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir", bem como, em seu artigo 59, que o registro ou a distribuição da petição inicial torna prevento o juízo, tendo as ações o mesmo pedido e observado que não existe prevenção quanto a decisão proferida em plantão, sendo a primeira distribuição realizada no Processo 0001786-77.2018.4.02.5102 (Niterói), - certidão de fls. 400, verifico não existir a alegada prevenção em favor do Juízo Federal de Magé para o julgamento da causa, nos termos do requerido pela União a fls. 374.
Pelo exposto, INDEFIRO os requerimentos da União, em especial a reconsideração. Mantenho a decisão de fls. 354/357, pelos seus próprios fundamentos. 3) DO REQUERIMENTO DO PTB Sobre o requerimento de ingresso na relação processual na qualidade de assistente, por parte do Partido Trabalhista Brasileiro - PTB, apreciarei após o prazo para manifestação das partes sobre o pedido, nos termos dos artigos 119 e 120 do CPC. Art. 119. Pendendo causa entre 2 (duas) ou mais pessoas, o terceiro juridicamente interessado em que a sentença seja favorável a uma delas poderá intervir no processo para assisti-la. Parágrafo único. A assistência será admitida em qualquer procedimento e em todos os graus de jurisdição, recebendo o assistente o processo no estado em que se encontre. Art. 120. Não havendo impugnação no prazo de 15 (quinze) dias, o pedido do assistente será deferido, salvo se for caso de rejeição liminar. Parágrafo único. Se qualquer parte alegar que falta ao requerente interesse jurídico para intervir, o juiz decidirá o incidente, sem suspensão do processo. Fls 463 Intimem-se as partes. Prazo: 15 (quinze) dias. 4) DA ALEGAÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DA LIMINAR E por fim, o pedido para aplicação da penalidades cabíveis, sob o alegado descumprimento da decisão liminar (fls. 444/447), entendo não ser o caso, uma vez que se trata de decisão estrita no sentido de impedir a posse da Exma. Deputada Federal no cargo de Ministra do Trabalho. Alegações vagas com base em noticias de jornal não são suficientes para caracterizar descumprimento, ainda mais de fato alheio ao pedido, sob pena de inovar no objeto do processo e tornar o magistrado um supervisor do cotidiano da política nacional, o que seria de pleno descabido. Assim, INDEFIRO DE PLANO. P.I. Com a vinda das manifestações, venham conclusos. Niterói, 15 de janeiro de 2018. (assinado eletronicamente)
LEONARDO DA COSTA COUCEIRO Juiz Federal no exercício da titularidade da 04ª Vara Federal de Niterói Fls 464