Estudo preliminar da cinemática da locomoção de crianças em idade escolar transportando mochilas às costas

Documentos relacionados
Actas do X Congresso Ibero-americano em Engenharia Mecânica - CIBEM 1 O. Porto, Portugal 4-7 de Setembro de 2011

ESTUDO DA MARCHA DE CRIANÇAS EM IDADE ESCOLAR QUE TRANSPORTAM MOCHILAS ÀS COSTAS USANDO CINEMÁTICA

CARACTERIZAÇÃO CINEMÁTICA DO MOVIMENTO BÁSICO DE HIDROGINÁSTICA POLICHINELO A DIFERENTES RITMOS DE EXECUÇÃO

ESTUDO DESCRITIVO DE PARÂMETROS TEMPORAIS E CINEMÁTICOS DA MARCHA DE MULHERES JOVENS

Cinemática do Movimento

Oi, Ficou curioso? Então conheça nosso universo.

Análise Clínica da Marcha Exemplo de Aplicação em Laboratório de Movimento

Análise cinemática comparativa do salto estendido para trás

JAT RUNNERS TRIPLO SALTO

EQUILÍBRIO DINÂMICO: INFLUÊNCIA DAS RESTRIÇÕES AMBIENTAIS

AVALIAÇÃO DA CARGA BIOMECÂNICA NO MEMBRO INFERIOR. MODELO BIOMECÂNICO DO EXERCÍCIO DE STEP

UTILIZAÇÃO DA VISÃO PARA A MANUTENÇÃO DO EQUILÍBRIO ESTÁTICO EM JOVENS

Modelamento Biomecânico. Prof. Dr. Guanis de Barros Vilela Junior

Resistência Muscular. Prof. Dr. Carlos Ovalle

Marcha Normal. José Eduardo Pompeu

Estudo dos momentos e forças articulares. Problema da dinâmica inversa. Ana de David Universidade de Brasília

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA. Programa da Unidade Curricular BIOMECÂNICA I Ano Lectivo 2016/2017

BIOMECÂNICA : PROGRAMA E NORMAS ORIENTADORAS

O corpo em repouso somente entra em movimento sob ação de forças Caminhada em bipedia = pêndulo alternado A força propulsiva na caminhada é a força

FORMULÁRIO PARA CRIAÇÃO DE DISCIPLINAS

Centro de Gravidade e Equilíbrio e Referenciais Antropométricos. Prof. Dr. André L.F. Rodacki

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA. Programa da Unidade Curricular BIOMECÂNICA I Ano Lectivo 2014/2015

TÍTULO: ANÁLISE DO PERFIL POSTURAL DOS PRATICANTES DE JUDÔ CONSIDERANDO A PREFERÊNCIA LATERAL

Análise de Forças no Corpo Humano. = Cinética. = Análise do Salto Vertical (unidirecional) Exemplos de Forças - Membro inferior.

TREINO DA TÉCNICA DE CORRIDA. SERAFIM GADELHO Coordenador Regional Zona Norte Programa Nacional de Marcha e Corrida

MANUAL DO TREINADOR NÍVEL I SALTO EM ALTURA COLCHÃO

Salto em Altura ESCOLA SECUNDÁRIA C/ 3º CICLO DA LOUSÃ

Centro de Gravidade e Equilíbrio e Referenciais Antropométricos

ESCOLA E/B, 2/3 MARTIM DE FREITAS

Distúrbios da postura e da marcha no idoso

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA. Programa da Unidade Curricular BIOMECÂNICA DO MOVIMENTO HUMANO I Ano Lectivo 2012/2013

Prof. Ms. Sandro de Souza

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DA DISCIPLINA DE EDUCAÇÃO FÍSICA. Ensino Básico

Concepção de uma ortótese para a articulação do joelho

Departamento de Física da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa T2 FÍSICA EXPERIMENTAL I /08 FORÇA GRAVÍTICA

DISCIPLINA: ESTAFETAS CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS

Departamento de Ciências do Desporto e de Educação Física. Unidade curricular. Biomecânica. Ano: 2º ano Créditos: 7 ECTS

ANÁLISE POSTURAL EM UNIVERSITÁRIOS

Instituto de Cultura Física

RULA (RAPID UPPER LIMB ASSESSMENT)

Aula 3 Controle Postural

Cursos Profissionais de Nível Secundário. Sebenta. Disciplina de. Educação Física. Módulo 4 A2 GIN I Ginástica de Solo Nível Introdução 10º/11º Ano(s)

INTRODUÇÃO ANÁLISE CINEMÁTICA DA MOBILIDADE DO TORNOZELO NA ÓRTESE KAFO SOBRE A MARCHA: ESTUDO PILOTO

12. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 1 ÍNDICE DE MASSA CORPORAL DE ALUNOS DO PROJETO ESCOLA DA BOLA COM BASE NOS TESTES DA PROESP-BR

RECURSOS GRÁFICOS TIAGO M. MAGALHÃES. São Paulo, 13 de janeiro de 2014

II Simpósio Nacional de Olivicultura

ANÁLISE BIOMECÂNICA DA INFLUÊNCIA DO CALÇADO DESPORTIVO NA

RECURSOS GRÁFICOS TIAGO M. MAGALHÃES. São Paulo, 10 de janeiro de 2013

Fig.1: Método da prancha em balanço: (a) determinação experimental do CM do corpo, (b) determinação da massa de um segmento distal.

MÉTODOS DE APROXIMAÇÃO DE DADOS EXPERIMENTAIS DO

Anexo ao documento orientador do MS Fichas Técnicas explicativas das provas.

Formação treinadores AFA

PROGRAMA DE AVALIAÇÃO DO CONDICIONAMENTO FÍSICO E TREINAMENTO ORIENTADO À COMPETIÇÃO: PERFIL DO TIPO DE PÉ E PISADA EM CORREDORES DE RUA

O protocolo SAPO de medidas

DISCIPLINA: ALTURA CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS

Comportamento Motor em Adultos Jovens e Idosos. Desenvolvimento Motor

Utilização da plataforma de força para aquisição de dados. cinéticos durante a marcha humana

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA. Programa da Unidade Curricular BIOMECÂNICA II Ano Lectivo 2016/2017

CAPÍTULO IV APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

COLUNA VERTEBRAL EQUILÍBRIO PARA A VIDA

CARACTERÍSTICAS ANTROPOMÉTRICAS E DE APTIDÃO FÍSICA DE ATLETAS DE FUTSAL FEMININO DA CIDADE DE MANAUS

Higiene, Segurança a e Saúde no Trabalho MOVIMENTAÇÃO MANUAL DE CARGAS

Conceitos Cinemáticos e Cinéticos

Biomecânica. É a ciência que se ocupa do estudo das leis físicas sobre o corpo humano (Amadio, 2000)

Escoamentos Exteriores em torno de Corpos Não-fuselados

Departamento das Expressões: Educação Física PERFIL & COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS NO 3º CICLO- 8º ANO

TEMA Tecnologia Assistiva. Facilitadores convidados Cristina Fank Terapeuta Ocupacional Regis Severo - Fisioterapeuta. 30 de abril de 2015

Mecanização da apanha da azeitona na Região de Mirandela

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA. Programa da Unidade Curricular BIOMECÂNICA DO MOVIMENTO HUMANO I Ano Lectivo 2013/2014

VELOCIDADE E ESTAFETAS I

Recomendações e orientações para a prática de exercícios físicos no idoso. Prof. Dra. Bruna Oneda

Recomendações e orientações para a prática de exercícios. Prof. Dra. Bruna Oneda

COLÉGIO DE SANTA DOROTEIA LISBOA ANO LETIVO 2018/2019

Fase Preparatória Objectivos Operacionais Estratégias / Organização Objectivos comportamentais / Componentes críticas

SALTO EM COMPRIMENTO

Jogos Desportivos Coletivos

INFLUÊNCIA DO EXCESSO DE PESO NA FORÇA MUSCULAR DE TRONCO DE MULHERES

INCLINAÇÃO DO TRONCO E CUSTO DE TRANSPORTE EM DIFERENTES VELOCIDADES DE CAMINHADA COM CARGA EM TERRENO INCLINADO RESUMO

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA. Programa da Unidade Curricular BIOMECÂNICA DO MOVIMENTO HUMANO I Ano Lectivo 2011/2012

INFORMAÇÃO- PROVA DE EQUIVALÊNCIA À FREQUÊNCIA Educação Física 2019

ANÁLISE DO ANDAR EM CRIANÇAS TRANSPORTANDO MOCHILA DO TIPO DUAS ALÇAS POR 15 MINUTOS

EFEITO DO TREINAMENTO DE EXERCÍCIOS DE FLEXIBILIDADE SOBRE A MARCHA DE IDOSAS

Anexo 14. Fase Preparatória Objectivos Operacionais Estratégias / Organização Objectivos comportamentais / Componentes críticas

Observação: As ondas são as que antecedem, a perturbação formada de espumas, há o transporte de energia e a oscilação, não há o transporte da matéria.

Profº Carlos Alberto

DETERMINAÇÃO DA DIFERENÇA ENTRE A VELOCIDADE FISIOLÓGICA E A VELOCIDADE PADRÃO DA MARCHA EM MULHERES ADULTAS JOVENS

Animação Estruturas Articuladas

INSIDE OUT. Volley. Análise Técnica da Base ao Topo

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA. Programa da Unidade Curricular BIOMECÂNICA DO MOVIMENTO HUMANO II Ano Lectivo 2010/2011

Desenvolvimento Motor de 5 a 10 anos ACADÊMICOS: FERNANDO FÁBIO F. DE OLIVEIRA CARLOS ALEXANDRE DA SILVA ALEXIA REGINA KURSCHNER

Metas/Objetivos/Domínios Conteúdos/Competências/Conceitos Número de Aulas

MODELAGEM DE MARCHA E SIMULAÇÃO DE DESGASTE EM PRÓTESE DE JOELHO

MODELO FORMATIVO. DATA DE INíCIO / FIM / HORARIO Manhã - 9:00 às 13:00 Tarde - 14:00 às 18:00

VARIÁVEIS ESPAÇO-TEMPORAIS DO ANDAR EM VELOCIDADE LENTA, LIVRE E RÁPIDA EM CRIANÇAS DE 3 A 8 ANOS

AVALIAÇÃO POSTURAL O QUE É UMA AVALIAÇÃO POSTURAL? 16/09/2014

Recomendações e orientações para a prática de exercícios físicos no idoso. Prof. Dra. Bruna Oneda

CAPITULO III METODOLOGIA

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS. Departamento de Matemática e Física Coordenador da Área de Física

Transcrição:

Estudo preliminar da cinemática da locomoção de crianças em idade escolar transportando mochilas às costas João Rocha 1 ; Tiago M. Barbosa 2 1 Prof. Adjunto, Escola Superior de Tecnologia e de Gestão jrocha@ipb.pt; 2 Prof. Adjunto Escola Superior de Educação barbosa@ipb.pt; Instituto Politécnico de Bragança RESUMO Este foi um estudo preliminar que teve como objectivo analisar a cinemática da marcha de crianças em idade escolar, transportando mochilas às costas. Foram estudadas 6 crianças (5 rapazes e uma rapariga) com 11 anos de idade. Cada criança caminhou sobre um tapete rolante a velocidades incrementais (1.11 m. s -1, 1.38 m. s -1 e 1.67 m. s -1 ) e com diferentes cargas relativas ao peso corporal (0%,10% e 20%) numa mochila escolar. Todos os procedimentos foram filmados no plano sagital e tratados com software específico para análise do movimento humano. Da análise dos resultados observam-se tendências que evidenciam que a carga máxima a transportar mochila às costas estará em torno do valor de 10% do peso corporal. 1- INTRODUÇÃO A marcha é o principal meio mecânico de locomoção do ser humano. A locomoção permite a translação do homem no espaço. Cada ciclo da marcha é dividido em dois períodos, período de apoio e o período de oscilação ou balanço. O período de apoio é o tempo em que o membro inferior estabelece uma cadeia cinemática fechada, ou seja, o pé está em contacto com o chão. Esta fase corresponde a 62 % do ciclo da marcha (Ayyappa 1997). Valores próximos destes (60%-40%) também são descritos por diferentes autores (Whittle 1996; Wu 2000; Carvalho 2002; Barela 2005) para sujeitos jovens e saudáveis. A fase de balanço corresponde ao tempo em que o pé está no ar, isto é, considerando-se o segmento como uma cadeia cinemática aberta. Esta fase corresponde aos restantes 38 por cento do ciclo de marcha (Ayyappa 1997). As crianças adquirem a capacidade de caminhar vertical e autonomamente por volta dos 12-14 meses de idade. Comparativamente com o padrão da marcha do adulto, o padrão das crianças apresenta algumas diferenças biomecânicas. Segundo (Vaughan, Langerak et al. 2000; Wu 2000) os padrões de marcha vão sofrendo alterações cinemáticas com o processo de apropriação do controlo motor da actividade até estar perfeitamente consolidada. Essas alterações traduzem-se na diminuição da área da base de sustentação, em movimentos segmentares mais precisos, no ajuste do balanço dos membros superiores à passada, na diminuição da frequência de passada, no aumento do comprimento de passada e no aumento da velocidade de deslocamento (Vaughan, Langerak et al. 2000; Wu 2000) É na idade de 4 a 6 anos que as respostas posturais passam por um estágio final de maturação. As crianças parecem mostrar novas habilidades de equilíbrio associadas com uma postura madura da marcha durante essa fase de desenvolvimento ontogenético (Daneli and Leiria 2005) A postura humana é essencialmente dinâmica. É possível observar alterações posturais quando se transporta sobrecargas com mochilas. Para que o equilíbrio seja garantido, sempre que se desloca o centro de gravidade, o corpo faz pequenos ajustes visíveis através de pequenas alterações na

posição da cabeça, tronco e membros.(nogueira, Monteiro et al. 2002) Tilbury-Davis (Tilbury-Davis and Hooper 1999) sugere que as diferenças nos resultados entre estudos idênticos, podem ser explicados pelo facto de serem realizados com pessoas com experiência distinta na realização de determinada tarefa. Em particular, pessoas treinadas a transportar pesos às costas podem apresentar um andar normal. No caso de crianças em idade escolar, uma das principais problemáticas relaciona-se com a aplicação de sobrecargas (p.e., mochilas escolares) às costas e as possíveis repercussões no aparelho locomotor, ainda em desenvolvimento. O facto de este tipo de populações tender a utilizar de forma frequente mochilas, com pesos relativos não desprezíveis, nas deslocações entre casa e a escola, assim como, na própria escola, leva a que a identificação, dos factores predisponentes para alterações posturais e consequentes ocorrências de lesões agudas e crónicas, seja fundamental. Os desequilíbrios posturais gerados quando se transporta uma sobrecarga são agravados pelo facto de o peso carregado ser frequentemente desproporcional ao peso do próprio corpo e pelo uso inadequado da mochila, como no caso do apoio em um único ombro (Sacco and Melo 2003) Assim, foi objectivo deste trabalho desenvolver um estudo preliminar para analisar a cinemática da marcha de crianças em idade escolar, transportando mochilas às costas. 2- MATERIAIS E MÉTODOS Previamente ao estudo cinemático, efectuou-se no terreno um estudo epidemiológico. Foram estudadas 15 crianças avaliadas no início do dia escolar ao entrar no estabelecimento de ensino. Foi registada a idade, a estatura (SECA, 242, Alemanha), a massa corporal e a massa da mochila (SECA, 884, Alemanha). Seguiu-se o estudo laboratorial da cinemática da marcha. Foi estudada uma criança, do sexo masculino com 11 anos de idade, 36,8 kg de massa corporal, 1,39 m de estatura. A criança não apresentou qualquer lesão ou patologia ortopédica e/ou músculoesquelética no último ano. Todos os procedimentos respeitaram a Declaração de Helsínquia para investigação com humanos. A criança caminhou continuamente sobre um tapete rolante (PPS 55 Sport I, Woodway, Alemanha), sem inclinação, a velocidades incrementais (1,11 m. s -1 (4 km/h), 1,38 m. s -1 (5 km/h) e 1,67 m. s -1 (6 km/h)) durante 3 minutos. As crianças foram instruídas para caminhar naturalmente. Este procedimento foi realizado três vezes, com diferentes cargas relativas ao peso corporal (0 %, 10 % e 20 % do peso corporal) numa mochila escolar. A mochila era preenchida com livros escolares até se atingir o peso relativo desejado. A mochila era colocada às costas e suportada por ambas as alças na cintura escapular. A ordem de realização da tarefa com as cargas foi determinada aleatoriamente. Entre cada repetição, o intervalo de repouso nunca foi inferior a 60 minutos. A criança teve pelo menos uma sessão de familiarização com o tapete rolante com a duração de 60 minutos em dias anteriores às avaliações. Durante todo o procedimento o sujeito foi filmado no plano sagital (SONY, DCR-PC120E, Japão). Foi efectuada a análise cinemática (Ariel Performance Analysis System, Ariel Dynamics Inc., EUA) de um ciclo completo, para cada carga e velocidade, com recurso à captura directa para computador pessoal através de ligação i.link disponível. Foi utilizado um volume de calibração inamovível com 5,832 m 3 e 7 pontos de calibração. Foi adoptado o modelo antropométrico de Zatsiorsky, adaptado por de Leva (Leva 1996), incluindo a divisão do tronco em 3 partes articuladas. Todos os ciclos gestuais digitalizados foram filtrados, com recurso a dupla passagem, com um filtro de passabaixos de 5 Hz para o centro de massa e de 9 Hz para os segmentos corporais, como

sugerido na literatura (Winter 1990). A fiabilidade do processo de digitalizaçãoredigitalização foi muito elevada (ICC = 0,97 ± 0,01). Foram avaliados os parâmetros gerais do ciclo (frequência de passada e a distância de ciclo), parâmetros de cinemática angular (o ângulo absoluto entre o tronco e o plano horizontal, o ângulo relativo entre a perna e a coxa e, o ângulo relativo entre o pé e a perna), assim como, parâmetros de cinemática linear (amplitude vertical do centro de massa). 3- RESULTADOS E CONCLUSÕES Os resultados referentes ao estudo epidemiológico são apresentados na tabela 1. De salientar que a massa da mochila com os respectivos pertences dos alunos variou entre os 0,70 kg e os 6,2 kg, o que relativizado à massa das crianças corresponde a uma variação entre os 1,20 % e os 18, 90 %. Assim sendo, justifica-se a opção de estudar a cinemática da marcha das crianças com cargas a variar entre os 0 % e os 20 % da massa corporal. Tabela I Estatísticas descritivas do estudo epidemiológico Idade (anos) Massa Corporal (kg) Massa da Mochila (kg) Variação Percentual (%) Média 11,0 48,2 3,4 8,3 Desvio 0,5 12,2 1,6 5,0 Mínimo 10,0 36,6 0,7 1,9 Máximo 12,0 82,3 6,2 18,9 Na figura 1 pode-se observar que a frequência da passada aumenta com a carga e com a velocidade do deslocamento. O maior aumento verifica-se para a maior velocidade utilizada e maior carga. frequência de passada 1,6 1,5 1,4 1,3 1,2 1,1 1 Figura 1 frequência da passada vs % Para 4 e 5 km/h a distância de ciclo decresce ligeiramente quando se passa de 0 para 10 % do peso da mochila relativamente a massa do corpo, no entanto, quando a velocidade é de 6 km/h há um decréscimo significativo na distância de ciclo. distância de ciclo 1,5 1,4 1,3 1,2 1,1 1 0,9 0,8 Figura 2 distância de ciclo vs % O deslocamento vertical do centro de gravidade aumentou quando o sujeito colocou uma carga de 10% do seu peso em qualquer das velocidades testadas. No entanto diminuiu quando se aumentou para 20%. Este resultado poderá indicar que se terá ultrapassado o valor máximo em que o sujeito marchava com conforto. amplitude vertical do centro de massa 7 6,5 6 5,5 5 4,5 4 3,5 3 % peso corporal Figura 3 amplitude vertical do centro de massa vs % Na figura 4 é possível observar que para uma velocidade de 6 km/h o ângulo do tronco teve comportamento com a carga distinto do comportamento a velocidades de

4 e 5 km/h. Tal como verificado na figura 3 em torno da carga de 10% da massa corporal, o ângulo com a horizontal parece também aqui fazer uma inflexão. Talvez esta tentativa de colocar o tronco mais próximo da vertical se deva a uma adaptação muscular à carga. ângulo absoluto entre o tronco e o plano horizontal 85 80 75 70 65 60 55 50 % de peso corporal Figura 4 ângulo absoluto entre o tronco e o plano horizontal vs % Angulo relativo entre a perna e a coxa 142 140 138 136 134 132 130 128 126 124 % de peso corporal Figura 5 ângulo relativo entre a perna e a coxa vs % ângulo relativo entre o pé e a perna 94 93 92 91 90 89 88 87 86 85 Figura 6 ângulo relativo entre o pé e a perna vs % Da observação dos gráficos anteriores (figuras 4, 5 e 6), a apesar de ser relativo a um só sujeito, verifica-se que para uma carga de 10, a variação dos ângulos pé perna, perna coxa e tronco plano horizontal, tem uma inflexão. Quando se observa os mesmos gráficos para uma velocidade de 6 km/h, verifica-se que este comportamento ainda é mais evidente. Estes dados poderão indicar que para estas condições este individuo já não terá as condições para desenvolver uma marcha normal, ou devido à elevada velocidade, já próxima da velocidade de corrida ou devido ao excessivo peso relativo, a que não esta habituado ou à combinação destes dois. 4- REFÊRENCIAS Ayyappa, E. (1997). "Normal Human Locomotion, Part 1: Basic concepts and Terminology." Journal of Prosthetics and Orthotics 9(1): 10. Barela, A. M. F. (2005). Análise biomecânica do andar de adultos e idosos nos ambientes aquático e terrestre. Escola de Educação Física de Esprote. São Paulo, Universidade de São Paulo. PhD: 131. Carvalho, N. A. F. (2002). A carga das mochilas escolares, a saúde e o desenvolvimento harmonioso das crianças Faculdade das ciências do desporto e da educação física. Porto, Universidade do Porto. Mestre: 138. Daneli, A. S. and M. T. Leiria. (2005). "Análise da Marcha com Diferentes Sobrecargas de Peso em Préadolescentes." from www.wgate.com.br/conteudo/medic inaesaude/fisioterapia/. Leva, P. d. (1996). "Adjustments to Zatsiorsky-Seluyanov s segment inertia parameters." J Biomechanics 29(9): 1223-1230. Nogueira, D. V., W. Monteiro, et al. (2002). Análise da marcha humana mediante sobrecarga com mochila, Fisionet. Sacco, I. C. N. and M. C. S. Melo (2003). "Análise biomecânica e cinesiológica de posturas mediante fotografia digital: estudo de casos." R. Bras. Ci. e Mov. Brasília 11(2): 25-33. Tilbury-Davis, D. C. and R. H. Hooper (1999). "The kinetic and kinematic effects of increasing load carriage

upon the lower limb." Human Movement Science 18(5): 693-700. Vaughan, C. L., N. Langerak, et al. (2000). The acquisition of mature gait patterns in children. IX congresso Brasileiro de Biomecânica. Whittle, W. M. (1996). Gait analysis: an introduction. Oxford, Butterworth Heinemann. Winter, D. A. (1990). Biomechanics and Motor Control of Human Movement, John Wiley. Wu, G. (2000). "Normal Gait Across Age Spectrum." 2006, from www.uvm.edu/~gwu/120lgaitiv.ht ml.