AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DA FARINHA DA CASCA DE JABUTICABA

Documentos relacionados
AVALIAÇÃO DOS COMPOSTOS ANTIOXIDANTES DE UMA GELEIA DE UVA DESENVOLVIDA COM OS RESÍDUOS DA CASCA DA UVA

Introdução. Orientadora do TCC e Professora do Curso de Nutrição FACISA/UNIVIÇOSA. 4

Determinação de flavonóides e antocianinas totais em morango de cultivo convencional e orgânico

ESTUDO DOS POLIFENÓIS TOTAIS E ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DA CASCA, FOLHAS E FRUTO DE Hymenaea stigonocarpa (JATOBÁ).

DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DO TAMARINDUS INDICA FRENTE AO RADICAL DPPH

ATIVIDADE HEMOLÍTICA E ANTIOXIDANTE DE PLANTA MEDICINAL DO DOMÍNIO CAATINGA: AMBURANA CEARENSIS (FABACEAE)

EXTRAÇÃO E DEGRADAÇÃO TÉRMICA DE ANTOCIANINAS PRESENTES NAS FOLHAS DO REPOLHO ROXO E NAS CASCAS DA JABUTICABA

AULA PRÁTICA Nº / Março / 2016 Profª Solange Brazaca DETERMINAÇÃO DE TANINOS

ESTUDO DA ADSORÇÃO DO CORANTE BÁSICO AZUL DE METILENO POR CASCAS DE Eucalyptus grandis LIXIVIADAS

Nanopartículas de Prata e. Curva de Calibração da Curcumina

CARACTERIZAÇÃO DE COMPOSTOS FENÓLICOS EM RESÍDUO DE FRUTAS E HORTALIÇAS POR UPLC-MS

5. Resultados e Discussão

ANÁLISE DE COMPOSTOS FENÓLICOS E ANTOCIANINAS EM EXTRATO AQUOSA DA CASCA E POLPA DE JABUTICABA

AVALIAÇÃO TECNOLÓGICA E QUÍMICA DAS FOLHAS (RAMAS) DE NABO PARA USO NA ALIMENTAÇÃO HUMANA

AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE IN VITRO DO COGUMELO SHIMEJI (PLEUROTUS OSTREATUS)

Aula 13 PRÁTICA 03 ESPECTROFOTOMETRIA DE ABSORÇÃO MOLECULAR NO UV VIS: LEI DE BEER. Elisangela de Andrade Passos

ESTUDO DA ESTABILIDADE DE ANTOCIANINAS EXTRAÍDAS DOS FRUTOS DE AÇAÍ (Euterpea oleracea Mart.)

ANÁLISE POR PLANEJAMENTO EXPERIMENTAL DOS FATORES QUE INFLUENCIAM A EXTRAÇÃO DO CORANTE DA CASTANHOLA

QUANTIFICAÇÃO DE FLAVONÓIDES E FENÓIS DO EXTRATO DO FEIJÃO BRAVO

Avaliação da casca de banana como potencial biossorvente natural na remoção de cobre da água (1).

PRODUÇÃO DE MICROCÁPSULAS DO EXTRATO SUPERCRÍTICO DE JABUTICABA (PLINIA TRUNCIFLORA) ATRAVÉS DA ATOMIZAÇÃO EM SPRAY DRYER

Quinto Simposio Internacional de Innovación y Desarrollo de Alimentos Msc. Ediane Maria Gomes Ribeiro

POTENCIAL ANTIOXIDANTE DO EXTRATO ETANÓLICO DE FOLHAS DA MORINGA OLEIFERA LAM.

PROPOSTA DE PROCEDIMENTO DE SECAGEM DE BAGAÇO DE MAÇÃ PARA A PRODUÇÃO DE FARINHA

EFEITO DA TEMPERATURA DE GASEIFICAÇÃO DE BIOMASSA NA ADSORÇÃO DE CORANTE REATIVO

INFLUÊNCIA DOS PROCESSOS DE DESIDRATAÇÃO NOS COMPOSTOS BIOATIVOS EM POLPA DE NONI (MORINDA CITRIFOLIA)

TEOR DE COMPOSTOS FENÓLICOS E ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DA SEMENTE DE JABUTICABA (Myrciaria cauliflora)

PREPARAÇÃO E ESTABILIDADE DO EXTRATO ANTOCIÂNICO DAS FOLHAS DA Acalipha hispida 1

DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE ANTOCIANINAS TOTAIS EM POLPA DE AÇAÍ POR ESPECTROMETRIA DE UV-VIS

ESTUDO DA CINÉTICA DE EXTRAÇÃO DE ANTOCIANINAS DO FRUTO E DA POLPA DE JUSSARA (Euterpe edulis Martius)

Departamento de Bioquímica Instituto de Química USP EXERCÍCIOS BIOQUÍMICA EXPERIMENTAL QBQ 0316N Professores. Carlos T. Hotta Ronaldo B.

EXTRAÇÃO DE COMPOSTOS BIOATIVOS DE SEMENTES DE MARACUJÁ-AZEDO (Passiflora edulis) UTILIZANDO LÍQUIDOS PRESSURIZADOS

TÍTULO: OBTENÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DA FORMAÇÃO DE (-)-HINOQUININA A PARTIR DA BIOTRANSFORMAÇÃO FÚNGICA DA (-)-CUBEBINA POR ASPERGILLUS TERREUS

APROVEITAMENTO DE CASCAS DE BANANA (MUSA SPP.) PARA PRODUÇÃO DE FARINHA E APLICAÇÃO COMO INGREDIENTE EM BOLOS

AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DO EXTRATO AQUOSO DO ORÉGANO: Origanum vulgare L.

VIABILIDADE TÉCNICA DA REGENERAÇÃO DE COAGULANTE POR VIA ÁCIDA A PARTIR DO LODO DA ETA DE UMA INDÚSTRIA DE CORANTES

OTIMIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE EXTRAÇÃO DE ANTOCIANINAS DE Eugenia involucrata (CEREJEIRA-DO- MATO)

Aula Prática - 1 Obtenção de Dados Cinéticos para projeto de reator

ELABORAÇÃO DE FARINHA DE UVA UTILIZANDO BAGAÇO DA INDÚSTRIA VITIVINÍCOLA: EFEITO SOB OS COMPOSTOS FENÓLICOS

EXTRAÇÃO DE FITOQUÍMICOS DO BAGAÇO DA AMORA- PRETA EMPREGANDO A TÉCNICA LIMPA DE EXTRAÇÃO COM LÍQUIDO PRESSURIZADO

PREPARO DE EXTRATO METANÓLICO DE GINKGO BILOBA PARA VALIDAÇÃO DE MÉTODO DE DOSEAMENTO 1. Introdução

ESTUDO DO POTENCIAL ANTIOXIDANTE E ANTIMICROBIANO DE EXTRATO NATURAL DE FOLHAS DE OLIVEIRA EM VEGETAIS (VMP s)

Palavras-chave: Plantas Medicinais,Compostos Fenólicos,Taninos, Myrcia tomentosa

4002 Síntese de benzil a partir da benzoína

POLPA DE FRUTA NÉCTAR SUCO

Laboratório de Análise Instrumental

ESTUDO DE ADSORÇÃO DE COBRE II UTILIZANDO CASCA DE ABACAXI COMO BIOMASSA ADSORVENTE

MF-431.R-1 - MÉTODO TURBIDIMÉTRICO PARA DETERMINAÇÃO DE SULFATO

CONCENTRAÇÃO DE COMPOSTOS BIOATIVOS DO SUCO E DO RESÍDUO DE MIRTILO USANDO SEPARAÇÃO POR MEMBRANAS

MF-1050.R-2 - MÉTODO DE DETERMINAÇÃO DE DERIVADOS DA CUMARINA, POR CROMATOGRAFIA LÍQUIDA DE ALTA EFICIÊNCIA (CLAE)

USO DE PLANEJAMENTO COMPOSTO CENTRAL NA AVALIAÇÃO DAS VARIÁVEIS TEMPERAURA E CONCENTRAÇÃO DE SOLVENTES NO ESTUDO DA SOLUBILIDADE DA UREIA

INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE SECAGEM SOBRE OS COMPOSTOS FENÓLICOS EM RESÍDUOS DE UVAS

QUI624 2ª PROVA 33 PONTOS - 14/06/2010

COMPOSIÇÃO FÍSICO-QUIMICA E DE COMPOSTOS FENÓLICOS EM MORANGO LIOFILIZADO

Universidade Estadual Paulista UNESP Instituto de Biociências de Botucatu IBB Bioquímica Vegetal

INTENÇÃO DE COMPRA DE BISCOITOS TIPO COOKIE SABOR CHOCOLATE COM DIFERENTES TEORES DE FARINHA DE UVA

DETERMINAÇÃO DE UMIDADE E FOSFATO EM AMOSTRAS DE SURURU (Mytella Falcata) MOLUSCO ENCONTRADO NO ESTUÁRIO DE POTENGI/RN

MF-612.R-3 - MÉTODO DE DETERMINAÇÃO DE NITRATOS EM SUSPENSÃO NO AR POR COLORIMETRIA

PROPRIEDADES FÍSICAS DOS FRUTOS DE MAMONA DURANTE A SECAGEM

OBTENÇÃO DE EXTRATOS DA CASCA DA UNHA DE GATO

COMPOSTOS FENÓLICOS E ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DE FRUTOS DE BACABA (Oenocarpus spp.)

AVALIAÇÃO DE COMPOSTOS BIOATIVOS PRESENTES NO SUCO MISTO DE JUÇARA E FALSO GUARANÁ

CINÉTICA DE EXTRAÇÃO DE LIPÍDIOS DE MICROALGA SPIRULINA

SUBPRODUTOS DE ABÓBORA COMO FONTE DE CAROTENOIDES E ANTIOXIDANTES

HOLOS ISSN: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte. Brasil

CINÉTICA DE DEGRADAÇÃO DOS COMPOSTOS BIOATIVOS DA AMORA-PRETA DURANTE O PROCESSO DE SECAGEM CONVECTIVA

Antioxidantes são compostos oxi-redox favoráveis (oxi-redox f ) e podem ser

QUANTIFICAÇÃO DO TEOR DE FENÓIS TOTAIS E FLAVONÓIDES NA CULTURA FORRAGEIRA CUNHÃ

4024 Síntese enantioseletiva do éster etílico do ácido (1R,2S)-cishidroxiciclopentano-carboxílico

3001 Hidroboração/oxidação de 1-octeno a 1-octanol

INFLUÊNCIA DOS PROCESSOS DE DESIDRATAÇÃO NOS COMPOSTOS BIOATIVOS DE POLPA DE CAJÁ-MANGA ( SPONDIAS DULCIS)

TÍTULO: "DETERMINAÇÃO DO TEOR DE ANTOCIANINAS E VITAMINA C EM SUCO NATURAL DE ROMÃ (PUNICA GRANATUM), SUCOS PRONTOS INDUSTRIALIZADOS E XAROPE DE ROMÃ"

Lista de Exercício 2ª TVC Química Analítica V Teoria (1º Sem 2016). Obs.: Entregar antes da 2ª TVC.

Instituto Federal do Triângulo Mineiro-Campus Uberlândia IFTM Uberlândia Brasil. 2

AULA PRÁTICA Nº / Maio / 2016 Profª Solange Brazaca DETERMINAÇÃO DE CARBOIDRATOS

Estudo Químico de plantas do Rio Grandedo Norte: Avaliação do teor de fenóis e atividade antioxidante

3. Metais Ambiente e Vida. A Cor nos Complexos Dulce Campos

TÍTULO: FERMENTAÇÃO DE EXTRATO HIDROSSOLÚVEL DE SOJA VERDE POR BACTÉRIAS PROBIÓTICAS

COMPOSTOS BIOATIVOS EM GENÓTIPOS DE BACABA- DE-LEQUE (Oenocarpus distichus Mart) NATIVAS DA AMAZÔNIA

Álcool etílico. Alcoometria. Etanol. Expressão de concentrações. Expressão de concentrações. Álcool etílico

COMPOSTOS FENÓLICOS TOTAIS E ATIVIDADE ANTIOXIDANTE EM DIFERENTES ESPÉCIES DE FRUTOS NATIVOS

MAMONA: DETERMINAÇÃO QUANTITATIVA DO TEOR DE ÓLEO ( 1 )

Prática 10 Determinação da constante de equilíbrio entre íons Fe 3+ e SCN -

Observação experimental da influência do fotoperíodo na atividade da Glutamina Sintetase em extratos foliares.

MF-420.R-3 - MÉTODO DE DETERMINAÇÃO DE AMÔNIA (MÉTODO DO INDOFENOL).

EXTRAÇÃO DE CLORETOS EM CASCALHO DE PETRÓLEO UTILIZANDO MICROEMULSÕES

COMPARAÇÃO ENTRE MÉTODOS DE EXTRAÇÃO E ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DE Calophyllum brasiliense, Mucuna pruriens E Piper regnellii

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DO TEOR DE CAROTENÓIDES E DE ÁCIDOS GRAXOS SATURADOS EM MISTURAS DE BIODIESEIS

ABSTRACT Lyophilization effect on antioxidant activity of pasteurized mangaba pulp (Hancornia speciosa Gomes).

DETERMINAÇÃO DO TEOR DE ANTOCIANINAS E SUA INFLUÊNCIA NA VARIAÇÃO DA COLORAÇÃO DOS EXTRATOS DE FLORES DO OESTE POTIGUAR

VIABILIDADE DO APROVEITAMENTO DA CASCA DA JABUTICABA (Myrciaria cauliflora) PARA A ELABORAÇÃO DE NOVOS ALIMENTOS

Potencial antioxidante de extratos de sementes de limão (Citrus limon)

SUMÁRIO. Wagner Luz18/08/2014 ÍNDICE: ÁREA. Número 02 Título. Selecione o verificador do Documento: Cintia Kikuchi/BRA/VERITAS

Química Analítica I Tratamento dos dados analíticos Soluções analíticas

Determinação da concentração de cromo na carne de frango de corte alimentados com ração suplementada

ANÁLISE DA RETENÇÃO DE ANTOCIANINA EM BETERRABAS DESIDRATADAS ATRAVÉS DE MÉTODOS COMBINADOS DE SECAGEM

Concentração de soluções e diluição

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE POLPA DE ACEROLA IN NATURA E LIOFILIZADA PARA PREPARAÇÃO DE SORVETES

Palavras-chave: Pequenas frutas, compostos fenólicos, atividade antioxidante.

ESTUDO DA EXTRAÇÃO DO ÓLEO DE SEMENTE DE UVA DA VARIEDADE BORDÔ POR PRENSAGEM

Transcrição:

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DA FARINHA DA CASCA DE JABUTICABA (Plinia cauliflora) PARA SER UTILIZADA PELA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS: ANTOCIANINA E CAPACIDADE ANTIOXIDANTE L.F. Araújo 1, J.J.S. Moreira 2, B.S.Santos 3, A.M. Oliveira Junior 4, T.P. Nunes 5 1- Departamento de Farmácia - Universidade Federal de Sergipe CEP: 49100-000 São Cristóvão SE Brasil E-mail: (lucas.dea@hotmail.com) 2- Departamento de Tecnologia dos Alimentos Universidade Federal de Sergipe CEP: 49100-000 São Cristóvão SE Brasil E-mail: (jane240370@yahoo.com) 3- Programa de Pós Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos Universidade Federal de Sergipe CEP: 49100-000 São Cristóvão SE Brasil E-mail: (buninha_1144@hotmail.com) 4- Departamento de Tecnologia dos Alimentos Universidade Federal de Sergipe CEP: 49100-000 São Cristóvão SE Brasil E-mail: (amartins.junior@gmail.com) 5- Departamento de Tecnologia dos Alimentos Universidade Federal de Sergipe CEP: 49100-000 São Cristóvão SE Brasil E-mail: (tpnunes@uol.com.br) RESUMO - A casca da jabuticaba (Plinia cauliflora) representa até 43% do fruto sendo rica em minerais e fibras, além de possuir alto teor de compostos fenólicos, podendo ser utilizada na elaboração de produtos pela indústria de alimentos. A partir deste contexto, o presente trabalho teve por objetivo caracterizar a farinha da casca da jabuticaba em relação ao teor de antocianinas e capacidade antioxidante. Para tanto as cascas foram submetidas a dois tipos de secagem: estufa em três diferentes temperaturas (40 ºC, 45 ºC e 50 ºC) e liofilizador em dois diferentes aspectos (exposta e protegida da luz). As análises mostraram que as amostras secas em estufa a 40 ºC e liofilizada com proteção da luz possuíram maior capacidade antioxidante quando comparada aos demais tratamentos, tornando-se promissoras para utilização pela indústria de alimentos. ABSTRACT - Jaboticaba peel (Plinia cauliflora) represents up to 43% of the fruit and is rich in minerals, fibre and phenolic compounds. These characteristics makes this raw material suitable to be used as an ingrediente in food industry. From this context, the present study aimed to characterize the anthocyanins content and antioxidant capacity from the flour of the jaboticaba peel. This raw material were air-dried at three different temperatures (40 C, 45 C and 50 C) and freeze-dried in two different situations (exposed and protected from light). Results showed that the samples that were airdried at 40ºC and freeze-dried with light protection had greater antioxidant capacity when compared to the other treatments, making it promising to be used in food industry. PALAVRAS-CHAVE: jabuticaba; casca; farinha; aspectos antioxidantes KEYWORDS: jabuticaba; skin; flour; antioxidants aspects 1. INTRODUÇÃO

A grande extensão territorial e as condições climáticas diversificadas fazem com que a flora brasileira tenha diversos exemplares vegetais considerados importantes matérias-primas para fornecimento de insumos e/ou fabricação de produtos finais para diferentes usos, além do fornecimento de substâncias biologicamente ativas (ARAÚJO, 2011). Frutas coloridas são fonte potencialmente ricas em compostos fenólicos e acredita-se que desempenham importante papel na prevenção de muitas doenças oxidativas e inflamatórias (ARTS; HOLLMAN, 2005; CAVALCANTI et al., 2011). A jabuticaba, originária do centro/sul/sudeste do Brasil, pertence à família Myrtaceae e é conhecida por possuir altos teores de compostos fenólicos como antocianinas e taninos, principalmente em sua casca, o que contribui com sua elevada capacidade antioxidante (REYNERTSON et al., 2008; SANTOS et al., 2010; CAVALCANTI et al., 2011). Devido às poucas informações sobre a caracterização dos agentes antioxidantes da casca do fruto da jabuticabeira, e considerando o grande volume de resíduos gerados após o seu processamento industrial, a presente pesquisa tem por objetivo obter e caracterizar a farinha da casca da jabuticaba por meio de análises do teor de antocianinas e capacidade antioxidante, visando sua aplicação na indústria de alimentos. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Matéria-Prima Os frutos de jabuticaba (Plinia cauliflora) foram obtidos no comércio local de Aracaju/SE e levados para o Departamento de Tecnologia de Alimentos (DTA) na Universidade Federal de Sergipe (UFS), onde foram sanitizados com solução de hipoclorito de sódio (200 ppm) e em seguida, despolpados a mão. As cascas foram pesadas e separadas em seis lotes de aproximadamente 1,5 kg cada. Um designado como lote controle, composto pela casca da fruta in natura e os demais foram submetidos ao processo desidratação (estufa ou liofilizador). 2.2 Desidratação das Cascas de Jabuticaba e Obtenção das Farinhas As cascas da fruta in natura foram reservadas e dos outros cinco lotes foram separadas para serem desidratadas em estufa ou liofilizador. Dois lotes de cascas foram submetidos ao processo de liofilização, sendo que um foi liofilizado ao abrigo da luz e outro não. Para tanto, as cascas das frutas foram dispostas em bandejas do próprio equipamento e congeladas a -18 ºC para só então serem colocadas no liofilizador (Liobras) até sua completa desidratação. Os três últimos lotes foram desidratados em estufa, com circulação de ar, em três diferentes temperaturas (40 ºC, 45 ºC e 50 ºC) sendo uma temperatura para cada lote de cascas, até peso constante e ao abrigo de luz. Após desidratadas, as cascas de jabuticaba foram trituradas em moinho, para obtenção das farinhas, por aproximadamente 3 minutos e, em seguida, acondicionadas em recipientes hermeticamente fechados, protegidos da luz, à temperatura ambiente para posterior análise. 2.3 Extração e Quantificação de Antocianinas Totais Monoméricas Para a extração de antocianinas, foram utilizadas 10g de amostra e 100ml de álcool etílico 99,5%, homogeneizadas por duas horas em shaker com agitação e, em seguida, filtrado a vácuo e rotaevaporado para obtenção do extrato (SANTOS, 2010).

Para a quantificação de antocianinas totais monoméricas, seguiu-se o método do ph diferencial descrito por Giusti & Wrolstad (2001). De cada extrato elaborado transferiu-se quantitativamente 0,5 ml para dois balões volumétricos de 25 ml; completando um dos balões com solução tampão (ph 1,0) e outro com solução tampão (ph 4,5). As soluções permaneceram em repouso por quinze minutos, ao abrigo da luz. Decorrido o repouso foi feita a determinação das absorbâncias utilizando espectrofotômetro de absorção UV-Visível (Hitachi U2010). A absorbância final da amostra diluída foi calculada conforme a Equação 1. A concentração de antocianinas totais monoméricas foi determinada empregando-se a Equação 2. As análises foram realizadas em triplicata. A = (Absmax A700)pH 1.0 (Absmax A700)pH 4.5 (1) AT (mg/l) = (A x MM x DF x 1000)/( x1) (2) Onde: A= Absorbância final da amostra diluída, MM = Massa molecular da antocianina majoritária no solvente específico, DF = fator de diluição, = absortividade molar para o pigmento majoritário da amostra no solvente específico. 2.4 Avaliação da Atividade Antioxidante Para a análise de atividade antioxidante, as diferentes farinhas (seca a 40 ºC, 45 ºC e 50 ºC, liofilizada ao abrigo de luz e liofilizada exposta a luz) foram submetidas ao processo de extração. Inicialmente, homogeneizou-se 10 g de farinha em 100 ml de álcool etílico 99,5%, em seguida, ao abrigo de luz, a mistura foi colocada no ultrassom por 10 minutos, filtrada a vácuo e rotaevaporada para obtenção do extrato. A atividade antioxidante foi determinada pelo método DPPH (2,2-difenil-1- picril-hidrazil) (BRAND-WILLIAMS et al., 1995) com modificações de Boroski et al. (2011). A partir da preparação da solução mãe homogeneizou-se 20 mg de massa seca do extrato em 10 ml de metanol, perfazendo uma concentração de 2 mg.ml -1. A partir dessa solução mãe foram transferidas alíquotas de 25, 50, 75 e 100 µl para tubos de ensaio com 2 ml da solução de DPPH e agitadas em agitador de tubos. As leituras de absorbância foram realizadas após 30 minutos de reação a 517 nm e o resultado final expresso em IC50 (µg.ml -1 ). Para a determinação dos valores de IC50, inicialmente calculou-se a % inibição do DPPH por meio da Equação 3. % Inibição DPPH = [(Abs DPPH Abs Amostra )/Abs DPPH [ x 100 (3) Onde: Abs DPPH = absorbância da solução metanólica do radical DPPH; Abs amostra = absorbância da amostra após 30 minutos de reação com a solução de DPPH. Em seguida, construiu-se uma curva dos valores do % de inibição do DPPH em função da concentração do extrato. Considerando a % de inibição do DPPH de uma amostra real, o valor de IC50 foi encontrado por meio de regressão linear, onde, empregando-se a equação da reta: y= ax + b, substituiu-se o eixo y = 50 obtendo a concentração do extrato necessária para inibir 50% do radical DPPH. As análises foram realizada em triplicata.

Entretanto, devido à dificuldade em se ter um padrão nos resultados, Scherer e Godoy (2009) propôs um índice de atividade antioxidante (IAA), para avaliar a eficiência do antioxidante em extrato de plantas, considerando a concentração do DPPH e os valores de IC50 conforme mostra a Equação 4. AAI = [DPPH]final (µg.ml -1 )/ IC50 (µg.ml -1 ) (4) Onde: [DPPH]final = concentração final da solução metanólica de DPPH; IC50 = concentração de antioxidante necessária para inibir 50% do radical DPPH. Ambos expressos em µg.ml -1 Para atender a Lei de Beer, a concentração da solução de DPPH deve estar entre 0,20 e 0,05 mmol.l -1. A Tabela 2.1 apresenta a descrição dos valores de AAI para os extratos vegetais. Tabela 2.1 Descrição do potencial antioxidante de acordo com o índice de atividade antioxidante (IAA) IAA Capacidade Antioxidante < 0,5 Fraco 0,5 a 1,0 Moderado 1,0 a 2,0 Forte > 2,0 Muito Forte Fonte: Scherer e Godoy, 2009 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Concentração de Antocianina Monoméricas Totais (AT) A concentração de antocianinas monoméricas totais (AT) foi maior na amostra liofilizada protegida da luz, embora todas as amostras apresentem resultados elevados, como exposto na Tabela 3.1. Tais teores demonstram que todas as farinhas contêm elevadas concentrações desse composto devido à coloração da casca de jabuticaba (pigmentada, de cor roxa escura), como era previsto (KONG et al., 2003; SANTOS e MEIRELES, 2009; VEGGI et al., 2011). Tabela 3.1 Teor de antocianina da casca in natura e das farinhas da casca Amostras AT mg/l Casca de jabuticaba in natura (base seca) 541,34±11,32 Farinha da casca seca à 40 ºC 477,50±4,21 Farinha da casca seca à 45 ºC 453,37±3,35 Farinha da casca seca à 50 ºC 432,22±4,13 Farinha da casca liofilizada protegida da luz 850,80±14,91 Farinha da casca liofilizada exposta a luz 499,29±6,73 *Valores das médias das triplicatas ± desvio-padrão Fonte: Autor, 2016

Fica evidenciado ainda que a amostra mesmo quando liofilizada, sem o efeito do calor, se não for protegida da luz chega a perder cerca de 42% da concentração de antocianina final. O mesmo prejuízo se percebe à medida que a temperatura da casca é elevada para a obtenção da farinha. A cada 5 ºC de elevação, cerca de 6% dos compostos eram perdidos, chegando a perdas de 52%. Perdas, como as já citadas, eram esperadas, uma vez que se sabe que este tipo de composto fenólico é sensível à luz e ao calor. Pode-se observar também que a concentração de antocianinas no produto liofilizado ao abrigo da luz foi maior que o da casca in natura (base seca), tal resultado era esperado já que durante esse processo não houve a destruição do composto analisado e a secagem concentrou ainda mais esse teor, elevando o valor total analisado. No produto liofilizado, as propriedades químicas e organoléticas praticamente não são alteradas, pois esse processo é realizado à temperatura baixa e na ausência de ar atmosférico, e quando reconstituído ou reidratado, assemelha-se teoricamente ao produto natural (GAVA, 2009). 3.2 Atividade Antioxidante Nesse estudo avaliou-se o potencial antioxidante da casca da jabuticaba e da farinha da casca baseado na transferência de elétrons através da avaliação da redução do radical DPPH em 50% (IC50). Os resultados da atividade antioxidante foram apresentados na Tabela 3.2. Tabela 3.2 Valores de IC50 e IAA obtidos nas análises de DPPH e classificação da capacidade antioxidante segundo Scherer e Godoy (2009) Amostras IC50 IAA Capacidade Antioxidante Casca de jabuticaba in natura (base seca) 24,13±0,86 1,94±0,06 Forte Farinha da casca seca à 40 ºC 23,48±0,52 2,00±0,05 Muito forte Farinha da casca seca à 45 ºC 25,33±0,77 1,85±0,07 Forte Farinha da casca seca à 50 ºC 27.84±0,73 1,68±0,07 Forte Farinha da casca liofilizada protegida da luz 20,76±0,25 2,26±0,02 Muito forte Farinha da casca liofilizada exposta a luz 25,69±0,79 1,82±0,07 Forte *Valores das médias das triplicatas ± desvio-padrão Fonte: Autor, 2016 O potencial antioxidante expresso em IC50 demonstrou a quantidade dos compostos estudados (casca de jabuticaba e farinha da casca da jabuticaba) foram necessários para reduzir em 50% a ação do radical DPPH, utilizado nesse caso como a espécie a ser restringida. É importante ressaltar que, nesse caso específico, quanto menor a quantidade de amostra necessária para reduzir em 50% a ação do radical DPPH, maior foi a capacidade antioxidante dessas amostras. Os valores obtidos foram expressivos, observando-se maior atividade antioxidante na farinha da casca de jabuticaba liofilizada protegida da luz, o que está de acordo com os resultados obtidos para o teor de antocianinas, uma vez que as antocianinas fazem parte do conjunto de compostos com alto teor antioxidante. Os resultados expressos em IAA possibilitaram a classificação das farinhas em diferentes graus de atividade antioxidante, onde a farinha da casca à 40 ºC e a farinha da casca liofilizada protegida da luz, obtiveram classificação máxima. É evidenciado também que a temperatura e a luz de fato modulam os níveis de atividade antioxidante, levando a mudanças no IAA.

4. CONCLUSÕES Conclui-se que os compostos analisados são influenciados pela luz e pelo calor, entretanto, a técnica de liofilização com proteção da luz obteve resultados mais próximos da casca da fruta in natura, a qual possui elevada atividade antioxidante, podendo ser um ótimo resíduo gerado pelas agroindústrias que poderão ser incorporados como aditivos pela indústria de alimentos. De forma geral, os resultados mostraram que a utilização da farinha das cascas de jabuticaba na indústria de alimentos pode ser uma alternativa promissora, sustentável, viável e acessível para agregar valor aos alimentos e/ou embalagens e consequentemente melhorar a saúde pública. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Araújo, C. C. R. (2011). Composição química, potencial antioxidante e hipolipidêmico da farinha da casca de myrciaria cauliflora (jabuticaba). 139. Arts, I. C. W.; Hollman, P. C. H. (2005). Polyphenols and disease risk in epidemiologic studies. American Journal of Clinical Nutrition, 81(1), 317-325. Boroski, M.; DE Aguiar, A.C.; Boeing, J. S.; Rotta, E. M.; Wibby, C. L.; Bonafé, E. G.; De Souza, N. E.; Visentainer, J. V. (2011). Enhancement of pasta antioxidant activity with oregano and carrot leaf. Food Chemistry, 125(2), 696-700. Brand-Willians, W.; Cuvelier, M. E.; Berset, C. (1995). Use of free radical method evaluate antioxidant activity. Lebensmittel-Wissenschaft & Technologie, 28(1), 25-30. Cavalcanti, R. N.; Veggi, P. C.; Meireles, M. A. A. (2011). Supercritical fluid extraction with a modifier of antioxidant compounds from jabuticaba (Myrciaria cauliflora) byproducts: economic viability. Procedia Food Science, 1, 1672-1678. Gava, A. J.; Silva, C. A. B. Frias. (2009) Tecnologia de alimentos: princípios e aplicações. Nobel. Giusti M. M.; Wrolstad, R. E. (2001). Characterization and Measurement of Anthocyanins by UV- Visible Spectroscopy. Current Protocols in Food Analytical Chemistry, 2, 1-13. Kong J.; Chia L.; Goh N.; Chia T.; Brouillard R. (2003). Analysis and biological activities of anthocyanins. Phytochemistry, 64(5), 923-933. Reynertson, K. A.; Yang, H.; Jiang, B.; Basile, M. J.; Kennelly, E. J. (2008). Quantitative analysis of antiradical phenolic constituents from fourteen edible Myrtaceae fruits. Food Chemistry, 109(4), 883 890. Santos, D. T.; Meireles, M. A. A. (2009). Jabuticaba as a source of functional pigments. Pharmacognosy Reviews, 3(5), 127-132. Santos, D. T.; Veggi, P. C.; Meireles, M. A. A. (2010). Extraction of antioxidant compounds from Jabuticaba (Myrciaria cauliflora). Journal of Food Engineering, 101(1), 23-31. Scherer, R.; Godoy, H. T. (2009). Antioxidant activity index (AAI) by the 2,2-diphenyl-1- picrylhydrazyl method. Food Chemistry, 112(3), 654-658. Veggi, P. C.; Santos, D. T.; Meireles, M. A. A. (2011). Anthocyanin extraction from Jabuticaba (Myrciaria cauliflora) skins by different techniques: economic evaluation. Procedia Food Science, 1, 1725-1731.