Nota Técnica nº 472/2013-SRE/ANEEL Em 24 de outubro de 2013. Processo: 48500.006123/2013-72 Assunto: Critérios e procedimentos para cálculo do custo de capital a ser utilizado na definição da receita teto das licitações de empreendimentos vinculados às concessões do serviço público de transmissão de energia elétrica. I. DO OBJETIVO 1. Apresentar os critérios e procedimentos para cálculo do custo de capital a ser utilizado na definição da receita teto das licitações de empreendimentos vinculados às concessões de transmissão. II. DOS FATOS 2. Em 12 março de 2013 foi aprovada a Resolução Normativa nº 539, que estabeleceu a estrutura ótima de capital e o custo de capital a serem utilizados na definição da receita teto das licitações a serem realizadas no ano de 2013, na modalidade de leilão público, para contratação das concessões de prestação do serviço público de transmissão. 3. Em 10 de maio de 2013 foi divulgado o resultado do Leilão de Transmissão nº 01/2013. Dos dez lotes disponíveis para contratação, quatro não tiveram oferta por parte dos empreendedores habilitados. 4. Em 12 de julho de 2013 foi divulgado o resultado do Leilão de Transmissão nº 02/2013. Nesse leilão dois lotes ficaram sem ofertantes dos sete disponibilizados. III. DA ANÁLISE 5. Os resultados mais recentes dos leilões motivaram uma série de reuniões entre a ANEEL e os empreendedores de transmissão para identificação de quais teriam sido os fatores mais relevantes para a ocorrência de lotes não arrematados. Entre esses fatores figurou o custo de capital utilizado na fixação da receita teto. 6. As alegações relacionadas ao custo de capital focaram dois aspectos. O primeiro deles seria uma eventual subestimação do custo do capital próprio. O segundo seria o estabelecimento de uma estrutura
Fls. 2 Nota Técnica nº 472/2013 SRE/ANEEL, de 24 de outubro de 2013. de capital considerando um grau de alavancagem com captação junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BNDES impossível de ser realizada pelas regras de financiamento do banco. 7. A primeira alegação foi exaustivamente discutida no âmbito da audiência pública que aprovou a Resolução Normativa nº 553/2013 e o Submódulo 9.1 do PRORET 1, que tratam da revisão periódica das concessionárias de transmissão. O custo de capital próprio a ser utilizado nas licitações deve refletir os resultados dessa discussão, na qual foi estipulado o valor de 10,45% a.a., em termos reais. Esse valor equivale a uma remuneração nominal de 17,35% a.a., considerando a expectativa de inflação dos agentes de mercado disponível no Relatório de Mercado (Focus) do Banco Central do Brasil, de 18 de outubro de 2013, para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo IPCA, de 6,25% a.a. 8. O custo do capital de terceiros, por sua vez, é compatível com a taxa de captação obtida junto ao BNDES e também é considerado adequado pela área técnica. Assim o valor de 3,31% a.a., em termos reais, estipulado pela Resolução Normativa nº 539/2013 deve ser mantido. 9. Por sua vez, a avaliação das exigências do BNDES para financiamento dos empreendimentos de transmissão motivou uma série de simulações que confirmaram a alegação dos empreendedores quanto ao parâmetro de estrutura de capital. A partir desse diagnóstico, apresenta-se uma proposta a ser submetida em audiência pública para tratar adequadamente o grau de alavancagem de cada empreendimento. Essa adequação tem efeito sobre o custo médio ponderado do capital (WACC na sigla em inglês), pois altera a participação de cada fonte de recurso utilizada na viabilização econômica do empreendimento licitado. 10. Observando a regra geral vigente para captação de financiamento para empreendimentos de transmissão junto ao BNDES, o grau de alavancagem máximo admitido é de 70% dos itens financiáveis, sujeito à restrição do Índice de Cobertura do Serviço da Dívida ICSD de 1,3 vezes o valor da amortização mais juros, ou seja, o fluxo de caixa livre do empreendimento antes do pagamento da dívida deve ser 30% maior do que a parcela de pagamento do financiamento (amortização mais juros). O prazo total do contrato, incluindo período de carência na fase de construção, é de 14 anos. 11. As premissas da simulação foram de que o financiamento é liberado concomitante e proporcionalmente ao avanço da obra e que a capitalização de juros nesse período possui a taxa de 0,47% a.a. A partir da fase operacional a taxa de juros passa a ser de 3,31% a.a., incidente sobre o saldo a amortizar em Sistema de Amortização Constante. 12. A partir desses limites e restrições é possível construir uma estrutura endógena para cada empreendimento licitado partindo da identificação de qual é a parcela financiável do investimento global utilizado na definição da receita teto. Essa estrutura resulta de um cálculo iterativo que busca qual a alavancagem máxima permitida pelas restrições de captação que zera o valor presente líquido do empreendimento licitado. 1 A metodologia e o cálculo do custo de capital constante do Submódulo 9.1 do PRORET estão detalhados na Nota Técnica 196/2013 da SRE,
Fls. 3 Nota Técnica nº 472/2013 SRE/ANEEL, de 24 de outubro de 2013. 13. O resultado das simulações aponta as seguintes conclusões: (i) (ii) (iii) a estrutura utilizada na Resolução Normativa nº 539/2013 sobredimensiona a participação possível de capital de terceiros ao custo do BNDES, de modo que a receita teto resultante desse parâmetro fica subdimensionada; apenas na presença de custos não financiáveis superiores a 30% o empreendedor conseguiria a alavancagem máxima de 70% dos itens financiáveis, o que representaria uma estrutura de 49% do investimento global; para níveis inferiores de custos não financiáveis, a alavancagem é limitada pelo ICSD, de modo que o percentual de itens financiáveis deixa de afetar o resultado do cálculo; e (iv) o atendimento do ICSD no primeiro ano da fase operacional viabiliza o financiamento para os demais anos, de modo que o fluxo a partir do segundo ano de amortização não afeta a limitação da alavancagem. 14. Diante desse resultado, a proposta é que a estrutura de capital seja calculada endogenamente para cada projeto, considerando as seguintes restrições: (i) alavancagem máxima de 70% dos itens financiáveis; e (ii) atendimento do ICSD no primeiro ano da fase operacional. Abaixo um exemplo esquemático das etapas de cálculo. V. DA CONCLUSÃO 15. O aprimoramento proposto nesta Nota Técnica para o cálculo do custo de capital a ser utilizado na definição da receita teto das licitações de transmissão refere-se apenas à definição da estrutura de capital. 16. Assim, para o custo de capital próprio, continuará a ser adotado o valor de 10,45% a.a., em termos reais, constante do Submódulo 9.1 do PRORET, aprovado pela Resolução Normativa nº 553/2013. Para o capital de terceiros, continuará a ser adotado o valor de 3,31% a.a., em termos reais, estipulado pela Resolução Normativa nº 539/2013.
Fls. 4 Nota Técnica nº 472/2013 SRE/ANEEL, de 24 de outubro de 2013. 17. Finalmente, a estrutura de capital deverá ser calculada endogenamente para cada projeto, considerando as restrições de alavancagem máxima dos itens financiáveis e atendimento do ICSD no primeiro ano da fase operacional, conforme critérios vigentes do BNDES. 18. Os argumentos apresentados nesta Nota Técnica, bem como a minuta de Resolução Normativa em anexo, são um avanço relevante na fixação da receita teto dos leilões de transmissão, incorporando ao modelo uma situação fática de restrição aos níveis de financiamento dos empreendimentos licitados junto ao BNDES. VI. RECOMENDAÇÃO 19. Recomenda-se a abertura de Audiência Pública, por intercâmbio documental, com prazo de 15 dias, para que se discuta a proposta de cálculo da estrutura endógena com efeito sobre o WACC dos empreendimentos de transmissão licitados. PAULO FÉLIX GABARDO Especialista em Regulação CLAUDIO ELIAS CARVALHO Assessor De acordo: DAVI ANTUNES LIMA Superintendente de Regulação Econômica
Fls. 5 Nota Técnica nº 472/2013 SRE/ANEEL, de 24 de outubro de 2013. ANEXO I MINUTA DE RESOLUÇÃO NORMATIVA AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA ANEEL RESOLUÇÃO HOMOLOGATÓRIA Nº, DE DE DE 2013 Estabelece os custos do capital próprio e de terceiros a serem utilizados na definição da receita teto das licitações, na modalidade leilão público, para contratação das concessões para prestação do serviço público de transmissão, além de fixar os critérios para aferição da estrutura de capital do empreendimento licitado. O DIRETOR-GERAL DA AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA ANEEL, no uso de suas atribuições regimentais, de acordo com deliberação da Diretoria e tendo em vista o disposto nos arts. 9º, 2º, e 29, da Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, no art. 3º da Lei nº 9.427, de 26 de dezembro de 1996, com redação dada pelo art. 9º da Lei nº 10.848, de 15 de março de 2004, com base no art. 4º, inciso X, Anexo I, do Decreto nº 2.335, de 6 de outubro de 1997, a Resolução Normativa nº 553, de 4 de junho de 2013, resolve: Art. 1º Os custos de capital próprio e de terceiros, em termos reais, desconsiderando os benefícios tributários, a serem utilizados na definição da receita teto das licitações, na modalidade de leilão público, para contratação das concessões para a prestação do serviço público de transmissão serão de 10,45% a.a. e 3,31% a.a. em termos reais, respectivamente. Art. 2º A estrutura de capital do empreendimento licitado deverá observar os níveis máximos de alavancagem vigentes para contratação de dívida junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BNDES, observados o índice de cobertura do serviço da dívida e a participação de itens financiáveis na composição do investimento global utilizado para definição da receita teto. Art. 3º Fica revogada a Resolução Normativa nº 539, de 12 de março de 2013. Art. 4º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação. ROMEU DONIZETE RUFINO