E AGORA O QUE FAREMOS COM A HOMOFOBIA? AÇÕES ESTATAIS NO PROCESSO DE COMBATE À VIOLÊNCIA HOMOFÓBICA CONTRA A POPULAÇÃO LGBT

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Transcrição:

Simpósio Temático nº 4: Direitos Humanos, Gênero e Segurança Pública E AGORA O QUE FAREMOS COM A HOMOFOBIA? AÇÕES ESTATAIS NO PROCESSO DE COMBATE À VIOLÊNCIA HOMOFÓBICA CONTRA A POPULAÇÃO LGBT Moisés Santos de Menezes 1 Inez Teresinha Stampa 2 Marco José de Oliveira Duarte 3 O Brasil se destaca no Ranking mundial de violências (assassinatos e suicídios) contra a população LGBT, conforme dados do Grupo Gay da Bahia GGB, a cada 27 horas se mata um LGBT no país, uma vez que, 40% dos assassinatos de transexuais e travestis do mundo em 2014 aconteceram no Brasil (GGB, 2015). A Transgender Europe (TGEU) reafirma essa questão quando se retrata de assassinatos de pessoas trans, onde apontou que entre 65 país entre 2008 e 2015 o Brasil encontra-se em primeiro lugar em mortes desses sujeitos com 802 casos (EUROPE, 2016, p.1). Analisando esse cenário de violências e violações de direitos a população LGBT no Brasil, questionamos: Qual seria o verdadeiro papel do Estado neste processo de enfrentamento da violência contra a população LGBT? Através de que meios e situações o Estado pode proporcionar melhores condições de proteção e segurança a este público alvo? Para responder à primeira questão faz-se importante a utilização de uma parte do texto de apresentação dos Princípios de Yogyakarta elaborados na Indonésia (2006, p.4) onde alega que: O poder público, nas suas três esferas, tem por obrigação assegurar, prevenir, proteger, reparar e promover políticas públicas que busquem sempre a afirmação dos Direitos Humanos para toda sociedade. O Estado, verdadeiramente democrático, pressupõe a prevalência de ações e iniciativas coercitivas a todas as modalidades de preconceito, discriminação, intolerância ou violência motivada por aspectos de origem, raça, sexo, cor, idade, crença religiosa, condição social ou orientação sexual Este debate foi retomado na I Conferência Nacional LGBT em 2008, quando, na carta construída por delegados durante o evento, foi destacada a necessidade do poder público nas suas três esferas, o dever do diálogo juntamente com a sociedade civil na busca da ampliação, 1 Doutorando em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, e-mail: moisesmenezesmm@yahoo.com.br. 2 Professora Adjunta do Departamento de Serviço Social da PUC-Rio, e-mail: inestampa@ig.com.br. 3 Professor Doutor da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e-mail: majodu@gmail.com.

transversalidade e capilaridade de políticas públicas voltadas ao atendimento de demandas da população LGBT, visando a um aprimoramento legislativo pelo avanço jurisprudencial que seja capaz de reconhecer no ordenamento constitucional, a legitimidade de direitos e garantias legais para este público (Brasil, 2008). O papel do Estado perante o enfrentamento da violência homofóbica perpassa por todos os seus poderes, (Legislativo, Executivo e Judiciário) uma vez que se faz muito complicado a viabilização de direitos à população LGBT de forma fragmentada nestes poderes, demandando ações diretas e concretas dos mesmos. A preocupação do Estado com as demandas da população LGBT de forma direta data de poucos anos e esteve ligada às questões de saúde voltadas para a prevenção de IST, HIV/AIDS, porém, a homofobia é um fenômeno que causa diretamente adoecimento. Rossi (2010) alega que até 1995 foram realizados sete encontros de gays e lésbicas promovidos pelo movimento LGBT, nenhum destes eventos obteve financiamentos por parte do Estado, só depois da criação do Programa AIDS I, em 1994, os encontros do movimento passaram a contar com o financiamento estatal, porém, como condicionalidade o movimento deveria colocar como um dos pontos de debates para tais encontros a temática do HIV/AIDS. Por muitos anos toda e qualquer política pública para LGBT esteve voltado ao enfrentamento ao HIV/AIDS, desse modo o movimento LGBT começou a cobrar do Estado mais políticas públicas direcionadas a diversos outros aspectos como cultura, segurança e principalmente educação, essa mudança iniciou-se através da execução de projetos realizados pelas Organizações Não Governamentais ONG. Em relação à segunda questão, a proteção do Estado dispensada aos direitos da população LGBT é muita demandada pela necessidade da implementação de políticas públicas em todas as áreas de alcance estatal. Simões e Facchini (2009) afirmam que mesmo com o acirramento dos debates sobre os direitos sexuais e reprodutivos, o Estado brasileiro permanece lento na implementação de ações e políticas públicas nesta área. Um exemplo claro disto é que ainda não existe no país nenhuma legislação federal específica de criminalização e combate à homofobia e que ademais assegure proteção e direitos a LGBT. Conforme Silva Junior (2012) e Leite (2014), a formulação de políticas públicas para LGBT foi visibilizada a partir da segunda versão do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH II), de 2002, quando numa seção intitulada: orientação sexual solicita-se a construção de dados sobre a situação de LGBT, bem como as situações de violências praticadas em razão da orientação sexual, dentre outras quinze ações adotadas pelo Governo

buscando o combate à homofobia e a sensibilização, reconhecimento e respeito pelos seus direitos. Em 2004 o Brasil lança o programa nacional Brasil sem Homofobia (BSH), desenvolvido pela SDH/PR com a colaboração do movimento LGBT. Resultado das diversas reivindicações de LGBT junto ao Estado, com vista a promoção de direitos que combata a homofobia. (Brasil, 2004. p.7). Uma das ações do BSH se concretizou através da criação dos Centros de Referência em Direitos Humanos, Prevenção e Combate à Homofobia (CCH), espalhados nas principais capitais do país, para prestar atendimento à comunidade LGBT com ações de prevenção, combate e reparação a situações de preconceito e discriminação contra LGBT (Gomes; Castellucio, 2009). Em 2007 foi colocado em vigor o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos em que entre seus objetivos se destacam: a busca para incentivar os profissionais do sistema de justiça e segurança pública, as questões que dizem respeito à diversidade e exclusão social, defendendo os grupos descriminalizados como as mulheres, os povos indígenas, e toda população LGBT, entre outros (UNESCO, 2007). Outras iniciativas do governo brasileiro para com este público se deu com a construção do Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, através da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, em 2009 e logo após o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) (Brasil, 2009). Ressalta a Portaria de nº 766, de 3 de julho de 2013, que institui o Sistema Nacional de Promoção de Direitos e Enfrentamentos a Violência contra Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Além disso, foram criados amparos legais que almejam conquistar alguns direitos aos LGBT, como o nome social de transexuais e travestis amparado pelo projeto de lei nº 6.655-A de 2006, que altera o art. 58 da Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973, possibilitando a substituição do prenome de pessoas transexuais, com o projeto de lei n 2.976 de 2008, este direito se estende também para pessoas que possuem orientação de gênero travesti. Logo após esta iniciativa, a Procuradoria Geral da República em 21 de julho de 2009 reconhece o direito à utilização do nome social com a substituição do pronome e sexo no registro civil independente da cirurgia de transgenitalização. O Ministério da Saúde também retrata a necessidade da garantia de um atendimento humanizado e viabilizador de Direitos Humanos a todo público LGBT através da Portaria de n. 1.820, de 13 de agosto de 2009. O Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão, através da Portaria nº. 233, de 18 de maio de 2010, assegura aos servidores públicos,

no âmbito da Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional, o uso do nome social adotado por travestis e transexuais. No ano de 2010 foi lançado o PNDH3, e uma de suas diretrizes, especificamente os eixos 7 e 10, visa à garantia de direitos de forma universal, indivisível e interdependente assegurando a cidadania plena citando a população LGBT como sujeitos que demandam e possuem o direito de um atendimento humanizado em todas as políticas públicas. No ano de 2011 foi criado o Conselho Nacional contra a Discriminação LGBT, que tem como finalidade formular e propor diretrizes de ação governamental, em âmbito nacional, voltadas para o combate à discriminação em busca da promoção e defesa dos direitos LGBT. Tal iniciativa ainda não alcançou um quantitativo significante de municípios e estados brasileiros, ou seja, menos de dezenas de municípios possuem Conselho Municipal LGBT (Brasil, 2013). Outra iniciativa do governo federal em relação ao combate à discriminação e violência foi a criação do Programa de Proteção às Vítimas e Testemunhas Ameaçadas, tal ação foi implementada pela Coordenação Geral de Proteção a Vítimas e Testemunhas responsável por executar a política pública de proteção a estes sujeitos e seus familiares que estejam coagidos ou expostos à grave ameaça em razão de colaborarem com a investigação ou processo criminal. A execução da política se dá entre os governos estaduais e organizações de direitos humanos. Conforme a Cartilha da SDH/PR publicada em 2013, o referido programa encontrase presente em 17 unidades da Federação. Em 2011, ocorreu a 2ª Conferência Nacional LGBT e segundo Silva Junior (2012), vários avanços e metas traçadas na primeira conferência não foram alcançados, poucos foram os avanços na implementação de políticas públicas para o enfrentamento da homofobia e promoção da cidadania LGBT. No ano de 2013 o Governo Federal instituiu o Sistema Nacional de Promoção de Direitos e Enfrentamento à Violência contra LGBT, com o objetivo de promover cidadania e direitos LGBT, através da criação de conselhos, planos e órgãos de gestão da política pública LGBT. Como também com a utilização do Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra esse público alvo, repartindo competências entre os estados e municípios neste processo, e com a criação de um comitê reunindo a sociedade civil organizada e os Centros de Promoção e Defesa dos Direitos LGBT (Irineu, 2014 e Silva Junior, 2012). Em nível nacional, tanto nos âmbitos estaduais ou municipais, é possível observar um grande arsenal de leis, decretos, portarias, projetos, projetos de leis, planos e programas que buscam assegurar alguns direitos ao público LGBT. Segundo o manual do BSH, atualmente, a proibição de discriminação por orientação sexual consta em três

Constituições Estaduais (Mato Grosso, Sergipe e Pará), porém existem legislações específicas nesse sentido em mais cinco estados brasileiros, a exemplo do Rio de Janeiro, Santa Catarina, Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e no Distrito Federal e em mais de oitenta municípios brasileiros há algum tipo de lei que contempla a proteção dos direitos de LGBT e o combate à discriminação por orientação sexual. Algumas outras inciativas estatais em relação ao combate a violência contra a população LGBT foram tomadas de forma pontual por alguns estados brasileiros a exemplo do Rio de Janeiro com a implantação do Programa Rio Sem Homofobia, no Piauí, na criação do Núcleo Especializado no Atendimento às Vítimas de Discriminação e da Delegacia de Defesa e Proteção dos Direitos Humanos e Repressão às Condutas Discriminatórias, este último, formalizado pelo governo do estado por meio da Lei Complementar nº 51, de 23 de agosto de 2005 (Brasil, 2008). Considerações Finais Esse estudo não visa esgotar o debate aqui em pauta, mas trazer contribuições teóricas e críticas sobre o enfrentamento da violência homofóbica na vida da população LGBT, abrindo novas possibilidades de debates e discussões diversas sobre o assunto, uma vez que homofobia é um fato real e bastante presente na sociedade contemporânea, principalmente na vida da população LGBT, se apresentando de diversas formas e maneiras distintas em todos os ambientes ao qual as normas e padrões heterossexuais são diretamente ameaçadas ou rompidas. Tal fenômeno demanda a construção e efetivação de políticas sociais públicas capazes de se trabalhar a homofobia como uma das expressões da questão social que compete a todos os sujeitos sociais enfrenta-la diretamente. Constitucionalmente o Brasil é um país laico, porém na sua realidade política administrativa nem sempre a laicidade se faz presente. Posicionamentos advindos do poder legislativo, executivo e judiciário brasileiro em relação aos empecilhos da implementação, ampliação e disseminação das políticas públicas sociais para com a viabilização de direitos a população LGBT tem se apresentado cotidianamente por trás de inúmeros discursos conservadores, religiosos e fundamentalistas. As conquistas do movimento LGBT enquanto aos seus direitos ainda se apresentam de forma fragmentada e pontuais. O Estado tem silenciado, omitido e negado a aprovação de amparos legais que buscam viabilizar alguns direitos básicos para esses sujeitos como a criminalizar a homofobia, além das ações de sensibilização, cuidado e respeito com os direitos humanos e sexuais dos mesmos.

Atualmente as ações que visam o combate a violência homofóbica se apresentam como políticas de governo (consideravelmente os governos de esquerda tem demonstrado um maior compromisso com a elaboração e implementação de ações relacionadas a população LGBT, marco este presente no grande salto evolutivo destas questões, na gestão pública atual) e não como políticas de Estado, que independentemente da gestão partidária permanece se efetivando na sociedade. Um dos grandes exemplos desta realidade é o programa Rio sem homofobia que com a mudança da gestão pública do estado do Rio de Janeiro teve suas ações suspendidas por tempo indeterminados sem justificativas plausíveis para tal situação. Outra questão bastante preocupante em relação as iniciativas estatais frente ao combate a violência homofóbica é a ausência de comprometimento dos seus representantes sejam eles políticos e servidores em geral com essa questão, tratando a homofobia como um problema particularizado de determinados sujeitos LGBT, familiares e amigos, ao invés de uma demanda social cabendo a todos combate-la. Outro fator bastante pertinente que demonstra a ineficiência do Brasil para com as demandas da população LGBT e a ausência de uma legislação federal que criminalize as ações de violência contra essa minoria social como forma de proteção a esse sujeitos como existem com as demais minorias, a exemplo dos negros com a lei do racismo, da violência contra a mulher com a lei Maria da Penha, dos idosos com seu estatuto e das crianças e adolescentes com o Estatuto das Crianças e dos Adolescentes ECA. A população LGBT mesmo com as lutas travadas pelo movimento social ainda não conseguiu o respaldo legal legislativo em âmbito nacional, que vise proteger tais sujeitos de situações violentas e discriminatórias. É mister destacar que tanto a criminalização da homofobia quando a efetivação de políticas sociais públicas que deva ter como objetivo central o respeito e reconhecimento da diversidade sexual e de gênero deve ser acompanhada com medidas que visem a sensibilização dos sujeitos sociais e não como meras ações condenatórias e penais que busquem a execuções de medidas desarticuladas e fragmentadas com as demais políticas públicas. É preciso uma interligação com todas as políticas capazes de articular ações focadas na erradicação da violência como uma negação dos direitos humanos e sexuais destes sujeitos. Em suma é necessário se pensar em políticas públicas de Estado, capazes de trabalhar não apenas as possíveis vítimas de homofobia, mas a todos os envolvidos neste processo como os autores das situações de violência, família e sociedade em geral, desta forma

entendemos que combater o preconceito e a discriminação homofóbica não se apresenta como uma demanda única e exclusiva do estado, mas de todos os sujeitos sociais, porém o estado possui um papel importantíssimo de prevenção, reparo e destituição dos mecanismos de violência contra a população LGBT. A complexidade do próprio fenômeno da homofobia por si só demanda uma articulação entre todas as políticas públicas no seu processo de enfrentamento, uma vez que a violência homofóbica atinge todas as áreas da vida humana de todos aqueles que são considerados destoantes dos padrões heterossexuais. Referências BRASIL. Portaria nº 766, de 3 de julho de 2013. Brasília: SDH/PR, 2013.. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Programa Nacional de Direitos Humanos III (PNDH-3). Brasília, 2010.. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Portaria n 233, de 18 de maio de 2010.. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS nº 1.820, de 13 de agosto de 2009.. Secretaria Especial de Direitos Humanos. Anais da I Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais GLBT. Brasília: SEDH, 2008.. Conselho Nacional de Combate à Discriminação. Brasil sem Homofobia: Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra GLTB e de Promoção da Cidadania Homossexual. Brasília: SEDH/PR, 2004.. Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973..Projeto de Lei n.º 6.655-A, de 2006.. Projeto de Lei n.º 2.976, de 2008. EUROPE. T. Mais de 2.000 Pessoas Trans Assassinadas nos Últimos 8 Anos. 2016. Disponívelem:<http://transrespect.org/wpcontent/uploads/2016/03/TvT_TMM_TDoV2016_P R_PT.pdf>. Acesso em: 26 maio 2016. FONTES, M. Das ruas às manchetes: o enquadramento da violência homofóbica. In: DINIZ; D.; OLIVEIRA, R. M. de (Orgs.). Notícias de homofobia no Brasil. Brasília: Letras Livres, 2014. GOMES, A. M; CASTELLUCCIO, M. de C. Diversidade sexual e direitos LGBTT. In: MOTTI, A. J. A.; FARIA, T. D. (Orgs.). Programa de Ações Integradas e Referenciais de Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-Juvenil no Território Brasileiro (PAIR). Campo Grande: UFMS, 2009. GRUPO GAY da BAHIA (GGB). Assassinato de homossexuais (LGBT) no Brasil: Relatório 2013/2014. Salvador: GGB, 2015a. INDONÉSIA. Princípios de Yogyakarta: Princípios sobre a aplicação da legislação internacional de direitos humanos em relação à orientação sexual e identidade de gênero, 2006. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/gays/principios_de_yogyakarta.pdf>. Acesso em: 27 set. 2013. IRINEU, B. A. Homonacionalismo e cidadania LGBT em tempos de neoliberalismo: dilemas e

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