Privatização do emprego público, reforma do Estado e mercado: as novas ortodoxias e o peso da história XV Congresso do CLAD sobre a Reforma do Estado e da Administração Pública Santo Domingo República Dominicana 9/12 Novembro 2010 João Salis Gomes
Génese do Estado de direito Representação bipolar da vida social Privado Esfera das relações de interacção que ligam indivíduos e grupos com fundamento na livre iniciativa individual. Público Esfera das relações de autoridade e de constrangimento, integrando o conjunto das funções de direcção e gestão da colectividade.
Privado Sistema de valores diferente Dominado pelo interesse privado (cada um prossegue a realização dos próprios fins, garantindo a sua autonomia e protegendo a sua intimidade). Público Dominado pelo interesse geral (interesse da sociedade, realização da sua unidade).
Quadros normativos diferentes Esfera pública submetida a um regime jurídico globalmente derrogatório do direito comum vigente na esfera privada ou, pelo menos, a regras parcialmente específicas.
Privado/público Sistemas de valores diferentes Quadros normativos diferentes Princípios de gestão diferentes
Administração Pública Distinção entre administração pública e administração privada Objecto Necessidades colectivas por cuja satisfação se responsabiliza a própria colectividade Fins Prossecução em exclusivo do interesse público definido pelo poder político nos termos da lei Meios Recurso a poderes de autoridade Restrições, encargos e deveres especiais
Modelo de referência da AP: organização burocrática Organização interna Profissionalização Hierarquia Unidade Relação com a sociedade Distanciamento Autoridade Juridicização Primado do cidadão/administrado
Evolução do Estado de direito Novos quadros de acção Emergência dum soberano privado supraestadual de carácter difuso fundado no mercado. Esfera pública e privada são confrontadas com problemas idênticos em termos de produtividade e de rendimento pelo que as suas respostas têm grandes pontos de contacto. O público é levado a importar modelos e práticas do privado, para compensar, em nome da eficácia, valor determinante do privado, o seu déficit de legitimidade.
Nova gestão pública/novo serviço público Organização interna Contratualização Rede Policentrismo Relação com a sociedade Mercado Participação Managerialização Primado do cidadão/cliente
Emprego público Tendências internacionais Alinhamento progressivo das condições de trabalho dos trabalhadores da Administração Pública com as práticas em vigor no mercado de trabalho, designadamente quanto a: modelos de recrutamento postos de trabalho evolução salarial segurança social pensões férias, faltas e licenças horários de trabalho formas de cessação do vínculo
Emprego público Tendências internacionais O número de contratos privados aumenta e o de funcionários públicos decresce; Adoptam-se políticas de definição de esferas limitadas para a manutenção do estatuto de direito público; A adopção de regimes privatísticos é rodeada de um contexto de descentralização e de desregulação.
Função pública em Portugal Princípios constitucionais Reserva de lei em matéria de bases do regime e âmbito da função pública Igualdade no acesso à função pública Dedicação exclusiva ao interesse público
Regime da função pública Autonomização em relação ao mundo do trabalho e das relações laborais Sujeição a um regime específico
Especificidade da Administração Pública como entidade empregadora EMPRESA Organização orientada unicamente para a função produtiva; Obediência a critérios de produtividade; Prossecução do interesse económico do empresário; Utilização de todos os meios, com excepção dos proibidos por lei. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Organização exclusivamente voltada para a realização do interesse público; Pode não haver coincidência entre o interesse público prosseguido e a utilidade económica da actividade; Subordinação à lei e a um conjunto de princípios igualdade, imparcialidade, justiça, proporcionalidade e boa-fé; Limitação de meios só os que a lei permitir
Conclusão A progressiva substituição do regime estatutário pelo direito laboral como quadro normativo das relações de emprego público não pode ser vista como uma mera questão de gestão. Só a dimensão política das opções tomadas permite explicar com rigor a sua razão de ser e enfrentar os problemas de identidade e de legitimação que se colocam hoje a quem trabalha na administração pública.
Muito obrigado. jasg@iscte.pt