Principais Desafios para a Conservação da Biodiversidade Marinha no Brasil

Documentos relacionados
CONSERVAÇÃO COSTEIRA E MARINHA E ORDENAMENTO PESQUEIRO

SISEMA. Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos. POLÍCIA MILITAR D E M I N A S G E R A I S Nossa profissão, sua vida.

Departamento de Conservação da Biodiversidade - DCBio Secretaria de Biodiversidade e Florestas - SBF

INSTITUTO DE ESTUDOS DO MAR ALMIRANTE PAULO MOREIRA APRESENTAÇÃO BIÓL. EDUARDO FAGUNDES NETTO

Lei Nº , de 26 de junho de 2009

Prospecção de Demandas de Pesquisa da Cadeia produtiva da Pesca PROSPESQUE. Adriano Prysthon Pesquisador

A situação da pesca industrial no Brasil

HISTÓRICO PRINCÍPIOS AMBIENTAIS CONSTITUIÇÃO FEDERAL LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

Monica Brick Peres, PhD

COMPETÊNCIA. poder de polícia. material. legislativa. concorrente (art. 24, CF)

Direito Ambiental OAB. Prof. Rosenval Júnior

PORTARIA MPA/MMA Nº 7, DE 1º DE SETEMBRO DE 2015.

Marco Bailon Conselheiro

De acordo com o Michaelis...

LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL

LISTA DE ESPÉCIES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO PEIXES E AQUÁTICOS

Núcleo de Recursos Renovaveis IO- FURG

CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE MARINHA E PESCA SUSTENTÁVEL. 7 Outubro 2016, CC Príncipe An Bollen, FPT

INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 3, DE 04 DE SETEMBRO DE 2017.

Universidade do Algarve Biologia Marinha Pescas e Aquacultura 2006/2007 Docente: M. Afonso-Dias

Biodiversidade e Funcionamento de um Ecossistema Costeiro Subtropical: Subsídios para Gestão Integrada. BIOTA/FAPESP - Araçá

PORTARIA MMA Nº 445, DE 17 DE DEZEMBRO DE 2014

DECRETO Nº , DE

Projeto Áreas Marinhas e Costeiras Protegidas GEF-Mar

Projeto Áreas Marinhas e Costeiras Protegidas GEF-Mar

Dec. nº 4.339, de 22/08/2002

Manual para Elaboração dos Planos Municipais para a Mata Atlântica

PRÁTICA AMBIENTAL Vol. 2

Gerência de Comunicação e Segurança de Informações UN-BC / UN-RIO

UMA LEI PARA O MAR Uso e Conservação para o benefício de todos

Unidade. A dinâmica da natureza. As grandes paisagens da natureza. Capítulo 10. Livro: Parte I, p Tópicos do capítulo

A APA DO ANHATOMIRIM NO CONTEXTO DO SNUC

PROTEÇÃO DOS OCEANOS E LUTA PELA PESCA SUSTENTÁVEL PLATAFORMA PARA AS ELEIÇÕES 2018

Roteiro da Apresentação. 1. Evolução Histórica 2. Problemas de Aplicabilidade 3. Reflexões

É o ramo da biologia que estuda as relações entre os seres vivos e o meio ambiente em que vivem, bem como suas recíprocas influências.

AVALIAÇÃO DE ÁREAS DE ALTO VALOR DE CONSERVAÇÃO NAS FAZENDAS BARRA LONGA E CANHAMBOLA

OCEANOS, MARES E RECURSOS MARINHOS

INSTRUÇÃO NORMATIVA INTERMINISTERIAL MPA/MMA N 09, DE 13 DE JUNHO DE 2012

Organização da Aula. Recuperação de Áreas Degradadas. Aula 6. Contextualização. Adequação Ambiental. Prof. Francisco W.

DIREITO AMBIENTAL. Proteção do Meio Ambiente em Normas Infraconstitucionais- Mata Atlântica Lei nº /06 Parte 1. Prof.

As frotas de pesca caracterizam-se de acordo com:

Direito Ambiental noções gerais. Ana Maria de Oliveira Nusdeo Faculdade de Direito da USP

Planejamento Sistemático da Conservação e Restauração da Biodiversidade e dos Serviços Ambientais dos Biomas de Minas Gerais

As Zonas Úmidas e a Política Nacional

Acordos de Pesca no Rio Araguaia. Engenheiro de Pesca Onivaldo Rocha CREA

Constituições Brasileiras

Programa de Ação e Investimentos

PARECER DA COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA RELATÓRIO. O Projeto apresenta trinta e dois (32) artigos, divididos em sete (07) capítulos.

Direito Ambiental Constitucional. Inclui Princípios constitucionais correlatos

Impactes sectoriais. Sistemas ecológicos e biodiversidade. Impactes Ambientais 6 ª aula Prof. Doutora Maria do Rosário Partidário

Degradação da Diversidade Biológica

VII.XIII: Legislação Ambiental relacionada ao PMMA

Sistema Nacional de Unidade de Conservação

BELÉM, 19 de maio de 2017

Observações sobre a captura da pesca de espinhel pelágico na região sudoeste do Oceano Atlântico, sob enfoque conservacionista.

Subsídios para a Ampliação do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos CODIGO DO PROJETO Termo de Referência n 027/2018

Licenciatura em Ciências Biológicas Departamento de Biodiversidade, Evolução e Meio Ambiente Universidade Federal de Ouro Preto

Ofício no. 001/2017 SCC-AA Recife, 26 de junho de 2017

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

O lixo marinho e a Agenda 2030

SECRETARIA DE AQUICULTURA E PESCA SAP GESTÃO PESQUEIRA: SUBSÍDIOS E DESAFIOS DIRETOR DE PLANEJAMENTO E ORDENAMENTO DA PESCA JOSÉ AMAURI DA SILVA MAIA

Notas Explicativas às Demonstrações Contábeis e atividades desenvolvidas

Número de Diploma. Data da. Nome Lei. Cria o quadro jurídico/legal da gestão do ambiente na República Democrática de São Tomé e Príncipe

O planejamento das áreas protegidas integradas à paisagem

INFORMAÇÕES DE SUPORTE. Alvo de Atuação 1. Conter a tendência de redução da biodiversidade no ecossistema marinho da BIG.

CONSTITUIÇÃO FEDERAL E MEIO AMBIENTE

Definição Bio Diversidade Brasil Biomas Brasileiros Mata Atlântica

Ponta Delgada, 12 de janeiro de Com os melhores cumprimentos, O Grupo Parlamentar do BE/Açores. (Zuraida Soares) (Paulo Mendes)

MESTRADO EM DIREITO AMBIENTAL E POLÍTICAS PÚBLICAS Responsabilidade Civil e Administrativa Ambiental Prof. Dr. Nicolau Eládio Bassalo Crispino

Política Nacional do Meio Ambiente LEI Nº 6.938, DE 31 DE AGOSTO DE 1981

Áreas de Alto Valor de Conservação

ÁREAS PRIORITÁRIAS: ESTRATÉGIAS PARA A ACONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE E DOS ECOSSISTEMAS DE MINAS GERAIS

ALGUNS ASPECTOS RELEVANTES RELACIONADOS À PESCA ARTESANAL COSTEIRA NACIONAL

Ecologia de Populações e Comunidades. Planos de manejo 29/11/2013. Tipos de Ucs (IUCN e SNUC) Permissões de uso são compatíveis com conservação?

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRO GRAU SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO PARÁ SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE ALTAMIRA VARA ÚNICA

O Significado do Dia Internacional da Diversidade Biológica. Sociedade de Geografia de Lisboa. 22 de Maio de 2012

Flávio Bezerra. XVII Seminário Nordestino de Pecuária PECNORDESTE

PROJETO DE LEI Nº 21/13

Gestão da Pesca Demersal de Profundidade no Brasil. Jose Angel Perez

LEI Nº /2013 CAPÍTULO I DO PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL E DO PLANO PLURIANUAL

Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina

NATUREZA E BIODIVERSIDADE. Que vantagens lhe trazem?

Política Nacional de Meio Ambiente: unidades de conservação. Biogeografia - aula 4 Prof. Raul

GESTÃO AMBIENTAL DA BAÍA DE TODOS OS SANTOS

Pensando o Zoneamento e a diversidade de visitação: entraves e propostas de otimização

NOSSA NOITE. Unidades de Conservação; SNUC; MONA do Rio Formoso; Parceria Público Privada; Eco Park Porto da Ilha;

Seminário de Pesquisa PPED

Relatório da sessão Mar e ambientes costeiros

Mosaico Mantiqueira. Clarismundo Benfica. São Paulo, Maio de 2009

Política Territorial da Pesca e Aquicultura

Rajella obscura Hydrolagus matallanasi.

I - Pesca Desembarcada (Categoria A): realizada sem o auxílio de embarcação e com a utilização de linha de mão, caniço simples, anzóis simples ou múlt

PORTARIA N o 29 DE 21 DE SETEMBRO DE 2006 (publicada no DOU de 22/09/2006, seção I, página 105) ARIOSTO ANTUNES CULAU

TCE DIREITO AMBIENTAL

Projeto de Lei de Iniciativa Popular

A Convenção sobre a Diversidade Biológica e os desafios e avanços para o Setor Empresarial

A Atividades Piscatória

REGULAMENTOS. Tendo em conta o Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia,

SISNAMA MMA

Transcrição:

Principais Desafios para a Conservação da Biodiversidade Marinha no Brasil Ugo Eichler Vercillo Diretor Secretaria de Biodiversidade e Florestas - MMA

Biodiversidade marinha e legislação brasileira Lei nº 6.938/1981: Política Nacional de Meio Ambiente Entre os princípios:...ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo... Art. 225 da Constituição Federal de 1988...todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se, ao Poder Público e à coletividade, o dever de defendê-lo e de preservá-lo para as presentes e as futuras gerações... Cabe ao Poder Público:...preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas... proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade... ;

Biodiversidade marinha e legislação brasileira Decreto nº 2.519/1998: Promulga a CDB Meta 6 de Aichi: Até 2020, o manejo e captura de quaisquer estoques de peixes, invertebrados e plantas aquáticas serão sustentáveis, legais e feitos com aplicação de abordagens ecossistêmicas, de modo a evitar a sobreexploração, colocar em prática planos e medidas de recuperação para espécies exauridas, fazer com que a pesca não tenha impactos adversos significativos sobre espécies ameaçadas e ecossistemas vulneráveis, e fazer com que os impactos da pesca sobre estoques, espécies e ecossistemas permaneçam dentro de limites ecológicos seguros. Decreto nº 4.339/2002: Institui a Política Nacional da Biodiversidade...a diversidade biológica tem valor intrínseco, merecendo respeito independentemente de seu valor para o homem ou potencial para uso humano.. Entre os objetivos:...implementar ações para maior proteção de espécies ameaçadas dentro e fora de unidades de conservação...... Promover, de forma integrada, e quando legalmente permitido, a utilização sustentável de recursos... pesqueiros e faunísticos, privilegiando... o uso múltiplo e a manutenção dos estoques...

Biodiversidade marinha e legislação brasileira Decreto nº 6.101/2007: estrutura regimental do MMA Entre as competências:...política de preservação, conservação e utilização sustentável de ecossistemas, e biodiversidade e florestas... Lei nº 10.683/2003 (redação dada pela Lei nº 11.958/2009): Art. 27:...Cabe aos Ministérios da Pesca e Aquicultura e do Meio Ambiente, em conjunto e sob a coordenação do primeiro... fixar as normas, critérios, padrões e medidas de ordenamento do uso sustentável dos recursos pesqueiros... Lei nº 11.959/2009: Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca Entre os objetivos:...o desenvolvimento sustentável da pesca e da aquicultura como fonte de alimentação, emprego, renda e lazer, garantindo-se o uso sustentável dos recursos pesqueiros, bem como a otimização dos benefícios econômicos decorrentes, em harmonia com a preservação e a conservação do meio ambiente e da biodiversidade...

Estado de conservação da biodiversidade marinha Aumento da degradação de habitats essenciais: Alta pressão humana sobre manguezais e recifes de corais: necessidade de planejamento espacial integrado e de ampliação do número de UCs Costeiro Marinhas (atualmente, apenas 1,5% da ZEE). Sobrexplotação dos estoques pesqueiros marinhos e estuarinos: Relatório Executivo Revizee (2006): 23% plenamente explotados e 33% sobrexplotados. Aumento das espécies em risco de extinção: Piora no estado de conservação de mamíferos e tartarugas marinhas; 475 espécies de peixes e invertebrados aquáticos ameaçadas, 150 constavam na lista anterior e 325 entraram na lista (incluindo espécies continentais); Em 2004: 19 peixes marinhos ameaçados de extinção; Em 2014: 98 peixes marinhos ameaçados de extinção 17 constavam no anexo II da IN 05/2004 sobreexplotadas 7 alvo da pesca: Epinephelus marginatus (Garoupa-verdadeira), Epinephelus morio (Garoupa), Hyporthodus niveatus (Cherne-verdadeiro), Lutjanus purpureus (Pargo), Mycteroperca bonaci (Sirigado), Genidens barbus (Bagre-branco), Polyprion americanos (Cherne-poveiro) 7 Espécies de eslasmo de fauna acompanhante e 13 outros elasmos

100 90 Portaria 445/14 Principais ameaças às espécies Pesca 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Continentais Marinhos Agropecuária Captura Energia Expansão urbana Poluição Turismo Transportes Espécies invasoras Mineração Efeito do colapso da pesca Colapso dos principais recursos Utilização de espécies secundárias Impaco ecossistêmico da pesca

Ciclo virtuoso para o uso e conservação Informação Controle Ordenamento Fomento

Ciclo virtuoso para o uso e conservação Informação Controle Ordenamento Fomento

Informação: Ausência de mecanismos de coleta de dados continuados Observadores Científicos de Bordo: Programa governamental suspenso desde 2012; descontinuidade e fragmentação das iniciativas. Mapas de Bordo: Sistema inoperante e dados não disponíveis. Ausência de Estatísticas de desembarque: Fim do Estatpesca/IBAMA em 2008; Estimativas nacionais imprecisas desde 2009. Diagnósticos e Monitoramentos participativos da pesca artesanal: Apenas iniciativas pontuais (algumas UCs, Projeto piloto SC). Ausência de avaliações de estoques periódicas: Ausência de cruzeiros científicos (Revizee encerrado em 2003) Atualmente apenas iniciativas pontuais (camarões N e lagostas N-NE). Desenvolvimento e teste de tecnologias de redução de bycatch: Atualmente iniciativas pontuais, principalmente de ONGs e Universidades (albatrozes, tartarugas marinhas e arrasto de camarões); Caminhos Programa Nacional para coleta de dados, definindo e dividindo responsabilidade entre os diversos setores relacionados a pesca e ao ambiente marinho.

Gestão: Sistema de Gestão Compartilhada inoperante Sistema de Gestão Compartilhada não estruturado Apenas 2 CPGs criados: Lagosta e Atuns CTPG: atua na ausência dos CPGs Falta de cultura de construção coletiva Resistência da participação de todos os atores Resistência a experimentação de novos instrumentos (sistemas de cotas; direitos de propriedade sobre áreas de pesca; áreas protegidas) Centralização da Decisão CTGP: precisa resolver todas as demandas de pesca (todo território nacional!) Medidas nacionais não conseguem observar as questões locais Foco nas espécies alvo Efeito ecossistêmico pouco observado Impacto sobre outras espécies são pouco considerados na definição das medidas de ordenamento Polarização dos posicionamentos Preconceito: se é pela conservação é contra o pescador Caminhos Formação dos CPGs e de Câmaras locais. Capacitação dos atores. Aborgadem ecossistêmica

Fomento: Política de fomento dissociada do ordenamento Subsídios, créditos e Plano Safra não são construídos para apoiar o ordenamento pesqueiro. Subsídios não está voltado para aumentar a eficiência da pescaria e agregar valor ao produto: lucrar mais pescando menos. Caminhos Alinhar todas as politicas de fomento ao ordenamento pesqueiro. Ampliar o apoio às iniciativas que agreguem valor ao produto sustentável

Controle: Ausência de ferramentas que permitam o controle mais eficiente. Ausência de mecanismos de controle: Não existem mecanismo de rastreamento da origem do pescado; O PREPs não está em todas as embarcações, não está disponível e existe resistência ao seu uso para a fiscalização; Dificuldade em obteção dos dados do RGP. Ações limitadas da fiscalização: Falta de clareza no papel de todas as instituições que atuam na fiscalização e consequentemente integração de esforços; Falta de recursos humanos, logísticos e financeiros; Caminhos Instituir os mecanismos de controle com pleno acesso e disponível para a fiscalização. Integrar as ações de fiscalização de todos os órgãos Ampliar os recursos disponível

O desafio é retomar o ciclo virtuoso, construído de forma integrada e harmonizada,... Informação Controle Ordenamento Fomento... para atingir os objetivos da conservação da biodiversidade: - Preservação - Uso sustentável - Repartição de benefícios