ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

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PROGRAMA DE DISCIPLINA

Transcrição:

UNIJUÍ Universidade Regional do Noroeste do Estado do RS ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA PROFESSOR AGENOR CASTOLDI APONTAMENTOS DE ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA MATERIAL DE AUXILIO PARA AULAS DE ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA CURSO DE ECONOMIA ANO LETIVO: 2007

S U M Á R I O APRESENTAÇÃO v 1. CONJUNTURA BRASILEIRA 1 1.1. As Transformações Recentes 1 1.1.1. Três Variáveis Básicas Comparadas 1 1.2. A Dinâmica Populacional e o Produto 7 1.2.1. Produtividade Econômica 8 2. Desenvolvimento e Distribuição de Renda 9 2.1. Conceito de Desenvolvimento 9 2.2. Produto per capita 9 2.3. Indicadores Sociais 10 2.3.1. A dinâmica Populacional 11 2.3.2. Fatores que influenciam o crescimento populacional 11 2.3.3. Estrutura etária da população brasileira 15 2.3.4. As migrações internas 16 2.3.5. Indicadores de Distribuição de Renda no Brasil 18 2.4. A Curva de Lorenz 21 2.4.1. Conceito de Pobreza 24 2.5. O Índice de Desenvolvimento Humano IDH 26 2.5.1. IDH do Brasil 27 2.6. Desenvolvimento: Eqüitativo, Sustentado e Participativo. 28 3. O Produto Social 30 3.1. Questões Econômicas. 30 3.1.1. Problemas Econômicos Básico 32 3.2. A Atividade Produtiva 32 3.2.1. Definição de Bens e Serviços 33 3.2.2. Os Setores de Produção 34 3.3. A Mensuração do Produto 38 3.3.1. A Mensuração do Produto pela Ótica da Produção 40 3.3.2. A Mensuração do produto pela Ótica da Renda 41 3.3.3. A Mensuração pela Ótica da Despesa 44 3.4. Outros Conceitos do Produto 48 3.4.1. Produto Interno e Produto Nacional 48 3.4.2. PIB e PIL (Produto Interno Líquido) 50 3.4.3. Produto Bruto e Produto Líquido 51 3.4.4. PIB Real, PIB Nominal e PIB em Dólares 52 3.4.5. PIB a Preços de Mercado e PIB a Custo de Fatores 52 3.5. PIB Efetivo e PIB Potencial 53 3.6. O Conceito de Renda 53 3.6.1. Renda Pessoal Disponível 53 3.6.2. A Renda Per Capita 54 3.7. Limitações do Conceito de PIB 55 4. Os Principais Determinantes do Produto 57 4.1. Capacidade Produtiva e Grau de Utilização 57 4.2. A Demanda Agregada 58 i

4.3. O Consumo Agregado 59 4.3.1. Efeitos dos níveis de renda sobre o consumo agregado. 60 4.3.2. Os níveis de riqueza e o consumo agregado 61 4.3.3. O efeito da taxa de juros sobre o consumo agregado 62 4.3.4. A influência do sistema financeiro sobre o consumo agregado 63 4.4. O Investimento Agregado 65 4.4.1. O que leva um empresário à decisão de investir 65 4.4.2. Relação entre o investimento, o financiamento e a poupança. 66 4.4.3. A relação entre investimento e crescimento econômico 68 4.4.4. Relação entre investimento e demanda agregada 69 5. A Política Econômica 71 5.1. O Que é Política Econômica. 71 5.1.1. Crescimento da produção e do emprego 72 5.1.2. Controle da inflação 73 5.1.3. Equilíbrio nas contas externas 74 5.1.4. Distribuição de renda 74 5.2. As Funções do Governo 74 5.3. As Ferramentas de Política Econômica 76 5.3.1. O que é a Política fiscal 76 5.4. A arrecadação e os gastos do governo 77 5.5. Gastos do governo 77 5.6. Evolução do gasto público no Brasil 78 5.7. Arrecadação Tributária 80 5.7.1. O Sistema Tributário Brasileiro 81 5.7.2. Evolução da carga tributária no Brasil 82 5.8. Déficit público e dívida pública 85 5.8.1. Conceitos de Déficit Público 85 5.8.2. Financiamento do Déficit Público 87 5.9. Riscos da Dívida Elevada 88 6. A Política Monetária 90 6.1. Conceito Preliminar e Tipos de Moeda 90 6.1.1. Os Tipos de Moeda 91 6.2. A importância da moeda no sistema financeiro 91 6.2.1. Demanda por Moeda 92 6.3. Oferta de Moeda 93 6.4. Agregados Monetários 94 6.4.1. A Base Monetária 94 6.5. Ferramentas de Política Monetária 96 6.5.1. Controle da base monetária 96 6.5.2. Depósito compulsório 97 6.5.3. Taxa de redesconto 99 6.5.4. A influência da taxa de juro 99 6.5.5. Papel das taxas de juros 100 6.5.6. Taxas nominais e taxas reais de juros 100 6.5.7. Juros e ativos financeiros 101 6.5.8. Juros: o lado do aplicador e do tomador 102 6.6. Risco País 104 6.7. Taxas de Juros Internas e Externa 105 6.7.1. Questão do controle dos juros 106 ii

6.8. O Banco Central e o Tesouro Nacional 106 6.9. Política Monetária e Objetivos de Política Econômica 107 7. O SETOR EXTERNO 109 7.1. O Comércio internacional e a demanda agregada 109 7.1.1. Princípios Orientadores 110 7.2. O Balanço de Pagamentos. 111 7.2.1. Relações entre balança comercial e demanda agregada 113 7.3. A influência da taxa de câmbio 113 7.4. Os Sistemas Cambiais 116 7.5. Taxa de Cambio de Equilíbrio 118 7.6. Política de Comércio Exterior 119 7.7. Outros Conceitos Importantes 121 7.7.1. Índice de relação de trocas 121 7.8. Indicador da Situação Externa 121 7.8.1. Indicador de vulnerabilidade 121 7.8.2. Indicador de Comprometimento 122 7.8.3. Indicador de Segurança 122 7.8.4. Indicador de Abertura 123 7.9. Evolução do Setor Externo 123 8. A Inflação e Suas Explicações 125 8.1. Tipos de Inflação 126 8.1.1. Inflação de demanda 126 8.1.2. Inflação de custos 127 8.1.3. Inflação inercial 127 8.2. Considerações sobre os tipos de inflação 127 8.3. Como as Teorias Explicam a Inflação 128 8.3.1. Teoria monetarista 128 8.3.2. Teoria keynesiana. 129 8.3.3. Teoria estruturalista 130 8.3.4. Teoria inercialista 131 8.4. Indicadores de Inflação no Brasil 135 8.4.1. Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA) 135 8.4.2. Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) 135 8.4.3. Índice de Preços ao Consumidor (IPC-Fipe) 135 8.4.4. Índice de Custo de Vida (ICV-Dieese) 136 8.4.5. Índice Geral de Preços (IGP) 136 8.4.6. Índice Geral de Preços no Mercado (IGPM) 136 8.4.7. Índice de Preços por Atacado (IPA) 136 9. Crescimento Econômico 138 9.1. Determinação do Nível do Produto no Curto Prazo 138 9.1.1. Restrição externa 139 9.1.2. Restrição interna 140 9.1.3. Equilíbrio entre os objetivos 140 9.2. Determinação do Nível de Produto no Longo Prazo 140 9.2.1. O Investimento 141 9.2.2. A Poupança 141 9.2.3. Formação de poupança no Brasil 142 9.2.4. Poupança Privada Interna 142 9.2.5. Poupança Externa 143 9.2.6. Poupança Pública 143 iii

9.3. Questão da Produtividade 143 9.3.1. Rentabilidade do Capital 143 9.4. Desafio de Acelerar o Crescimento 144 9.5. O Brasil Estratégico um grande desafio 147 9.5.1. Princípios estratégicos 148 9.6. Brasil, Os Caminhos da Reconstrução 149 9.6.1. O Problema 149 9.6.2. Que Fazer? 151 9.7. Construção de Cenários 155 BIBLIOGRAFIA 157 iv

APRESENTAÇÃO A organização do presente material se destina aos alunos de Economia Brasileira Contemporânea no Curso de Economia da Universidade de Ijuí UNIJUÍ. Os textos são resultado de apontamentos de aula ao longo de vários anos de prática de docência nesta matéria. Procuramos apresentar os textos de forma simples e objetiva, cuja meta é apresentar os conceitos e fundamentos de macroeconomia numa visão da realidade brasileira. A apostila está dividida em nove textos básicos para ser estudados e discutidos em sala de aula durante o semestre. Assim, no primeiro texto, objetiva-se dar uma visão geral das potencialidades do país em termos de espaço territorial, população e produção de riqueza, a dinâmica populacional e outros indicadores sociais. No segundo texto discutem-se os conceitos de desenvolvimento e distribuição de renda no Brasil.O terceiro texto aborda os indicadores de riqueza como o PIB e suas diferentes óticas. O quarto texto discute a demanda agregada e seus dois primeiros componentes, o consumo e o investimento. No quinto texto estuda-se o papel do governo e o manejo dos instrumentos de política econômica, no que diz respeito a política fiscal. O sexto texto aborda a política monetária e sua relação com a demanda agregada. No sétimo texto discute-se a importância do setor externo e a política cambial e de comércio exterior. No oitavo texto faz-se uma discussão sobre a inflação e suas causas. Por último, apresentamos um texto sobre o crescimento econômico e seus determinantes no curto e longo prazo. Assim, procuramos apresentar um conjunto de tópicos de macroeconomia capaz de capacitar os alunos a compreenderem o momento atual da economia do Brasil, como ela se relaciona com o resto do mundo e suas potencialidades e limites de crescimento num futuro próximo. Salientamos que o presente material é um esforço no sentido de melhorar a qualidade do ensino que ministramos, e é de uso exclusivo de sala de aula. Por outro lado, gostaríamos de agradecer a cada pessoa que nos incentivou a elaborar este trabalho. Por fim, ficaríamos gratos em receber criticas e sugestões no sentido de melhorar o presente texto para que possa atingir seus objetivos. NOTA Na montagem da presente apostila foi utilizado texto de LANZANA, adaptado e atualizado. Professor Agenor Castoldi M. S. pela UFRRJ/RJ Ijuí/RS v

TEXTO 1 1. CONJUNTURA BRASILEIRA 1.1. As Transformações Recentes O Brasil, do ponto de vista econômico e social, vem sofrendo uma constante mutação em seus principais indicadores básicos como: população; produção de riqueza e desenvolvimento social e econômico. Estas mutações são perfeitamente visíveis e tem grande significado social. Ainda nos anos trinta, éramos uma economia com características agrário-exportadora com cerca de 70% da população vivendo no campo e a produção agropecuária superior a 30%. Hoje, mais de sete décadas depois, pode-se considerar um país urbano, uma vez que mais de 80% da população é urbanizada, e também, industrial, pois a produção deste setor representa cerca de 35% do Produto Interno Bruto quando no início dos anos trinta não chegava a 20%. A população neste período cresceu mais de 5 vezes, mas os níveis de produção nestas 7 décadas e meia, multiplicou-se por 33 vezes, o que faz do Brasil uma das maiores economias do mundo. Estas transformações monumentais em suas características populacionais e produtivas, engendrara uma sociedade complexa e diversificada com inúmeros aspectos econômicos e sociais como a redução da mortalidade infantil, elevação da esperança de vida, e aumento das desigualdades sociais, ou seja, o país se desenvolveu, mas os benefícios de seu desenvolvimento não foram para todos, pois o nível de concentração de renda é um dos maiores do mundo, com todas as seqüelas dela decorrente. Estes elementos de economia brasileira nos permitem analisar, de forma introdutória, as transformações ocorridas durante este período, principalmente a partir da grande depressão dos anos trinta para cá. Para contextualizar, iniciamos por apresentar o Mapa do País com suas respectivas regiões por divisão política, que representa o substrato físico que define uma certa formação geoeconômica. A seguir analisamos o quadro evolutivo da população do país, fruto de um processo de ocupação territorial que simboliza a nação brasileira. Num terceiro aspecto, falamos do resultado da ação desta população sobre o espaço físico, que se materializa na evolução do Produto Interno Bruto Após esta contextualização, o texto aborda aspectos específicos de população e indicadores sociais. 1.1.1. Três Variáveis Básicas Comparadas Brasil, territorialmente é o quinto país entre os maiores países do mundo em extensão, possuindo mais de 8.500 (km2). A população brasileira soma hoje cerca de 185 milhões de pessoas e produz anualmente um volume de riqueza próximo a dois trilhões de reais. É sobre este país que vamos discutir neste trabalho, destacando, sua população, sua estrutura produtiva, sua riqueza, suas debilidades e suas potencialidades. 1

Figura 01 Brasil Regional Fonte: IBGE As cinco regiões brasileiras são conhecidas e identificas como as regiões Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Essa regionalização, estabelecida na década de 60, tem por base a divisão política dos Estados e territórios. Ou seja, as fronteiras dos Estados e territórios delimitam as regiões que são caracterizadas por sua localização em relação ao território nacional, como se pode observar pela tabela a seguir. Tabela 01 Brasil: Divisão geográfica, população e produto por regiões do país (em percentuais de 2003) Área % População Produto Brasil 100,0 100,0 100,0 Norte 45,2 7,8 5,1 Nordeste 18,3 27,8 13,8 Sudeste 10,9 42,6 55,0 Sul 6,8 14,7 18,6 Centro-Oeste 18,8 7,1 7,5 Fonte: IBGE. Como se pode constatar, o território brasileiro não é ocupado de forma homogênea. Isto tem origem na própria história de ocupação e formação econômica do país ao longo do tempo. Observe-se que enquanto o Sudeste mais populoso, com 42,6% da população ocupa somente 10,9 da superfície e produz uma riqueza equivalente a 55,0% de tudo o que é produzido no país, o Nordeste com 18,3 da área possui 27,8% da população e produz apenas 13,8% do PIB brasileiro. Já o Sul tem um contingente populacional de 14,7% para uma área de apenas 6,8% do território, mas tem um produto de 18,6%. O Norte é o mais extenso em área, 45,2%, mas tem uma população bem menor, 7.8% e um produto de apenas 5,1%. Por fim, Centro-Oeste ocupa 18,8% da área 2

territorial e possui apenas 7,1% da população com uma produção que representa 7,5% da riqueza nacional. Ao nos iniciarmos o século XXI, poderíamos perguntar-nos o que teria ocorrido com a economia brasileira ao longo do século passado. Fazendo um corte temporal, poderíamos nos indagar, qual é a situação econômica hoje se comparada com a do início do século XX ou outro momento qualquer. Verificamos, a princípio, que o Brasil cresceu e se modificou. Na verdade, a fisionomia do país neste momento é substancialmente diferente daquela do início do século passado, ou mesmo daquela emergida da grande depressão dos anos trinta. A sociedade brasileira cresceu e se modificou. Por um lado, a população multiplicou-se mais de dez vezes ao longo do século XX. Em 1900 havia pouco mais de 17 milhões de residentes, já em 1950 este número salta para quase 52 milhões, em 2000 a população chegava a 169,8 milhões de residentes. Hoje já somo 185 milhões de brasileiros. Se compararmos que a população brasileira é uma das cinco maiores do mundo, ou seja, ocupamos a quinta colocação entre as nações mais populosas, como se pode verificar na tabela 02 a seguir. Tabela 02 Brasil: População por Gênero de 1900 a 2005 (em mil hab. e em %) ANO POPULAÇÃO TOTAL PARTICIPAÇÃO DE HOMENS PARTICIPAÇÃO DE MULHERES 1900 17.438 51,04 48,96 1920 30.636 50,41 49,59 1940 41.236 49,99 50,01 1950 51.944 49,83 50,17 1960 70.191 49,45 50,55 1970 93.139 49,74 50,26 1980* 118.563 49,68 50,32 1990* 146.593 49,36 50,64 1995* 158.875 49,30 50,70 2000* 171.280 49,22 50,78 2005** 184.184 49,14 50,86 Fonte: IBGE, Anuário Estatístico do Brasil; (*) Diretoria de Pesquisa IBGE, 2004; (**) Previsão IBGE. Gráfico 01 - Evolução da População Brasileira - em milhoes de hab. 1900-2005 (anos selecionados) 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 POPULAÇÃO TOTAL MULHERES HOMENS 1900 1920 1940 1950 1960 1970 HOMENS MULHERES POPULAÇÃO TOTAL 1980* 1990* 1995* 2000* Anos 2005* Fonte: Tabela 02 3

Mas não é apenas a população que cresceu, a produção e a geração de riqueza no Brasil também sofreram forte expansão. Medindo-se esta produção através do Produto Interno Bruto P I B, que é um dos principais indicadores básicos na avaliação do crescimento econômico de um país, verifica-se, a partir do Gráfico 04, que de 1930 a 2005 a produção brasileira ampliou-se cerca de 3.600%, ou seja, produziu-se no Brasil no ano de 2005, 36 vezes mais do que se produzia em 1930. Tabela 03 Brasil: Taxas médias de Crescimento anual do PIB 1930 2005 Anos 1930 1930/40 1940/50 1950/60 1960/70 1970/80 1980/90 1990/00 2000/05 Média - 4,4 5,5 7,4 6,2 8,6 1,6 Anual Evolução 100,0 153,6 262,4 535,6 973,5 2.229,2 2.601,7 3.302,6 3.695,9 Fonte: De 1930 a 1949, Suma Economia Vol. 1 (1984), De 1950 a 2005 IBGE Gráfico 02 - Evolução da Produção Brasileira (1930/2005) 2.229,20 2.601,70 3.302,85 3.695,90 4000 3500 3000 2500 2000 % 973,50 1500 100,00 153,60 262,40 535,60 1000 500 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2005 Anos 0 Fonte: Tabela 03 Em termos internacionais, o montante da produção brasileira situa-se atualmente entre as dez maiores do mundo. Isto, porém, deve ser examinado com um pouco mais de cuidado. Existem países com dimensões territoriais semelhantes ao Brasil, como os Estados Unidos, que têm um nível de produção muito maior, e países com a população próxima à brasileira cuja produção também é fortemente superior (ver nas tabelas 04a, 04b e 04c). Se analisarmos o quanto da produção nacional cabe a cada um dos residentes, isto é, usando o conceito de PIB per capita, vemos que, apesar deste índice também ter se expandido neste período, o Brasil deixa de figurar entre as maiores nações para se situar num bloco intermediário. Temos aqui uma evidência de que, apesar do forte crescimento verificado, a economia brasileira ainda deixa a desejar em termos de desenvolvimento econômico. Tabela 04a Mundo: Os Dez Maiores Países em Área (em 1.000 km²) Ordem País Área geográfica Ordem País Área geográfica 01 Fed. Rússia 17.075 06 Austrália 7.713 02 Canadá 9.976 07 Índia 3.228 03 China 9.561 08 Argentina 2.767 04 EUA 9.373 09 Casaquistão 2.717 05 Brasil 8.512 10 Argélia 2.382 Fonte: Nações Unidas, Human Development Reports, 2005 (Internet) * Dados referentes a 2003 4

Tabela 04b Mundo: Os Dez Maiores Países em População (em 1.000hab.)* Ordem País População Ordem País População 01 China 1.296.500 06 Paquistão 152.061 02 Índia 1.079.721 07 Paquistão 142.814 03 EUA 293.507 08 Bangladesh 140.494 04 Indonésia 217.588 09 Nigéria 139.823 05 Brasil 178.718 10 Japão 127.764 Fonte: Nações Unidas, Human Development Reports, 2005 (Internet) * Dados referentes a 2003 Tabela 04c Mundo: Os Dez Maiores Países em Produção de Riqueza PNB Preço Poder País Ordem Compra (em bilhões de US$) Ordem PNB Preço de Mercado (em bilhões de US$) EUA 01 10.923,4 01 10.948,5 China 02 6.445,9 07 1.417,0 Japão 03 3.567,8 02 4.300,9 Índia 04 3.078,2 12 600,6 Alemanha 05 2.291,0 03 2.403,2 França 06 1.654,0 05 1.757,6 Reino Unido(Inglatera) 07 1.610,6 04 1.794,9 Itália 08 1.563,3 06 1.468,3 Brasil 09 1.375,7 15 492,3 Federação Russa 10 1.323,8 16 423,9 Fonte: Nações Unidas, Human Development Reports, 2005 (Internet) * Dados referentes a 2003 Como se pode notar, se o critério de comparação for o de US$ a preço de poder de compra (PNB PPC), o Brasil ocupava em 2003 a nona posição no ranking mundial, porém, se o critério for o US$ a preço de mercado, o País perde seis posições neste mesmo ranking. Por esta razão, sempre que efetuamos algumas comparações, devemos estabelecer critérios como o de usar a mesma fonte. Durante o Século XX, a economia brasileira não somente cresceu, mas também se modificou. Neste período o Brasil passou por uma transformação estrutural, alterando substancialmente tanto sua base produtiva quanto às condições de vida da população. Até aproximadamente a década de 30, o país era considerado um país agrário e exportador, ou seja, era um país eminentemente agrícola, sua população estava concentrada na zona rural e a produção nacional dependia fortemente da agricultura destinada ao mercado externo, fundamentalmente da produção e exportação de café. A partir da grande depressão começa-se reverter este modelo econômico através da chamada industrialização substitutiva de importações. Esta transformação, além de promover a industrialização de nossa economia implicou também uma forte urbanização do país. Isto pode ser observado através da Tabela 05. Enquanto em 1940 mais de 2/3 da população brasileira vivia na zona rural, atualmente pouco mais de 18% da população vive no campo, evidenciando a ocorrência de uma migração do campo para as cidades e de um forte processo de urbanização pelo qual passou, e ainda passa, a economia brasileira. 5

Tabela 05 Brasil: População por Domicílio de 1940 à 2000 (mil hab. e em %) Ano População total Participação % da Participação % da População Urbana População Rural 1940 41.236 31,24 68,76 1950 51.944 36,16 63,84 1960 70.191 44,67 55,33 1970 93.139 55,92 44,08 1980 118.563 67,59 32,41 1990 146.593 75,47 24,53 1995 158.875 78,36 21,64 2000 171.280 81,25 18,75 Fonte: IBGE, Anuário Estatístico do Brasil, 1996 e Diretoria de Pesquisa (Revisão 2004). Também podemos verificar o declínio da participação agropecuária na produção nacional que era estimada em 32% em 1940, hoje gira em torno dos 10%. Já a indústria, que representava pouco mais de 17% da produção em 1940, hoje, situa-se em torno de 35% do PIB brasileiro. Tabela 06 Brasil: Distribuição da Produção e da Força de Trabalho Por Setores de 1940 à 2000 (em %) AGRICULTURA INDÚSTRIA SERVIÇOS Força de Força de Força de Ano PIB trabalho PIB trabalho PIB trabalho 1940* 31,9 65,9 17,4 13,9 50,7 20,2 1950 24,3 59,9 24,1 14,2 51,6 25,9 1960 17,8 54,0 32,3 12,0 50,0 33,1 1970 11,6 44,3 35,8 17,9 52,6 37,8 1980 10,2 29,3 40,6 24,9 49,2 45,8 1900 9,1 22,8 34,3 22,7 56,6 54,4 1996 9,6 24,5 34,7 19,9 55,7 55,4 2000 7,8 37,2 55,0 2005 19,9 23,0 57,1 Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio (PNAD) e Anuário Estatístico. * estimativa do autor com base em Abreu M. P. (Org) A Ordem do Progresso Por outro lado, observando pela ótica da força de trabalho, constata-se que a ocupação da mão-de-obra no setor agropecuário em 1940 era de 66%, atualmente, o contingente empregado no setor é pouco mais de 24%. Assim, percebemos que a fisionomia do Brasil deste final de século não é mais a mesma daquele de 1900. O Brasil pode ser considerado hoje um país razoavelmente urbanizado e industrializado, especialmente quando comparado ao início do século XX. Em síntese, passamos de uma economia com características agrária exportadoras para um país urbano e industrial. Deve-se notar que, apesar da diminuição da participação relativa do setor agrícola, isto não quer dizer que ele seja, hoje, desprezível. Produtos importantes da economia brasileira são considerados industrializados ou semi-industrializados, porém têm sua origem na agricultura. Este é o caso, por exemplo, do suco de laranja industrializado e dos derivados da soja (farelo e óleo) que são relevantes inclusive na pauta de exportações brasileira. Além disso, o campo e a agricultura tiveram e têm papel importante no processo de industrialização e urbanização nacional, principalmente fornecendo alimentos e matérias-primas para a zona urbana. As exportações agrícolas 6