1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 CONSUMO ALIMENTAR DE COLETORES DE LIXO DO MUNICÍPIO DE IMPERATRIZ- MA FOOD CONSUMPTION OF GARBAGE COLLECTORS OF MUNICIPAL IMPERATRIZ- MA Jaisane Santos Melo Lobato¹, Silvia Myrelly Tavares da Silva², Thiago Mota da Silva Soares³ ¹Docente do curso de Medicina na Universidade Federal do Maranhão -UFMA, Campus Avançado Imperatriz-MA, Brasil ²Docente do curso de Nutrição na Universidade Sul do Maranhão - UNISULMA, de Imperatriz-MA, Brasil ³ Graduando do curso de Nutrição na Universidade Sul do Maranhão UNISULMA, de Imperatriz- MA, Brasil Resumo: A profissão de coleta de lixo está associada diretamente com a saúde pública, uma vez que o recolhimento dos resíduos sólidos, junto a limpeza das ruas, colabora para a prevenção de diversas patologias geradas por pragas, que muitas vezes são atraídas pelo lixo urbano. O presente estudo tem como objetivo analisar o consumo alimentar em coletores de lixo do município de Imperatriz- Ma e suas variáveis associadas. A pesquisa foi realizada na empresa responsável pela limpeza pública da cidade. Obteve-se como amostra da pesquisa 55 funcionários pertencentes ao quadro de atividades de coleta de lixo. Os mesmos apresentam comportamento alimentar inadequado, onde há um fracionamento desregulado das refeições, com uma ingesta insuficiente de alimentos reguladores e um alto consumo de alimentos calóricos, podendo levar esses trabalhadores há deficiências nutricionais. Os mesmos realizam uma jornada de oito horas de trabalho sem intervalos para refeições, sem um local adequado para se alimentar. Palavras-chave: Coleta de lixo, Consumo Alimentar, Deficiência Nutricional. Introdução A alimentação é uma necessidade básica de todo ser vivo. A alimentação humana pode ser modificada de acordo com a cultura local e o poder aquisitivo do indivíduo, dessa forma as necessidades nutricionais devem ser atendidas de acordo com a individualidade de cada um, independente da cultura alimentar e hábitos presentes na alimentação (FRIZON, 2008). Segundo o Guia para a População Brasileira (2014), deve sempre procurar comer sempre em locais limpos, confortáveis e tranquilos e onde não haja estímulos para o consumo de quantidades ilimitadas de alimentos. A jornada de trabalho desses profissionais é composta por 6 horas, sendo determinada em lei aprovada em julho de 2012 pela Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público. Durante a jornada de trabalho normal, os profissionais da coleta de lixo percorrem uma extensão média de 2.1 quilômetro por hora de trabalho, sendo que certas características de determinadas vias públicas, exigem mais esforço físico, como aclives (RODRIGUES, 2013) Segundo Assis (1999), em estudo dos hábitos alimentares de 66 coletores de lixo em turnos variados encontrou relação entre as condições socioeconômicas e os hábitos alimentares desses trabalhadores, que não conseguem uma quantidade e qualidade alimentar que esteja de acordo para suprir as suas necessidades energéticas durante o seu trabalho. De acordo com Moratoya et al. Apud Drenowski (2003), o aumento do consumo de alimentos com baixa qualidade nutricional, está associado as pessoas que apresentam baixa renda. Esses alimentos são ricos em calorias, que por sua vez apresentam açúcar e gordura em grande quantidade em sua composição, sendo também considerado os mais baratos e acessíveis, induzindo assim as pessoas de baixa renda ao consumo. Dessa forma levando essa população a exposição de riscos patológicos gerados por uma má alimentação
2 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 Segundo Louzada et al. (2015), no Brasil, os grupos de alimentos com maior prevalência de consumo fora de casa foram bebidas alcoólicas, salgados fritos e assados, pizza, sanduiches e refrigerantes em todas as regiões do pais, sendo nas áreas rurais e urbanas, independente do gênero e faixas etárias. Esses alimentos são caracterizados pelo alto valor calórico e pobre conteúdo nutricional, apresentando assim uma grande frequência de consumo em diversos estudos que descrevem a alimentação fora do domicilio. Dentro os fatores associados a esse consumo elevado estão a praticidade, palatabilidade e o baixo custo desses alimentos. Dessa forma esses alimentos apresentam um grande risco a patologias associadas com doenças crônicas como diabetes e hipertensão. Material e Métodos A população definida para a pesquisa contou com 55 funcionários da empresa responsável pela coleta de lixo, foram investigadas as seguintes variáveis: número de refeições realizadas durante o dia, hábito alimentar no trabalho, sensação de fome durante as atividades de coleta de lixo e a quantidade de água ingerida diariamente em litros. E ainda um inquérito alimentar em busca de identificar a frequência alimentar dos participantes, conforme os grupos alimentares de acordo com o consumo no dia, semana e mês. Resultados e Discussão Quanto ao comportamento alimentar dos Coletores, 81,82% dos pesquisados relataram sensação de fome durante o trabalho, sendo que apenas 56,36% possuem o hábito de se alimentar durante as atividades de coleta, enquanto 43,64% trabalham sem se alimentar. Sendo assim há um grande número de indivíduos que trabalham com fome, podendo dessa forma prejudicar sua saúde através do esforço requerido pela profissão, como também o seu rendimento no trabalho. Entre os alimentos mais consumidos durante trabalho, estão os lanches, como: salgados fritos e assados, sanduiches, pães, bolos e refrigerante. O número de refeições realizadas por esses trabalhadores variou entre 2 a 3 refeições diárias, sendo que as refeições mais consumidas foram café da manhã, almoço e jantar. A quantidade de refeições está abaixo do que é recomendado pelo Guia Alimentar Brasileiro (2014), para uma alimentação saudável, podendo assim haver um déficit calórico em função da carga energética consumida durante as atividades de coleta. A tabela 01, apresenta a frequência do consumo alimentar dos Coletores de lixo de acordo com alguns alimentos divididos por grupos. No grupo de cereais, massas, pães e tubérculos, 36 Coletores relataram o consumo diariamente (65,45%), 14 Coletores de 4 a 5 vezes na semana (25,45%) e apenas 5 afirmaram consumir esse grupo de 1 a 3 vezes por semana (9,09%). Quanto ao grupo de frutas e hortaliças, 21 Coletores relataram consumo de 1 a 3 vezes por semana (38,18%), 13 Coletores afirmaram consumir raramente esse grupo (23,64%), 9 Coletores consomem diariamente (16,36%), 7 Coletores afirmaram consumo de 4 a 5 vezes por semana (12,73%) e 5 relataram consumo mensal (9,09%). No grupo das leguminosas, 19 Coletores afirmaram consumir de 1 a 3 vezes por semana (34,55%), 12 Coletores relataram consumo diário (21,82%), 8 Coletores consomem de 4 a 5 vezes por semana (14,55%), 7 Coletores relataram consumir esse grupo raramente (12,73%), 5 Coletores apresentaram consumo de 2 vezes no mês (9,09%), 2 Coletores consomem mensalmente (3,64%) e apenas 2 dos pesquisados afirmaram não consumir esse grupo (3,64%). Tabela 01. Frequência do consumo alimentar dos Coletores de lixo, conforme os grupos de cereais, massas, pães, tubérculos, frutas, hortaliças e leguminosas. Variáveis N= 55 % Cereais, massas, pães, tubérculos 1 a 3 vezes na semana 5 9,09% 4 a 5 vezes na semana 14 25,45% Diariamente 36 65,45%
3 Frutas e hortaliças 1 a 3 vezes na semana 21 38,18% 4 a 5 vezes na semana 7 12,73% Diariamente 9 16,36% Mensal 5 9,09% Raramente 13 23,64% Leguminosas 1 a 3 vezes na semana 19 34,55% 2 vezes no mês 5 9,09% 4 a 5 vezes na semana 8 14,55% Diariamente 12 21,82% Mensal 2 3,64% Nunca 2 3,64% Raramente 7 12,73% 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 Conforme os resultados há uma frequência predominante no consumo diário e de 4 a 5 vezes por semana no grupo de massas, pães e tubérculos. Dessa forma nota-se um consumo quase que diário nesse grupo alimentar, havendo apenas 9,09% dos pesquisados que relataram o consumo de 1 a 3 vezes por semana. Segundo o Guia Alimentar Brasileiro (2014). O grupo de cereais de maneira geral são fontes importantes de carboidratos, fibras, vitaminas sendo principalmente do complexo B e outros nutrientes como os minerais. Com relação a frutas e hortaliças, nota-se que há uma predominância de indivíduos que relatam o consumo de 1 a 3 vezes por semana, apresentando um percentual de 38,18%. A frequência desse grupo alimentar que se aproxima do consumo diário, apresentou um número abaixo do recomendado pelo Guia Alimentar Brasileiro, que preconiza que a ingesta de frutas e hortaliças deve ser realizada todos os dias. Quanto a frequência alimentar das leguminosas, houve uma maior ocorrência no consumo de 1 a 3 vezes na semana indicando um percentual de 34,55%, apresentando também um resultado significante quanto ao consumo diário representando 21,82% dos pesquisados. A tabela expõe a frequência nos grupos de leites e derivados, carnes, ovos, guloseimas, embutidos, molhos e temperos. Quanto ao consumo de leite e derivados, 20 Coletores relataram frequência diária (36,36%), 14 Coletores consomem de 1 a 3 vezes por semana (25,45%), 6 Coletores afirmaram consumir raramente (10,91%) e 5 dos pesquisados apresentaram frequências iguais em 4 a 5 vezes na semana, 2 vezes no mês e nunca, com um percentual de 9,09%. No grupo de carnes e ovos, 40 Coletores relataram consumo diário (72,73%), 10 Coletores consomem de 4 a 5 vezes na semana (18,18%) e 5 afirmaram consumo de 1 a 3 vezes na semana (9,09%). No grupo de guloseimas o consumo é de 4 a 5 vezes na semana (43,64%), 23 Coletores relataram consumir diariamente (41,82%), 5 Coletores consomem raramente (9,09%) e 3 indicaram frequência de 1 a 3 vezes por semana (5,45%). Quanto ao grupo de embutidos, molhos e temperos, a frequência diária e de 4 a 5 vezes por semana, apresentaram um número igual de 18 Coletores com percentual de 32,73% cada, sendo que 10 Coletores indicaram consumir esse grupo raramente (18,18%) e 9 Coletores relataram consumo de 1 a 3 vezes por semana (16,36%).
4 134 135 Tabela 02. Frequência do consumo alimentar dos Coletores de lixo, de acordo com os grupos de leites e derivados, carnes, ovos, guloseimas, embutidos, molhos e temperos. Variáveis N= 55 % Leites e derivados 1 a 3 vezes na semana 14 25,45% 2 vezes no mês 5 9,09% 4 a 5 vezes na semana 5 9,09% Diariamente 20 36,36% Nunca 5 9,09% Raramente 6 10,91% Carnes e ovos 1 a 3 vezes na semana 5 9,09% 4 a 5 vezes na semana 10 18,18% Diariamente 40 72,73% Guloseimas 1 a 3 vezes na semana 3 5,45% 4 a 5 vezes na semana 24 43,64% Diariamente 23 41,82% Raramente 5 9,09% Embutidos, molhos e temperos 1 a 3 vezes na semana 9 16,36% 4 a 5 vezes na semana 18 32,73% Diariamente 18 32,73% Raramente 10 18,18% 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150 151 152 153 154 De acordo com a tabela acima a frequência alimentar de leite e derivados, o consumo diário obteve prevalência na pesquisa, indicando um percentual de 36,36%, seguido da frequência de 1 a 3 vezes por semana com 25,45%. Os demais resultados atingiram percentuais próximos a 10%. Quanto o consumo de carnes e ovos, observa-se uma frequência quase que diária desse grupo pelos Coletores, levando em consideração os resultados do consumo diário (72,73%) e de 4 a 5 vezes por semana (18,18%). Os demais Coletores que relataram consumo de 1 a 3 vezes por semana, apresentaram um percentual baixo, de apenas 9,09%. Com relação ao grupo de guloseimas, observa-se um grande consumo durante a semana, sendo que 43,64% relataram uma frequência de 4 a 5 vezes na semana desses alimentos. A frequência diária apontou resultado semelhante, com percentual de 41,82%. O alto consumo desse grupo alimentar, pode estar relacionado diretamente aos hábitos alimentares dos Coletores durante o trabalho (tabela 06), que indicou um percentual de 87,27% dos pesquisados que realizam lanches durante o trabalho, como: salgados fritos e assados, sanduiches, pães, bolos, refrigerante. Dessa forma a pesquisa mostra-se em conformidade com os resultados do estudo de Assis (1999), que encontrou um alto consumo de lanches pelos Coletores de lixo, sendo que esses lanches são ricos em gorduras e açúcares, advindos de refeições realizadas na rua durante o trabalho.
5 155 156 157 158 159 160 161 162 163 164 165 166 167 168 169 170 171 172 173 174 175 176 177 178 179 180 181 182 183 184 185 186 187 188 189 190 191 192 193 194 195 O grupo de embutidos, molhos e temperos, mostra-se frequente no consumo dos Coletores, sendo que a frequência diária e de 4 a 5 dias na semana, apresentaram percentual de 32,73% cada, representando 65,46% do total pesquisado. A frequência de 1 a 3 vezes na semana, indicou percentual de 16,36%, sendo assim observa-se um alto consumo desse grupo alimentar durante a semana. Entretanto esses alimentos são ricos em sódio, gordura saturada e conservantes, o seu consumo frequente pode ocasionar determinadas patologias. Conclusão Dessa forma conclui-se com o presente estudo, que os trabalhadores da coleta de lixo estão expostos a dificuldades no âmbito social, onde são caracterizados como indivíduos de baixa renda e baixa escolaridade. Além das problemáticas sociais, esses profissionais estão expostos a doenças geradas pelo lixo, que podem interferir na sua qualidade de vida e saúde. Sendo associado ao comportamento alimentar inadequado, onde há um fracionamento desregulado das refeições, com uma ingesta insuficiente de alimentos reguladores e um alto consumo de alimentos calóricos, podendo levar esses trabalhadores há deficiências nutricionais. Sendo assim, recomenda-se a implantação do programa de alimentação do trabalhador na empresa, onde ofereça uma alimentação adequada para esses profissionais realizarem suas atividades. Tendo em vista a dificuldade na aquisição e seleção de alimentos por esses indivíduos, que apresentam um baixo nível de instrução e renda. Referências Bibliográficas ASSIS, Maria Alice Altenburg. Comportamento alimentar e ritmos circadianos de consumo nutricional dos coletores de lixo da cidade de Florianópolis: relações entre os turnos de trabalho. Florianópolis SC, 1999. FRIZON, Janete Diane. Hábitos alimentares e qualidade de vida: uma discussão sobre a alimentação escolar. Pedagoga/ Licenciatura Plena FADEP. Cascavel, 2008. LOUZADA, Maria Laura da Costa, et al. Alimentos ultra processados e perfil nutricional da dieta no Brasil. Rev. Saúde Pública, 2015. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia alimentar para a população Brasileira 2014. Disponível em: <http://www.foodpolitics.com/wp-content/uploads/brazils-dietary-guidelines_2014.pdf/>. Acesso em: novembro de 2016. MORATOYA, Elsie Estela; CARVALHAES, Gracielle Couto; WANDER, Alcido Elenor; ALMEIDA, Luiz Manoel M. C. Mudanças no padrão de consumo alimentar no Brasil e no mundo. Revista agrícola, N º 1. Goiás, 2013. RODRIGUES, Antônio Rodney Veiga. Avaliação do procedimento de trabalho da profissão coletor de lixo perante os preceitos da nr-6 e nr-9. Monografia de especialização. Curitiba, 2013.