Educação Continuada para Professores de Língua Estrangeira (EDUCONLE)



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Transcrição:

Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária Belo Horizonte 12 a 15 de setembro de 2004 Educação Continuada para Professores de Língua Estrangeira (EDUCONLE) Área Temática de Educação Resumo O projeto atende professores de inglês, espanhol e francês da rede pública municipal e estadual, através de um curso de educação continuada que tem três eixos: a) módulos lingüísticos; b) módulos metodológicos/reflexivos e c) módulos sobre a vida escolar, totalizando, em 2 anos, 300 horas. O EDUCONLE envolve alunos da graduação em Letras que recebem créditos de Prática de Ensino para as atividades que desenvolvem (módulos lingüísticos) e também alunos da pós-graduação em Estudos Lingüísticos que têm a oportunidade de coletar dados para suas pesquisas e colaborar com os módulos metodológicos lingüísticos. Autora Lorenza Guimarães Instituição Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG Palavras-chave: educação continuada; línguas; Educonle Introdução e objetivo O projeto atende professores de inglês, espanhol e francês da rede pública municipal e estadual, através de um curso de educação continuada que tem três eixos: a) módulos lingüísticos; b) módulos metodológicos/reflexivos e c) módulos sobre a vida escolar, totalizando, em 2 anos, 300 horas. O EDUCONLE envolve alunos da graduação em Letras que recebem créditos de Prática de Ensino para as atividades que desenvolvem (módulos lingüísticos) e também alunos da pós-graduação em Estudos Lingüísticos que têm a oportunidade de coletar dados para suas pesquisas e colaborar com os módulos metodológicos lingüísticos. O primeiro grupo de professores que participou do Projeto Educação Continuada de Professores de Línguas Estrangeiras (EDUCONLE), tanto de inglês quanto de espanhol, completou 300 horas de atividades em dezembro de 2003 e os resultados foram muito gratificantes, culminando com seminários sobre projetos e atividades planejadas e implementadas pelos professores da rede pública. Planejamos publicar um livro direcionado para a formação continuada de professores, contendo atividades reflexivas que desenvolvemos no projeto e também capítulos escritos pelos próprios professores da rede pública com os relatos de suas experiências de sucesso em sala de aula de língua estrangeira. As turmas (inglês e espanhol) que iniciaram em 2003 continuarão em 2004, completando as 150 horas restantes de atividades. Iniciaremos novas turmas em 2004 com a inclusão de uma turma de professores de francês. Sendo assim, propomos o terceiro ano do (EDUCONLE) devido à avaliação positiva dos participantes (professores da rede pública, alunos da graduação, alunos da pós-graduação e professores da UFMG) e da relevância da continuidade e expansão do mesmo para a extensão, ensino e pesquisa na área de ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras. Primeiramente, há uma grande demanda pelos professores de inglês e espanhol da rede pública de ensino para participar de ações para desenvolvimento profissional, como as

oferecidas pelo projeto. Tivemos nos dois primeiros anos de atividades, professores, inclusive, do interior do Estado de Minas Gerais. Segundo, os alunos de graduação envolvidos como monitores têm tido uma oportunidade ímpar de iniciação à docência, sendo orientados pelos professores da UFMG e alunos da pós-graduação na preparação e avaliação do módulo lingüístico. Além do mais, eles têm contato com situações e problemas característicos do ensino fundamental e médio ao interagir com os professores de línguas estrangeiras que atuam na rede pública. Terceiro, alunos da pós-graduação desenvolveram seus projetos de pesquisa no EDUCONLE, coletando dados para suas dissertações, disciplinas da pós-graduação (através do projeto ARADO desenvolvido em 2003) e pilotando projetos para projetos de doutorado. Quarto, os professores da UFMG avaliam o primeiro ano positivamente tanto no processo de orientação dos alunos da graduação e pós-graduação quanto no contato com os professores da rede pública. Vários trabalhos foram produzidos através da coleta de dados durante as atividades do projeto, gerando participações em eventos e publicações (ver listagem no final projeto). Além dos quatros aspectos positivos do projeto acima citados, entendemos que o EDUCONLE apresenta outras 3 características gerais que o tornam um projeto relevante para a UFMG: 1) a PROEX tem uma política de integração de projetos e programas e o EDUCONLE conta com a participação de professores de 5 unidades em 2004, visando atender às diversas demandas dos professores de línguas estrangeiras, não somente lingüístico- metodológicas, mas também sociais e culturais e, principalmente, incentivando a interdisciplinaridade; 2) o projeto gera a possibilidade do contato de professores e alunos de línguas estrangeiras distintas (inglês, espanhol e francês), contribuindo para uma maior sensibilização para a necessidade de oferecimento de mais de um língua estrangeira em escolas regulares, sendo esta a orientação da LDB; 3) o professor da rede pública de ensino é tratado como um educador que busca o seu aprimoramento profissional, sendo esse um exemplo muito positivo para os alunos da graduação. Tivemos a confirmação, no contato com os professores da rede pública nos dois primeiros anos do projeto, de que embora o domínio de línguas estrangeiras seja um bem cultural valorizado pela nossa sociedade (Augusto, 2001), isto não se reflete na maneira através da qual o ensino das mesmas é tratado nas escolas regulares. A crença de que não é possível aprender línguas na escola regular parece ser ainda muito forte, muitas vezes até reforçada pela própria postura do professor de língua estrangeira. Além do mais, este é, por vezes, desrespeitado pela própria estrutura escolar, pois suas aulas são sistematicamente colocadas nos piores horários ou reuniões são marcadas no horário de suas aulas, gerando cancelamento das mesmas. Muitos professores participantes do projeto não receberam nenhum incentivo dos dirigentes de suas escolas, sentindo na pele, mais uma vez, o quanto a língua estrangeira é desprezada. Sendo assim, o professor, que na maioria das vezes já é inseguro quanto ao domínio da disciplina que ensina, sente-se mais desvalorizado. Mesmo estando o ensino de línguas estrangeiras (LES) no Ensino Fundamental e Médio regulamentado na legislação educacional, nem o professor, nem o aluno têm a garantia de um número de aulas mínimo necessário para a boa aprendizagem de línguas. Por outro lado, a formação dos professores de língua estrangeira não tem merecido a atenção necessária, conforme relato da própria Comissão de Especialistas de Ensino de Letras junto à SESu. Predominam no país cursos de Letras com dupla habilitação em Inglês e Português com crescente ascensão de Português e Espanhol. Muitos desses cursos são ministrados em 3 anos e recebem alunos de escolas do ensino básico que também não investiram em um ensino de LE de qualidade. A maioria dos projetos pedagógicos que passa pela SESu, seja para autorização ou reconhecimento, devota ao ensino de inglês ou espanhol

cerca de 360 horas, ou no máximo 480 horas de ensino da língua estrangeira com o acréscimo de 60 a 120 horas de literatura inglesa e norte-americana. A parte de formação de professor de língua estrangeira é, na maioria das vezes, negligenciada. As aulas de literatura são dadas, geralmente, em português e as turmas chegam a ter 50, 70 e até 90 alunos, inviabilizando a oferta de um ambiente adequado à prática do idioma. Como resultado, o sistema educacional brasileiro coloca no mercado de trabalho professores despreparados e muitos recorrem aos cursos de especialização em busca de uma regraduação, o que, naturalmente, não encontram. Esse contexto reforça, dia a dia, o preconceito de que só se aprende língua estrangeira em cursos livres. Vemos em nossa sociedade críticas sempre contundentes aos professores da rede pública de ensino, considerados pouco preparados para a atuação pedagógica e sentimos que as universidades públicas devem tomar ações concretas que possam contribuir para o desenvolvimento desses professores através de projetos que visem à educação continuada dos mesmos, proporcionando-lhes chances de desenvolvimento autônomo ao longo da vida profissional. O projeto ora proposto abrangerá aulas de língua (inglês ou espanhol ou francês) visando aumentar o domínio da língua por parte dos professores-alunos e discussões que propiciem a prática reflexiva. As vantagens dessa prática têm sido apontadas em pesquisas internacionais (Richards e Lockhart, 1993; Richards, 1998; Stanley, 1998) e nacionais (Almeida Filho, 1999; Vieira-Abrahão, 1999; Dutra e Magalhães, 2000; Dutra e Mello 2001). Através do uso de instrumentos como a escrita de diários, gravações de aulas, sessões de visionamento, o professor passa a ver e repensar sua prática de maneira a conhecê-la melhor e decidir quais ações, baseadas em quais teorias, são mais apropriadas para o contexto de ensino em que ele atua. Em uma proposta de prática reflexiva, os pontos a serem discutidos devem partir das necessidades dos professores envolvidos no curso/pesquisa, pois a reflexão só ocorrerá se o participante realmente quiser se envolver no processo (Dutra e Mello 2001: 50). Isto será levado em conta na elaboração dos conteúdos dos cursos propostos por esse projeto e no decorrer dos módulos. Levamos em consideração o contexto de ensino e sua repercussão política, sem a qual o desenvolvimento do professor ficaria incompleto (Zeichner, 2001). Sentimos que a inclusão de módulos apenas sobre metodologias de ensino de língua, apesar de importantes, não teria efeito duradouro e continuado na educação dos professores, por isso a ênfase no caráter reflexivo nestes módulos. Segundo Vieira-Abrahão (1999: 46), A capacidade de reflexão e de crítica poderá levar este professor a um processo de auto-avaliação constante, e torná-lo aberto para a análise de novas abordagens e propostas que, com certeza surgirão em sua vida profissional. Objetivos Geral: oferecer oportunidades de desenvolvimento profissional, tanto lingüístico quanto meetodológico, para professores de línguas estrangeiras (inglês, espanhol e francês); contribuir para um maior envolvimento dos graduandos em Letras com a realidade educacional fora dos muros da universidade; envolver alunos da graduação em Letras (inglês, espanhol e francês) em um projeto de ensino/pesquisa/extensão com professores da rede pública de ensino, sensibilizando os dois segmentos para a importância da educação continuada. Específicos: capacitar lingüisticamente os professores de línguas estrangeiras (inglês, espanhol e francês) da rede pública em cursos específicos sobre cada língua; promover discussões com os professores da rede pública e bolsistas sobre práticas pedagógicas que levem a uma reflexão por parte de todos os envolvidos;

promover discussões sobre questões da vida escolar, tais como, uso de drogas, bases neurobiológicas do processo ensino/aprendizagem e projetos interdisciplinares; discutir teorias de ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras com os professores e bolsistas; oferecer a oportunidade da prática docente aos bolsistas, com supervisão dos professores da UFMG, no ensino de línguas para os professores da rede pública; pesquisar as reflexões e interações dos professores da rede pública nas aulas de língua e de metodologia/prática reflexiva; pesquisar as reflexões e interações dos bolsistas nas aulas de língua e de metodologia/prática reflexiva. Metodologia O projeto tem características de ensino, pesquisa e extensão. Os cursos a serem oferecidos aos professores da rede pública constarão dos seguintes módulos: língua estrangeira desenvolvimento das habilidades de compreensão e produção oral e escrita através de gêneros textuais variados, incluindo o trabalho com textos literários; metodologia / prática reflexiva questões gerais que afetam a vida escolar (uso de drogas, bases neurobiológicas do processo ensino/aprendizagem, criação de projetos interdisciplinares com, por exemplo, professores de artes, o papel da língua estrangeira na escola regular) Para os módulos de língua estrangeira e módulos sobre prática reflexiva, os encontros serão com turmas de alunos da mesma língua estrangeira. Os módulos sobre questões gerais da vida escolar serão com os participantes das três línguas. Os bolsistas, com orientação dos professores da UFMG e alunos do Programa de Pós- Graduação em Estudos Lingüísticos, prepararão os módulos dos cursos de língua e colaborarão na preparação dos módulos de prática reflexiva e sobre questões gerais da vida escolar. A pesquisa será feita através de questionários sobre os módulos a serem respondidos pelos professores da rede pública e pelos bolsistas. Os professores da rede pública e os bolsistas escreverão diários sobre as aulas e, caso seja permitido, algumas aulas serão filmadas. Tanto os diários quanto as aulas filmadas serão usadas como instrumentos para impulsionar as discussões sobre práticas pedagógicas Público alvo Professores das redes públicas estadual e municipal. Realização 150 horas por ano, totalizando 300 horas. A experiência dos primeiro e segundo anos do projeto mostrou-nos que as necessidades profissionais desses professores são realmente muitas e por isso propomos a continuação dos dois grupos que entraram no projeto em 2003 (espanhol e inglês) e a criação de 3 novas turmas (inglês, espanhol e francês). Prevemos atender a 95 professores da rede pública: a) inglês: 25 (entrada em 2003); 30 (entrada em 2004) b) espanhol: 25 (entrada em 2003 e 2004) francês: 15 (entrada em 2004) Os conteúdos específicos dos módulos serão definidos a partir do levantamento das necessidades dos alunos. O grupo de professores de inglês e espanhol que completaram 2 anos no projeto em 2003 oferecerão 2 workshops em 2004 sobre projetos desenvolvidos em suas escolas. Esses workshops serão abertos para a participação de qualquer professor das redes publicas municipal e estadual. Curso

Local Período de realização Horário Carga horária semanal Módulos de língua inglesa, espanhola ou francesa FALE- UFMG março a junho e agosto a novembro (30 encontros) 9:00-12:00 Sábados 3 horas Módulos de prática reflexiva FALE UFMG março a junho e agosto a novembro (10 encontros) 14:00-18:00 quinzenalmente 4 horas Módulos sobre a vida escolar A combinar A combinar (5 encontros) 14:00-18:00 4 horas Plano de trabalho dos alunos Plano de trabalho dos alunos da graduação (programa didático-pedagógico) a) Levantamento e organização dos materiais para os módulos lingüísticos e de prática reflexiva; b) discussão sobre os materiais utilizados nos módulos lingüísticos e de prática reflexiva; c) preparação e execução das aulas dos módulos lingüísticos; d) participação como monitores nos módulos sobre prática reflexiva; e) participação na coleta de dados para a pesquisa que acompanhará o projeto; análise dos módulos: cada bolsista ficará responsável pela análise em profundidade de um dos módulos do programa. Estão previstas reuniões periódicas individuais e do grupo para discussão e avaliação dos trabalhos Resultados e discussão Pretende-se que o trabalho permita aos alunos envolvidos aprimorar suas ferramentas de análise e ampliar suas perspectivas de reflexão sobre a prática pedagógica em língua estrangeira. Além dos aspectos pedagógicos que se espera desenvolver com o trabalho, pretende-se também participar nos debates atuais no âmbito da área de Lingüística Aplicada ao Ensino/Aprendizagem de Línguas Estrangeiras, destacando a relevância da produção discente nos novos processos de flexibilização do ensino, em curso em nossa Universidade. O material produzido deverá, ainda, ser apresentado em outros espaços de pesquisa, com apresentação dos bolsistas desse projeto em eventos da área, importantes no sentido do estabelecimento de diálogos produtivos e contatos interessantes. Cronograma de execução das atividades Fevereiro seleção dos novos participantes do projeto e encontros com os professores para definição dos módulos a serem ministrados Março abril- maio - junho Módulos de língua e prática reflexiva / coleta de dados

Julho análise dos dados (questionários, diários e aulas gravadas) / reformulação dos cursos para o segundo semestre Agosto- setembro outubro novembro - Módulos de língua e prática reflexiva / coleta de dados Dezembro análise dos dados e avaliação do projeto Obs: o período dos módulos sobre a vida escolar será definido em 2004. Infra-estrutura física FALE Parcerias internas e externas Parcerias internas: FALE, FAE, ICB, EBA e CP - CENEX-FALE: Certificação dos cursos para os professores da rede pública; FALE: material de consumo Parcerias externas: apesar de termos recebido apreciação positiva de nosso projeto pelas Secretarias Estadual e Municipal de Educação ainda não conseguimos registrá-lo como uma ação de parceria com essas Secretarias. Estamos estabelecendo contato com esses órgãos, pois sentimos a necessidade de que a participação no projeto receba apoio institucional (professores da rede pública poderiam ter a sua participação no projeto reconhecida como um curso de aperfeiçoamento). Além disso, solicitaremos bolsas para alunos de pós-graduação. Estamos, também, procurando parceria com outra instituições, como a cultura Inglesa, para o oferecimento de bolsas de estudo para os professores da rede pública de ensino. Sistema de seleção dos bolsistas Análise do histórico escolar e entrevista Sistema de acompanhamento e de avaliação Do projeto: Relatório semestral das ações dos bolsistas e outros alunos envolvidos e resultados obtidos (cada um fará o seu e o coordenador os reunirá para entregar ao coordenador do Programa) Reuniões semanais entre os alunos da pós-graduação e alunos da graduação e reuniões quinzenais com todos envolvidos no projeto (alunos da graduação e pós e professores da FALE e FAE). Dos alunos: Acompanhamento e avaliação: o acompanhamento do trabalho dos bolsistas prevê reuniões quinzenais e seminários internos sobre temas teóricos de interesse para o projeto. Relatórios parciais e finais serão exigidos para verificação das leituras e do andamento das reflexões sobre os cursos. Haverá acompanhamento quinzenal dos bolsistas para a preparação das aulas de língua através da orientação dos alunos da pós-graduação e dos professores da FALE e FAE. Conclusões Publicações geradas pelo projeto DUTRA, D. P. et al. Aspectos da formação continuada e inicial em línguas estrangeiras. Anais Semana de Extensão da UFMG. 2003. DUTRA, D. P. (Orientadora); MELLO, H. (Orientadora); DEUS, L. C. A. (bolsista FAPEMIG); SILVA, L. A. (bolsista FAPEMIG). Intervenção na Sala de Aula de Professoras de Língua Inglesa: Um Trabalho Colaborativo. In: XII Semana de Iniciação Científica. UFMG. 2003 DUTRA, D. P.; MELLO, H.; ARAÚJO, D.; OLIVEIRA, S.; OLIVEIRA, J. H.; SOUZA, P. A influência de um curso de educação continuada na formação de um professor de inglês. In: VIII Semana de Letras. UFOP. 2003 (Anais. No prelo) DUTRA, D. P.; MELLO, H. A prática reflexiva na formação pré-serviço e em serviço de professores de língua inglesa. (Capítulo de livro - No prelo)

DUTRA, D. P.; MELLO, H. Ser professor: representações metafóricas. In: 130 INPLA Caderno de Resumos p. 93. PUC-SP. 2003 MELLO, D. P.; DUTRA, D. P. Dilemas conceptuais: narrativas e metáforas de professores e formadores de professores de língua inglesa. In: XVII ENPULI. p. 26.UFSC. 2003. Referências bibliográficas ALMEIDA FILHO, J. C. P. Análise de abordagem como procedimento fundador de autoconhecimento e mudança para o professor de língua estrangeira. In: Almeida Fillho, J.C.P. (Org.) O professor de língua estrangeira em formação. Campinas: Pontes, 1999. p.11-27. AUGUSTO, R.C. O inglês como capital cultural no contexto de escolas regulares: um estudo de caso. Dissertação de Mestrado. Belo Horizonte: Programa de Pós-Graduação em Estudos Lingüísticos da FALE/UFMG. 2001. DUTRA, D. P.; MAGALHÃES, C. M. Aprendendo a ensinar a autonomia do professor aprendiz no projeto de extensão da Faculdade de Letras da UFMG. Linguagem e Ensino, Pelotas, v. 3, n. 2, p. 61-73, 2000. DUTRA, D. P.; MELLO, H. Refletindo sobre o processo de formação de professores de inglês: uma interpretação de abordagens, métodos e técnicas. In: MENDES, E.; MOTA, P.; BENN-IBLER, V. O novo milênio: interfaces lingüísticas e literárias. Belo Horizonte: FALE, 2001. p. 47-56. RICHARDS, J. Beyond Training. Cambridge: Cambridge University Press. 1998. RICHARDS, J., LOCKHART, C. Peer observation. In: Richards, J. (Ed.). New Ways in Teacher Education. Alexandria: TESOL, Inc., 1993. p.147-150. STANLEY, C. A framework for teacher reflectivity. TESOL Quarterly, v.32, n.3, p.584-591, 1998. VIEIRA-ABRAHÃO, M. H. Tentativas de construção de uma prática renovada: a formação em serviço em questão. In: Almeida Fillho, J.C.P. (Org.) O professor de língua estrangeira em formação. Campinas: Pontes, 1999. p.29-50. Zeichner, K. Educating Reflective Teachers for Learner-Centered Education: Possibilities and Contradictions. Trabalho apresentado no VI ENPULI. Londrina: UEL. 2001.