Técnicas de entrevista II

Documentos relacionados
MARATONA CULTURAL 2009 CARTILHA DO CANDIDATO 2ª FASE

IMAGEM PÚBLICA. Distrito 4650 (Gestão 2018/2019)

OBJETIVO VISÃO GERAL SUAS ANOTAÇÕES

Aula Entrevista. Introdução ao tema!

I N T R O D U Ç Ã O ESTUDO SÓCIO-ECONÔMICO

Sistema de Informações e Pesquisa de Marketing Aula 14 07/11/17

Redação Jornalística I. Prof. Ms. Laércio Torres de Góes

Pesquisa de Intenção de Votos Eleição 2018 Presidente

Descubra o Poder do VERMELHO

OBJETIVO VISÃO GERAL SUAS ANOTAÇÕES

! Tipos de Entrevistas e Tipos de Questões. ! Técnicas de Entrevista! Aspectos Práticos

Reportagem em Jornalismo Audiovisual. Profa. Lívia Saggin

Agrupamento de Escolas de Rio Tinto AERT E. B. 2, 3 de Rio Tinto

Redação de Entrevista

AS LÍNGUAS DE CABO VERDE

FCL/UNESP/ARARAQUARA CONTEÚDO, METODOLOGIA E PRÁTICA DE ENSINO DE ALFABETIZAÇÃO 1. Prof. Dr. Francisco José Carvalho Mazzeu

ENTREVISTA Como Método de Observação em Pesquisa Científica

ASSESSORIA DE IMPRENSA TEORIA E PRÁTICA.

VOCÊ ESTÁ REALMENTE EVOLUINDO NO INGLÊS PARA NEGÓCIOS?

Desenvolvimento da Pesquisa

Seu negócio tem um cadeado e a chave para abri-lo é... A Iniciação

Eu te gosto, você me gosta

ATENDIMENTO DE IMPRENSA

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Decanato Acadêmico

Disciplina: OSM. Aula 7. Assunto: MÉTODOS

Alcançando metas através da abordagem fria!

Pesquisa de Intenção de Votos Eleição 2018 Presidente

PROCURAR EMPREGO. Delegação Regional do Centro. Centro de Emprego da Covilhã

Jornalismo. Guia de carreiras Newton Jornalismo 11

Fortalecendo a sua Liderança Aula On-Line: Entrevista de Sucesso Áreas Nacionais Juliana Santos e Andrea Fernandes

PESQUISA CNT/MDA RELATÓRIO SÍNTESE

ALBERTO DO SONHO AO VOO Editora: Scipione Autor: José Roberto Luchetti

Hábitos de Estudo. 1. Onde estudar?

A oportunida de de Iniciar

Mini Exame do Estado Mental (MEEM)

VENCENDO OBJEÇÕES. MMA em Vendas - Módulo 5 PROF.: ALEXANDRE HENRIQUE SOUZA. Vencendo Objeções. Preparação. Objeções. Pós- Venda.

Dicas sobre produção mediática: A produção de um conteúdo multimédia para os média escolares

POLITEIA EDIÇÃO MANUAL DE IMPRENSA

Dicas sobre produção mediática: A produção de uma entrevista para o média escolar

Sumário 1.Bem-vindo à era da comunicação 2. A importância de ser fluente na língua inglesa na era moderna

CRÔNICA O Primeiro Dia de Foca 1. Janaína Evelyn Miléo CALDERARO 2 Luana Geyselle Flores de MOURA 3 Macri COLOMBO 4 Faculdade Boas Novas, Manaus, AM

INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS FALÁCIAS ARGUMENTATIVAS (PARTE I)

Desenvolvendo a habilidade de Atrair, Convidar e Iniciar Consultoras para seu Time e seu Diretorado- Passo a Passo

Programa de Idiomas Inglês. Proposta: O programa de idiomas em Língua Inglesa adota um modelo sequencial de ensino e uma abordagem comunicativa

13 soluções para melhorar a comunicação

Unidade 1 Especificações do Exame

Ferramentas da Análise

PESQUISA CNT/MDA RELATÓRIO SÍNTESE

Obrigada pela presença. Bem-vindas!

INSTITUTO CAMARGO DE EDUCAÇÃO - ICE

ANEXO 1 INSTRUMENTO USADO PARA FAZER A PESQUISA COM OS PAIS OU RESPONSÁVEIS

Ombudsman: defensor do leitor

Procedimentos - Imprensa

Aulas de Inglês para Executivos.

UFPR - 2ª FASE - REDAÇÃO - CURCEP PROFª ANDRÉA ZELAQUETT GÊNEROS TEXTUAIS MAIS COBRADOS

Pauta do dia ESCUTAR É PRECISO! Retomada do encontro anterior. Discussão do tema do dia. Atividade em grupos. Avaliação

Jovens Repórteres para o Ambiente A REPORTAGEM. O mais nobre dos géneros jornalísticos

UNIVERSIDADE VALE DO ACARAÚ- UVA/UNAVIDA I JORNADA DE CURSOS LIVRES HISTÓRIA E GEOGRAFIA PROFESSORES:

INVENTÁRIO DE DOR MULTIDIMENSIONAL WEST HAVEN- YALE

1 Mutirão Regional de Comunicação

> Relatório do Participante. Nome: Exemplo

Comunicação nas entidades de classe

PESQUISA CNT/MDA RELATÓRIO SÍNTESE

Indicado para professores, alunos e f uncionários.

Manual de Usuário GLPI

SÓ ENTREVISTAR ELEITORES

A cobertura jornalística em Portugal da crise dos refugiados em 2015

Promover o desenvolvimento de métodos e técnicas para uma comunicação clara, objetiva e segura. Objetivo

CURSO: CONSTRUINDO O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO EFICAZ

MÉTODOS DE PESQUISA. Pesquisa Científica: estrutura. Prof. Dr. Evandro Prestes Guerreiro. Santos-SP, 2016

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Decanato Acadêmico

Regras Especiais de Procedimento para o Gabinete de Crises da Presidência da República Federativa do Brasil (Gabcrises)

CONSULTA PARTICIPATIVA

EQUIPAMENTOS BÁSICOS. Iluminação natural

Pesquisa de Intenção de Voto Eleição 2018 Presidente

Dicas sobre produção mediática: A produção de uma notícia para o média escolar

COMO GARANTIR QUE O BOLO SAIA COMO A RECEITA??? 2

O que é mídia? Os participantes de um evento na Associação Brasileira de Anunciantes (ABA) foram surpreendidos com a pergunta O que é Mídia?.

Os instrumentos de pesquisa mais frequentes na pesquisa de intervenção

PROTOCOLO PARA APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DA VIGILÂNCIA ALIMENTAR E NUTRICIONAL NA ATENÇÃO BÁSICA DE SAÚDE Equipe da Unidade de Saúde

Como nascem as notícias?

1-A introdução. Ela deve ser breve. Apenas para despertar a atenção e o interesse dos ouvintes. Assim como:

Entrevistas. FATTO Consultoria e Sistemas

Telejornalismo: aulas em sala e na redação de TV. Início: 20 de março de 2018 Valor do curso: R$ 1.200,00 Consulte as condições de pagamento

Política de Comunicação Externa

PREPARADAS PARA SE TORNAREM GRANDES EXECUTIVAS EM VENDAS?

Imagem do SEBRAE junto a sociedade

PESQUISA DE OPINIÃO PÚBLICA SOBRE ASSUNTOS POLÍTICOS/ ADMINISTRATIVOS RIO GRANDE DO SUL OUTUBRO DE 2018 JOB0809-8

Assessoria de Imprensa UNIFESP

VENDAS. O coração do seu negócio. Cassandra Pacces Dir. Executiva

Leia com calma as questões e responda com carinho, fazendo pausas até a conclusão, se achar necessário.

MOVENDO AO TOPO De consultora a Diretora em 6 meses

Marchas pela conscientização do diabetes

O que é Abordagem Fria?

Pesquisa Eleitoral BTG Pactual

Exercícios de interpretação com charges

Pesquisa de Final de Ano

Ciclo do SUCESSO. Megue Costa Diretora de Vendas Independente Mary Kay

1 - Nome, endereço, telefone do contato e informações sobre aquela pessoa que você vai entrevistar (qualidades?);

Transcrição:

Técnicas de entrevista II Pedro Celso Campos (*) 1. Organização Além de fazer a entrevista e de publicá-la, muitas vezes é necessário planejar e organizar o encontro entre a fonte e a imprensa. É o caso do jornalista que exerce funções de assessor de imprensa nas empresas, nos órgãos públicos etc. As entrevistas podem ser organizadas de vários modos. Elas podem se dar nos gabinetes ou nas redações; podem ser ao vivo ou por telefone, fax, internet etc. Podem ser pessoais ou de grupo (coletivas); exclusivas ou não; convocadas ou espontâneas; anônimas (como nas pesquisas) ou não; em off (como no caso Watergate) ou em on; simples (com poucos repórteres) ou americanas (com maior organização dos entrevistadores); de rotina (ouvindo testemunhas de um acidente de trânsito, por exemplo) ou caracterizadas (quando alguém informa ou opina sobre assuntos políticos, econômicos, esportivos etc.); biográficas (com perfis de personalidades ou de pessoas que se destacam no meio do povo, na cultura, nas artes etc.); informativas; opinativas etc. Na entrevista coletiva simples, com poucos repórteres à mesa, o entrevistado, em geral, faz um breve resumo dos fatos. As perguntas são aleatórias, de modo espontâneo. Conforme KOPPLIN, Elisa e FERRARETO, Luiz Artur, em Assessoria de Imprensa Teoria e Prática, Porto Alegre, Sagra-DC Luzzatto, 1993, a Coletiva Americana é mais elaborada. O entrevistado ou o porta-voz fica mais distante dos repórteres, em um auditório. O número de perguntas e a duração máxima de cada uma são distribuídos em função do número de veículos credenciados previamente e conforme o tempo de que dispõe o entrevistado para o encontro com a imprensa. Ao formular a pergunta, o profissional deve se identificar, bem como ao veículo que representa, fazendo perguntas claras e objetivas, estando preparado para repetir se for solicitado. Geralmente a assessoria de imprensa procura facilitar o trabalho dos jornalistas fornecendo material de apoio e infra-estrutura. Às vezes exige-se que as perguntas sejam apresentadas à mesa por escrito, podendo haver mais de um entrevistado. Assim todos podem participar e há a possibilidade de se apresentar mais esclarecimentos ao jornalista após a coletiva, além de ser possível responder questões que não foram respondidas no momento por falta de tempo. Tato Taborda (A entrevista coletiva, Cadernos de Jornalismo e Comunicação, Rio de Janeiro, maio/junho 1971) afirma que "toda entrevista coletiva tende a se transformar num jogo de inteligência. De um lado, o entrevistado disposto a declarar apenas o que lhe interessa, do outro o entrevistador que, na pressa de ser ouvido, corta o impacto da indagação do colega". Por isso, quanto maior a organização da entrevista, melhor para todos. Porém, esse tipo de entrevista organizada torna-se quase impossível em situações de emergência, quando o entrevistado precisa responder a perguntas urgentes sobre

emergências nacionais ou internacionais, catástrofes, epidemias, tragédias etc. Em tais situações o jornalista deve estar preparado para enfrentar um clima tenso e conseguir informações em situação quase caótica, em meio ao tumulto das circunstâncias. A coletiva inicial do presidente Johnson foi dada em pleno vôo do Air Force One, enquanto o corpo de Kennedy ainda estava no hospital, em Dallas (EUA). Nas entrevistas com pessoas especializadas, o repórter deve redobrar os cuidados de anotação para não cometer gafes imperdoáveis ao redigir a matéria. É sempre conveniente deixar o próprio telefone com o entrevistado (nas entrevistas individuais, ou com o assessor, nas coletivas) e anotar o dele para qualquer troca de informações durante o fechamento do jornal. Costuma-se comparar uma redação de jornal na hora do fechamento da edição ao convés de um navio de guerra em plena ação. Umberto Eco usa a imagem de uma "caixa preta" para descrever o "caos organizado" de uma redação de jornal. Nessas circunstâncias, é desesperador para o repórter não ter em mãos uma bem-organizada lista de telefones para contatos urgentes com as fontes. Muitas vezes perde-se a chance de ver a própria matéria na manchete do dia seguinte por falta de meios para confirmar uma informação imprescindível. Jornalista iniciante que perde oportunidades por desorganização está abrindo mão de uma carreira ascendente. Em determinadas situações parte da entrevista exclusiva é dada em off. O repórter deve ter a habilidade de respeitar o pedido de off para preservar sua fonte. Sem boas fontes um repórter não é ninguém. Nestes casos as informações em off devem ser atribuídas a "uma fonte bem-informada da empresa", "técnicos da área", "especialistas no assunto" etc. Nas entrevistas de rotina nem sempre é possível citar o nome e a qualificação de todos que falaram (como ocorre nas pesquisas sobre preços de combustíveis ou preços de supermercados etc.). A informação deve, então, ser atribuída a fontes generalizadas: "Alguns proprietários de postos de gasolina afirmam que o consumo de gasolina caiu cerca de 40% na cidade depois do último aumento autorizado pelo governo." Ou: "Segundo testemunhas, o motorista do ônibus argentino foi o culpado pelo acidente que matou 38 turistas, ontem, numa curva da BR-101, em Santa Catarina, perto de Joinville." Chama-se "caracterizada" a entrevista em que a fonte aparece claramente identificada: "Quero esclarecer que não convidei mais ninguém para o cargo", garantiu ontem o presidente Fernando Henrique Cardoso, desmentindo declarações de que teria sondado outros nomes, além do procurador-geral da República, Geraldo Quintão, para o cargo de ministro da Defesa, em substituição a Élcio Álvares. Nas entrevistas de rua, tipo "povo-fala", "pesquisa" etc. é conveniente qualificar o entrevistado citando, além do nome, idade, profissão e região onde mora. De acordo com o assunto da entrevista, esses dados são fundamentais. É relevante, numa entrevista sobre sexo antes do casamento, por exemplo, ou sobre topless em Copacabana, se o entrevistado tem 17 ou 77 anos. Do mesmo modo é determinante se o elogio dirigido à política do governo veio do deputado do PT ou do PFL.

Às vezes é necessário dar mais detalhes sobre o entrevistado. Se a entrevista de rua é sobre recursos que os taxistas usam para poupar combustível e se isto, de algum modo, beneficia o usuário, é bom citar também a placa do carro que o entrevistado dirige, pois o bom jornalismo deve ter sempre o sentido de serviço ao leitor. 2. Como fazer O manual da Folha de S.Paulo diz que o segredo de uma boa entrevista está na elaboração de um bom roteiro: ** Levante sempre o máximo de informações sobre o entrevistado e o tema que ele vai tratar. Em seguida, reflita sobre o objetivo a que pretende chegar. O melhor caminho é redigir perguntas tão específicas quanto possível. Perguntas muito genéricas resultam em entrevistas tediosas. Os repórteres da Folha também recebem estas orientações: ** Ao transcrever a entrevista, o repórter deve corrigir os erros de português ou problemas da linguagem coloquial quando for imprescindível para a perfeita compreensão do que foi dito. Mas não se pode trocar as palavras ou mudar o estilo da linguagem do entrevistado. Se relevantes, eventuais erros ou atos falhos do entrevistado podem ser destacados com a expressão latina "sic" entre parêntesis na frente da palavra ou frase. É recomendável preservar a ordem original das perguntas. E ainda: a) Marque a entrevista com antecedência; b) Informe o entrevistado sobre o tema e a duração do encontro; c) Grave a entrevista para poder reproduzir com absoluta fidelidade eventuais declarações curiosas, reveladoras ou bombásticas; d) Vista-se de modo adequado a não destoar do ambiente em que será feita a entrevista, para não inibir ou agredir o entrevistado; e) Faça perguntas breves, diretas, que não contenham resposta implícita; f) Identifique contradições, mencione pontos de vistas opostos e levante objeções sem agredir o entrevistado; g) Não deixe de abordar temas considerados "sensíveis" pelo entrevistado. Faça perguntas diretas e ousadas. Insista quantas vezes achar necessário se o entrevistado se recusar a responder a alguma pergunta; h) Registre essa recusa se for significativa; i) O entrevistado tem o direito de retificar ou acrescentar declarações. Se for relevante, o repórter pode registrar as duas versões (original e posterior).

3. Outras recomendações a) Evitar perguntas fechadas, isto é, que só admitem monossílabos como resposta. ("O Sr. é a favor ou contra a candidatura de Lula à Presidência?"). Uma pergunta aberta seria: "Por que o Sr. apóia Lula para presidente?"); b) O repórter deve responder brevemente se o entrevistado pedir a opinião dele; c) Quando o entrevistado foge do assunto, o repórter deve usar a pergunta seguinte para trazê-lo de volta ao tema; d) Procurar ser bem-humorado no diálogo, porém sem exageros que destoem; e) Agir com segurança e naturalidade, mostrando que sabe o que quer; f) Ao ouvir uma resposta-bomba, o repórter não deve revelar entusiasmo porque essa reação pode levar o entrevistado a pedir o cancelamento da declaração, receoso das conseqüências; g) Não se deve usar exclamações para comentar as respostas ("puxa!", "quem diria!", "não me diga!") h) as perguntas podem ser de esclarecimento ("quantos operários foram demitidos?"), de análise ("que motivos a empresa deu para as demissões?"), de ação ("o que o sindicato pretende fazer agora?"); i) Perguntas muito longas podem complicar a vida do repórter se o entrevistador pedir que ele repita; j) Não se deve misturar várias perguntas ao mesmo tempo ( "qual seu nome, idade, trabalho atual e a situação do seu bairro?"); l) Perguntas muito amplas confundem o entrevistado ("como o Sr. vê a situação da humanidade de Adão até nossos dias?"); m) O repórter deve acompanhar com total atenção as respostas do entrevistado; n) O entrevistado deve ser alertado para o fim da entrevista ("Agora, uma última pergunta"; "Para terminar..."; "O Sr. gostaria de acrescentar alguma coisa?"). Mário Erbolato relaciona, entre outros já vistos, os seguintes procedimentos na preparação do repórter para a entrevista: a) Chegue ao local da entrevista na hora combinada, se possível com alguma antecedência; b) Ajude o entrevistado, se necessário, a expor as suas opiniões. Conduza a entrevista; c) Não corte as respostas. Espere que cada uma delas termine para formular a pergunta seguinte;

d) Faça as perguntas no mesmo nível de quem responde: às vezes trata-se de pessoa humilde que tem informações sobre determinado fato, mas se ficar amedrontada negará esclarecimentos preciosos; e) Prepare o terreno para cada pergunta. As coisas mais indiscretas podem ser indagadas se o jornalista tiver o cuidado de ir-se conduzindo com habilidade. 4. Quem é a estrela? O comportamento de alguns repórteres de vídeo deixa dúvidas sobre quem deve ser a "estrela" da entrevista. Todos sabem que a "estrela" deve ser sempre o entrevistado, "por mais conhecido e vaidoso que seja o repórter", observa Nilson Lage. Segundo ele, espera-se que o repórter seja discreto, como coadjuvante e, ao mesmo tempo, diretor de cena: "Entrevistados podem ser malcriados ou tentar intimidar o repórter; este não deve irritar-se nem deixar-se intimidar." A exemplo de outros autores, também Nilson Lage lembra que, durante a entrevista, uma das chaves é saber perguntar em cima da resposta. Outra é manter o comando da conversa impedindo que o entrevistado se desvie do tema. Em algumas situações, quando isto acontece, a melhor estratégia, conforme Lage, é apresentar nova pergunta, mudando o assunto, para retomar posteriormente ao ponto problemático. "Não se deve questionar mais do que o necessário nem insistir em linhas de questionamento que se constatam improdutivas", ensina. Há muitos casos em que a entrevista precisa ser feita por telefone. Lage observa: "O telefone é um meio muito útil para a apuração de informações, mas suprime algumas condições facilitadoras da entrevista, tais como o ambiente controlado e a presença do outro. Outro modo, hoje muito usual, de se entrevistar à distäncia é via e-mail. Aliás, com a internet não apenas os jornalistas encontram inúmeras facilidades em seu trabalho, mas os próprios estudantes de Jornalismo podem partir para contatos diretos no mercado, colocando em prática as teorias aqui aprendidas sobre a arte de entrevistar, por exemplo. No caso de conversas on-line, tipo ICQ, o resultado depende, em parte, da destreza do entrevistado na digitação. Muitas pessoas perdem a espontaneidade quando escrevem. E se digitam lentamente, as respostas "tenderão a ser formais, como as que se obtêm em um questionário escrito." (Lage, 2001) (*) Professor de Jornalismo da Unesp-Bauru