IMPACTOS DO MODERFROTA NA INDÚSTRIA DE TRATORES DE RODAS NO BRASIL raslima@esalq.usp.br



Documentos relacionados
Desempenho Recente e Perspectivas para a Agricultura

AGROINDÚSTRIA. O BNDES e a Agroindústria em 1998 BNDES. ÁREA DE OPERAÇÕES INDUSTRIAIS 1 Gerência Setorial 1 INTRODUÇÃO 1.

CRESCIMENTO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA E O CONSUMO DE TRATORES DE RODAS JOAQUIM BENTO DE SOUZA FERREIRA FILHO (1) ; FÁBIO ISAÍAS FELIPE (2).

TRATORES E MÁQUINAS AGRÍCOLAS

O IBGE divulgou a pouco o primeiro prognóstico para a safra de 2011: Em 2011, IBGE prevê safra de grãos 2,8% menor que a de 2010

Desempenho da Agroindústria em histórica iniciada em Como tem sido freqüente nos últimos anos (exceto em 2003), os

MERCADO DE TRABALHO NA PRODUÇÃO DE ALGODÃO E SOJA: UMA ANÁLISE COMPARATIVA

Avaliação das Contas Regionais do Piauí 2008

O espaço rural brasileiro 7ºano PROF. FRANCO AUGUSTO

TEMA: A importância da Micro e Pequena Empresa para Goiás

redução dos preços internacionais de algumas commodities agrícolas; aumento dos custos de

Índice de Confiança do Agronegócio

MOTIVAÇÕES PARA A INTERNACIONALlZAÇÃO

Produção de grãos na Bahia cresce 14,64%, apesar dos severos efeitos da seca no Estado

10º LEVANTAMENTO DE SAFRAS DA CONAB /2013 Julho/2013

Capacidade dos Portos Brasileiros Soja e Milho

VARIAÇÃO ESTACIONAL DE PREÇOS DA MAMONA NO PARANÁ INTRODUÇÃO

Boletim Ativos do Café - Edição 15 / Dezembro 2013 Preços do café intensificam a descapitalização na cafeicultura brasileira em 2013

Estrutura Produtiva BOLETIM. Ribeirão Preto/SP. Prof. Dr. Luciano Nakabashi Rafael Lima

PRODUÇÃO E ÁREA COLHIDA DE SOJA NO NORDESTE

Máquinas e Equipamentos de Qualidade

Tabela 01 Mundo Soja Área, produção e produtividade Safra 2009/10 a 2013/14

APRESENTAÇÃO DO PROJETO PÚBLICO ALVO

GERAÇÃO DE EMPREGOS FORMAIS

Principais características da inovação na indústria de transformação no Brasil

Relatório Executivo: 34ª Rodada Índice de Confiança do Produtor Rural Abril de AgroFEA Ribeirão Preto FEA-RP/USP

Políticas públicas e o financiamento da produção de café no Brasil

10º FÓRUM DE ECONOMIA. Política Cambial, Estrutura Produtiva e Crescimento Econômico: fundamentos teóricos e evidências empíricas para o Brasil

ANÁLISE DAS EXPORTAÇÕES MATO-GROSSENSES Janeiro a Dezembro / 2007

Nota de Crédito PJ. Janeiro Fonte: BACEN Base: Novembro de 2014

Milho Período: 11 a 15/05/2015

III CONGRESSO BRASILEIRO DO CACAU: INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E SUSTENTABILIDADE

Modelo para elaboração do Plano de Negócios

DEPEC Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos FEIJÃO OUTUBRO DE 2015

BOLETIM EMPREGO Setembro 2014

Produção Industrial Cearense Cresce 2,5% em Fevereiro como o 4º Melhor Desempenho do País

6 Quarta parte logística - Quarterização

Medidas de lançamento, agosto de 2011

Guilherme Leite da Silva Dias, FEA/USP

Analise o gráfico sobre o número acumulado de inversões térmicas, de 1985 a 2003, e a) defina o fenômeno meteorológico denominado inversão

Soja - Análise da Conjuntura Agropecuária. Novembro 2015 PARANÁ

ÁREA DE OPERAÇÕES INDUSTRIAIS 2 - AO2. GERÊNCIA SETORIAL 4 - SETOR DE BENS DE CAPITAL OR DE ENS DE CAPITAL - DESEMPENHO EM Data: 08/12/95 Nº 2

projetos com alto grau de geração de emprego e renda projetos voltados para a preservação e a recuperação do meio ambiente

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural PROJETO FIP-ABC. Produção sustentável em áreas já convertidas para o uso agropecuário (com base no Plano ABC)

LEASING. Leasing operacional praticado pelo fabricante do bem, sendo realmente um aluguel. (Telefones, computadores, máquinas e copiadoras).

MERCADO DE TRIGO CONJUNTURA E CENÁRIO NO BRASIL E NO MUNDO

ESCRITÓRIO TÉCNICO DE ESTUDOS ECONÔMICOS DO NORDESTE ETENE INFORME RURAL ETENE PRODUÇÃO E ÁREA COLHIDA DE CANA DE AÇÚCAR NO NORDESTE.

PALAVRAS-CHAVE Indicadores sócio-econômicos. Campos Gerais. Paraná.

Gestão de Pequenas e Medias Empresas

Número 24. Carga horária de trabalho: evolução e principais mudanças no Brasil

Workshop sobre Apoio a Empresas de Base Tecnológica em SP Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico FAPESP

O MERCADO DE SOJA 1. INTRODUÇÃO

A visão de longo prazo contempla: Produção Exportações líquidas Estoques. Área plantada Produtividade Consumo doméstico (total e per capita)

APRESENTAÇÃO NO INSTITUTO DO VAREJO

CONVITE À APRESENTAÇÃO DE PROPOSTAS INOVAÇÃO EM FINANCIAMENTO

Milho - Análise da Conjuntura Agropecuária

FOCOS DE ATUAÇÃO. Tema 8. Expansão da base industrial

Tabela 1 - OPERACOES DE CREDITO (milhões de R$) Ano I Nov/13. Fonte: ESTBAN, Banco Central do Brasil

Milho: preços elevados mesmo com super-safra norte-americana

Crescimento Econômico Brasileiro: Análise e Perspectivas

Saúde Suplementar em Números

Uso da biotecnologia garante US$ 3,6 bilhões à agricultura brasileira, aponta novo estudo da ABRASEM

INFORME SETORIAL O BNDES E A AGROINDÚSTRIA INTRODUÇÃO 1. COMPLEXO AGROINDUSTRIAL CAI 2. AGROINDÚSTRIA

BNDES Financiamento à Indústria de Base Florestal Plantada. Outubro de 2014

Gráfico 1: Goiás - Saldo de empregos formais, 2000 a 2013

Pesquisa Mensal de Emprego - PME

23ª ABERTURA DA COLHEITA DO ARROZ. Restinga Seca - RS. Diretoria de Agronegócios (DF)

Perspectiva da Indústria de Autopeças no contexto do Inovar-Auto

Seção 2/E Monitoramento, Avaliação e Aprendizagem

A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO DE CUSTOS NA ELABORAÇÃO DO PREÇO DE VENDA


Tabela 1. Raiz de mandioca Área colhida e quantidade produzida - Brasil e principais estados Safras 2005/06 a 2007/08

COMO TORNAR-SE UM FRANQUEADOR

Pesquisa Mensal de Emprego PME. Algumas das principais características dos Trabalhadores Domésticos vis a vis a População Ocupada

Índice de Confiança do Agronegócio

Ano I Boletim II Outubro/2015. Primeira quinzena. são específicos aos segmentos industriais de Sertãozinho e região.

REDUZINDO AS QUEBRAS ATRAVÉS DA MANUTENÇÃO PROFISSIONAL

O Mundo em 2030: Desafios para o Brasil

TRIBUNAL DE CONTAS DO DISTRITO FEDERAL II RELATÓRIO ANALÍTICO

Sumário Executivo. Amanda Reis. Luiz Augusto Carneiro Superintendente Executivo

Comentários gerais. consultoria em sistemas e processos em TI, que, com uma receita de R$ 5,6 bilhões, participou com 14,1% do total; e

PROJEÇÕES DO AGRONEGÓCIO Brasil 2009/10 a 2019/20

11 de maio de Análise do uso dos Resultados _ Proposta Técnica

INSTITUIÇÃO EXECUTORA:

Plano Agrícola e Pecuário Centros de Excelência em Educação PAP 2013/2014 Profissional e Assistência Técnica Rural

DESENVOLVIMENTO DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS, GERAÇÃO DE EMPREGO E INCLUSÃO SOCIAL. XII Seminario del CILEA Bolívia 23 a 25/06/2006

OS IMPACTOS DA FILOSOFIA JIT SOBRE A GESTÃO DO GIRO FINANCIADO POR CAPITAL DE TERCEIROS

Planejamento Estratégico do Setor de Florestas Plantadas -2012

Como as empresas financiam investimentos em meio à crise financeira internacional

Linhas de Financiamento Setor Florestal. 1º Encontro Paulista de Biodiversidade São Paulo, 18 de novembro de 2009 Eduardo Canepa Raul Andrade

Gestão do Conhecimento A Chave para o Sucesso Empresarial. José Renato Sátiro Santiago Jr.

ANEXO VII OBJETIVOS DAS POLÍTICAS MONETÁRIA, CREDITÍCIA E CAMBIAL LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS

Custo de Produção do Milho Safrinha 2012

Fundação de Economia e Estatística Centro de Informações Estatísticas Núcleo de Contabilidade Social

Análise Setorial. Fabricação de artefatos de borracha Reforma de pneumáticos usados

11.1. INFORMAÇÕES GERAIS

[Infográfico] As projeções de produção da cana, açúcar e etanol na safra 2023/2024

Redução da Pobreza no Brasil

SETOR DE ALIMENTOS: estabelecimentos e empregos formais no Rio de Janeiro

Inovação nas Médias Empresas Brasileiras

Transcrição:

IMPACTOS DO MODERFROTA NA INDÚSTRIA DE TRATORES DE RODAS NO BRASIL raslima@esalq.usp.br Apresentação Oral-Evolução e estrutura da agropecuária no Brasil ROBERTO ARRUDA DE SOUZA LIMA 1 ; SABRINA MARUCCI RODRIGUES 2 ; FÁBIO ISAIAS FELIPE 3. 1,3.ESALQ/USP, PIRACICABA - SP - BRASIL; 2.CEPEA/ESALQ, PIRACICABA - SP - BRASIL. Impactos do Moderfrota na indústria de tratores de rodas no Brasil. Resumo Um dos elementos importantes para o desenvolvimento da agricultura, associado à elevação da produtividade, é a mecanização. Na última década, o Programa do BNDES Moderfrota tem se destacado pelo apoio concedido à industria de tratores de rodas. O presente trabalho analisa o desempenho do Moderfrota, confrontando-o com a evolução da estrutura do mercado de tratores no Brasil. Os resultados sugerem que a oferta de crédito foi assimétrica, observado correlação positiva entre desembolsos do Moderfrota e o grau de concentração industrial. Palavras-chave: Moderfrota, concentração, tratores, política agrícola Abstract One important element of agriculture development, coupled to the productivity increase, is mechanization. In the last decade, the Program of BNDES Moderfrota has been highlighted for the support given the industry tractor wheels. The present work analyzes the performance of Moderfrota, confronting it on the evolution of tractor market structure in Brazil. The results suggest that the supply of credit was asymmetric, observed positive correlation between Moderfrota disbursements and the concentration grade of industry. Key Words: Moderfrota, concentration, tractors, agricultural policy 1 - Introdução Nas últimas décadas, a agricultura brasileira apresentou substancial crescimento de seu produto. Este quadro ocorreu devido ao melhor aproveitamento dos fatores de produção, destacando-se a utilização mais eficiente de fertilizantes e o maior uso de mecanização no setor. Dos anos 1970 até os dias atuais o setor agrícola brasileiro tem apresentado significativo aumento na produção, o que em determinados períodos é resultado do aumento na área cultivada e em outros da maior produtividade agrícola, ou ambos (Ferreira Filho & Felipe, 2007). A mecanização da agricultura no Brasil é um importante elemento para a maior produtividade, todavia, até meados da década de 1960 toda a demanda por maquinário 1

agrícola era atendida pelas importações. Após aquele período, em razão da política de substituição de importações, houve o surgimento no Brasil da indústria de tratores agrícolas. Tendo em vista a necessidade de elevar a produção e a produtividade agrícola no Brasil, bem como a redução dos déficits com comércio exterior, houve o crescimento e o desenvolvimento desta indústria. Assim, naquela ocasião passou a haver a proteção deste setor através de política cambial e fiscal que ofereciam vantagens comparativas em relação aos similares importados (Vegro et al, 1997). Apesar dos resultados favoráveis quanto aos índices de mecanização, em 1996 estes ainda eram considerados baixos se comparados a outros países, como se observa na Tabela 1. De acordo com Ferreira Filho & Costa (1999) o consumo de tratores agrícolas é sensível aos fenômenos associados à evolução da agricultura, destacando-se: mudança na composição de cultivo, abertura da fronteira agrícola, políticas agrícolas e/ou econômicas, tecnologias e processos inovadores. Este comportamento pode ser exemplificado pela evolução da área plantada e das vendas de tratores, conforme Figura 1. Tabela 1 Brasil: estoque de tratores, colheitadeiras, área cultivada e área por tipo de maquinário no em 1996. País Tratores de rodas Colheitadeiras Área cultivada (1000 ha) ha/trator ha/colheitadeira Brasil 460.000 49.600 53.500 116,3 1.078,6 Argentina 280.000 50.000 25.000 89,3 500,0 Canadá 740.000 155.000 45.360 61,3 292,6 EUA 4.800.000 662.000 175.000 36,5 264,4 França 1.312.000 154.000 18.288 13,9 118,8 Reino Unido 500.000 47.000 6.090 12,2 129,6 Fonte: Anfavea (2006). 50 55 Vendas de tratores (mil unidades) 45 40 35 30 25 20 15 10 52 49 46 43 40 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Área cultivada (milhões de hectares) 2008 Tratores (unidades) Área cultivada (hectares) Figura 1 Brasil: Unidades vendidas de tratores de rodas e área plantada (em milhares de hectares), período de 1996 a 2008. Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE (2008) e Anfavea (2008). Apesar da instabilidade econômica no final da década de 1990 não houve desaceleração do setor agrícola no Brasil, o que se deu em razão da desvalorização cambial, 2

bem como pelo aumento no volume exportado. A agricultura passou a ser beneficiada por linhas especiais de crédito, momento em que houve o surgimento do Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras (Moderfrota), que contribuiu para o processo de modernização da agricultura, bem como desta indústria no Brasil. Com relação a este programa, o presente estudo formula a hipótese de que o acesso ao crédito é assimétrico, de modo que a implantação do Moderfrota pode ter favorecido de forma não uniforme as empresas produtoras de tratores de rodas, causando impacto na concentração industrial. Dessa forma, o objetivo desse trabalho é analisar o desempenho do Moderfrota confrontando-o com a evolução da estrutura do mercado de tratores no Brasil. Para tanto, é realizada a análise das transformações ocorridas na agricultura brasileira a partir do programa Moderfrota, incluindo a elaboração de índices para mensurar a mecanização no Brasil com base no consumo de tratores agrícolas de rodas. Os resultados obtidos nesta análise são comparados com a evolução da concentração industrial medida através do índice de concentração CR(k) na última década. 2 O Programa de Moderfrota De acordo com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES, 2008), instituição que administra os recursos do Moderfrota, o programa teve início em março de 2000. Seu principal objetivo é financiar a aquisição de tratores agrícolas e implementos associados, colheitadeiras e equipamentos para preparo, secagem e beneficiamento de café. Os beneficiários do programa são produtores rurais (pessoa física ou jurídica) e cooperativas. O programa também abrange o financiamento de maquinário semi-novo, desde que a aquisição seja realizada em concessionário autorizado, cadastrado junto ao BNDES. No caso dos tratores, a idade máxima para financiamento é de 8 anos, enquanto para colheitadeiras é de 10 anos 1. O volume de recursos desembolsados através do Moderfrota desde a sua implantação até 2008 já é superior a R$ 24 bilhões (deflacionado para reais de dezembro de 2008 pelo IGP-DI). Através da Figura 2, observa-se o volume anual de desembolsos para o programa entre 2000 e 2008. A distribuição dos desembolsos não foi uniforme entre as regiões do Brasil. A Região Sul, Centro-Oeste e Sudeste, em conjunto, foi destino de 92,7% dos recursos totais desde a implantação do programa (Figura 3). 1 Maiores detalhes sobre as características operacionais do programa podem ser obtidas em http://www.bndes.gov.br/programas/agropecuarios/frotaag.asp. 3

5,0 Bilhões de Reais 4,0 3,0 2,0 1,0 0,0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Figura 2 Brasil: volume de desembolso do Moderfrota no período de 2000 a 2008, em reais de dezembro de 2008, deflacionado pelo IGP-DI. Fonte: BNDES (2009). Centro Oeste 28,5% Norte 1,8% Nordeste 5,5% Sudeste 25,8% Sul 38,4% Figura 3 Brasil: desembolsos do Moderfrota por regiões brasileiras no período de 2000 a 2008* Fonte: BNDES (2008). *até outubro/2008 No mesmo período de análise, o Nordeste e Norte foram destinos de apenas 5,5% e 1,8% do volume de operações do Moderfrota, respectivamente (Figura 3). O fato daquelas regiões não serem contempladas com recursos do Moderfrota não se constitui como questão conjuntural ou de mercado, visto que desde a implantação do Programa não houve avanços nesta distribuição, como pode se observar na Figura 4. Considerando os dados de 2008, tem-se que os principais destinos do programa foram: Paraná (17,8% do total), Rio Grande do Sul (15,3%), Minas Gerais (13,9%), Mato Grosso (13,2%), São Paulo (11,1%) e Santa Catarina (9,1%). No Norte, o principal estado a receber recursos foi o Tocantins (0,8% do total), já no Nordeste, a Bahia foi o principal destino dos recursos do Moderfrota (3,2% do total). Observam-se na Tabela 2 os principais estados a receber recursos do Moderfrota entre 2002 e 2008. 4

% dos recursos 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008* Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Figura 4 Brasil: distribuição dos recursos do Programa Moderfrota nas Regiões entre 2002 e 2008* Fonte: BNDES (2008) *até outubro/08 Tabela 2 Brasil: distribuição dos recursos do moderfrota por estados entre 2002 e 2008. Estados 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008* Paraná 21,1% 18,8% 18,8% 14,2% 12,9% 16,8% 17,8% Rio Grande do Sul 17,4% 16,0% 17,4% 12,0% 12,9% 14,5% 15,3% Minas Gerais 6,8% 6,6% 6,0% 10,9% 13,4% 12,5% 14,0% Mato Grosso 20,6% 21,1% 21,8% 15,5% 10,5% 10,5% 13,2% São Paulo 10,6% 13,0% 10,6% 18,2% 25,1% 19,1% 11,2% Santa Catarina 3,3% 3,9% 4,9% 7,4% 6,6% 7,6% 9,1% Goiás 8,6% 9,6% 8,2% 7,7% 5,9% 5,5% 6,6% Mato Grosso do Sul 4,3% 5,7% 5,6% 4,1% 3,7% 3,4% 4,2% Bahia 3,3% 2,3% 3,0% 4,2% 2,6% 3,3% 3,2% Maranhão 1,2% 0,8% 1,1% 1,1% 1,7% 1,7% 1,2% Tocantins 0,4% 0,3% 0,5% 0,8% 1,0% 1,1% 0,9% Pará 0,6% 0,3% 0,5% 1,0% 0,6% 0,6% 0,5% Rondônia 0,4% 0,4% 0,4% 0,5% 0,5% 0,8% 0,5% Outros 1,4% 1,1% 1,2% 2,3% 2,5% 2,6% 2,2% Fonte: BNDES (2008). *até outubro/08 Destaca-se que a partir do Programa Moderfrota houve significativa mudança no cenário da mecanização agrícola no Brasil. Observou-se que a implantação deste ocasionou um acréscimo na demanda por máquinas agrícolas, com aumento do consumo em número de unidades (Figura 5). No entanto, se faz necessário expor que o crescimento no consumo de máquinas foi reflexo do bom momento do setor agrícola em vários setores, sendo exceção o ano de 2005. 5

45.000 40.000 35.000 30.000 25.000 20.000 15.000 10.000 5.000 0 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Figura 5 Brasil: vendas internas de tratores na agricultura (unidades), período de 1995 a 2008 Fonte: Anfavea (2009). Dados dos Censos Agropecuários apontam que entre 1970 e 1996 o estoque de tratores da agricultura brasileira apresentou-se crescente, o que possivelmente é recorrente da falta de renovação destas máquinas. No entanto, a partir de 2006 observou-se ligeira diminuição de 1,9% no estoque de tratores, o que pode se explicado pela renovação de máquinas obsoletas por tratores mais novos e eficientes. O estoque de tratores da agricultura brasileira é observado na Figura 6. 900 800 700 mil unidades 600 500 400 300 200 100 1970 1975 1980 1985 1996 2006 Figura 6 Brasil: estoque de tratores da agricultura entre 1970 e 2006 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE (2008). Brandão et al (2005) atribuem o crescimento da área cultivada no Brasil ao maior consumo de máquinas e implementos agrícolas. Estes autores apontam que este cenário ocorreu devido ao Moderfrota, uma vez que a conversão de pastagens em lavouras ficou mais viável tecnologicamente, e se viabilizou a expansão no estoque de máquinas e implementos agrícolas no Brasil. Apesar disso, deve-se considerar que a elevação no consumo de máquinas agrícolas é anterior ao lançamento do Moderfrota, sugerindo que outras variáveis também estão associadas ao fenômeno. Vegro & Ferreira (2007) apontam para a divergência entre os economistas no que se refere à análise do Moderfrota. Parte destes considera o Moderfrota um programa bem sucedido de Política Industrial, uma vez que possibilitou a renovação da frota de máquinas 6

agrícolas, proporcionando maior eficiência na produção e conseqüente aumento da rentabilidade dos agricultores, já que passou a se produzir a menores custos e perdas. Além disso, houve melhoria na demanda por máquinas agrícolas, inclusive para a exportação, o que aumentou o número de empregos na indústria. A corrente contrária considera o Moderfrota uma política de subsídios para o setor agrícola, apontando que o programa desvirtua a competitividade real da agricultura em relação a outros setores. A criação e implementação do programa Moderfrota, passando pela securitização das dívidas dos agricultores e elevação das cotações das commodities, formou, sem dúvida, os alicerces para as montadoras de maquinaria agrícola. Estabeleceram-se, assim, no País um verdadeiro pólo de atração para os novos investimentos em escala produtiva e em tecnologia para o segmento de máquinas agrícolas automotrizes (FERREIRA et al, 2005). Pontes & Padula (2005) apontam que até o ano 2000 havia receio por parte da indústria nacional de tratores em realizar novos investimentos em razão da instabilidade econômica no Brasil. Todavia, a partir daquele período, já em razão do Moderfrota, as exportações brasileiras de tratores tiveram crescimento de 581,51%, enquanto que o crescimento de colheitadeiras exportadas foi de 563,69%. Além disso, houve profundas transformações nas relações entre produtores rurais, concessionárias, bancos de fomento e indústria de máquinas. Ainda de acordo com Ferreira et al (2005), a indústria de máquinas agrícolas automotrizes possuem tecnologia e equipamentos nacionais de ponta. Destacam que a atração de investimentos para o país associada com a consolidação definitiva da indústria de máquinas agrícolas permitiu fantástica projeção internacional desse segmento. Com padrões tecnológicos similares aos mais adiantados países em vigor, as montadoras brasileiras têm sido capazes de conquistar novos mercados e substanciais parcelas dos mercados tradicionais para seus produtos. O aumento da produção e vendas de máquinas agrícolas nos últimos anos propiciou a renovação de mais de um terço da frota do País além de conferir maior conteúdo tecnológico para os equipamentos. Por ambos os fatos, o segmento é, na atualidade, uma relevante indústria para o país. No momento atual, todavia, o segmento carece de ações que harmonizem seus interesses visando construir mútuas vantagens (fornecedores, montadoras, governo e produtores rurais). Ao governo federal compete o arrojo necessário no sentido de desonerar as importações de aço, visto que esta matéria-prima corresponde a 20% do custo total na indústria de máquinas agrícolas, para que se estabeleça maior competitividade no mercado interno e se contenha a majoração dos principais suprimentos da indústria de máquinas (VEGRO et al, 2008). Na atualidade, com a necessidade de incrementar substancialmente a oferta de alimentos a custo competitivo, nada mais indicado que a introdução de tratores mais potentes, capazes de executar em menor tempo uma maior variedade de serviços agrícolas com custos muito inferiores, quando comparados com os tratores de menor potência (VEGRO et al, 2008). 3 Índices de mecanização agrícola no período do Moderfrota Visando quantificar se no período do Programa Moderfrota houve melhoria na eficiência no que se refere à mecanização agrícola, foram criados índices de mecanização, sendo estes um paralelo com o aumento na área cultivada das principais culturas no Brasil. Outros trabalhos destacam-se neste sentido, porém, sem priorizar o período do Moderfrota. Ferreira Filho & Costa (1999) concluíram que até 1996 houve queda no consumo de tratores agrícolas mesmo em um período de crescimento na área cultivada. Segundo os 7

autores isso foi resultado do aumento do cultivo sob o sistema de plantio direto, bem como pelo crescimento na utilização de aviões agrícolas em vários tipos de tratos culturais. Entre 1996 e 2005 passou a haver um novo padrão tecnológico de expansão da agricultura brasileira, este baseado em crescimento da área cultivada, a exemplo do observado nas décadas anteriores e contrário ao observado no período 1990/1995, quando houve um forte crescimento da produtividade da agricultura (Ferreira Filho & Felipe, 2007). A expansão da área esteve por sua vez associada a uma nova elevação no consumo anual de tratores agrícolas. Apesar disso, as vendas de máquinas acontecem já a partir de 1996, e não pode ser atribuída exclusivamente ao Moderfrota, que foi introduzido em 2000. Adotando o mesmo procedimento utilizado por Ferreira Filho & Costa (1999) e Ferreira Filho & Felipe (2007), buscaram quantificar o aumento do consumo de potência média no Brasil no período que compreende o Moderfrota. Para tanto, criou-se um índice de uso de potência por área cultivada. Desse modo, multiplicou-se o número de tratores vendidos em cada ano pelas seguintes faixas de potências: 50 (até 50 CV), 70 (entre 51 e 100 CV) e 150 (entre 101 e 199 CV). O procedimento posterior foi dividir este índice pela área total cultivada com as principais culturas 2 no Brasil (uma vez que as mesmas corresponderam por mais de 85% da área total cultivada em 2008). Observa-se que a partir de 2000 houve crescimento da relação entre potência consumida e área cultivada, atingindo o máximo em 2002. A seguir, observa-se decréscimo, atingindo o mínimo desta relação em 2005, período de retração nas vendas de tratores no Brasil, momento em que houve forte elevação nos preços do aço no mercado internacional, bem como ocorreu um cenário mais difícil para o setor agrícola. Com a retomada da rentabilidade no setor agrícola a partir de 2005, principalmente em decorrência de novos investimentos em agroenergia, este índice volta a aumentar. O indicador demonstra uma maior disponibilidade de serviços de máquinas agrícolas por hectare cultivado no Brasil, permitindo a realização de operações em menor tempo, o que é de extrema importância para a agricultura de grande escala de produção, como pode se observar na Figura 7. 0,0800 0,0700 CV de potência/ha 0,0600 0,0500 0,0400 0,0300 0,0200 0,0100 0,0000 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Figura 7 Brasil: relação entre potência consumida e área cultivada com as principais culturas entre 2000 e 2007. Fonte: Elaborada pelos autores a partir de dados da Anfavea (2008). Deve-se ressaltar que os números apresentados limitam a análise por não considerar o estoque de tratores. Além disso, há diferenças em relação à demanda por serviços de tratores 2 As principais culturas são: algodão, arroz, cana-de-açúcar, feijão, mandioca, milho, soja, café e laranja. 8

pelas culturas analisadas, sendo umas mais exigentes por serviços de tratores que outras. Por essa razão, buscou-se criar um índice de demanda efetiva de serviços anuais de tratores para as culturas mencionadas na análise. Para este objetivo, foi multiplicado o número de horas-trator/ha para um sistema de produção de tecnologia intermediária para cada uma das culturas pelo número total de hectares cultivados com cada uma delas a cada ano 3. Assim, se obteve um indicador da demanda por serviços de tratores considerando a variação na composição da produção mencionada anteriormente. Os coeficientes técnicos podem apresentar variação entre níveis de tecnologia e até mesmo entre regiões, sendo este um indicador bastante geral. A partir de 2001 houve maior necessidade de horas-trator na agricultura (Figura 8), principalmente em razão do aumento na produção de grãos, que ocorreu em razão do acréscimo na área cultivada, principalmente com soja e algodão. A partir de 2006 o crescimento observado se deu em razão da cana-de-açúcar. 2000 = 100 130 125 120 115 110 105 100 2000 2001 2002 Figura 8 Brasil: demanda efetiva de tratores pela agricultura entre 2000 e 2008 Fonte: Elaborada pelos autores a partir de dados da Anfavea (2008). 2003 2004 2005 2006 2007 2008 A evolução da oferta de tratores em relação à demanda (disponibilidade efetiva de serviços de máquinas agrícolas na agricultura brasileira) é dada pela razão entre o indicador de número de CV de potência comercializados por ano e demanda efetiva total de hora-trator pela agricultura. Observa-se que este índice se eleva entre 2000 e 2002 (Figura 9), havendo assim maior disponibilidade de serviços de tratores de rodas. Desse modo, a oferta de potência evoluiu de forma a mais do que compensar o aumento na demanda de horas-trator ocorrida inicialmente pelo aumento da área cultivada no Brasil. A partir daquele período, passa a haver redução neste indicador, sendo resultado da menor disponibilidade de serviços de tratores de rodas na agricultura brasileira. A partir de 2006, principalmente em decorrência de novos investimentos no setor sucroalcooleiro, bem como em grãos, este índice volta a se elevar, sendo um possível cenário para os anos subseqüentes. 3 Os coeficientes técnicos utilizados, em dias-trator/ha foram: 3,44 para algodão herbáceo, 2,74 para arroz, 1,82 para feijão, 2,45 para cana de açúcar, 3,04 para milho, 1,40 para soja, 3,44 para café, e 3,06 para laranja. Os dados utilizados são de Ferreira Filho & Costa (1996), uma vez que não mais houve atualização para tais índices. 9

0,04 0,03 CV de potência/ha 0,03 0,02 0,02 0,01 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Figura 9 Relação entre potência consumida e demanda efetiva de horas-trator entre 2000 e 2007 Fonte: Elaborada pelos autores a partir de dados da Anfavea (2008). Pelo exposto, observa-se que houve aumento nas áreas atendidas pela mecanização no Brasil, diminuindo o número de hectares por trator. Resultados dos dois últimos censos agropecuários apontam para um ligeiro aumento no número de hectares por trator, o que se explica pelo aumento na área cultivada, bem como pela maior potência dos tratores (Tabela 3). Tabela 3 Brasil: área cultivada, frota de tratores de rodas e hectares/trator em anos selecionados Períodos Área cultivada (1000 ha) Frota de tratores de rodas ha/trator de roda 1960 25.673 62.684 409,56 1965 31.637 76.691 412,53 1970 34.912 174.760 199,77 1975 41.811 323.109 129,40 1980 47.641 665.280 71,61 1996 40.705 803.742 50,64 2006 52.568 788.053 66,71 Fonte: Anfavea (2008) e IBGE (2008). 4 Metodologia Para este trabalho, analisou-se primeiramente a produção da indústria brasileira de tratores. Após este procedimento foram calculados os índices de concentração. Foram utilizadas as medidas denominadas razão de concentração (concentration ratios), representada por CR( k ). A razão de concentração de ordem k é um índice positivo que fornece a parcela de mercado das k maiores empresas da indústria (k = 1, 2,..., n). Assim, k CR( k ) = s i (1) i= 1 10

Onde: s i = n X i= 1 i X i Em que, s i : parcela das vendas de cada empresa no mercado interno; X i : vendas internas de cada empresa; n X i i= 1 : vendas internas total. Sendo assim, os índices de concentração pretendem fornecer um indicador substancial da concorrência existente em uma determinada indústria. Quanto maior o valor da concentração, menor é o grau de concorrência entre as empresas, e mais concentrado (em uma ou poucas empresas) estará o poder de mercado da indústria. O nível de concorrência vigente em um determinado setor é o resultado da ação dos produtores individuais (conduta), pois ao escolherem os níveis de preço ou as quantidades ofertadas (variáveis estratégicas), dadas às características específicas dos produtos fabricados (substitutos), as preferências dos consumidores e as condições de acesso (existência ou não de barreiras de mercado à entrada de novas empresas). Além disso, as taxas de preferências intertemporais dos agentes, seus graus de informação e seus coeficientes de aversão ao risco (incerteza) são fatores que influenciam as tomadas de decisão de cada empresa. Posteriormente, a conduta das empresas determina o desempenho destas. Desta forma, os resultados obtidos pelas firmas lhes conferem um nível de poder de mercado individual (oportunidade que a empresa tem de ofertar seu produto com um preço acima do ponto de equilíbrio entre a receita marginal e o custo marginal) dentro da indústria, sendo que tal evento é possível de ser detectado pelos índices de concentração e dispersão. Visto que o poder de mercado influencia, ou é influenciado, pela quantidade de demandantes que as empresas, com sua capacidade de oferta, podem atender. 5 Resultados e Discussão Para análise da concentração de mercado, os dados foram agregados por grupo econômico. Como o Moderfrota é um programa voltado para vendas no mercado interno, desconsiderou-se o volume exportado pelas empresas. A Figura 10 apresenta a evolução das vendas consideradas na análise de concentração. 11

25.000 Unidades 20.000 15.000 10.000 5.000 AGCO New Holland Valtra John Deere Agrale 0 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Observações: 1) A partir de 2005, as vendas da AGCO estão somadas às vendas da Valtra. 2) As vendas da New Holland incluem as vendas da Case. Figura 10 Brasil: evolução das vendas internas de tratores de rodas, por grupo econômico, no período de 1999 a 2008. Fonte: elaborado pelos autores. Ao se comparar a evolução das vendas (Figura 10) com a evolução dos desembolsos do Moderfrota (Figura 2), observa-se que o setor atravessou diferentes fases. No período de 1999 a 2002, em que os desembolsos do BNDES referente ao Moderfrota mais que dobraram em termos reais, houve forte crescimento nas vendas internas dos principais grupos econômicos. No período de 2002 até 2006, em que houve decréscimo dos desembolsos (67% em termos reais), as vendas internas também se reduziram. Nesse período, a produção foi sustentada pelas exportações. O crescimento nas vendas internas da AGCO foi resultado da aquisição da Valtra, sendo que se for considerada a soma das vendas da AGCO com as da Valtra, houve uma redução de 35% no volume de vendas no mercado interno entre 2002 e 2006, acompanhando o que ocorreu com as demais empresas do segmento (no mesmo período, as vendas internas da New Holland e da John Deere caíram 55% e 58%, respectivamente). A indústria de tratores de rodas brasileira, ao longo de todo período analisado mostrou-se com concentração elevada (Tabela 4). Nota-se que no período em que os desembolsos do Moderfrota foram crescentes (até 2002), houve aumento da concentração, sendo que a redução dos desembolsos coincide com a queda na concentração industrial. A exceção neste processo foi o ano de 2005, em que houve a aquisição da Valtra pela AGCO. Tabela 4 Brasil: concentração nas vendas internas de tratores de rodas, período de 1999 a 2008. Ano C2 C4 C6 1999 59,48% 94,94% 99,97% 2000 57,90% 95,39% 99,96% 2001 60,87% 95,04% 99,97% 2002 61,08% 95,46% 100,00% 12

2003 58,80% 94,58% 100,00% 2004 58,67% 91,59% 100,00% 2005 80,50% 95,08% 100,00% 2006 80,30% 94,32% 100,00% 2007 81,45% 95,58% 100,00% 2008 80,95% 96,18% 100,00% Fonte: elaborado pelos autores Vegro et al (2008) afirma que os demais tipos de equipamentos produzidos e comercializados pelo setor exibiram comportamentos desiguais. Enquanto os cultivadores motorizados apresentaram declínio tanto na produção como nas vendas (embora com aumento das exportações), os tratores de esteiras e retroescavadeiras apresentaram variação da produção e vem das positivas e de dois dígitos. Esses últimos equipamentos, mais vinculados aos segmentos responsáveis pela construção e manutenção da infra-estrutura do País, beneficiam-se das diretrizes e intenções estabelecidas pelo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). O aumento da produção e vendas de máquinas agrícolas nos últimos anos propiciou a renovação de mais de um terço da frota brasileira além de conferir maior conteúdo tecnológico aos equipamentos. Por ambos os fatos, o segmento é, na atualidade, uma relevante indústria para o País. No momento atual, todavia, o segmento carece de ações que harmonizem seus interesses visando construir mútuas vantagens entre fornecedores, montadoras, governo e produtores rurais. Ao governo federal compete o arranjo necessário no sentido de desonerar as importações de aço, visto que esta matéria-prima corresponde a 20% do custo total na indústria de máquinas agrícolas, para que se estabeleça maior competitividade no mercado interno e se contenha a majoração dos principais suprimentos da indústria de máquinas no momento em que o problema inflacionário volta a rondar não só a economia brasileira, mas como todo o restante do mundo (VEGRO et al, 2008). De acordo com Vegro et al (2008) na atualidade, com a necessidade de incrementar substancialmente a oferta de alimentos a custo competitivo, nada mais indicado que a introdução de tratores mais potentes, capazes de executar em menor tempo uma maior variedade de serviços agrícolas com custos muito inferiores, quando comparados com os tratores de menor potência. 6 Considerações finais A dinâmica atual da agricultura brasileira só pôde ser viabilizada em razão do crédito para o setor. Nesse sentido, ressalta-se a importância do Programa Moderfrota para que o setor atingisse maiores níveis e eficiência em seus processos, uma vez que atualmente se tem na agricultura brasileira tratores mais novos e de potência média maior. Assim como os produtores rurais, a indústria também tem no crédito importante restrição ao seu desenvolvimento. A evolução do segmento de tratores de rodas esteve relacionada, no período analisado, tanto ao crédito interno, destacando-se o Moderfrota, no início do século, quanto externo, com o crescimento das exportações nos anos mais recentes. Apesar disso, em termos regionais, observou-se que o Moderfrota concentrou-se no Centro-Sul, havendo assim a necessidade de se atender outros estados brasileiros, bem como outros produtos. Haja vista que parte da região Nordeste é atendida em grande parte pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), porém em 13

determinados estados daquela região já se pratica a agricultura em grandes áreas (como o caso do algodão no Oeste baiano). Os resultados sugerem que a oferta de crédito foi assimétrica, observado correlação positiva entre desembolsos do Moderfrota e o grau de concentração industrial. Ou seja, surge a hipótese, a ser verificada em trabalhos futuros, de que os recursos do BNDES teriam beneficiado mais aos detentores de maior parcela do mercado, elevando, assim, a concentração. Adicionalmente, como sugestão de investigação futura, deve-se verificar a substituição de fontes de crédito interna (Moderfrota) por fontes externas (exportações), provocando o redirecionamento da produção da indústria de tratores de rodas. Referências ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS FABRICANTES DE VEÍCULOS AUTOMOTORES ANUÁRIO ESTATÍSTICO São Paulo: Anfavea, 2006. ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS FABRICANTES DE VEÍCULOS AUTOMOTORES Anfavea. Estatísticas da produção nacional de tratores no Brasil <www.anfavea.com.br> consultado em 30 nov 2008. BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL BNDES <www.bndes.gov.br> consultado em 10 dez 2008. BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL BNDES <www.bndes.gov.br> consultado em 28 jan 2009. BRANDÃO, A.S.P.; REZENDE, G.C.; MARQUES, R.W. da C. Crescimento Agrícola no período 1999/2004, explosão da área plantada com soja e meio ambiente no Brasil. Texto para discussão nº1103. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) Rio de Janeiro, 2005. FERREIRA, C. R. R. P. T.; VEGRO, C. L. R.; OLIVEIRA, M. D. M. Máquinas Agrícolas: sentimento de missão cumprida. São Paulo: Instituto de Economia Agrícola- IEA,jun. 2005. FERREIRA FILHO, J.B de S.; COSTA, A C. F de A. O crescimento da Agricultura e o consumo de máquinas agrícola no Brasil. XXXVII Congresso da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural SOBER. Foz do Iguaçu, Paraná, 1999. FERREIRA FILHO, J.B de S; FELIPE, F.I. Crescimento da produção agrícola e o consumo de tratores de rodas no Brasil entre 1996 2005. XLV Congresso da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia SOBER. Londrina - Paraná, 2007. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Sistema IBGE de recuperação automática <www.sidra.ibge.gov.br> consultado em 15 nov 2008 PONTES, N.R.;PADULA, A.D. Avaliação dos impactos e transformações do programa Moderfrota.na indústria de máquinas agrícolas.xliii Congresso da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural SOBER. Ribeirão Preto São Paulo, 2005. 14

VEGRO, C. L. R.; FERREIRA, C. R. R. P. T. A Força de Volta ao Campo. São Paulo: Instituto de Economia Agrícola- IEA, ago. 2007. VEGRO, C. L. R.; FERREIRA, C. R. R. P. T. Mercado de maquinas agrícolas automotrizes: alta dos suprimentos estratégicos. São Paulo: Instituto de Economia Agrícola- IEA, jul. 2008. VEGRO, C. L. R.; FERREIRA, C. R. P. T.; CARVALHO, F. C. Indústria brasileira de máquinas agrícolas: evolução e mercado, 1985-1995. Informações Econômicas, SP, v.27, n.1, jan.1997. 15