PRODUÇÃO DE SUÍNOS EM SISTEMAS DEEP BEDDING: EXPERIÊNCIA BRASILEIRA

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Transcrição:

PRODUÇÃO DE SUÍNOS EM SISTEMAS DEEP BEDDING: EXPERIÊNCIA BRASILEIRA Paulo Armando V. de Oliveira Eng. Agrícola, M.SC., PhD., Emprapa Suínos e Aves Caixa Postal 21, 89.700 000 Concórdia SC Brasil e mail: paolive@cnpsa.embrapa.br 1 Introdução A escolha do manejo adequado aos dejetos de suínos é o maior desafio para a sobrevivência das zonas de produção intensiva, em razão dos riscos de poluição das águas superficiais e subterrâneas por nitratos, fósforo e outros elementos minerais ou orgânicos e, do ar, pelas emissões de NH 3, CO 2, N 2 O e H 2 S e, também, em função dos custos e dificuldades de armazenamento, tratamento, transporte, distribuição e utilização na agricultura. Atualmente, o grande desafio dos produtores de suínos é a exigência da sustentabilidade ambiental das regiões de produção intensiva. De um lado existe a pressão pela concentração de animais em pequenas áreas de produção, e pelo aumento da produtividade e, do outro, que esse aumento não afete o meio ambiente. Porém, esses dois desafios são antagônicos, ou seja, de um lado o aumento dos planteis gerando um maior volume de resíduos em pequenas áreas a serem manejados e, de outro, o conseqüente agravamento dos riscos de degradação do meio-ambiente. Os sistemas confinados constituem a base de expansão e da maior produtividade da suinocultura, porém induzem a adoção de manejo de dejetos na forma líquida, favorecendo o lançamento de efluentes na natureza (sem tratamento prévio), ocasionando intenso processo de degradação ambiental. A recomendação técnica para o manejo destes resíduos líquidos é o armazenamento e tratamento em esterqueiras e lagoas para posterior uso em lavouras como fertilizante. Vários trabalhos de pesquisa ou de observação desenvolvidos em institutos de pesquisa, universidades ou pelas indústrias têm demonstrado que todos os tratamentos de dejetos, em uso no Brasil, embora reduzindo o potencial poluidor não permitem que o resíduo final seja lançado diretamente nos cursos d água. Podemos observar na região Oeste Catarinense, onde concentra-se em torno de 76% do total efetivo de suínos do estado, tal situação tem ocasionando sérios problemas de poluição dos recursos naturais. Atualmente o sistema de criação de suínos dominante, nas fases de crescimento e terminação, é do tipo ripado total ou ripado parcial (81%) sendo os dejetos manejados internamente sob o piso ripado ou externamente em canaletas abertas. Todos estes sistemas de produção exigem a utilização de esterqueiras ou de lagoas para o armazenamento dos dejetos líquidos. O volume total dos dejetos líquidos produzidos (dejetos produzido pelos animais + perda de água nos bebedouros + água utilizada na limpeza) requer grandes estruturas para o armazenamento (os órgãos de fiscalização 89

ambiental preconizam um tempo mínimo de 120 dias de retenção), áreas com culturas suficientes para o aproveitamento agronômico desses resíduos, e também, a disponibilidade de maquinas e equipamentos para o transporte e distribuição. 2 Criação de suínos em sistemas Deep Bedding A produção de suínos em sistemas Deep Bedding (Cama sobreposta) constitui-se alternativa onde os dejetos sofrem compostagem in situ (1,2,4,6), visando a redução dos riscos de poluição (ar, água e solo) e melhor valorização agronômica. Este sistema de produção, em leito formado por palha ou maravalha, teve sua origem na China em Hong Kong (19). Na Europa, esta tecnologia de produção de suínos em camas sobrepostas começou a ser estudada no final da década de 80 (1,20). O sistema de criação sobre leito (Deep bedding) de maravalha foi introduzido no Brasil em 1993 pela Embrapa - Suínos e Aves com os pesquisadores Paulo Armando de Oliveira e Jurij Sobestiansky (17), através de experimento que comparou a produção de suínos em três sistemas de produção (cama de maravalha; cama de palha; piso compacto) nas fases de crescimento e terminação. Posteriormente, em função dos resultados alcançados foi implantada duas unidades de observação, nas fases de crescimento e terminação, uma na cidade de Gaurama-RS na granja Fontana (1994) e outra em Concórdia-SC na granja Gasperini (1994). Estes sistemas, possuem 200 e 350 suínos respectivamente em uma única área, permitindo a criação de até 4 lotes de suínos (25 à 100 kg) sobre o mesmo leito sem necessidade de se adicionar ou trocar a maravalha (16). Atualmente, são desenvolvidos estudos de observação da criação de suínos na fase de creche e gestação em granjas, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. 3 Desempenho zootécnico de suínos criados sobre maravalha comparado ao sistemas de piso ripado (total ou parcial) 3.1 Material e método Para comparar o desempenho zootécnico dos suínos criados no sistema de piso ripado, tido como referência, aos animais criados em camas de maravalha foram realizados experimentos no Laboratório de Bioclimatologia do INRA-França (LABO) e em sistema de produção na Embrapa Suínos e Aves (CAMPO) (1,21). O laboratório do INRA é formado por um prédio totalmente climatizado (10 x 40, tendo 9 m de pé-direito), no interior do qual foram construídos seis modelos reduzidos de edificações (14 m 2 com 2,5 m pé-direito) representativos dos sistemas de criação de suínos existentes. Os experimentos foram realizados durante os anos de 1996 e 1999. Na comparação foram utilizados 2 tipos de sistemas de criação, um com piso ripado total (SPR) e o outro com um leito formado de maravalha (SPC). Os experimentos foram conduzidos simultaneamente nos dois sistemas de produção, com ventilação natural e capacidade para a criação de 12 suínos entre 25 e 100 kg, em 90

cada sistema. A superfície útil por animal foi de 0,65 m 2 no SPR e de 1,10 m 2 no SPC. A temperatura externa durante os experimentos foi mantida em 12 o C (± 1,5) e a umidade relativa do ar exterior em 65% (± 10%). A temperatura interna (22 o C ± 1,5) foi escolhida com a finalidade de manter a relação água/ração entre 2,3 e 2,5. Foi adotado como espessura de cama de maravalha de 0,60 m. A ração durante os experimentos continha em média 3.200 kcal/kg de energia digestível, 16% de proteína bruta, 4% de gordura e 0,92% de lisina total. Os animais utilizados nos experimentos foram somente fêmeas cruzadas de raça Piétrain x Large White, pesados no inicio e no final dos experimentos. Foi avaliado o desempenho zootécnico e a qualidade e rendimento de carcaça dos animais bem como a taxa de músculo. A concentração de amônia (NH 3 ; ppm) foi medida diariamente assim como o CO 2 (ppm). Foram avaliadas as lesões no aparelho respiratório e no estômago (1,2). Na Embrapa, a nível de campo, foram comparados cinco tratamentos (4 repetições por tratamento) representados por quatro tipos de cama (maravalha, serragem, sabugo de milho triturado e casca de arroz) e um sistema de piso ripado parcial (21). Utilizou-se três prédios abertos (10 x 12 m), dispostos linearmente e espaçados entre si de 10 m, todos cobertos por telha de fibrocimento. As baias utilizadas (5 x 6 m) tem capacidade para 20 animais e as cama tinham profundidade de 0,50 m. Os animais utilizados (800 suínos F1) machos castrados e fêmeas de LW x L e MS 58 (Duroc x Hampshire x Pietran) dos 25 aos 100 kg. A alimentação foi a vontade com 19% de PB e 3.316 kcal de EM/kg na fase de crescimento e 17% de PB e 3.240 kcal de EM/kg na terminação. 3.2 Resultados e discussão As médias gerais do desempenho zootécnico dos animais nos experimentos realizados no laboratório (LABO) estão na Tabela 1. O peso médio dos animais foi ligeiramente superior no sistema de criação de suínos sobre camas, mas a diferença não foi significativa (P>0,05). Não houve diferença (P>0,05) para a resposta animal para o consumo de alimento, a conversão alimentar e o ganho de peso. Observou-se diferença para o consumo de água, sendo o maior consumo observado para os animais criados em cama de maravalha (20 a 35 L/suíno terminado). Não houve diferença (P>0,05) na qualidade de carcaça e na espessura de gordura nos animais criados nos diferentes sistemas de criação (1). Na Tabela 2, pode-se observar o desempenho animal em função do tipo de piso e do sistema de produção em experimento desenvolvido na Embrapa (CAMPO), houve efeito da estação do ano para o ganho de peso (P<0,05) e efeito de tratamento quando considerado dentro de época. Estes dados revelam uma tendência para menor ganho de peso nos animais criados sobre piso de concreto a medida que a temperatura do ambiente diminui (inverno) e maior ganho na época quente (verão) quando comparado ao sistema de camas. Na Tabela 3, pode-se observar o consumo de ração de acordo com o tratamento e época do ano. Observou-se efeito da estação do ano para o consumo de ração os maiores valores ocorreram na primavera e não durante o outono como observado para o ganho de peso. Semelhante ao ganho de peso, observou-se uma tendência para maior consumo de ração nos animais criados em piso de concreto no verão e o inverso no inverno. 91

Tabela 1 Comparação do desempenho zootécnico, da taxa de músculo e do rendimento de carcaça dos animais criados sobre o piso ripado e sobre cama de maravalha em experimento de laboratório (LABO) Resultados médios Experimentos ano 1 Experimentos ano 2 Ripado Cama Ripado Cama Peso inicial (kg) 29,8±1,2 30,5±1,4 31,5±1,7 31,6±1,4 Peso 1 a medida (kg) 62,9±2,9 62,6±3,7 52,2±8,3 54,8±4,2 Peso 2 a medida (kg) 76,7±5,2 78,8±6,4 72,9±8,9 74,1±6,7 Peso final (kg) 99,9±7,5 102,3 ±7,9 95,6 ±12,6 95,8±10,3 Consumo de ração (kg) 189,7 191,8 187,3 184,2 Ganho de peso (g/dia) 779 794 712 715 Consumo de água total (l) 423,7 B 446,4 A 385,2 B 435,5 A Conversão alimentar 2,71 2,67 2,91 2,87 Taxa de músculo (%) 60,3±2,4 60,9±1,8 58,7±3,5 60,5±1,6 Peso de carcaça quente (kg) 81,7± 5,6 82,7±7,7 78,1±10,2 77,8±8,4 Médias seguidas por letras maiúscula na coluna diferem significativamente pelo teste de Tukey (P<0,05). Tabela 2 Médias de ganho de peso (Kg) de acordo com tratamento e época do ano experimento realizado na Empraba (campo) Épocas do Ano Tipos de Piso Outono Inverno Primavera Verão Média Maravalha 69,3 aa 63,0 ca 65,3 bb 64,6 ca 65,5 A Serragem 69,5 aa 62,5 ca 66,9 ba 60,1 cc 64,7 A Sabugo de milho 67,5 ab 61,2 cb 66,5 ba 59,4 cc 63,6 A Casca de arroz 67,8 ab 62,0 ca 66,4 ba 61,0 cb 64,3 A Piso de concreto 68,8 aa 60,1 cb 66,5 ba 65,1 ca 65,1 A Médias seguidas por letras minúsculas na linha e maiúsculas na coluna diferem significativamente pelo teste de Tukey (P<0,05). Tabela 3 Médias de consumo de ração (Kg), de acordo com tratamento e época do ano experimento realizado na Empraba (campo) Épocas do Ano Tipos de Piso Outono Inverno Primavera Verão Média Maravalha 159,7 cb 170,1 ba 176,5 ab 161,5 da 166,8 A Serragem 163,2 ca 167,5 bb 178,4 aa 150,2 db 164,8 A Sabugo de milho 159,8 cb 169,0 ba 173,3 ac 148,5 db 162,6 A Casca de arroz 163,0 ba 164,6 bb 177,3 ab 152,5 db 164,3 A Piso de concreto 164,0 ba 161,0 cc 174,4 ac 162,7 da 165,5 A Médias seguidas por letras minúsculas na linha e maiúsculas na coluna diferem significativamente pelo teste de Tukey (P<0,05). 92

4 Emissão de NH 3 e CO 2 A concentração de NH 3 observada, em experimentação de laboratório, foi significativamente diferente (P<0,05) para os sistemas estudados, sendo que as concentrações médias observadas foram de 15,2±6,4 ppm no sistema SPR e de 9,7±4,2 no sistema SPC e os picos observados foram de 28,4 e 20,7 (ppm) para os SPR e SPC, respectivamente (1). Estes resultados estão de acordo com os obtidos por Nicks et al. (6) que comparou a produção de NH 3 em quatro lotes sucessivos de suínos criados sobre uma mesma cama. Os resultados mostram que entre 20 e 40% do nitrogênio contido nos dejetos (excretados pelos animais) se encontram armazenados na cama de maravalha, contra 70 a 75% nos dejetos liquido sobre o piso ripado. O nitrogênio no sistema da cama se encontra em torno de 90% na forma orgânica, contra 30 a 40% no piso ripado. O sistema de cama apresenta uma emissão entre 40 a 60% de Nitrogênio na forma de N 2. O sistema piso ripado produz muito pouco de N 2 (<10%) e menos que 2% de N 2 O. As concentrações médias de CO 2 (ppm) observadas foram superiores no sistema SPC (1127±232) quando comparadas com o sistema SPR (799±163), a diferença pode ser atribuída a produção de CO 2 pelo processo de compostagem que ocorre na cama (1). Para o Fósforo os resultados mostram que do P excretado pelos animais 62% se encontram retidos nos primeiros 25 cm de profundidade, bem como para o Zinco excretado encontrou-se 58% nesta mesma profundidade (20). 5 Balanço d água em sistemas de criação de suínos sobre cama Os experimentos, em laboratório, foram realizados com a finalidade de propor um método de balanço para os diferentes fluxos e armazenamento d água para o sistema de criação sobre cama de maravalha, tendo como referência o sistema com piso ripado. Os experimentos realizados foram os mesmos descritos anteriormente e realizados no Laboratório de Bioclimatologia do INRA-França, somente foram selecionados 2 experimentos para a realização do balanço d água. A umidade e a massa da cama foram medidas no inicio (Exp.1 média de 60,4% de umidade por 7.111 kg de massa; Exp.2 média de 65,9% de umidade por 5.096 kg de massa) e ao final da experimentação (Exp.1-média de 67,3% de umidade por 6.632 kg de massa; Exp.2 média de 61,1,3% de umidade por 5.842 kg de massa). Os volumes dos dejetos líquidos produzidos no sistema SPR foram medidos ao final dos experimentos (2.908 kg Exp.1 e 2.636 kg Exp.2). A produção total de calor foi estimada tendo-se como base, nas medidas de temperatura, de umidade relativa do ar, da vazão de ar, deduzindo-se os aportes artificiais de calor e levando-se em consideração as perdas através das paredes da célula de criação (1,2). As medidas de fluxos de vapor d água extraídos das células de produção (φ Eau, L) foram medidas por diferença entre a umidade específica do ar no interior e no exterior das células (hs - he), pela vazão do ar evacuado (D, m 3 /h) e pelo volume específico do ar não saturado (Vesp) e estimado pela seguinte equação; φ Eau = (hs he) x (D / Vesp) (1,12,14). A estimação da produção de vapor d água pelos animais foi calculada baseada nas equações da CIGR (13). A água metabólica produzida pelo suíno pode ser estimada com base 93

na sua produção de CO 2, pois para cada molécula de CO 2 produzida pelo animal está associada a ela uma molécula de H 2 O (1). A equação que permite estimar a produção é H 2 Omet= [CO 2 / volume molar CO 2 ] x massa molar H 2 O. A água metabólica (H 2 Ometlit) produzida na cama durante o processo de compostagem foi estimada por VAN FAASEN (1992), citado por (1,2), que a estima em média de 0,26 L por suíno e por dia. A água retida no corpo do suíno (H 2 Ocorp, L) pode ser calculada em função da quantidade de proteína retida (Pret) pelo animal (5); H 2 Ocorp= k.4,889.pret 0,885. O volume de dejetos líquidos produzido pelos animais foi estimado em função dos resultados encontrados na literatura (1,2,6) e em função das medidas efetuadas na célula com piso ripado. O consumo de alimento, a conversão alimentar, o ganho de peso e a taxa de músculo não apresentaram diferença (P>0,05) entre os tratamentos estudados. O consumo de água tende a ser mais elevado no sistema de criação sobre camas quando comparado ao sistema de piso ripado, sendo em média de 22,7 litros/suíno ou uma diferença de 0,25 litros de água consumidos diariamente (Tabela 1). A quantidade de água evaporada pelos sistemas estudados é apresentada na Tabela 4. A quantidade de água total extraída foi em média de 516 L no SPC e 278 L no SPR ou seja, 238 L de diferença a favor do SPC. O sistema SPC permite evaporar em média de 2,64 litros de H 2 O por dia, enquanto no SPR a água evaporada no sistema foi de 278 L o que corresponde praticamente a água emitida pelos animal (274 L), demonstra-se que a evaporação d água contida nos dejetos armazenada sob o piso ripado (SPR) pode ser considerada desprezível. Não observou-se diferença (Tabela 4) entre os valores observados e estimados d água armazenada tanto para o piso ripado (203,6 e 195,5 L) como para a cama (14,6 e 13,4 L). Tabela 4 Balanço geral d água, observado ou estimado, em função dos sistemas de criação de suínos em piso ripado ou sobre cama de maravalha (L d água/suíno) Balanço água (L/suíno) Piso Ripado (SPR) Sistema Cama (SPC) Observado Estimado Observado Estimado Consumo de água 423,7 446,4 Água ingerida via ração 22,8 23,0 Água prod. metabólica (suíno) 54,2 54,5 Água prod. metabólica (cama) 23,4 Água retida no corpo do animal 37,6 38,6 Água armazenada sist. (SPR/SPC) 203,6 A 195,9 A 14,6 B 13,4 B Água contida nos dejetos 200,1 210,5 Produção de vapor d água (suíno) 273,5 268,8 Água evaporada no ambiente 4,1 247,2 Água evaporada do sistema 278 A 516 B (A,B) Médias seguidas de letras diferentes na mesma linha diferem estatisticamente (P<0,05). No sistema de criação sobre piso ripado a água é conservada e armazenada sob o piso ou em sistemas de lagoas. Enquanto que no sistema de criação sobre leito permite evaporar quase a totalidade da fração de água contida nos dejetos, graças ao processo de compostagem, reduzindo os custos da edificação, armazenagem, 94

transporte e distribuição em relação aos sistemas com piso ripado. Essa evaporação representa em média 5,7 L. de água por suíno e por dia, enquanto que a quantidade de água introduzida ou gerada pelo sistema é de 6,1 L. Os resultados mostram a necessidade de bem escolher e manejar o suporte que forma o leito com a finalidade de favorecer a evaporação d água e diminuir o volume dos dejetos. 6 Produção de calor em sistemas de produção de suínos sobre cama Na adaptação de edificações destinadas a criação de suínos sobre leito de cama de maravalha ou palha, deve-se considerar as produções de calor geradas pelo binômio animal+cama. As necessidades de ventilação e de isolamento das edificações depende das produções de calor e de vapor d água geradas no sistema. A produção especifica de calor gerado pela cama é pouco conhecida e sua importância é fundamental para a determinação da taxa de ventilação, otimização da evaporação d água e do processo de compostagem. Os experimentos foram conduzidos em laboratório conforme descrição acima, e conduzidos simultaneamente (1). A produção total de calor foi observado tendo como base as medidas de temperatura, de umidade relativa do ar, da vazão de ar, deduzindo-se os aportes artificiais de calor e levando-se em consideração as perdas através das paredes das células de criação (1,12). O fluxo de calor latente (φ lat) foi calculado pela equação: φ lat=d.ρ.lv. q; onde r é a massa volumétrica do ar úmido (kg ar sec.m -3 de ar úmido); Lv é o calor latente de evaporação d água (680,6 W.h.kg -1 de água) e q é a diferença de umidade especifica entre o ar que entra e o ar que sai da edificação (kg de água por kg Ar sec.) O fluxo de calor sensível foi calculado pela equação φsen=φ sa - Qa +Pp, onde φ sa é flux de calor convectivo, Qa fluxo de calor para o aquecimento artificial da edificação (W) e Pp é a perda de calor através da cobertura e das paredes da edificação (W). Escolheu-se como modelos de teórico de produção de calor o da CIGR (4) por tratar-se de acordo entre pesquisadores e o de Bruce e Clark (11) por ser um modelo consagrado, para comparar a produção de calor gerados nos dois sistemas de produção (SPC e SPR). Como não houve diferença (P>0,05) no desempenho zootécnico dos animais nos experimentos realizados (Tabela 1), estes resultados nos permitiram formular a hipótese de homogeneidade dos fluxos de calor metabólico, produzidos pelos animais dentro dos sistemas de produção estudados. A Tabela 5 e a Figura 1 apresentam a evolução do fluxo de calor observado e estimado pelos modelos teóricos utilizados nos sistemas estudados. Pode-se observar, na Tabela 5 e na Figura 1, que os valores observados da produção de calor (total, sensível e latente) sobre o piso ripado não diferem (P<0,05) dos valores teóricos o que demonstra que os modelos desenvolvidos para o piso ripado geram valores que podem ser usados para representar o fenômeno real. No caso da criação sobre cama, os valores observados são todos diferentes (P<0,05) dos valores gerados pelos modelos teóricos com exceção do calor sensível calculado pelo modelo de Bruce (11). Os animais produzem em torno de 170 W na fase inicial de crescimento e 250 W no final da terminação. O coeficiente entre o fluxo sensível (necessidade de isolamento) e 95

latente (necessidade de ventilação) para o caso da cama é de 0,45 valor este diferente (entre O,56 e 0,65) do recomendado pela CIGR (13). Determinou-se experimentalmente o fluxo de calor gerado pelo processo de compostagem da cama (Q totlit ) que pode ser estimado pela seguinte equação: Q totlit =2,026 x m 60,75; m= massa do suíno (kg). Este fluxo de calor pode variar de 80 a 120 W/suíno em função do peso vivo do animal. Tabela 5 Comparação das médias ajustadas de produção de calor (W), observado e teórico, gerados pelos suínos criados nos sistemas de produção em piso ripado ou sobre as camas de maravalha (LABO) Fluxo de Calor Total Sensível Latente Sistema Ripado Cama Ripado Cama Ripado Cama φ observado 213 aa 302 ba 113 aa 127 ba 101 aa 176 ba CIGR 84 199 aa 200 ab 110 aa 112 ab 89 aa 83 ab CIGR 92 186 aa 188 ab 102 aa 106 ab 88 aa 80 ab Bruce 81 175 aa 184 ab 117 aa 122 aa 85 aa 80 ab (a,b)médias seguidas de letras diferentes na mesma linha diferem estatisticamente (P<0,05). (A,B) Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna diferem estatisticamente (P<0,05). Na Figura 1 o φ tot representa o fluxo observado de calor total (SPC-Cama e SPR-Ripado), Qtot 84 e Qtot 92 representam, respectivamente, os fluxos teóricos de calor total estimados pela CIGR (13), em função do peso dos animais e do consumo de ração. Pode-se observar, Figura 1, que as curvas representativas dos modelos teóricos são coerentes com os valores observados no SPR, sendo completamente diferentes do valor observado para o SPC. 7 Aproveitamento dos resíduos como fertilizante O destino final dos dejetos de suínos é seu aproveitamento como fertilizante em lavoura, pastagens, pomares e reflorestamentos. Porém, sua viabilidade econômica é dependente da concentração de nutrientes existentes nos resíduos. Na Tabela 6, pode-se observar os resultados das analises dos resíduos líquidos ou sólidos de diferentes sistemas de produção de suínos. Pode-se observar na Tabela 6 que os resíduos em sistemas de produção sobre pisos ripado apresentam uma concentração de nutrientes muito baixa (dejetos Iíquido bruto ciclo completo), praticamente inviabilizando economicamente seu uso como adubo orgânico transportado por distribuidores acoplados em tratores. Uma alternativa de utilização destes dejetos líquidos é os sistemas de fertirrigação, porém deve-se avaliar a relação custo/beneficio antes de sua implantação. Um outro fator a ser considerado é o uso de dejetos para a melhoria de matéria orgânica em solos pobres. Estudos realizados, tem demonstrado que o uso continuo de dejetos líquidos de suínos em solos não traz aumento significativo da concentração de matéria orgânica. 96

Tabela 6 Resultados observados de analises de resíduos gerados em diferentes sistemas de produção de suínos Dejetos líquidos (BRUTO) Kg/ton ou/m 3 Piso ripado (parcial ou total) %MS Ntot P 2 O 5 K 2 O Dejetos geral (CORPEN, 1988) 5,5 5 4 3 Ciclo completo (CEMAGREF, 1983) 4,9 4,3 3,8 2,6 Terminação (IPT, 1993) 9,3 9,6 4,0 6,4 Terminação perda H 2 O nula (INRA, 1999) 14,5 9,0 6,0 8,5 Ciclo completo (EMBRAPA, 1999) 1,6 2,2 0,6 0,9 Cama Maravalha Terminação por lote (ITO, 1996) 31 7,9 7,6 12,7 Creche por lote (ITP, 1994) 29,2 9,9 7,4 10,5 Terminação (1 ano) (ITP, 1996) 41,6 13,1 17,7 25 Terminação (2 lotes) (INRA, 1999) 38,8 7,9 11,8 14,5 Terminação (EMBRAPA (1 ano), 1994) 43,4 8,7 7,2 11,7 Fonte: de Oliveira,1992 (17); ITP, 1997 (18); de Oliveira, 1999 (1) 350 Fluxo de calor total (W) 300 250 200 150 Φtot-Cama Qtot84-Cama Qtot92-Cama Φtot-Ripado 100 30 40 50 60 70 80 90 100 110 Peso médio dos suinos (kg) Figura 1 Evolução da produção de calor total (φ tot W), por suíno e por dia, observado e teórico gerado nos sistemas de criação sobre piso ripado (SPR) e sobre leito formado por maravalha (SPC). 97

Os resíduos de sistemas de produção sobre camas de maravalha apresentam uma concentração muito maior de nutrientes quando comparado ao sistemas de produção de suínos sobre pisos ripados e uma relação C/N entre 14 e 18, viabilizando seu uso como fertilizante orgânico e facilitando sua distribuição na lavoura. 8 Modelo de edificação para a produção de suínos sobre cama Com a finalidade de oferecer um sistema de produção de baixo custo, aos pequenos e médios produtores, a Embrapa Suínos e Aves desenvolveu um modelo de edificação adaptada às exigências termodinâmica dos animais, ao manejo e às condições climáticas brasileiras (16). Este sistema foi implantado na granja Fontana no município de Gaurama RS em 1994, que foi a pioneira no Brasil. A edificação é construída em alvenaria, com cobertura em telhas de barro e piso em concreto, somente na área destinada aos comedouros e bebedouros. Os bebedouros e comedouros são os mesmos em uso nos sistemas convencionais de produção. A densidade animal recomendada para o sistema é de 1,20 m 2 por suíno. O consumo de maravalha é em torno de 1 m 3 para cada 6 suínos, considerando-se, no mínimo, 3 ciclos de produção com a reposição do material, quando necessário. A altura do leito de maravalha ou palha situa-se entre 0,40 e 0,50 m. A Figura 2 mostra uma vista geral e a Figura 3 a planta baixa da edificação desenvolvida pela Embrapa Suínos e Aves destinado a criação de 200 suínos em leito formado por maravalha nas fases de crescimento e terminação. Figura 2 Vista da edificação para a criação de suínos sobre leito formado por maravalha (Granja Fontana Gaurama/RS). 98

Sistema de produção formado em leito de Maravalha ou Palha 1,80 Área Destinada aos comedouros e bebedouros 10,00 Área Destinada ao leito de Maravalha ou Palha 27,00 3,40 Leito com maravalha ou palha 0,60 0,40 ou 0,50 Figura 3 Planta baixa e corte da edificação para a produção de suínos em leito formado por maravalha, unidade der medida (m). 9 Referências bibliográficas 1. de Oliveira, P.A.V. Comparaison des systèmes d élevage des porcs sur litière de sciure ou caillebotis intégral. Thèse de Docteur, N o : 9 4, D 2, l ENSA de Rennes, France, 272 p., 1999. 2. de Oliveira, P.A.V.; Robin, P.; Kermarrec, C.; Souloumiac, D.; Dourmad, J.Y. Comparaison de l évaporation d eau en élevage de porcs sur litière de sciure ou caillebotis intégral, Journées Rech. Porcine en France, 30, 355 361, 1998. 3. Perdomo, C.C., de Oliveira, P.A.V., Castilho, A.B., Corrêa, E.K., Tumelero, I. Efeito do tipo de cama sobre o desempenho de suínos em crescimento e terminação. VIII Cong. Bras. de Vet. Esp. em Suínos, 421 422, 1997. 4. Robin, P., de Oliveira, P.A.V., Kermarrec, C. Productions d ammoniac, de protoxyde d azote et d eau par différentes litières de procs durant la phase de croissance. Journées Rech. Porcine en France, 30, 111 115, 1999. 5. de Oliveira, P.A.V.; Meunier-Salaun M.C.; Robin, P.; Tonnel N.; Fraboulet J.B.. Analyse du comportement du porc en engraisement élevé sur litière de sciure ou caillebotis intégral. Journées Rech. Porcine en France, 31, 117 123, 1999. 6. Nicks, B., Desiron, A., Canart, B. Bilan environnemental et zootechnique de l engraissement de quatre lots de porcs sur litière biomaîtrisée. Journées de Rech. Porcine en France, 27, 337 342, 1995. 7. Albar J. & Granier R. Incidencia du taux de azoté de l aliment sur la consommation d eau et la production de lisier en engraissement. Techni. Porc, 17(2): 17 28, 1994. 99

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