1 / 35 Avaliando os serviços públicos em Moçambique: uma perspectiva de 20 anos Sam Jones Universidade de Copenhaga 22 Março 2017
2 / 35 O argumento Ponto de partida:- serviços públicos de qualidade são importantes, mas os recursos são limitados. Pergunta principal:- Qual tem sido o desempenho do Estado na prestação de serviços públicos?... e quais são os desafios correntes? Tese:- as respostas convencionais são reducionistas. Um horizonte analítico mais amplo é útil para saber aonde vamos, temos que saber donde viemos. Uma análise histórica mostra:- ganhos na expansão de acesso aos serviços básicos mas que tem havido trade-offs (inevitavelmente) doravante, necessita-se maior discussão pública sobre como resolver os trade-offs
3 / 35 Agenda 1 Perspectivas convencionais 2 Abordagem mais ampla 3 Resultados 4 Reflexões
A perspectiva do interior O Estado avalia seu próprio desempenho. Enfoque = metas quantitativas sobre o volume produzido. Exemplo BPES 2016: A mensagem geral é que o desempenho é "bom"...... e incumprimentos se devem aos factores externos. 4 / 35
A perspectiva do exterior O Banco Mundial (e seus colaboradores) tendem a salientar vários problemas com os insumos e produtos de serviços públicos. Por exemplo: Ineficiências Falta de qualidade Desigualidades Velocidade lenta de melhoramento Insustentabilidade 5 / 35
6 / 35 A perspectiva do exterior Exemplo I There is significant variation in performance for a given [education] spending level and many countries spending at levels similar to Mozambique achieve better development outcomes. This finding suggests that educational outcomes could be improved if current levels of public spending were used more efficiently. World Bank () Mozambique Public Expenditure Review Addressing the Challenges of Today, Seizing the Opportunities of Tomorrow.
7 / 35 A perspectiva do exterior Exemplo II 45 percent of Mozambican teachers were absent from school compared to 30 percent in Uganda, the next worse performer.... As a result, Mozambique s children get 1hr 41min of teaching time [per day].... Mozambican teachers also had the lowest overall score... in the assessment of their language, mathematics, and pedagogy skills... [which] translates into significantly lower learning outcomes evidenced by scores on pupil assessment. Molina & Martin (2015), Education Service Delivery in Mozambique.
8 / 35 Limitações das perspectivas convencionais As perspectivas convencionais reflectem interesses. Desempenho de serviços públicos é muito mais que a realização de objectivos quantitativos planificados. As avaliações do exterior são: Descontextualizadas Insensíveis às tendências históricas Silenciosos sobre potenciais trade-offs = as duas perspectivas convencionais são excessivamente reducionistas e não desenvolvem expectativas realistas.
Média de anos de escolaridade primária em 2000 (adultos) Moçambique: 0.9, Uganda: 3.7, R.D. Congo: 2.5, Tanzania: 4.5 anos. Fonte: compilação de Barro & Lee: www.barrolee.com. 9 / 35
10 / 35 Outline 1 Perspectivas convencionais 2 Abordagem mais ampla 3 Resultados 4 Reflexões
Abordagem alternativa Cadeia longa de produção: Insumos Produtos Resultados Impactos Essencial reconhecer: há vários serviços públicos produção tem múltiplos objectivos há constrangimentos de recursos = trade-offs produção é um processo cumulativo interações com factores externos 11 / 35
Como se pode avaliar? Vários factores desejáveis em cada parte da cadeia de produção Capacidade Estabilidade Volume Qualidade Equidade Eficiência Resultados Impactos 12 / 35
13 / 35 Metodologia de avaliação Idealmente, iria recolher dados sobre cada factor em cada parte da cadeia.... MAS os dados (e o tempo) são limitados. Aqui, concentro nos aspectos tangíveis nas partes de insumos e de produção. Resultados e impactos são mais complexos em parte devido aos factores externos (e.g., rendimento familiar).
14 / 35 Factores de avaliação Cinco dimensões: 1 Capacidade financeira do Estado 2 Estabilidade de fluxos financeiros sectoriais 3 Volume de produção 4 Eficiência na produção 5 Equidade (espacial) na produção
15 / 35 Como? Compilação de dados provenientes de vários fontes: Série de CGEs Anuários estatísticos (INE) Outros estudos Bases de dados internacionais (e.g., Banco Mundial)... falta de matéria organizada de uma forma consistente... ausência de bases de dados nacionais Análise de equidade: decomposição de "slope inequality index" (índice de desigualdade de inclinação). Dimensão de qualidade excluída falta de uma serie histórica.
16 / 35 Outline 1 Perspectivas convencionais 2 Abordagem mais ampla 3 Resultados 4 Reflexões
(1) Insumos : Capacidade 17 / 35
(1a) Expansão da capacidade financeira do Estado Inclusive mobilização de recursos domésticos. 18 / 35 205 US$ pc (real) 0 50 100 150 200 174 148 143 144 127 123 112 103 92 94 92 80 80 75 77 67 64 63 64 55 53 54 48 47 44 43 39 34 33 21 22 23 25 27 28 173 140 134 111 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2009 2010 2011 2012 2013 2015 2016 Receitas do Estado Total Nota: valores de 2010. // Fonte: estimativas do autor.
(1b) Expansão relativa do Estado na economia Cresceram vulnerabilidades (2005-); cortes (2015-??). 19 / 35 Crescimento real (% pc) -16-12 -8-4 0 4 8 12 16 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 1998 2000 2002 2004 2006 2010 2012 2016 Ano PIB Despesa pública Nota: valores de 2010. // Fonte: estimativas do autor.
(2) Insumos : Estabilidade 20 / 35
(2a) Prioridades relativamente estáveis Educação > Infraestruturas Saúde > Agricultura. 21 / 35 US$ pc (real) 0 10 20 30 40 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2009 2010 2011 2012 2013 2015 2016 Ano Educação Infraestruturas Saúde Agricultura Nota: valores de 2010. // Fonte: estimativas do autor.
22 / 35 (2b) Priorização efectiva de serviços públicos? US$ pc (real) 0 25 50 75 100 125 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 1998 2000 2002 2004 2006 2010 2012 2016 Ano Sectores prioritários Outras Nota: valores de 2010. // Fonte: estimativas do autor.
(2c) Expansão de despesas correntes (2005-) Rácio de despesa corrente / despesa de investimento: 23 / 35 Rácio de despesas 1 1.5 2 2.5 3 3.5 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 1998 2000 2002 2004 2006 2010 2012 2016 Ano Nota: despesa corrente inclui operações financeiras. // Fonte: estimativas do autor.
(3) Produção : Volume 24 / 35
25 / 35 (3a) Expansão de produção no sector de educação No. de criancas de idade escolar / escolas primárias (EP1 e EP2): 0 5,000 10,000 15,000 13,300 12,900 11,100 9,500 7,300 6,500 5,600 4,700 3,900 3,400 2,900 2,500 2,200 1,800 1,600 1,400 1,200 1,200 700 800 1,000 1,000 700 700 600 600 600 600 600 500 500 500 500 500 500 500 500 500 500 500 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2009 2010 2011 2012 2013 2015 2016 2o ciclo 1o ciclo Nota: valores de 2010. // Fonte: estimativas do autor.
26 / 35 (3b) Expansão de produção no sector de saúde No. de camas e No. de médicos / 10,000 pessoas: No. camas 8 8.1 8.2 8.3 8.4 8.5.2.4.6.8 No. médicos 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 1998 2000 2002 2004 2006 2010 2012 2016 Ano No. camas No. médicos Nota: valores de 2010. // Fonte: estimativas do autor.
27 / 35 (3c) Acesso aos serviços básicos não é universal População rural com acesso à água potável (%): Acesso à água potável (% pop. rural) 15 20 25 30 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 1998 2000 2002 2004 2006 2010 2012 2016 Ano Nota: valores de 2010. // Fonte: estimativas do autor.
(4) Produção : Eficiência 28 / 35
29 / 35 (4) Manutenção de eficiência técnica problemática Índice de Producão / Despesa (média móvel ponderada): Indíce de efficiência.4.6.8 1 1.2 1.4 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 1998 2000 2002 2004 2006 2010 2012 2016 Ano Educação Saúde Nota: -2000 = 1. // Fonte: estimativas do autor.
(5) Produção : Equidade 30 / 35
(5a) Grandes desafios em termos de equidade Diferenças absolutas no aproveitamento de serviços públicos aumentaram-se. Norte urbano 2002 0.30 0.41 0.44 0.67 Centro urbano 2002 0.45 0.50 0.57 0.76 Sul urbano 2002 0.63 0.58 0.72 0.88 Norte rural 2002 0.11 0.13 0.20 0.23 Centro rural 2002 0.12 0.16 0.20 0.27 Sul rural 2002 0.15 0.24 0.29 0.46 0.2.4.6.8 1 Índice de aproveitamento de servicos públicos Nota: Índice varia entre 0 e 1 e baseia-se em micro-dados sobre o use do sistema de educação, acesso a eletricidade e acesso a água potável. // Fonte: estimativas do autor. 31 / 35
(5b) Desigualdade não se deve ao rendimento só Decomposição de índices de desigualdade (%): 32 / 35 (a) Absolute (a) Relative Consumo real Norte urbano Centro urbano Sul urbano Norte rural Centro rural Sul rural Residual Consumo real Norte urbano Centro urbano Sul urbano Norte rural Centro rural Sul rural Residual -.2 0.2.4.6 -.1 0.1.2.3.4 Fonte: estimativas do autor.
33 / 35 Outline 1 Perspectivas convencionais 2 Abordagem mais ampla 3 Resultados 4 Reflexões
34 / 35 O que aprendemos? 1 Ganhos significativos, de uma base muito limitada: Expansão de capacidade financeira do Estado ( 4) Expansão de volume de serviços públicos (e.g., escolas etc.) 2 Têm havido trade-offs: Maior priorização de educação (vs. saúde e agricultura etc.) Enfoque na expansão de volume (vs. qualidade e equidade?) Crescimento rápido de despesas não prioritárias e correntes Evidência que eficiência técnica pode estar a cair Persistência de desigualdades espaciais 3 Satisfação de serviços básicos permanece um desafio 4 Desenvolvimentos macroeconómicos recentes estão a gerar cortes nos sectores prioritários
Desafios correntes 1 Estabilização da situação financeira (geral e sectorial) 2 Reconhecer e rever os trade-offs: Priorização sectorial Estrutura de despesa (e.g., investimentos vs. funcionamento) Volume de fundos vs. eficiência no uso Equidade espacial Subsídios do governo vs pagamentos dos beneficiários = Necessita mais análise técnica e discussão pública ampla 3 Estabelecer expectativas (mais) realistas em cada sector e.g., padrões mínimas de acesso e qualidade 4 Monitorização regular de resultados finais (i.e., qualidade) 35 / 35