Bloco Temático 2: Ciência, Cientificidade e Método Científico



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Transcrição:

Bloco Temático 2: Ciência, Cientificidade e Método Científico Tema 3: Conhecimento, Ciência e Método 3.1: O Conhecimento Afinal, o que é o conhecimento? Vamos lá? É através da relação que o homem tem com o mundo, o seu constante questionar e indagar sobre esse mundo, que surge a consciência e o conhecimento da realidade. Se o homem não tivesse a capacidade de buscar conhecer e de compreender, viveria submetido às leis da natureza como os demais animais. Os animais conhecem as coisas; já o homem, além de conhecer, investiga-lhes as causas. Os animais só conhecem por via sensorial; já o homem conhece e pensa, elabora o material de seus conhecimentos (RUIZ, 1996, p. 90). Pode-se dizer que o conhecimento é uma relação entre o sujeito e o objeto. O conhecimento é a necessidade que o homem tem de desvelar o objeto. Esse objeto pode ser um elemento físico, biológico, humano etc. Através do conhecimento, o homem busca a compreensão e explicação da realidade, mas para que possa compreender essa realidade utiliza-se de recursos variados, como por

exemplo, métodos e técnicas, que possibilitam a análise dos elementos, desvelarem a sua lógica, tornando a realidade inteligível. Pelo conhecimento o homem se apropria da realidade por meio de diferentes níveis e possibilidades de acesso a esta realidade. As possibilidades de conhecimento do objeto serão definidas pelo sujeito, levando-se em consideração a complexidade do objeto que se quer conhecer e o nível de aprofundamento que se pretende em relação ao mesmo. Neste sentido tem-se, conforme o caso: a) conhecimento vulgar ou popular (senso comum); b) conhecimento teológico; c) conhecimento filosófico; d) conhecimento científico. Conhecimento Popular ou Senso Comum É o conhecimento obtido ao acaso, de forma espontânea, a partir da experiência da vida cotidiana da pessoa. É resultado de experiências repetidas e casuais, de geração em geração, que foram transmitidas ao indivíduo. Assim sendo, pode-se dizer que o conhecimento vulgar ou popular é o conhecimento do povo, fragmentado e superficial. A pessoa conhece a realidade em que vive nas suas aparências, sem uma análise profunda sobre ela. O senso comum é superficial, subjetivo, assistemático e acrítico.

Exemplos: só é pobre quem é preguiçoso ; comer jaca e beber água faz mal ; tomar suco de limão na menstruação causa hemorragia ; colocar o livro embaixo do travesseiro, antes de dormir, facilita a memorização ; chá de quebra-pedra resolve problemas de cálculos renais ; colocar uma ferradura atrás da porta atrai sorte ; tomar banho de sal grosso tira o mal olhado e outros. Conhecimento Filosófico Etimologicamente, a palavra filosofia é grega. É composta por duas outras palavras: philo (derivada de philia: amizade, amor fraterno e respeito entre os iguais) e de sophia (sabedoria, de onde vem à palavra sophos, sábio). Segundo Chauí (1995, p. 19), Filosofia significa amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. O conhecimento filosófico trabalha com ideias, relações conceptuais coerentes não redutíveis a realidades materiais. Procura compreender a realidade em seu contexto universal. Propõe fornecer conteúdos reflexivos e lógicos de mudança e transformação da realidade. Indaga sobre o homem e as coisas da vida. É um conhecimento racional, sistemático, geral e crítico. Exemplo: qual o sentido do homem e da vida? Existe ou não existe o absoluto? Há liberdade? Todavia, o campo de reflexão ampliou-se muito nos dias atuais. Hoje, os filósofos, além das interrogações tradicionais, formulam novas questões, por exemplo: o homem será dominado pela técnica? A máquina substituirá o homem? O homem será produzido em série, em tubos de ensaio? O progresso técnico é um benefício para a humanidade? Quando chegará a vez do combate contra a fome e a miséria? Portanto, a filosofia procura compreender a realidade em seu contexto mais universal.

Conhecimento Teológico O conhecimento teológico (do grego: theos, que significa Deus e logos, discurso/tratado), consiste no estudo de Deus, investiga tudo que se diz respeito a Deus e à fé. É um conhecimento que apresenta um conjunto de verdades aceitas pelos homens a partir da revelação divina e o que se revela é a vontade do deus, na qual o crente confia e cujo desígnio ele deve cumprir. Apóia-se em doutrinas, cujas proposições são sagradas por terem sido reveladas pelo sobrenatural. São consideradas verdades infalíveis, evidências nunca postas em dúvida pelos que têm fé. Por isso, é um conhecimento sistemático e acrítico. O conhecimento teológico, parte do pressuposto de que os textos sagrados, que não precisam necessariamente ser cristãos, constituem em um conjunto de verdades a que os homens chegaram mediante revelação divina. A adesão das pessoas passa a ser um ato de fé decorrente da revelação de um criador. É importante esclarecer que, geralmente, o conhecimento teológico é denominado de conhecimento religioso. Exemplos: Acreditar que alguém foi curado por um milagre; acreditar em reencarnação, espírito, água benta; acreditar em métodos advinhatórios, tais como: cartas de tarô, búzios, horóscopos, entre outros. Conhecimento Científico

O conhecimento científico ocorre à medida que se investigam respostas para determinada problemática. Utiliza-se o conhecimento científico para conseguir, através da pesquisa, constatar variáveis: a presença e/ou ausência de determinado fenômeno inserido em dada realidade (BARROS; LEHFELD, 2007, p.45). Para tanto, é preciso que o pesquisador defina e delimite a questão investigada, bem como seus objetivos, processos metodológicos, orçamento e cronograma de realização, com o intuito de descobrir sempre uma resposta nova e/ou fornecer maior grau de certeza, explicação ou compreensão sobre determinado assunto. Por meio desse conhecimento é possível explicar, construir e aplicar teorias, servindo, portanto, para a ampliação e o avanço da ciência. Para saber mais sobre o assunto, consulte os sites: http://www.datagramazero.org.br/out05/ind_rec.htm http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s1413-81232007000200026&script=sci_arttext&tlng=en

3.2: A Ciência Vamos lá! Etimologicamente a palavra ciência vem do latim scientia que significa saber, conhecimento. O conhecimento científico é um tipo de conhecimento racional, sistemático, metódico e objetivo, que busca a veracidade dos fatos ou fenômenos, ultrapassando as aparências. Diferente do conhecimento filosófico, teológico e vulgar, o conhecimento científico constroi proposições ou hipóteses que podem ser testadas pela experimentação. O conhecimento científico resulta da investigação objetiva, crítica, metódica, analítica, sistemática e verificável. Consiste em um conhecimento comunicável e falível. Esforçase na interpretação dos fenômenos, procura as relações entre os componentes do fenômeno para enunciar as leis gerais e constantes que regem estas relações. Portanto, visa à elaboração de leis gerais, universalmente válidas para todos os casos da mesma espécie. Assim sendo, o conhecimento científico é aquele que é produzido pela investigação científica, através de seus métodos e técnicas. Surge da necessidade de encontrar soluções para problemas propostos e do desejo de fornecer explicações que possam ser testadas e criticadas. A ciência busca o confronto da teoria com os dados empíricos. A teoria deve ser submetida a um exame crítico, deve ser contrastada com a realidade, deve ser submetida a testes, em qualquer época e lugar. Pode-se classificar as ciências em:

a) ciências formais: são as que trabalham com elementos abstratos, que não existem na realidade, como exemplos: a lógica e a matemática; b) ciências factuais: são aquelas que trabalham com os fenômenos que existem na realidade, fenômenos da natureza e sociais, como exemplos: a biologia, a geografia, a história, a socióloga, o direito, a química, a economia, a antropologia, a medicina. A origem do conhecimento científico se confunde com as origens da própria filosofia. No entanto, a ciência contemporânea mudou intensamente. A ciência fez uma ruptura com aspectos contemplativos da filosofia. A ciência contemporânea tem sido principalmente operativa, isto é, tem interesse no conhecimento da realidade para poder operar, intervir na natureza e dominá-la. Exemplo: a descoberta da vacina, do átomo, da energia e outras. Importância do Espírito Científico O espírito científico manifesta-se na atividade científica pela vontade de romper com as perspectivas puramente subjetivas do conhecimento vulgar, implicando numa verdadeira busca do saber. A apropriação do conhecimento científico exige uma visão crítica que podemos considerar como: julgar, discernir, analisar e interpretar para melhor solucionar um problema. O verdadeiro espírito científico consiste, justamente, em não dogmatizar os resultados de uma pesquisa, mas em tratá-los como eternas hipóteses que merecem constante investigação.

Ter espírito científico é estar, sobretudo, numa busca permanente da verdade, com consciência da necessidade dessa busca, expondo as suas hipóteses a constantes críticas, livres de crenças e interesses pessoais, conclusões precipitadas e preconceitos. Neutralidade Científica A ciência não está isolada do mundo e os fenômenos sociais não podem ser explicados por leis naturais. O conhecimento científico é sempre transitório e socialmente relativo. A ciência reflete apenas uma maneira de pensar e, por isso, não é autônoma e não está isolada da luta de classes. O conhecimento de um fato conduz a posições morais e políticas e esses valores estarão presentes para o pesquisador, o tempo todo, durante o processo científico. Neste sentido, não existe ciência de um lado e ideologia de outro, mas diferentes pontos de vista científicos, vinculados a diferentes pontos de vista de classe. Como não há critério absoluto para medir a cientificidade do conhecimento é, através da publicidade crítica e no embate das ideias, que os resultados de uma pesquisa podem ser avaliados tendo em vista sua correspondência com a realidade. Portanto, mesmo que um conhecimento científico tenha sido aceito, ele deve permanecer em condições de ser refutado no momento em que outra leitura da realidade possa superá-lo. Ele não é, portanto, sinônimo da verdade ou um dogma, mas resultado provisório de uma investigação humana num determinado período histórico e social e, assim, suscetível a todas as ideias e valores presentes na sociedade.

Para saber mais sobre o assunto, consulte o site: http://www.portalppgci.marilia.unesp.br/reic/include/getdoc.php?id=211&article=61&mode=pdf

3.3: Métodos de abordagens Vamos entender a importância dos métodos científicos? Etimologicamente, a palavra Método vem do grego metá que significa através de, a seguir; e, hodós, caminho. Portanto, seguindo a sua origem, método significa o caminho a seguir, caminho para chegar a determinado fim, objetivo. O método científico é o caminho que se segue na investigação da verdade. É um conjunto de procedimentos racionais lógicos, sistemáticos baseados em regras, que visam atingir determinado objetivo. Existem métodos e existem técnicas, ambos não são a mesma coisa. Segundo Galliano (1979, p. 06), a técnica consiste no modo de fazer de forma mais hábil, mais perfeita algum tipo de atividade, arte ou ofício. Assim, pode-se dizer que: a) o método estabelece o que fazer, é o orientador geral da atividade; b) a técnica é o como fazer, é a tática da ação. O método consiste na orientação geral para se chegar a um determinado fim. A forma de aplicação do método é a técnica. Segundo Lakatos e Marconi (1991, p. 106), pode-se reunir os métodos em dois grandes grupos de acordo com níveis claramente distintos, no que se refere à sua inspiração filosófica, ao seu grau de abstração, à sua finalidade mais ou menos explicativa, à sua ação nas etapas mais ou menos concretas da investigação. Neste sentido, os métodos estão classificados em dois grandes grupos:

a) Métodos de abordagem: que se caracterizam por uma abordagem mais ampla em nível de abstração dos fenômenos da natureza e da sociedade. Tratam da linha de raciocínio adotada no desenvolvimento do trabalho, constituindo-se nos procedimentos gerais, que norteiam o desenvolvimento das etapas fundamentais de uma pesquisa científica. Os principais métodos de abordagens são: indutivo, dedutivo, hipotético-dedutivo, dialético e fenomenológico; b) Métodos de procedimentos: conduzem às etapas mais concretas da investigação científica, com objetivo mais restrito em termos de explicação geral dos fenômenos e abordagem menos abstrata. Não são exclusivos entre si, mas é necessário que se adaptem a cada área de pesquisa; o pesquisador pode utilizar no estudo de um fenômeno um, dois ou mais métodos de procedimentos. Esses métodos estão mais relacionados aos problemas operacionais da pesquisa que a seus fundamentos filosóficos; orientam nas etapas da investigação científica, na obtenção, processamento e validação dos dados referentes à problemática que está sendo investigada, sendo os mais usuais: estatístico, comparativo, experimental, tipológico, histórico, funcionalista, estruturalista e clínico. Veremos agora como esses métodos se caracterizam. Métodos de Abordagens: a) Método Indutivo: é aquele pelo qual uma lei geral é estabelecida a partir da observação e repetição de regularidades em casos particulares, isto é, através de observações particulares, chega-se à afirmação de um princípio geral, ou lei universal. Assim sendo, é o raciocínio lógico que vai do particular para o geral; Exemplo:

O corvo 1 é negro. O corvo 2 é negro O corvo 3 é negro. O corvo n é negro. Logo, todo corvo é negro. b) Método Dedutivo: ao contrário da indução, o método dedutivo é um processo de raciocínio lógico que, de princípios e proposições gerais ou universais, chega a conclusões menos universais ou particulares. Assim sendo, é o raciocínio lógico que sai do geral para o particular; Exemplo: Todo mamífero tem um coração. Ora, todos os cães são mamíferos. Logo, todos os cães têm um coração. c) Método Hipotético-Dedutivo: consiste na construção de conjecturas, que devem ser submetidas a testes, os mais diversos possíveis. Assim, para tentar explicar a dificuldade apresentada no problema, são formuladas conjecturas ou hipóteses. Das hipóteses formuladas, deduzem-se consequências que deverão ser testadas ou falseadas. Procuram-se evidências empíricas para poder derrubá-la. Quando não se consegue demonstrar qualquer caso concreto capaz de falsear a hipótese, tem-se a sua corroboração, que não excede o nível do provisório. Podemos sintetizar na seguinte forma: um pesquisador apresenta uma ideia nova, com princípios claros, em linguagem científica, que pode ser testada e, desse modo, corroborada ou falseada por meio de experimentações ou observações.

Exemplo: Estudando um fenômeno um pesquisador supõe (hipótese) que a causa da mortalidade infantil numa favela seja a proliferação aí, de mosquitos e vala negra (sujas). Logo, solicita a melhora da higiene e o saneamento geral desse meio. Se a hipóteses do pesquisador é justa, a taxa de mortalidade infantil deve baixar; se ela não baixa é porque a sua hipótese é falsa, insuficiente ou dela não foram tiradas todas as consequentes (JAPIASSÚ; MARCONDES, 1996, p. 127-128). d) Método Dialético: procura contestar uma realidade posta, enfatizando as suas contradições. Para toda tese existe uma antítese que, quando contraposta, tende a formar uma síntese. Procura ser a investigação das contradições da realidade, pois são essas as forças propulsoras do desenvolvimento da natureza. O método dialético é o conflito dos contrários; Exemplo: A flor precisa murchar para se formar o fruto. O fruto precisa apodrecer para se ter a semente. A semente precisa morrer para que germine uma nova planta". É uma luta de forças contrárias: o positivo e o negativo, a vida e a morte, o explorado e o explorador, o amor e o ódio etc. Busca as contradições dos fenômenos na relação: tese-antítese-síntese. e) Método Fenomenológico: é o estudo dos fenômenos, em si mesmos, apreendendo sua essência, estrutura de sua significação. Pode-se dizer que é uma volta às coisas mesmas, isto é, aos fenômenos, àquilo que aparece à consciência, que se dá como objeto intencional. Trata de descrever, compreender e interpretar os fenômenos que se apresentam à percepção. É uma tentativa de dar uma explicação puramente "neutra" da consciência que a pessoa tem do mundo.

Exemplos: Entender a percepção dos catadores de lixo em relação as suas condições de vida; compreensão de lazer para quem não trabalha; a condição dos portadores de HIV no hospital Santa Marta; a percepção dos internautas frente às novas tecnologias.

3.4: Métodos de Procedimentos Alguns métodos de procedimentos: a) Método Estatístico: fundamenta-se na utilização da estatística para investigação de um fenômeno. A utilização desse método contribui para a coleta, organização, descrição, análise e interpretação de dados e, também, para a utilização dos mesmos na tomada de decisões; Exemplos: Estudar as variações do preço de uma mercadoria quando a sua oferta diminui, verificar as correlações existentes entre níveis de escolaridades e desemprego, analisar o crescimento demográfico num determinado município. b) Método Histórico: conduz à investigação, a partir do estudo dos acontecimentos, processos e instituições do passado, procurando explicar sua influência na vida social contemporânea. No método histórico o fenômeno é estudado numa perspectiva histórica. A partir da coleta, sistematização, análise e interpretação de dados pode-se compreender a origem histórica do fenômeno; Exemplos: Analisar a origem das festas juninas no Nordeste do Brasil, estudar a origem das vielas no município de Jabutibá.

c) Método Comparativo: O método comparativo conduz à investigação, analisando dois ou mais fatos ou fenômenos, procurando ressaltar as diferenças e similaridades entre eles; Exemplos: Comparar o turismo entre as cidades de Aracaju, Salvador e Maceió, comparar os tipos óbitos entre Hospital Esplanada e Hospital Castro Silva, verificar as semelhanças e diferenças entre o marketing da empresa Gorbel Produções e Caraíbas Produções. d) Método Tipológico: é utilizado para a elaboração de modelos ideais. O pesquisador ao comparar fenômenos sociais complexos da realidade elabora tipos ou modelos ideais, a partir de características essenciais dos fenômenos. Exemplos: Elaborar um modelo ideal de procedimentos médicos, elaborar um modelo ideal de atendimento ao público, elaborar um modelo ideal de moradia ecologicamente correta. e) Método Funcionalista: estuda os fenômenos a partir de suas funções Assim, as partes são mais bem entendidas compreendendo-se as funções que desempenham no todo; Exemplo:

Um pesquisador pode analisar as funções de determinados costumes ou instituições para saber o seu sentido para manter a unidade de um determinado grupo social, estudar a real função do apêndice no organismo humano. f) Método Estruturalista: é utilizado para o estudo de culturas, linguagens etc, como um sistema em que os elementos constituintes mantêm entre si relações estruturais. Pode-se dizer que há no fenômeno uma estrutura comum invariante que pode ser revelada e ser construído um modelo que a represente; Exemplos: As relações entre os modos de vestir, os hábitos alimentares, a linguagem, as estruturas de parentesco, a forma de poder e o sistema econômico de uma sociedade etc, podem apresentar, no seu interior, estruturas invariantes em que podem ser construídos modelos que a represente. g) Método Experimental: consiste em submeter o fenômeno estudado, à influência de certas variáveis, em condições controladas e conhecidas pelo pesquisador, para observar os resultados que a variável produz no objeto. É importante que para descobrir relações causais, as variáveis sejam manipuladas de maneira préestabelecida, e seus efeitos suficientemente controlados. Também que haja um planejamento rigoroso na experimentação; Para uma melhor compreensão sobre esse método, pode-se enfocá-lo a partir do exemplo sobre pesquisa experimental em Gil (1999, p. 66-67), assim descrita: seja Z o fenômeno estudado, que em condições não experimentais se apresenta perante os

fatores A, B, C, e D. A primeira prova consiste em controlar cada um desses fatores, anulando sua influência, para verificar o que ocorre com os demais. Seja o exemplo: A, B e C produzem Z A, B e D não produzem Z B, C e D produzem Z Dos resultados dessas provas pode-se inferir que C é condição necessária para a produção de Z. Se for comprovado ainda que somente com o fator C, excluindo-se os demais, Z também ocorre, pode-se também afirmar que C é condição necessária e suficiente para a ocorrência de Z, ou melhor, que é sua causa. h) Método Clínico: é utilizado, principalmente, por psicólogos numa relação entre o pesquisador e o pesquisado. O pesquisador utiliza-se de informações obtidas dos determinantes inconscientes do comportamento do pesquisado. Na utilização desse método, deve-se ter muito cuidado no momento de obter generalização, já que se trabalha com aspectos do inconsciente de indivíduos particulares. Esse método é utilizado na psicologia que tem obtido resultados bastante significativos. Também, nas ciências médicas e em outras áreas das ciências humanas. As técnicas de entrevistas, de história de vida, de aconselhamento, de psicodiagnósticos etc. são aplicadas pelos que utilizam o método clínico. Para saber mais sobre o assunto, consulte o site: http://lideres.ong.googlepages.com/09.pdf http://www.nodo50.org/dado/textosteoria/bunge.rtf