POLITICA FISCAL, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E POBREZA NO BRASIL 1



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Transcrição:

POLITICA FISCAL, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E POBREZA NO BRASIL 1 Por Claudiney Pereira, Sean Higgins e Nora Lustig DEZEMBRO 2014 INTRODUÇÃO Historicamente, o Brasil sempre teve um dos mais elevados níveis de desigualdade de renda no mundo. Por exemplo, em 1989, o índice de Gini do Brasil era igual a 0.63, sendo o segundo maior do mundo (Ferreira et al. 2008). O nível de pobreza também foi sempre considerado elevado, principalmente quando comparamos aos países de renda per capita semelhante. No entanto, esse preocupante e nada favorável quadro tem mudado significativamente na última década. A desigualdade tem caído continuamente desde 2001 e o nível de pobreza tem diminuido desde 2003. O indice de Gini caiu de 0.563 em 2001 para 0.495 em 2013 (IBGE, 2014). A redução na desigualdade é explicada pelo aumento do salários de trabalhadores com pouco qualificação e uso de progamas de transferência de renda (Barros et al. 2010, Azevedo et al. 2013 e Lustig et al., 2013). A redução da pobreza deve-se principalmente aos programas de transferência direta de renda (Soares 2012). A importância dos gastos sociais tem aumentado e contribuído significativamente para uma redução da desigualdade e pobreza (Silveira et al. 2011). A qual medida, pode-se atribuir a política fiscal, (impostos, subsídios e transferências) a melhoria nos indicadores de desigualdade e pobreza no Brasil? Como podemos comparar a eficácia de tais políticas com a de outros países da América Latina? A principal contribuição do estudo The Effects of Brazil s Taxation and Social Spending on the Distribution of Household Income (Higgins e Pereira 2014), além de incluir o mais completo conjunto de instrumentos de política fiscal, é analisar as diferenças entre zonas urbanas e rurais e como também as diferenças entre os grupos étnicos no Brasil. Além disso, ao utilizar a metodologia do projeto Commitment to Equity (CEQ) desenvolvido por Lustig e Higgins (2013) os resultados tornam-se comparáveis com outros países da América Latina. Os dados sobre consumo das famílias, rendimentos, impostos pagos, transferências recebidas e utilização de serviços públicos de educação advém da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008-2009. Os dados dos serviços públicos de saúde foram coletados do suplemento especial sobre saúde da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (2008). E as informações sobre gasto público e impostos são do Ministério da Fazenda (Balanço do Setor Público Nacional, 2009-2010) e outros órgãos do governo. Os resultados do estudo mostram um efeito positivo das transferências na redução da desigualdade e pobreza no Brasil. Gastos em 1 Coordenado por Nora Lustig desde 2008, o projeto Compromisso com a Equidade (CEQ) é uma iniciativa do Centro Interamericano de Política e Pesquisa (CIPR) e departamento de economia da Universidade de Tulane e do Centro de Desenvolvimento Global e Diálogo Interamericano (www.commitmentoequity.org). 1

educação e saúde são quantitativamente mais importantes na redução da desigualdade e as transferências diretas têm papel importante na redução da pobreza. Contudo, os efeitos dos impostos indiretos na pobreza mais que compensam a maioria dos benefícios do sistema de transferências, e um terço dos pobres pagam mais do que recebem. Para algumas linhas de pobreza, o número de pessoas que tornam-se pobres devido a impostos indiretos é maior do que o número de pessoas que saem da pobreza após receberem transferências do governo. Portanto, a incidência da pobreza após impostos e transferências é maior do que a pobreza encontrada no nível de renda original. RESULTADOS No âmbito nacional, quando utilizamos a renda original das famílias, o nível de desigualdade é bastante elevado, com um índice de Gini de 0.579. Apesar da elevada carga tributária (35% do PIB) e gasto social de 16% do PIB sem incluir aposentadorias, os impostos diretos e as transferências diretas reduzem o Gini em apenas 6%, número elevado para América Latina (Lustig et al., 2014), mas pequeno quando comparado com países da Europa (Immervoll et al. 2006) que alcançam, em média, cerca de 30% na redução da desigualdade. A principal explicação é o maior gasto social em programas com limitado efeito redistributivo. A eficácia das transferências diretas é uma das menores na América Latina. No entanto, quando incluímos o gasto social indireto, a diminuição na desigualdade medida pelo índice de Gini alcança 24% (Tabela 1). Devido ao tamanho e progressividade do gasto em educação e saúde, a eficácia das transferências totais (diretas e em espécie) no Brasil é maior do que Bolívia, México, Peru e Uruguai mas menor do que Argentina (Lustig et al., 2014). A desigualdade é significamente menor na zona rural, consistente com outros estudos (Neri 2011 e Helfand et al. 2008). Os índices de Gini são.579,.567 e.559 para o Brasil, zona urbana e zona rural, respectivamente. Após impostos (diretos e indiretos) e transferências (diretas e indiretas), a desiguldade é reduzida em 38% na zonal rural, 24% a nível nacional e 23% na zona urbana (Higgins e Pereira 2013a). A desigualdade entre grupos étnicos representa cerca de 9.1% da desigualdade total no Brasil. Os efeitos da política fiscal na desigualdade são relativamente melhores para pardos, negros e indigenas. A redução na desigualdade é de cerca de 30% comparada a média nacional de 24% (Higgins e Pereira 2013b). Os indicadores de pobreza são significamente reduzidos após as transferências diretas. A nível nacional, a pobreza absoluta ($1.25 PPP) é reduzida em 54%, a pobreza extrema ($2.5 PPP) caiu 26% e a pobreza moderada ($4 PPP) 11%. Ou utilizando os critérios de elegibilidade para acesso aos programs federais de transferência direta de renda (R$70 e R140, respectivamente $1.34 PPP e $2.69 PPP), a pobreza absoluta é reduzida em 52% e pobreza extrema em 23%. O nível de pobreza é maior na zona rural, utilizando qualquer critério de linha de pobreza. Sendo significamente maior para negros, pardos e indígenas. O nível de pobreza absoluta ($1.25 PPP) para negros, pardos e indígenas é pelo menos três vezes superior ao dos brancos. As transferências diretas reduzem a pobreza a 1.2%, 5.2%, 3.6% e 4% para brancos, pardos, negros e indígenas, respectivamente. No entanto, pobres brancos recebem mais transferências comparado com outros grupos devido a baixa participação de afrodescendentes no programa de pensões especiais. 2

TABELA 1. ÍNDICE DE GINI E INCIDÊNCIA DA POBREZA PARA OS DIFERENTES CONCEITOS DE RENDA, BRASIL, 2009.* Original Disponível Pós-Tributação (Limite Inferior) Pós-Tributação (Limite Superior) Gini 0.579 0.544 0.537 0.546 0.439 Incidência da Pobreza (%) US$1.25 PPP/dia 5.8 2.7 3.2 4.4 US$2.50 PPP/dia 15.1 11.2 13.4 16.3 US$4.00 PPP/dia 26.2 23.2 27.5 31.0 70 reais por mês 6.4 3.1 3.8 5.2 140 reais por mês 16.5 12.7 15.2 18.2 Fonte: Higgins e Pereira (2014) * Original: salários, renda de capital, transferências privadas, aposentadorias, autoconsumo e valor imputado á casa própria. Disponível: renda original mais transferências diretas (inclusive transferências de alimentos) menos impostos diretos. Pós-Tributação (Limite Inferior): renda disponível mais subsídios da Tarifa Social de Energia Elétrica, menos impostos indiretos (ICMS e IPI e apenas áreas urbanas). Pós-Tributação (Limite Superior ): renda disponível mais subsídios da Tarifa Social de Energia Elétrica, menos impostos indiretos (ICMS, IPI e PIS/COFINS; se supõe que a evasão se distribui igualmente entre áreas urbanas e rurais). final: renda pós-tributação mais transferências em espécie de educação e saúde. Final Os efeitos dos impostos indiretos na pobreza mais que compensam a maioria dos benefícios do sistema de transferências, entretanto, aproximadamente um terço dos pobres pagam mais do que recebem. O número de pessoas que tornam-se pobres por causa dos impostos indiretos é maior do que o número de pessoas que saem da pobreza devido aos programas de transferência de renda, usando as linhas de pobreza de $2.50 ou $4 por dia ou 140 reais por mês na análise de limite superior ou de $4 por dia na análise de limite inferior. Enquanto a quantidade de transferências e subsídios recebidos pelos pobres é geralmente maior do que os impostos pagos, existe um grupo significativo de pobres que pagam mais impostos do que recebem em transferências (usando o limite inferior ): um terço dos extremamente pobres pós-tributação são empobrecidos pela política fiscal (Higgins e Lustig, 2014). Recentemente, Higgins e Lustig (2014) desenvolveram um novo método para avaliar esse empobrecimento gerado pela política fiscal (fiscal impovershiment) mesmo quando há uma redução nos indicadores padrões de desigualdade e pobreza. No caso do Brasil, cerca de 10% dos não pobres vulneráveis (renda original entre $4 e $10 PPP por dia) se tornam pobres (renda pós-tributação menor que $4 PPP por dia) e 11% dos que se encontravam em pobreza moderada (renda original entre $2.50 4 PPP por dia) caem para a pobreza extrema (renda pós-tributação menor que $2.50 PPP por dia). Estes resultados são de uma comparação da renda original com a renda pós-tributação (limite inferior), isto é, só contemplam dois impostos indiretos (ICMS e IPI) usando taxas efetivas e considerando a evasão e assume-se que nas áreas rurais não se paga nenhum imposto indireto. O sucesso dos programas de tranferência de renda deve-se ao fato de que 85% das famílias pobres recebem pelo menos um tipo de benefício. Contudo, 73% dessas transferências são alocadas para famílias acima da linha de pobreza de $4. Bolsa Familia (BF), Beneficio de Prestação Continuada (BPC) e PAA Leite são programas progressivos em termos absolutos, porém representam uma parcela pequena do total das transferências. Além do efeito deletério dos impostos indiretos sobre a pobreza, a distribuição das transferências também não representa a distribuição da 3

população ou nível de pobreza entre os grupos étnicos. O pobre branco recebe quase duas vezes mais transferências do que pardos, negros e indígenas, devido ao programa de aposentadorias especiais e bolsas escolares. A probabilidade de sair da pobreza através do sistema de transferências é maior para o pobre branco (33.4%) do que para os outros grupos étnicos (25%). CONCLUSÕES E DESAFIOS PARA A POLÍTICA FISCAL O Brasil, quando comparado com outros paises da America Latina, tem baixa eficácia em relação ao tamanho do gasto social e carga tributária. Os programas BF, BPC e PAA Leite são bem direcionados e progressivos em termos absolutos. No entanto, outras transferências progressivas apenas em termos relativos tem orçamento significativamente maior. Entre os grupos étnicos, o pobre branco recebe significativamente mais benefícios dos que pardos, negros e índigenas. Os efeitos dos impostos indiretos na pobreza mais que compensam a maioria dos benefícios do sistema de transferência e deveriam ser uma prioridade para os formuladores de política fiscal. Recentemente, Lustig e Higgins (2014) desenvolveram um indicador de mobilidade para medir os efeitos deléterios de política fiscal. No Brasil, por exemplo, 10% dos não pobres vulneráveis tornam-se pobres devido a impostos indiretos, mesmo quando existe uma redução na desigualdade de renda e nos indicadores de pobreza. Em março de 2013, o governo reduziu os impostos federais indiretos sobre a cesta básica, sinalizando uma contribuição para minimizar o problema. Contudo, essa medida não será suficiente para provocar uma mudança significativa, se não houverem reformas no principal imposto indireto, o ICMS, e no efeito cascata do sistema tributário brasileiro. Outra alternativa, seria melhorar o alcance dos programas de transferência de renda. A ampliação dos benefícios da BF através dos Programas Brasil Sem Miséria (2011) e Brasil Carinhoso (2012) contribuíram para a redução da pobreza absoluta. No entanto, uma proporção maior das outras transferências é destinada aos não-pobres, além da existência de desigualdade na distribuição do gasto social entre os grupos étnicos. REFERÊNCIAS Azevedo, João Pedro, M.E. Davalos, C. Diaz- Bonilla, B. Atuesta and R. Castaneda. 2013. Fifteen years of inequality in Latin America: how have labor marktes helped: World Bank Policy Research Working Paper 6384. The World Bank: Washington DC. Barros, Ricardo, M. Carvalho, S. Franco and R. Mendonça. 2010. Markets, the state, and the dynamics of inequality in Brazil. In Declining Inequality in Latin America: a Decade of Progress?, Luis F. López-Calva and Nora Lustig, eds., 134-174. Washington, D.C.: Brookings Institution Press. Ferreira, Francisco H. G., Phillippe G. Leite, and Julie A. Litchfield. 2008. The Rise and Fall of Brazilian Inequality: 1981 2004. Macroeconomic Dynamics 12:199 230. Helfand, S.M., R. Rocha, and H.E.F. Vinhais. 2009. Pobreza e Desigualdade de no Brasil Rural: Uma Analise da Queda Recente. Pesquisa e Planejamento Econômico 39(1): 67-88. 4

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