CURSO A DISTÂNCIA DE GESTÃO AMBIENTAL: UMA EXPERIÊNCIA RELEVANTE PARA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM TELECOMUNICAÇÕES



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Transcrição:

CURSO A DISTÂNCIA DE GESTÃO AMBIENTAL: UMA EXPERIÊNCIA RELEVANTE PARA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM TELECOMUNICAÇÕES Adilson de Oliveira Prado Academia de Polícia Militar de Minas Gerais Cristiano Torres do Amaral Assessoria de Telecomunicações do Estado-Maior (PMMG) Martineli Priscila Correia Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI/BH) RESUMO: Este artigo apresenta uma breve reflexão acerca da importância de um curso de gestão ambiental a distância para aprimoramento profissional em telecomunicações. Nesta discussão são abordados os conteúdos relevantes para o desenvolvimento do ensino relativo aos limites dos campos eletromagnéticos nas Américas. Trata-se de uma discussão embasada em informações obtidas em curso realizado por engenheiros e especialistas em regulação de telecomunicações de diferentes países das Américas, com motivação da Organização dos Estados Americanos, suporte técnico da União Internacional de Telecomunicações, e realização pela Universidade Nacional de Engenharia do Peru. Durante os trabalhos foram analisadas as principais fontes de radiação não-ionizante, a regulamentação nacional e local, os alarmes sociais, os métodos de medição dos campos eletromagnéticos, e por fim, a gestão ambiental nesse contexto. PALAVARAS-CHAVE: Campos Eletromagnéticos; Radiação Não-Ionizante; Gestão Ambiental. 1. Introdução A telefonia móvel, a televisão digital e as redes wireless são mecanismos de comunicação indispensáveis para o desenvolvimento da sociedade moderna. O avanço nas comunicações móveis no mundo contemporâneo apresenta-se de maneira acelerada, incessante e, principalmente, irreversível. Contudo, esse desenvolvimento tecnológico

também trás consigo um receio pela emissão de Radiação Não-Ionizante (RNI) oriunda das antenas das estações de telecomunicações. Trata-se de uma discussão recente e polêmica, isso porque é difícil alcançar um consenso acerca dos limites aceitáveis para exposição da população e do meio ambiente à RNI. Essa é uma preocupação comum entre pesquisadores, consumidores e provedores dos serviços de telecomunicações, os quais desejam a coexistência harmônica e pacífica da tecnologia na sociedade. No entanto, durante o início da década de 90 muitos mitos contrários à tecnologia foram difundidos na sociedade e, em alguns casos extremos, a população chegou a impedir a instalação de torres e antenas para funcionamento determinados serviços de telecomunicações. Esse problema ocorreu principalmente com as redes de telefonia móvel celular e redes wireless para internet. Contudo, a sociedade, em conjunto com a pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, promove e estimula discussões sobre o tema, de maneira que possa viabilizar a gestão dos campos eletromagnéticos emitidos no meio ambiente e sobre a população. Nesse sentido surgiram estudos interdisciplinares para encontrar os limites aceitáveis de exposição da população à RNI. Entre esses grupos de trabalho, a Comissão Internacional sobre Proteção à Radiação Não-Ionizante (ICNIRP original em inglês), criada em 1992, com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS), tem emitido recomendações acerca das Taxas de Absorção Específica (SAR original em inglês) para exposição à RNI. A ICNIRP é uma organização não-governamental que possui aceitação mundial e grande parte da regulamentação nacional de diferentes países se baseia em suas recomendações. Além da ICNIRP, existem outras instituições que também emitem recomendações sobre os limites de exposição à RNI, como a União Internacional de Telecomunicações (ITU original em inglês) e o Instituto de Engenharia Elétrica e Eletrônica (IEEE) dos Estados Unidos, entre outros. Essas recomendações balizam as regras nacionais e locais que servem de amparo para gestão dos campos eletromagnéticos em diferentes países. Mas, as Agências

Reguladoras também possuem autonomia para definir outros critérios técnicos para predição, medição e análise dos campos eletromagnéticos em seus países de origem. Na América do Sul essa discussão também acontece, e as regras para exposição da população e meio ambiente à RNI foram publicadas recentemente. No Brasil, por exemplo, a regulamentação foi editada em 2002, pela Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL). Tal como ocorre na legislação brasileira, outros países da região também possuem regulamentos próprios para âmbito nacional, mas que seguem ainda outras doutrinas locais. Para tanto, a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Organização dos Estados Americanos (OEA), entre outras instituições não-governamentais, públicas e/ou privadas, também fomentam a discussão acerca dos limites de exposição à RNI. Tais organismos motivam a realizam de eventos científicos para essa finalidade. Entre esses eventos, destacam-se as inciativas que visam a educação profissional daquelas pessoas que atuam neste segmento tecnológico. Neste sentido o aprimoramento de engenheiros e técnicos em telecomunicações apresenta-se de maneira estratégica, uma vez que esses profissionais estão diretamentamente ligados a esse setor. Para tanto, nesse processo de construção do conhecimento, e consciência ambiental, algumas peculiaridades devem ser consideradas, entre essas, a necessidade de alcançar o maior número possível de indivíduos, com o máximo de nivelamento e homogeneidade de conteúdos (NASCIMENTO, 2002). Contudo, esses profissionais podem encontrar-se distantes, dispersos em uma área geográfica significativa, seja em uma região, ou até mesmo em um continente. Considerando a necessidade de gestão ambiental dos campos eletromagnéticos oriundos da radiação emitida pelos serviços de telecomunicações, a dispersão geográfica entre os agentes sociais envolvidos, e ainda, a demanda por uma discussão técnica acerca das distinções dos procedimentos adotados, a educação a distância apresenta-se como uma importante ferramenta de difusão do conhecimento tecnológico (OLIVEIRA, 2002). Neste sentido, este texto apresenta essa discussão organizada de maneira que seja possível avaliar a importância de um curso de gestão ambiental, a distância, para

aprimoramento profissional em telecomunicações, utilizando, para tanto, dados obtidos em um treinamento recente ofertado pela Universidade do Peru. Nessa argumentação, os conteúdos são apresentados e comentados em função do contexto dos participantes. E por fim, uma abordagem acerca dos aspectos técnicos e ambientais relevantes para o ensino profissional. 2. Curso de Gestão Ambiental a Distância Atualmente, os custos que envolvem a capacitação presencial de um profissional atingem valores consideráveis com deslocamento, diárias, documentação técnica impressa, entre outros custos significativos. Verifica-se ainda que a ausência desse profissional no local de trabalho onera de maneira relevante a cadeia produtiva, uma vez que outro profissional deve ser alocado neste período (SOUZA, 1998) Tais fatores contribuíram para o desenvolvimento e aprimoramento de novas técnicas e abordagens de ensino e aprendizagem. No início dos anos 90, o ensino a distância ganhou espaço no meio acadêmico, e a Educação a Distância (EAD) tem sido utilizada em larga escala por diferentes áreas do conhecimento (RODRIGUES, 1998). Por meio da EAD é possível a comunicação de educadores e educandos em pontos longínquos, mesmo que esses estejam em uma área geográfica muito dispersa. Associado à EAD está o emprego de recursos e técnicas digitais, os quais reduzem custos e agilizam os procedimentos didáticos. Isso ocorre porque o acesso ao conteúdo pode ser feito por redes de comunicações internas ou externas, tais como intranets ou internet respectivamente. Outro fator está relacionado com a dinâmica de estudo do discente, o qual passa a ter grande flexibilidade para estudo. Neste sentido, existem inúmeros softwares de gestão de conteúdos e atividades didáticas on-line. Dentre esses destaca-se o MOODLE (Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment) como plataforma livre de gestão do conhecimento.conhecimento. Trata-se de um aplicativo aberto e amplamente difundido no meio acadêmico mundial (www.moodle.org). Essa plataforma está presente em grande parte dos centros universitários, com destaque no estado para a

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em um portal exclusivo para o ensino a distância (http://moodle.grude.ufmg.br/). Nesse sentido, as instituições de ensino podem propor a elaboração de cursos semi-presenciais ou totalmente a distância para formação ou aprimoramento profissional. As ferramentas de gestão de conteúdo podem ser utilizadas para abordagens preliminares, ou como uma solução para o processo de educação continuada a distância. 2.1 O Curso de Gestão Ambiental a Distância nas Américas A Organização dos Estados Americanos (OEA) é uma instituição que congrega representantes de 35 países das Américas do Norte, Sul, Central e Caribe, e tem um papel importante no debate de temas relevantes para o desenvolvimento econômico, social e político do mundo contemporâneo. A OEA apresenta-se como um Fórum Multilateral para a discussão de diferentes problemas comuns aos países membros. Além disso, a OEA é uma instituição que fomenta a pesquisa e o desenvolvimento científico de profissionais e especialistas dos países afiliados. Em 2007, a OEA, por meio do Departamento de Desenvolvimento Humano, nos Estados Unidos, e seu Escritório de Desenvolvimento Sustentável, no Brasil, investiu na discussão acerca da gestão ambiental da radiação não-ionizante. Para tanto, a OEA, por meio da Comissão Inter-americana de Telecomunicações (CITEL), realizou chamamento público nos países candidatos para seleção de especialistas com o perfil adequado para a realização de curso específico acerca da gestão ambiental de campos eletromagnéticos. Participaram do curso engenheiros e profissionais das Agências Reguladoras em Telecomunicações, além de especialistas e gestores de outros segmentos científicos e de governo. O grupo de trabalho foi composto por 26 pessoas que representavam os países selecionados nas discussões e atividades desenvolvidas durante o curso: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, El Salvador, Equador, Guatemala, Honduras, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela.

Em seguida, a Universidade Nacional de Engenharia do Peru (UNI original em espanhol), por meio do Instituto Nacional de Investigação e Capacitação em Telecomunicações (INICTEL), coordenou os trabalhos através do Centro de Capacitação a Distância da ITU. As discussões e os trabalhos envolvendo a regulamentação e limites de exposição à radiação não-ionizante ocorreram entre os meses de junho e julho de 2007. O curso foi segmentado em 5 módulos didáticos, sendo distribuídos de acordo com os temas: Redes de Telecomunicações; Efeitos à Saúde; Regulação; Predição, Medição e Avaliação da RNI; Alarme Social. Além disso, durante o curso, também foram realizados fóruns de discussões semanais e atividades on-line, por meio de chats agendados pelo INICTEL. Dessa maneira, os participantes enviaram suas contribuições a partir de seus países de origem, e se comunicaram a distância através da plataforma da ITU. Ao final, todos os envolvidos no curso compartilharam os dados relativos à regulamentação e gestão ambiental dos campos eletromagnéticos em âmbito local e nacional. Neste trabalho em conjunto foi possível ainda avaliar os métodos de medição dos campos eletromagnéticos, e também, as discussões locais envolvendo o receio da sociedade pela radiação não-ionizante. 3. Conteúdos Relevantes para o Curso a Distância A discussão acerca dos conteúdos relevantes para uma abordagem em curso a distância deve se iniciar pela identificação das fontes primárias de conteúdo. No caso da discussão ambiental, os agentes envolvidos neste segmento. Neste sentido, deve-se considerar os conceitos básicos para fomentar e instigar os participantes no processo de ensino e aprendizagem (Hernández, 1998). Uma estratégia interessante está presente na apresentação e discussão dos conceitos elementares, os quais se apresentam como fontes de motivação para esses profissionais. Para tanto, em um primeiro momento, o tutor do curso a distância pode inciar as discussões a partir da identificação das fontes principais dos problemas ambientais neste segmento. Existem inúmeros serviços de telecomunicações que utilizam as ondas eletromagnéticas como veículo de transporte das mensagens, entre, pelo menos, dois

pontos distantes. Em função da característica da freqüência utilizada, tais serviços de comunicação sem fio podem ser considerados fontes radiação não-ionizante, isto é, emissores de energia que capazes romper as ligações atômicas em diferentes tipos de partículas e/ou moléculas. Neste ponto reside a polêmica científica, porque, segundo alguns pesquisadores, dependendo da Taxa de Absorção Específica à RNI, essa energia, por exemplo, poderia comprometer a formação ou sobrevivência de uma célula animal e/ou vegetal. Diante da incerteza de tais efeitos biológicos, a sociedade, por meio de organismos científicos e não-governamentais, sugere limites máximos para exposição à RNI. Logo, em um curso a distância que tem por objetivo promover a discussão deste tema, as argumentações iniciais podem se inciar a partir dos posicionamentos dos profissionais envolvidos, a partir de depoimentos e comentários acerca do contexto social e político (DELORS, 1996). Esse procedimento pode ser motivado em um fórum de discussões, a partir da postagem de depoimentos de alguns agentes envolvidos no meio técnico e ambiental. No caso do curso de Gestão Ambiental do INICTEL, segundo as discussões e argumentos apresentados pelos profissionais participantes, as fontes de RNI mais preocupantes são os serviços de telefonia móvel e as redes de comunicação de dados sem-fio conhecidas como redes wireless. Essas redes, geralmente, são utilizadas para interligar estações residenciais e comerciais à internet. Além disso, ainda segundo esses depoimentos, podem existir outros pontos relevantes, que incluem os mais variados serviços de telecomunicações, que também possuem grande capilaridade nos territórios nacionais, tais como a radiodifusão e teledifusão. No entanto, as redes de telefonia móvel merecem destaque, porque, segundo as discussões levantadas, estão mais próximas ao cotidiano das pessoas na sociedade moderna. Logo, em função dessa particularidade, o risco em potencial de exposição à RNI seria mais significativo. Na Argentina, por exemplo, o número de terminais de telefones móveis é de 23.889.530 unidades. Por sua vez, na Venezuela, a apuração de tais informações é deficiente, apresentando quantidades preliminares de cerca de 3.000 estações. Contudo,

o grande destaque neste segmento é o Brasil, segundo dados da ANATEL, existem 120.980.103 terminais de telefones móveis. A discussão desses números pode ser feita a partir da análise de uma tabela ou gráfico, o qual serve de base para início da interpretação dos participantes. Tais informações podem motivar a discussão sobre o assunto durante o curso a distância. Além disso, essa tabela pode ser criada no decorrer do treinamento, e atualizada pelos participantes, a partir da inserção direta de dados, devidamente acompanhados de sua interpretação no contexto social, econômico, político e ambiental. Nesta discussão, os participantes podem inferir opiniões acerca dos elementos envolvidos. Por exemplo, Argentina, Chile, e demais países da América do Sul apresentam quantidades pouco significativas de terminais de telefones móveis em relação ao Brasil, no entanto, existe uma expectativa de crescimento para os próximos anos, a qual deve ser considerada nesta análise para fins de gestão ambiental. Por esse motivo a discussão dos limites de SAR nesses países apresenta-se de maneira estratégica para a sociedade, pois a tecnologia está em pleno desenvolvimento. Neste contexto, o Brasil assume um papel de destaque, uma vez que o atual estágio de desenvolvimento tecnológico pode subsidiar um suporte técnico a distância importante no continente. Por esse motivo a experiência brasileira no planejamento e gestão da telefonia móvel é reconhecida na região. 4. Questões Tecnológicas e Ambientais: Uma Discussão Relevante A legislação municipal brasileira no tange a regulamentação das torres de telecomunicações no país é caracterizada por inúmeros meandros jurídicos, sem diretrizes claras e objetivas em âmbito nacional. Essa dicotomia contribui significativamente para o aumento dos efeitos colaterais decorrentes da instalação das torres de telecomunicações nas cidades. Tais problemas também ocorrem em outros países nas Américas, pois não se trata de um fenômeno exclusivo no Brasil ou de uma região isolada. Isso ocorre porque, para as empresas, o melhor local para instalação de uma ERB está relacionado com o grande número de usuários que poderão ser atendidos, o que poderá ocorrer a partir da instalação de suas antenas em local de altitude privilegiada

nas proximidades de seus clientes. Os usuários potenciais do telefone celular são pessoas que estão distantes de um ponto fixo de comunicação ou em pleno deslocamento (nas ruas, dentro de veículos, fazendo compras, etc.). Definido o perfil e o número de usuários de uma determinada localidade, a instalação da torre deverá ocorrer em um ponto elevado e próximo a esse grupo de clientes, o que estará garantindo a maior área de abrangência da célula de comunicação. Para tanto, os locais de grande concentração de usuários podem ser encontrados em um centro comercial, escola, estação do metrô, hospital, parque, shopping center, universidade, etc. Logo, o local de instalação da torre deverá ocorrer em área de até 5Km de raio a partir do ponto de concentração de usuários (BARRADAS, 1995). Para tanto, esse ponto pode ser localizado na cobertura de uma edificação ou em uma área de topografia elevada, em área preservação ambiental ou não. Essa distância satisfaz plenamente os requisitos técnicos, no entanto, existem indícios que tal tecnologia muito próxima a população possa causar sérios danos a saúde humana. Segundo Jay Griffiths, em artigo publicado na revista The Ecologist, em outubro de 2004, a irradiação de ondas eletromagnéticas não-ionizantes podem fazer mal a saúde, pois não existem estudos seguros quanto a distância e potência máxima de operação com segurança das ERB e dos telefones móveis. Segundo este autor, as pessoas que ficarem expostas a essas irradiações, por um longo período, poderiam desenvolver diferentes tipos de câncer ou anomalias genéticas. Neste sentido, DODE (2003) sugere que as torres de telefonia celular podem abalar a relação entre o homem e o meio ambiente. Para essa autora, tal receio deve-se em função dos diferentes padrões de segurança e procedimentos técnicos (nacionais e internacionais) adotados para a medição das ondas eletromagnéticas emitidas pelos aparelhos de telefone celular e de suas ERB. Esses critérios técnicos divergem quanto ao conteúdo e procedimento adotado para a fiscalização/controle e licenciamento ambiental das torres de telecomunicações no Brasil e no exterior. Essa discussão pode ser abordada a distância, a partir do levantamento da legislação local. Neste caso, os participantes do curso a distância podem identificar as distinções da regulamentação de cada região e discutir a distância. Nesse sentido, essa discussão poderá avaliar a regulamentação, nacional e local, referente aos limites de

exposição à RNI nas diferentes localidades que possuam representantes participantes. O profissional que está participando deste treinamento profissional a distância pode identificar facilmente essas diferenças e discuti-las. Por exemplo, na Bolívia, a Superintendência de Telecomunicações (SITTEL original em espanhol), por meio da Resolução Administrativa Regulatória 313, de 19 de abril de 2002, estabelece os limites máximos de exposição à RNI. Para a faixa de radiofreqüência dos telefones móveis, o limite máximo de densidade de potência é calculado em (1): ß = f /3000 (1) Para tanto, a densidade máxima de potência ß [mw/cm 2 ] é obtida pela divisão direta da freqüência de operação f [MHz] por um coeficiente de referência. No Brasil, como ocorre em outros países do continente, esse limite é obtido em (2): ß = f /2000 (2) Esta sutil diferença representa um desvio no resultado final de 32.5% em média. Trata-se de uma abordagem bem interessante para discussão entre os participantes do curso a distância, uma vez que apresenta uma situação que impacta diretamente no seu cotidiano profissional e social. Isso significa dizer que, no caso da telefonia móvel analógia, na faixa de 800 MHz, o limite de exposição à RNI na Bolívia poderá ser 32,5% menor que no Brasil e demais países da América do Sul. Essa discussão torna-se pertinente para esses profissionais, uma vez que, para a população, esse índice pode representar um grande dilema: Deve-se garantir maior segurança na gestão dos campos eletromagnéticos, ou prover uma limitação técnica que poderá restringir o mercado potencial daquele país? Os alunos do curso podem trocar informações importantes sobre os reflexos dessas distinções para seu aprimoramento profissional, bem como para a dinâmica social que envolve a gestão ambiental desses campos. 5. Considerações Finais A gestão ambiental é obtida por meio de ações multidisciplinares, de maneira que possam alcançar todos os agentes sociais participantes na busca de soluções que

viabilizem a coexistência harmônica da sociedade e natureza (PERRENOUD, 2000). Essa discussão pode ser obtida em um processo de ensino e aprendizagem, que pode ser presencial e/ou a distância. Tal argumentação torna-se mais relevante quando surgem oportunidades para aprimoramento profissional desses agentes, especialmente aqueles que estão diretamente envolvidos com telecomunicações. Para tanto, a experiência obtida com o curso promovido pela Universidade Nacional de Engenharia do Peru proporcionou uma relevante analise nesta discussão. Os participantes deste curso identificaram as principais fontes de radiação nãoionizante, a regulamentação nacional e local, os alarmes sociais, os métodos de medição dos campos eletromagnéticos, e por fim, a gestão ambiental nesse contexto. A possibilidade de se trabalhar a interdisciplinaridade gera desconfiança para profissionais deste segmento, e para alguns, não funciona adequadamente. Esse tabu se deve pela verticalização e hierarquização do conhecimento (BELLI, 2005). Para muitos, essa visão mulidisciplinar, vêem sendo colocada como negativa e prejudicial para o método tradicional de ensino e aprendizagem. No entanto, trata-se de um visão horizontal do processo de formação. Neste método de ensino existe uma necessidade de se produzir o conhecimento a partir de áreas distintas, mas inteiramente interconectadas. A contextualização do conteúdo é de suma importância. É certo que não é possível contemplar todo o conteúdo técnico com uma contextualização abstrata. No entanto, é possível transportar os discentes para um universo de conhecimento propício para seu desenvolvimento intelectual a partir de pequenas doses contextualização (COTOSK, 2007). Esse procedimento aprimora os conhecimentos teóricos desenvolvidos, promove a reflexão e questionamentos, além de análises e associações fundamentais. No caso da gestão ambiental a distância, é possível alcançar um número maior de participantes, com um referencial e contexto diferenciado, enriquecendo significativamente o processo de ensino e aprendizagem.

Referências BARRADAS, Ovídio César Machado. Você e as telecomunicações. Rio de Janeiro: Interciência, 1995. BELLI, J. R. Do bacharelado a licenciatura como preparar a formação do professor engenheiro. Florianópolis: Universidade do Estado de Santa Catarina/Centro de Ciências Tecnológicas/Depto de Ciências Básicas e Sociais, 2005 COTOSK, Kelly. Proteção de Sistemas Elétricos: Uma abordagem Técnico- Pedagógica - Dissertação de Mestrado. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2007. DELORS, Jacques (Coord.) Learnong: The treasure within. UNESCO Report of the International Commission on Educationfor the twenty-first Century. Genebra: UNESCO, 1996. DODE, Adilza Condessa. Tese de mestrado: Estudo de casos no município de Belo Horizonte com ênfase nas estações radiobase de telefonia celular. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2003. HERNÁNDEZ, F.; Ventura, M. A organização do currículo por projetos de trabalho In: O conhecimento é um caleidoscópio. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. NASCIMENTO, D. P. Educação em Engenharia-Metodologia. São Paulo: Editora Mackenzie, 2002. OLIVEIRA, Vanderli Fava. Teoria, prática e contexto no curso de engenharia. São Paulo: Editora Mackenzie, 2002. PERRENOUD, P. Construindo Competências. Revista Nova Escola v. 15 - n 135. São Paulo: Editora Abril, set 2000, p.19-21. RODRIGUES, Rosângela Schawrz, Modelo de avaliação para cursos a distância. Florianópolis, UFSC, 1998. SOUZA, Delmar C., Hipermídia aplicada ao ensino técnico de nível médio. Florianópolis, UFSC, 1998.