Descoberta, Posse, Propriedade, Fruto, Produto, Indenização e retenção da coisa, Direito a usucapir, Perda involuntária e permanente da coisa

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Transcrição:

Curso de Direito - Parte Especial - Livro III - Do Direito das Coisas - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 1 / 11 DA PROPRIEDADE EM GERAL P A R T E E S P E C I A L LIVRO III DO DIREITO DAS COISAS TÍTULO III DA PROPRIEDADE CAPÍTULO I DA PROPRIEDADE EM GERAL Seção II Da Descoberta Art. 1.233... 1.237 Conceitos: Descoberta, Posse, Propriedade, Fruto, Produto, Indenização e retenção da coisa, Direito a usucapir, Perda involuntária e permanente da coisa A Seção II do Capítulo I do Título III do Livro III da Parte Especial do Código Civil ora vigente encerra os artigos introdutórios à aquisição da propriedade imóvel. O entendimento dos conceitos subjacentes à esses artigos é de fundamental importância para completo domínio da legislação que regula a propriedade imóvel no Brasil e para o exercício da atividade profissional correlata. Por isso, após a apresentação da Seção II - Da Descoberta, será apresentada uma recapitulação detalhada sobre o instituto da posse e das noções gerais sobre a propriedade. Da Descoberta A expressão popular achado não é roubado não se aplica ao Direito, pois se "não é roubado", comportamento que implica a posse da coisa com utilização da violência, "achado é apropriado indevidamente", como dispõe a seção sobre a descoberta da propriedade no direito das coisas. Tal acontece porque o Direito supõe que o legítimo proprietário perdeu a posse [e não o direito de propriedade] sobre a coisa sem a intencionalidade de dela se desfazer e continua a procurá-la, independente do tempo que tenha transcorrido até ser achada (descoberta). Tal situação difere daquela em que a coisa foi abandonada ("res derelictae") e daquele em que a coisa nunca teve dono ("res nullis"). As regras que norteiam a descoberta objetivam a proteção ao patrimônio do legítimo proprietário em face de "acidentes" inerentes à vida cotidiana e, por isso, o instituto da descoberta não deve ser interpretado pela literalidade da palavra "descoberta", mas no contexto que a pessoa pode "perder" a coisa de modo não intencional mesmo quando a entrega para uma pessoa acreditando ser outra. Assim é que o entregador de uma encomenda a perde quando a entrega à outro que não seu ao legítimo destinatário na crença de estar procedendo corretamente e a coisa não é restituída. Também é exemplo o depósito bancário realizada por equívoco em conta de pessoa desconhecida ("o depositante perde a coisa e o beneficiário a descobre"). O princípio subjacente aos exemplos apresentados é de que ninguém pode prejudicar a outrem. Por outro lado, ninguém deve dispor do próprio patrimônio para beneficiar a outrem sem a devida recomposição desse patrimônio. Por isso, se a descoberta envolver o dispêndio de recursos até retornar para o legítimo proprietário, então este tem a obrigação de restituir as despesas e, eventualmente, recompensar o descobridor.

Curso de Direito - Parte Especial - Livro III - Do Direito das Coisas - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 2 / 11 Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor. Parágrafo único. Não o conhecendo, o descobridor fará por encontrá-lo, e, se não o encontrar, entregará a coisa achada à autoridade competente. Art. 1.234. Aquele que restituir a coisa achada, nos termos do artigo antecedente, terá direito a uma recompensa não inferior a cinco por cento do seu valor, e à indenização pelas despesas que houver feito com a conservação e transporte da coisa, se o dono não preferir abandoná-la. Parágrafo único. Na determinação do montante da recompensa, considerar-se-á o esforço desenvolvido pelo descobridor para encontrar o dono, ou o legítimo possuidor, as possibilidades que teria este de encontrar a coisa e a situação econômica de ambos. Art. 1.235. O descobridor responde pelos prejuízos causados ao proprietário ou possuidor legítimo, quando tiver procedido com dolo. Art. 1.236. A autoridade competente dará conhecimento da descoberta através da imprensa e outros meios de informação, somente expedindo editais se o seu valor os comportar. Art. 1.237. Decorridos sessenta dias da divulgação da notícia pela imprensa, ou do edital, não se apresentando quem comprove a propriedade sobre a coisa, será esta vendida em hasta pública e, deduzidas do preço as despesas, mais a recompensa do descobridor, pertencerá o remanescente ao Município em cuja circunscrição se deparou o objeto perdido. Parágrafo único. Sendo de diminuto valor, poderá o Município abandonar a coisa em favor de quem a achou. REVISÃO CONCEITUAL ABRANGENTE POSSE E PROPRIEDADE Posse Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade [se o exercício de algum dos poderes não for em nome próprio então haverá detenção]. Direito de posse

Curso de Direito - Parte Especial - Livro III - Do Direito das Coisas - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 3 / 11 Poderes inerentes à propriedade: Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar (pôr a coisa a seu serviço sem alterar sua substância), gozar (fazer a coisa frutificar e beneficiar-se do produto desses frutos) e dispor (consumir, alienar, gravar ou disponibilizar para serviços a terceiros) da coisa, e o direito de reavê-la (proteger) do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais (função social da propriedade, consequência da constitucionalização do Direito Civil) e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. Efeitos das posse LEGÍTIMA DEFESA é legítimo o emprego da força de modo moderado e durante ou imediatamente após a ameaça à integridade do patrimônio pessoal. Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. 1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. 2º Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa. DIREITO AOS INTERDITOS: interdito é uma ordem do juiz e corresponde às três modalidade de ações disponíveis para recuperação da posse, tanto nos casos de bens móveis ou imóveis. Turbação: Prejuízo, mediante violência, à que o possuidor exerça o direito de posse sobre a coisa, como a invasão parcial de imóvel ou impedimento de acesso a este. A ação adequada para sanar a turbação é a Ação de Manutenção de Posse (artigo 560 e seguintes do Novo Código de Processo Civil): Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e reintegrado em caso de esbulho. Art. 561. Incumbe ao autor provar: ( ) IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a perda da posse, na ação de reintegração. Art. 563. Considerada suficiente a justificação, o juiz fará logo expedir mandado de manutenção ou de reintegração. Esbulho: Impedimento total (perda) à que o proprietário exerça o direito de posse sobre a coisa, como a invasão de imóvel. A ação adequada para sanar o esbulho é a Ação de Reintegração de Posse (artigo 560 e

Curso de Direito - Parte Especial - Livro III - Do Direito das Coisas - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 4 / 11 seguintes do Novo Código de Processo Civil). Ação de interdito proibitório: ação preventiva diante de série ameaça à posse. Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. Ação de manutenção de posse: ação cabível quando ocorrer turbação à posse. Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. Ação de reintegração de posse: ação cabível quando ocorrer esbulho. Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. As ações de manutenção e reintegração de posse, para atingirem máxima eficácia, devem ser propostas no prazo de um ano e um dia do acontecimento da agressão (Código de Processo Civil, artigo 558), de modo que o juiz determine liminarmente o afastamento dos indicados na petição inicial. Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial. Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum o procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório. Art. 562. Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração, caso contrário, determinará que o autor justifique previamente o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência que for designada. GOZO DE FRUTOS E PRODUTOS: O possuidor de boa-fé tem direito aos frutos e aos produtos da coisa possuída Frutos: bens ou utilidades provenientes da coisa e que são renováveis. Apresentam três propriedades: periodicidade na sua produção pela coisa; inalterabilidade da substância da coisa de que são originários; separabilidade da coisa de que são originários. Produtos: decorrem da coisa e não são renováveis. Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos. Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio. DIREITO À INDENIZAÇÃO E RETENÇÃO DE BENFEITORIAS: O possuidor de boa-fé tem direito à indenização pelo proprietário das melhorias necessárias realizadas sobre a coisa em razão do incremento

Curso de Direito - Parte Especial - Livro III - Do Direito das Coisas - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 5 / 11 sobre seu valor econômico original. Sobre as benfeitorias úteis terá direito à indenização se tiver sido autorizado a realizá-las; sobre as voluptuosas não terá direito à indenização. DIREITO À USUCAPIR: A posse, sistemática e contínua ao longo do tempo, é uma das principais características para aquisição do direito de domínio presente na usucapião. RESPONSABILIDADE PELA DETERIORAÇÃO DA COISA: O possuidor de boa-fé tem responsabilidade subjetiva e somente se responsabilizará por indenizar se agir com culpa na deterioração da coisa. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA: Vigora a presunção de que o possuidor é o dono. Art. 1.211. Quando mais de uma pessoa se disser possuidora, manter-se-á provisoriamente a que tiver a coisa, se não estiver manifesto que a obteve de alguma das outras por modo vicioso. Perda da posse Perde-se a posse quando a pessoa deixa de exercer sobre a coisa qualquer dos três poderes inerentes à propriedade, conforme artigos 1.196, 1.204 e 1.223 do Código Civil. Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade. Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196. A perda pela inalienabilidade da coisa ocorre quando esta é colocada fora do comércio em razão da ordem pública, da moralidade, da saúde pública ou por razões de segurança. fato que impede, de modo exclusivo, o exercício dos poderes inerentes à propriedade (a coisa pode ser confiscada). A perda pela posse de outrem se verifica quando a coisa é retirada do possuidor e não reintegrada em tempo hábil. caracterizando-se a inércia do possuidor, turbação ou esbulho no exercício de sua posse. Perda involuntária e permanente da coisa: Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor. Parágrafo único. Não o conhecendo, o descobridor fará por encontrá-lo, e, se não o encontrar, entregará a coisa achada à autoridade competente. Art. 1.237. Decorridos sessenta dias da divulgação da notícia pela imprensa, ou do edital, não se apresentando quem comprove a propriedade sobre a coisa, será esta vendida em hasta pública e,

Curso de Direito - Parte Especial - Livro III - Do Direito das Coisas - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 6 / 11 deduzidas do preço as despesas, mais a recompensa do descobridor, pertencerá o remanescente ao Município em cuja circunscrição se deparou o objeto perdido. Parágrafo único. Sendo de diminuto valor, poderá o Município abandonar a coisa em favor de quem a achou. Perda pela posse de outrem: ocorre quando, ainda que a perda tenha ocorrido contra sua vontade, o possuidor se mantém inerte na adoção da medida capaz de fazer retornar a coisa ao seu domínio. O exemplo mais simples e corriqueiro é o do furto ou roubo não seguido do registro de ocorrência policial. Propriedade Caracterização da propriedade Direitos Reais versus Direitos Pessoais "As expressões jus in re e jus ad rem são empregadas, desde o direito canônico, para distinguir os direitos reais dos pessoais. O vocábulo reais deriva de res, rei, que significa coisa. Segundo a concepção clássica, o direito real consiste no poder jurídico, direto e imediato, do titular sobre a coisa, com exclusividade e contra todos. No polo passivo incluem-se os membros da coletividade, pois todos devem abster-se de qualquer atitude que possa turbar o direito do titular. No instante em que alguém viola esse dever, o sujeito passivo, que era indeterminado, torna-se determinado. Nessa linha, ( ), o direito real é o que afeta a coisa direta e imediatamente, sob todos ou sob certos respeitos (sob todos os respeitos, se é o domínio; sob certos respeitos, se é um direito real desmembrado do domínio, como a servidão), e a segue em poder de quem quer que a detenha. O direito pessoal, por sua vez, consiste numa relação jurídica pela qual o sujeito ativo pode exigir do sujeito passivo determinada prestação. Constitui uma relação de pessoa a pessoa e tem, como elementos, o sujeito ativo, o sujeito passivo e a prestação. Os direitos reais têm, por outro lado, como elementos essenciais: o sujeito ativo, a coisa e a relação ou poder do sujeito sobre a coisa, chamado domínio." (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito das coisas. São Paulo: Saraiva, 7ª. ed., 2012).

Curso de Direito - Parte Especial - Livro III - Do Direito das Coisas - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 7 / 11 PROPRIEDADE: Direito real complexo formado por três faculdades (poderes) e um direito. Faculdades: usar (jus utendi), fruir ou gozar (jus fruendi) e dispor (jus abutendi). Direito: reaver de terceiros. USAR: O proprietário pode usar a coisa para o fim a que se destina. FRUIR: O proprietário pode explorar a coisa economicamente, gozando dos frutos e produtos. DISPOR: O proprietário pode modificar, reformar, vender, ceder a terceiros direitos sobre uma ou mais faculdades, ou consumir a coisa, desde que não viole sua função social (por exemplo, o proprietário não pode tocar fogo em seu imóvel). FUNÇÃO SOCIAL: Significa utilidade econômica para a coisa. Direito de domínio Direito de propriedade Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro. Nos bens móveis, em que a propriedade não requer forma especial (registro público), propriedade e domínio apresentam as mesmas características. Neste caso, os sentidos das palavras são sinônimas. Entretanto, em termos legais e referentes a bens móveis adquiridos no comércio, a tradição deve ser demonstrada pela respectiva nota (ou cupom) fiscal, que atesta sua validade.

Curso de Direito - Parte Especial - Livro III - Do Direito das Coisas - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 8 / 11 Questões extraídas de concursos públicos (data do acesso: 13/04/2017). A reprodução das questões segue a Lei de Direitos Autorais (Lei 9.610/1998), em especial os incisos III e VIII do artigo 46: "Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais: (...) III - a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicação, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida justificada para o fim a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra; (...) VIII - a reprodução, em quaisquer obras, de pequenos trechos de obras preexistentes, de qualquer natureza, ou de obra integral, quando de artes plásticas, sempre que a reprodução em si não seja o objetivo principal da obra nova e que não prejudique a exploração normal da obra reproduzida nem cause um prejuízo injustificado aos legítimos interesses dos autores." A respeito da desapropriação, é correto afirmar que (A justificativa legal não constou da aplicação do concurso, sendo aqui solicitada para fins de desenvolvimento da experiência jurídica). A) É forma derivada de aquisição da propriedade. B) A ação expropriatória não pode ser intentada se o proprietário do bem não puder ser identificado. C) Mesmo se anulado o processo expropriatório, o bem expropriado, uma vez incorporado à Fazenda Pública, não pode ser reivindicado. D) Se o poder expropriante requerer urgência, a imissão provisória na posse poderá ser efetivada sem o depósito do preço inicial. E) O expropriado pode requerer o levantamento de noventa por cento do valor inicial depositado, desde que apresente prova de domínio do bem. Concurso: Prefeitura Municipal de Andradina Assistente Jurídico / Procurador Jurídico Ano: 2017 Caderno: 001 Prova Objetiva Questão: 10 Aplicação: Vunesp Disponível em: https://www.qconcursos.com/arquivos/prova/arquivo_prova/52818/vunesp-2017-prefeitura-deandradina-sp-assistente-juridico-e-procurador-juridico-prova.pdf Concurso: Prefeitura Municipal de Andradina Assistente Jurídico / Procurador Jurídico Ano: 2017 Caderno: 001 Prova Objetiva Questão: 14 Aplicação: Vunesp Disponível em: https://www.qconcursos.com/arquivos/prova/arquivo_prova/52818/vunesp-2017-prefeitura-deandradina-sp-assistente-juridico-e-procurador-juridico-prova.pdf Alice é possuidora de boa-fé de uma fazenda. Acerca dos frutos e benfeitorias, é correto afirmar que Alice (A justificativa legal não constou da aplicação do concurso, sendo aqui solicitada para fins de desenvolvimento da experiência jurídica). A) Tem direito aos frutos percebidos, porém responde pela perda ou deterioração da coisa, ainda que não

Curso de Direito - Parte Especial - Livro III - Do Direito das Coisas - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 9 / 11 tenha dado causa. B) Responde pela perda ou deterioração da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante. C) Responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu a posse. D) Poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis, somente. E) Será ressarcida apenas pelas benfeitorias necessárias. Concurso: Defensoria Pública do Estado do Paraná Defensor Público Ano: 2017 Caderno: Tipo-005 Questão: 63 Aplicação: Fundação Carlos Chagas Disponível em: https://www.qconcursos.com/arquivos/prova/arquivo_prova/53700/fcc-2017-dpe-pr-defensor-publicoprova.pdf Sobre posse, é correto afirmar (a justificativa legal não constou da aplicação do concurso, sendo aqui solicitada para fins de desenvolvimento da experiência jurídica): A) O locatário, em que pese possuidor direto, não pode invocar proteção possessória contra terceiro esbulhador do imóvel por ele locado, pois lhe falta o animus domini. B) O defeito da posse injusta não pode ser invocado contra o herdeiro que desconhecia essa característica da posse exercida pelo falecido. C) O fato de o esbulhador ter adquirido sua posse mediante violência física inquina vício em sua posse mesmo que, posteriormente, compre o bem do esbulhado. D) O comodatário, devidamente notificado para sair do bem dado em comodato, e que não o faz no prazo assinalado, passa a exercer posse precária. E) A posse ad usucapionem é aquela que, além dos elementos essenciais à posse, deve sempre se revestir de boa-fé, decurso de tempo suficiente, ser mansa e pacífica, fundar-se em justo título e ter o possuidor a coisa como sua. Concurso: Prefeitura de Matozinhos Advogado Ano: 2016 Caderno: Caderno 14 Questão: 45 Aplicação: FUMARC Disponível em: http://www.fumarc.com.br/imgdb/concursos/caderno_14-advogado-20160516-151525.pdf Acerca dos direitos afetos à posse no vigente direito civil brasileiro, é CORRETO afirmar que (a justificativa legal não constou da aplicação do concurso, sendo aqui solicitada para fins de desenvolvimento da experiência jurídica) A) A posse não possui proteção jurídica em face da alegação de propriedade, uma vez que a propriedade, ou outro direito real sobre a coisa, obsta manutenção ou reintegração na posse. B) A posse violenta pode ser considerada justa, desde que não seja clandestina ou precária.

Curso de Direito - Parte Especial - Livro III - Do Direito das Coisas - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 10 / 11 C) Ao possuidor, independente de má-fé, serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias. D) O justo título do possuidor lhe confere presunção relativa de boa-fé. Concurso: Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro Analista Área Processual Ano: 2016 Caderno: Tipo 1 Branco Questão: 45 Aplicação: FGV Projetos Disponível em: http://fgvprojetos.fgv.br/sites/fgvprojetos.fgv.br/files/concursos/mprj/mprj_2016_analista_do_ministerio_pub lico_-_area_processual_(amppr)_tipo_1.pdf Durante anos Berenice manteve limpo o terreno situado ao lado de sua residência, contratando periodicamente os serviços de Amarildo, para roçar e retirar o mato, evitando, assim, a presença de animais e a utilização do local para atividades indesejadas, como a presença de drogados ou de casais para encontros íntimos. O terreno pertence a Mirela, que está residindo na Alemanha. Sempre que Berenice percebia que o mato estava alto e que pessoas estavam utilizando o terreno para os fins mencionados, solicitava a Amarildo, no dia seguinte, que limpasse o terreno e cortasse o mato. É correto afirmar que Berenice (a justificativa legal não constou da aplicação do concurso, sendo aqui solicitada para fins de desenvolvimento da experiência jurídica): A) É possuidora do terreno, podendo inclusive usucapir o imóvel; B) É possuidora direta do terreno, não podendo usucapir, por falta de ânimo de dono; C) É a proprietária do terreno; D) Não está exercendo a posse do terreno, mas Amarildo está; E) Tem no máximo a detenção eventual do terreno, não podendo ser considerada possuidora. Concurso: Juiz de Direito Substituto do Estado do Rio Grande do Sul Ano: 2015 Caderno: Prova Objetiva Questão: 11 Aplicação: FAURGS Disponível em: http://conteudo.portalfaurgs.com.br/arq_upload/20160721110001_juiz%20substituto%20-%20100q.pdf Assinale a alternativa correta a respeito da disciplina da Posse no Código Civil (a justificativa legal não constou da aplicação do concurso, sendo aqui solicitada para fins de desenvolvimento da experiência jurídica). A) Considera-se possuidor todo aquele que tem de direito o exercício, pleno ou não, de algum dos direitos inerentes à propriedade. B) A posse direta anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. C) Considera-se possuidor indireto aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro,

Curso de Direito - Parte Especial - Livro III - Do Direito das Coisas - Prof. Ovídio Mendes - Fundação Santo André 11 / 11 conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. D) Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, pode cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores. E) É justa a posse, se o possuidor ignora o vício ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa.