CONSIDERAÇÕES ACERCA DA FUNÇÃO DO PEDAGOGO NA GESTÃO ESCOLAR E NA GESTÃO EDUCACIONAL



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165 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA FUNÇÃO DO PEDAGOGO NA GESTÃO ESCOLAR E NA GESTÃO EDUCACIONAL Gislaine Cristina Pavão Ivani Gonçalves Leite Graduadas em Pedagogia pela Universidade Estadual de Maringá Resumo: Esse texto, resultante de reflexões teóricas e experiências acadêmicas no campo de estágio, pretende aventar sobre a atuação do Pedagogo na Gestão Escolar e na Gestão Educacional, discutindo as especificidades desse profissional em cada âmbito da gestão. Para tanto, as reflexões teóricas foram ancoradas nos estudos de Libâneo (2004), Oliveira (2006), Vasconcellos (2007) e Vieira (2007). Também respeitamos as determinações legislativas referentes à educação, gestão escolar e educacional e formação do pedagogo, materializadas na Constituição Federal de 1988, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n. 9394/96, e as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia, de 2006. Por fim, referenciamos nossa vivência nos Estágios Curricular Supervisionados de Gestão I e II, do curso de graduação em Pedagogia, da Universidade Estadual de Maringá, Campus Regional de Cianorte, ocorridos em 2009 e 2010 respectivamente. Com base nas reflexões teóricas e práticas, concluímos que o trabalho do Pedagogo se concentra no campo da mediação, tanto no âmbito da Gestão Escolar e da Gestão Educacional. Palavras-chave: Atuação do Pedagogo. Gestão Escolar. Gestão Educacional. 1 INTRODUÇÃO Esse texto é resultante de reflexões teóricas e experiências acadêmicas no campo de estágio, pretendendo aventar sobre a atuação do Pedagogo nas diferentes interfaces da gestão, ou seja, na gestão educacional e na gestão escolar. Essa discussão procura discutir as especificidades da atuação do Professor-Pedagogo ou de outros professores que assumem cargos afins nas diferentes dimensões da gestão. Para tanto, além de fazer uso de leitura da literatura pertinente à gestão escolar, gestão educacional e gestão democrática, referenciamos algumas experiências dos Estágios Curricular Supervisionado de Gestão I e II, do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá, no Campus Regional de Cianorte, em 2009 e 2010

166 respectivamente, realizado no quinto e no oitavo semestre da mesma graduação. O primeiro estágio com o objetivo de observar e acompanhar a prática da gestão escolar democrática em uma escola e segundo visou perceber a interface da gestão educacional com a gestão escolar. Para dar conta do proposto, primeiramente esclarecemos alguns termos pertinentes a nossa discussão: gestão e, em especial, gestão democrática. Prosseguindo, se faz necessário entender como que a gestão se tornou incumbência do pedagogo. E por fim, relatamos a vivência dos Estágios Curriculares Supervisionados de Gestão I e II, a fim de discutir a prática do pedagogo na Gestão Escolar e na Gestão Educacional. 2 A GESTÃO O conceito de gestão escolar pode apresentar vários significados e entendimentos. Segundo Libâneo (2004) organização, administração e gestão são termos frequentemente aplicados aos processos de organização, com significados muitos parecidos. Organizar significa dispor de forma ordenada, articular as partes de um todo, prover as condições necessárias para realizar uma ação; administrar é o ato de governar, de pôr em prática um conjunto de normas e funções; gerir é administrar, gerenciar, dirigir. (LIBÂNEO, 2004, p. 97). Para o autor acima citado, organização é aquela unidade social que reúne pessoas que se interagem com o objetivo de alcançar uma meta. A fim de atingir essas metas se faz necessário pensar a tomada de decisões, a direção e controle dessas decisões, sendo que esse processo constitui a gestão. Para Libâneo (2004), os termos gestão e organização da escola são mais amplos do que o termo administração, pois essa trataria somente das tarefas de administrar, gerir, organizar, dirigir, tomar decisões. Libâneo (2004) afirma que a gestão e a organização da escola devem promover as condições, os meios e todos os recursos indispensáveis para o trabalho de sala de aula, tendo como referências os objetivos da instituição: a aprendizagem discente. Por essas considerações, os gestores devem envolver as pessoas e acompanhar o trabalho cotidiano visando assegurar o aprendizado de todos os alunos.

167 Segundo Vieira (2007) é no campo da gestão que se expressam as políticas para a educação. Essa é integrada por três dimensões, a saber, o valor público, as condições de implementação e as condições políticas. A primeira dimensão diz respeito à intencionalidade das políticas. As duas últimas dimensões, isto é, as condições de implementação e as condições políticas, segundo a autora (2007, p. 59) são elas que: [...] asseguram a sustentabilidade dos valores e a sua tradução em políticas. Nenhuma gestão será bem sucedida se passar ao largo dessas duas dimensões. Por melhores e mais nobres que sejam as intenções de qualquer gestor ou gestora, suas idéias precisam ser viáveis (condições de implementação) e aceitáveis (condições políticas). Além dessas questões subjetivas, como são as políticas, o gestor deve saber gerir seu pessoal a fim de que as políticas sejam de fato praticadas. No entanto, essa gestão do pessoal não se dá sem dificuldades: Parte da dificuldade da gestão diz respeito ao fato dela se situar na esfera das coisas que têm que ser feitas. E o que tem que ser feito nem sempre agrada a todos. Não dá votos; ao contrário, fere interesses. Desestabiliza o que está posto. Por menores que sejam as mudanças pretendidas, atingem pessoas. Corporações. Mudar nunca é simples, o que pode ser detectado nas coisas mais elementares: desde a simples cor de uma parede até a inclusão ou retirada de uma disciplina. Isto para não falar de vantagens corporativas. Gente é assim. Resiste. Faz corpo mole. Abandona o gestor na primeira medida antipática à vontade da maioria. E gestão se faz em interação com o outro. Por isso mesmo, o trabalho de qualquer gestor ou gestora implica sempre em conversar e dialogar muito. Do contrário, as melhores idéias também se inviabilizam. Embora o diálogo seja um instrumento fundamental na obtenção dos consensos necessários à construção das condições políticas, há outros ingredientes que alimentam este processo. A negociação é outro componente importante desse processo, porque gestão é arena de interesses contraditórios e conflituosos. Nesse sentido, o gestor que não é um líder em sua área de atuação poderá se deparar com dificuldades adicionais. (VIEIRA, 2007, p. 59).

168 A gestão democrática é uma característica da gestão que pode ou não estar presente nas esferas da gestão educacional e da gestão escolar. No entanto, por determinação da LDB 9394/96 essa deve acontecer de fato: Como se vê, a LDB remete a regulamentação da gestão democrática do ensino público na educação básica aos sistemas de ensino, oferecendo ampla autonomia às unidades federadas para definirem, em sintonia com suas especificidades, formas de operacionalização de tal processo, o qual deve considerar o envolvimento dos profissionais de educação e as comunidades escolar e local. (VIEIRA, 2007, p. 64). Portanto, o Pedagogo tem o desafio de gerir pessoas democraticamente com a finalidade de proporcionar uma educação de qualidade nas esferas da gestão educacional e gestão escolar, pois como afirma Vieira (2007), essas últimas existem em razão da educação de qualidade, da escola e não o contrário. A fim de prosseguir com a discussão, esclarecemos que a gestão educacional e a gestão escolar referem-se ao âmbito de atuação. Sofia Lerche Vieira (2007, p. 60) entende que A gestão educacional refere-se ao âmbito dos sistemas educacionais; a gestão escolar diz respeito aos estabelecimentos de ensino. 3 O PEDAGOGO ENQUANTO GESTOR O pedagogo pode atuar na escola como gestor. Essa área de atuação, ou seja, a gestão escolar sofreu muitas modificações na história recente de nosso país, acompanhando o movimento de democratização ocorrido na década de 1980. Essa movimentação acerca da gestão escolar obteve resultado na Constituição Federal de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96, sendo conclamada a Gestão Democrática Escolar. É importante lembrar que esse período foi marcado pela transição de um governo ditatorial autoritário, no qual foi latente a repressão contra a liberdade, para um regime democrático, que foi fruto da luta da sociedade civil e da pressão internacional sobre o Estado Brasileiro. Neste período ficaram evidentes as mazelas da educação

169 brasileira, ou seja, percebe-se que a escola não conseguia atender nem quantitativa nem qualitativamente às exigências cobradas pela sociedade. Para Oliveira (2006) um fator que resultou nessa crise foi a má distribuição no território nacional das vagas ofertadas na escola básica para a idade regular, desencadeando na repetência e evasão escolar. Isso acontecia porque os alunos que repetiam a série em que estavam matriculados permaneciam nos primeiros anos da educação primária, não permitindo o ingresso de novos alunos. Na sucessão de repetência, muitos alunos evadiam-se da escola. No debate acerca das necessidades de mudança na escola, enfatizou-se que além de ser responsável pela transmissão do conhecimento produzido pela humanidade de forma sistemática, a escola deveria ter também a função social de preparar para a cidadania e para o trabalho, com ênfase na primeira. Isso fica claro no Artigo 205 da Constituição de 1988: Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. A Constituição Federal de 1988 também estabelece em seu Artigo 206 os princípios norteadores da Educação Brasileira, dentre eles: [...] VI gestão democrática do ensino público, na forma da lei; (BRASIL, 1988). A redação final do inciso, na forma da lei, conclama a elaboração de uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB 9394/96 - para organizar a educação segundo os pressupostos democráticos. A LDB 9394/96 ratifica o que a Constituição Federal de 1988 já havia estabelecido, isto é, a Gestão Democrática da Escola Pública, é definido no Artigo 14: Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes.

170 Este Artigo da LDB aponta para a elaboração do Projeto Político-Pedagógico sob a coordenação dos gestores escolares, bem como a participação da comunidade escolar e local em conselhos escolares, que se dão no Conselho Escolar, Conselho de Classe, Associação de Pais, Mestres e Funcionários (APMF) e Grêmio Estudantil. Essa nova organização da escola, bem como as mudanças ocorridas na sociedade, gerou a necessidade de uma nova formação para o Pedagogo, a fim de que este atue na promoção da aprendizagem de sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano, em diversos níveis e modalidades do processo educação (BRASIL, 2006, p. 2). Assim, o Conselho Nacional de Educação institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, em 2006. Este documento aponta os pontos centrais na formação do licenciado em Pedagogia no Artigo 3º: Para a formação do licenciado em Pedagogia é central: I o conhecimento da escola como organização complexa que tem a função de promover a educação para e na cidadania; II a pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de investigações de interesse da área educacional; III a participação na gestão de processos educativos e na organização e funcionamento de sistemas e instituições de ensino. (BRASIL, 2006, p. 1) (grifos nossos). Portanto, a partir dessa determinação, é incumbência explícita do Pedagogo o trabalho de gestor escolar e educacional. 3.1 O PEDAGOGO NA GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA Como já esclarecemos, a gestão escolar diz respeito à gestão no que tange ao estabelecimento de ensino e a LDB foi uma das primeiras legislações que menciona a gestão em particular, como afirma Vieira (2007, p. 61): A LDB de 1996 foi a primeira das leis de educação a dispensar atenção particular à gestão escolar, atribuindo um significativo número de incumbências às unidades de ensino.

171 No Artigo 14, já citado, expõe algumas atribuições da gestão escolar. A primeira delas é a construção coletiva do projeto pedagógico da escola, em especial com a participação dos docentes, da participação da comunidade local e escolar em conselhos colegiados. Tanto para o cumprimento da primeira atribuição como da segunda, torna-se necessário a articulação, para o bom andamento dos trabalhos, que é cumprida por gestores, dentre eles está a figura do diretor escolar e do pedagogo. Mas também, é atribuição da escola gerenciar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros, ou seja, o patrimônio imaterial e material. O primeiro refere-se às pessoas, às idéias e à cultura produzida em seu interior, o segundo diz respeito a prédios e instalações, equipamentos, laboratórios, livros, enfim, tudo aquilo que se traduz na parte física de uma instituição escolar (VIEIRA, 2007, p. 62). Outro fator importante, que devemos destacar é autonomia da escola prevista na LDB 9394/96 no artigo 15. Aqui, o entendimento orienta-se no sentido de que a autonomia de uma escola não é algo espontâneo, mas construído a partir de sua identidade e história (VIEIRA, 2007, p. 62). Tendo em vista estes princípios da gestão escolar democrática determinada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, atribuindo funções à gestão escolar, cabe-nos questionar: qual é o papel do pedagogo no âmbito da gestão escolar democrática? Coordenar a elaboração coletiva e acompanhar a efetivação do Projeto Político-pedagógico e do Plano de Ação da Escola; coordenar a construção coletiva e a efetivação da Proposta Pedagógica Curricular da Escola, a partir das Políticas Educacionais da SEED/PR e das Diretrizes Curriculares Nacionais e Estaduais; promover e coordenar reuniões pedagógicas e grupos de estudo para reflexão e aprofundamento de temas relativos ao trabalho pedagógico e para a elaboração de propostas de intervenção na realidade da escola; [...] coordenar a organização do espaço-tempo escolar a partir do Projeto Político-Pedagógico e da Proposta Pedagógica Curricular da Escola, intervindo na elaboração do calendário letivo, na formação de turmas, na definição e distribuição do horário semanal das aulas e disciplinas, da hora-atividade, no preenchimento do Livro Registro de Classe de acordo com as Instruções Normativas da SEED e em outras atividades que interfiram diretamente na realização do trabalho pedagógico; coordenar, junto à direção, o processo de distribuição de

172 aulas e disciplinas a partir de critérios legais, pedagógicos e didáticos e da Proposta Pedagógica Curricular da Escola; organizar e acompanhar a avaliação do trabalho pedagógico escolar pela comunidade interna e externa; apresentar propostas, alternativas, sugestões e/ou críticas que promovam o desenvolvimento e o aprimoramento do trabalho pedagógico escolar, conforme o Projeto Político-Pedagógico, a Proposta Pedagógica Curricular, o Plano de Ação da Escola e as Políticas Educacionais da SEED; coordenar a elaboração de critérios para aquisição, empréstimo e seleção de materiais, equipamentos e/ou livros de uso didático-pedagógico, a partir da Proposta Pedagógica Curricular e do Projeto Político- Pedagógico da Escola; participar da organização pedagógica da biblioteca, assim como do processo de aquisição de livros e periódicos; [...] (PARANÁ, 2007). Essas incumbências dadas no edital do concurso de Professor-Pedagogo das séries finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio do Estado do Paraná, de 2007, cargo que substitui os antigos cargos de supervisor e coordenador escolar, respondem em partes ao questionamento sobre o papel/função do pedagogo na gestão escolar democrática. São vinte e cinco atribuições descritas em cinqüenta e duas linhas, passando por todos os âmbitos da escola. No entanto, o que se pode concluir analisando o edital é que o Professor-Pedagogo deverá atuar na escola como um gestor. Segundo Vasconcellos (2007) a atuação do pedagogo se dá no campo da mediação, pois quem está diretamente vinculado à tarefa do ensino, é o professor. O pedagogo relaciona-se com o professor visando uma relação diferenciada, qualificada entre professor-aluno. O professor-pedagogo deve também provocar o senso crítico do professor, para que esse reflita sobre sua ação. Esse professor, em função do espaço em que atua, tem tanto a interface com o chão da sala de aula, por meio do contato com os professores e alunos, quanto com a administração, podendo ajudar uns e outros a se aproximarem criticamente. Portanto, podemos perceber que o pedagogo é um mediador entre o aluno e o professor, entre o professor e administração e entre alunos e administração. Conscientes da atuação do pedagogo na gestão escolar democrática segundo a visão de Vasconcellos (2007), bem como a legislação, podemos analisar o que observamos no Estágio Curricular Supervisionado de Gestão I, quando fomos para a

173 escola observar como acontece a gestão. Por meio deste estágio, podemos exemplificar a atuação do pedagogo em duas escolas. Na primeira escola, que observamos situada em Terra Boa Paraná, pudemos acompanhar o trabalho de duas pedagogas que trabalhavam no período vespertino. A primeira concentrava seus trabalhos em questões burocráticas e atendimento às turmas de 5ª s séries e a segunda, ao atendimento às turmas de 6ª s, 7ª s e 8ª s séries. As pedagogas da escola sempre tinham afazeres, pois havia grande procura dos alunos e dos professores que enviavam os alunos para resolverem pequenos problemas, como falta de uniforme, além da indisciplina e violência. Pudemos perceber um trabalho de parceria entre o diretor da escola e as pedagogas que se aliavam até mesmo para separar as brigas entre os adolescentes. No entanto, esse fator pode acarretar o trabalho como insatisfatório por ficar restrito às emergências de indisciplina dos alunos. Além da parceria entre diretor e pedagoga para essa função, eles se aliavam para visitar as casas de alunos que não têm aprendizado insatisfatório e que, apesar da convocação dos pais pela coordenação pedagógica, não compareciam à escola. Essas atividades exercidas no cotidiano da maioria das escolas é referido por Vasconcellos (2007) como a parte negativa da atuação do pedagogo. A definição negativa do papel do pedagogo na escola, para esse autor, compreende uma falta de sentido e objetivo na função deste profissional, que muitas vezes é visto como bombeiro que deve apagar os focos de incêndio dentro da escola, agindo como quebra galhos que desempenha várias funções paralelas, como substituir um professor que faltou, separar briga de aluno, preencher papelada, entre outros. Mas também, há uma parceria da equipe pedagógica, que se demonstrou muito entrosada, para a melhoria da aprendizagem. Pudemos observar esse fato durante a reunião do Conselho de Classe, na qual a pedagoga agia como mediadora de diálogo, juntamente com a presença do diretor. É importante ressaltar o papel da pedagoga dentro desse processo de Conselho de Classe. Verificamos que essa exercia verdadeiramente o papel de articulação entre professores e alunos. A pedagoga acompanhava a situação escolar, familiar e de saúde dos alunos que tinham alguma dificuldade de aprendizagem. Em muitos dos casos os

174 pais ou responsáveis eram convocados pela escola e não compareciam. Esse acompanhamento é fundamental para que os alunos com dificuldades de aprendizagem atinjam níveis satisfatórios de aprendizado, o qual é o objetivo central da organização escolar. Podemos afirmar que esse é ponto positivo da profissão segundo Vasconcellos (2007). Para este autor a definição positiva do papel do pedagogo na escola compreende a coordenação pedagógica como articuladora do Projeto Político Pedagógico, organizando a reflexão, a participação e os meios para a concretização do mesmo, de tal forma que a escola possa cumprir sua tarefa de propiciar que todos os alunos aprendam e se desenvolvam como seres humanos plenos, partindo do pressuposto de que todos têm direito e são capazes de aprender. Portanto, cabe à equipe pedagógica da escola a sistematização e integração do trabalho, partindo do princípio de que o pedagogo é um professor mais experiente e mais informado, que orienta outro professor ou candidato a professor no seu desenvolvimento humano e profissional. Para tanto, o pedagogo não deve perder de vista sua função enquanto educador e como tal deve estar no combate a tudo aquilo que desumaniza a escola: a reprodução da ideologia dominante, o autoritarismo, o conhecimento desvinculado da realidade, a evasão, a lógica classificatória e excludente (repetência ou aprovação sem apropriação do saber), a discriminação social e da escola, dentre outros. Deve trabalhar em parceria com os professores, discutindo com eles os problemas e buscando soluções, conhecendo as crianças com suas especificidades. No entanto, o papel de articulador do pedagogo visando o aprendizado dos alunos não se dá sem embates no processo do Conselho de Classe. Percebemos esse fato numa experiência do Estágio Curricular Supervisionado de Gestão II, na Oficina sobre Conselho de Classe, ministrada por uma professora pedagoga de um grande colégio público de Maringá. Só para termos a dimensão do desafio da organização dos trabalhos pedagógicos, a pedagoga explicou que o colégio atendia cerca de três mil alunos, por meio de trinta e três salas no período matutino e trinta e três salas no período vespertino, sem considerar os projetos desenvolvidos pela escola. Para atender a toda esta demanda, trabalhavam na escola, na época nove pedagogos.

175 Ela nos relatou as dificuldades encontradas para mediar o processo de Conselho de Classe numa escola que atende um enorme contingente de alunos e projetos, contando com grande número de professores e de pedagogos. Torna-se um desafio organizar o trabalho coletivo dos pedagogos e dos professores que em alguns momentos apresentam dificuldade para trabalhar em equipe e ter um diálogo interdisciplinar no Conselho de Classe. Conforme nos relatou, é o momento da explicitação dos conflitos, alguns professores abandonam a sala de reunião do Conselho de Classe. Com certeza, o trabalho do pedagogo enquanto mediador não se dá sem dificuldades, tanto com professores, quanto com alunos, pais, funcionários e direção. No entanto, esse é o desafio maior: a organização do trabalho coletivo na escola que vise o aprendizado do aluno, expresso no projeto coletivo. Outra experiência interessante acerca do Conselho de Classe aconteceu numa das escolas de ensino fundamental observadas, em Cianorte Paraná, na qual pudemos perceber também nessa escola o trabalho de mediação da pedagoga, em especial com o Conselho de Classe. Em seu trabalho ela realizava um acompanhamento interessante com alunos e professores, no qual seu foco principal é o acompanhamento do aluno em relação às disciplinas e essa tarefa é realizada por meio de questionários que ela elabora para os alunos antes do conselho de classe. Após a coleta desses dados ela sistematiza por meio de gráficos que são apresentados no conselho de classe para todos os professores pensarem a respeito. Após o Conselho, ela dá um retorno para os alunos em sala de aula para explicitar aos alunos o rendimento escolar e discutir as possibilidades de superação dos problemas identificados. Tudo isso ela fazia com muito cuidado e sempre em interação com os alunos sobre o que deve ser mudado. Tivemos a oportunidade de acompanhar o momento da conversa dela com os alunos, foi uma experiência bem interessante para nossa formação acadêmica. Em sua fala, ela procurava estimular o estudo em casa. Também ficou evidente no diálogo estabelecido em que ela procurava entender os dois lados, ou seja, a pedagoga queria ouvir dos alunos a percepção deles sobre a metodologia utilizada pelos professores nas disciplinas, cujo índice de notas baixas era maior. É preciso dizer que não se atinge a totalidade dos alunos, pois alguns alunos ficam alheios à conversa.

176 Apesar desse trabalho de mediação a pedagoga nos relatou que apesar da instituição ter um nível econômico médio, é grande as dificuldades com disciplina e notas dos alunos. Tudo o que acontece na escola passa pelos cuidados das três pedagogas, três no período matutino, uma no período vespertino e duas no período noturno; e essa é uma das dificuldades apontadas pela professora-pedagoga, pois ela tinha quatro turmas para trabalhar, já que ela era a única pedagoga do período vespertino. No dia-a-dia, a pedagoga é sempre solicitada para comparecer em alguma sala, resolver algum problema e atender os pais que procuram pela escola. Ficou perceptível que a rotina dela é bem dinâmica e corresponde de certo modo, a denominação do pedagogo como bombeiro, como afirma Vasconcellos (2007). 3.2 O PEDAGOGO NA GESTÃO EDUCACIONAL Se a gestão escolar se situa no campo micro, a gestão educacional se situa no campo macro. [...] a gestão educacional refere-se a um amplo espectro de iniciativas desenvolvidas pelas diferentes instâncias de governo, seja em termos de responsabilidades compartilhadas na oferta de ensino, ou de outras ações que desenvolvem em suas áreas específicas de atuação (VIEIRA, 2007, p. 63). Em nosso país, a gestão educacional se estabelece por meio da organização de seus sistemas de ensino, na esfera federal, estadual e municipal, sendo distribuídas incumbências à União, aos Estados e aos Municípios, como também se expressa nas diferentes formas de articulação entre as instâncias normativas, deliberativas e executivas do setor educacional e por fim, na oferta de educação pela iniciativa privada e pública. No âmbito do Poder Público, a educação é tarefa compartilhada entre a União, os Estados, o Distrito Federal (DF) e os Municípios, sendo organizada sob a forma de regime de colaboração (CF, Art. 211 e LDB, Art. 8º). As competências e atribuições dos diferentes entes federativos foram explicitadas através de Emenda Constitucional (EC n. 14/96, Art. 3º) e detalhadas pela LDB (Art. 9º, 10, 11, 16, 17, 18 e

177 67). A educação básica [...], é uma atribuição dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (VIEIRA, 2007, p. 60). Desse modo, o Município é responsável pela oferta das séries iniciais do ensino fundamental e educação infantil e o Estado responsável pelas séries finais do ensino fundamental e ensino médio. No entanto, nem sempre a prática ocorre conforme a teoria: Se em tese assim se organiza a gestão educacional, na prática esta é atravessada por aqueles elementos antes referidos: as condições de implementação, que demandam disponibilidade financeira (capital e custeio), recursos humanos e outras condições materiais e imateriais. A gestão educacional também depende de circunstâncias políticas e envolve constante negociação e conflito. (VIEIRA, 2007, p. 61). Como a autora afirma, a gestão educacional envolve uma atitude de intensa negociação e resolução de conflitos. É nesse âmbito que se situa a atuação do pedagogo, visando à organização dos trabalhos, a fim de que na escola se possa alcançar um ensino de qualidade para todos. Portanto, cabe ao pedagogo, ou à equipe pedagógica, o trabalho de mediação, ou seja, cabe ao pedagogo a prática da negociação, como também gerir os conflitos. Por meio do Estágio Curricular Supervisionado de Gestão II pudemos visualizar a gestão educacional em um sistema de educação municipal, por meio da visita à Secretaria Municipal de Educação de Cianorte, e em um estadual, por meio da visita ao Núcleo Regional de Educação de Cianorte. Notamos que, para que o trabalho pedagógico aconteça de fato, é necessário o trabalho em equipe de um grupo de pedagogos ou professores, ou seja, a equipe pedagógica. Percebemos que o trabalho nesses dois âmbitos se concentra no acompanhamento às escolas, mediação entre políticas educacionais nacionais, como os planos, diretrizes e bases para a educação aprovadas pela União ou Estado, e implantação na escola, bem como a implantação de parâmetros a serem seguidos nos sistemas municipais e estaduais de ensino.

178 É preciso ressaltar que o trabalho em equipe nestas instâncias da gestão educacional faz toda diferença. Por ocasião da visita à Secretaria Municipal de Educação e ao Núcleo Regional de Educação. Em especial na visita ao Núcleo Regional de Educação percebemos grande interação da equipe, percebido na segurança demonstrada no esclarecimento das dúvidas, evidenciando o trabalho em equipe, apesar de que nem todos os professores que nos atenderam eram pedagogos, mas pertenciam à equipe pedagógica e acompanhavam o trabalho pedagógico. Foi perceptível o trabalho em equipe, pois mesmo sendo responsável por áreas diferentes, um professor ajudava o colega a expor o seu trabalho. Por meio dessas visitas e dos estudos teóricos sobre a Gestão Educacional pudemos perceber que o trabalho dos pedagogos, ou da equipe pedagógica se situa na mediação entre as políticas da União e do Estado e a sua implementação na escola. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio dos Estágios Curriculares Supervisionados de Gestão I e II do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá, no Campus Regional de Cianorte, ocorridos em 2009 e 2010 respectivamente, pudemos visualizar na prática a atuação do pedagogo que discutíamos em sala, na teoria. À luz das discussões realizadas no percorrer da graduação, pudemos perceber que a atuação do pedagogo, apesar de todas as atribuições que lhe são conferidas, é essencialmente mediadora, tanto no âmbito da gestão escolar, como na gestão educacional. Na gestão escolar, a mediação do pedagogo se dá entre professores e alunos, alunos e administração, professores e administração, objetivando o aprendizado dos alunos. Na gestão educacional, a mediação do pedagogo acontece entre as políticas estaduais e nacionais para a educação e a implantação dessas na escola. O trabalho do pedagogo é a mediação, mesmo em âmbitos e situações diferente, mas ambos devem mediar para um mesmo fim, a saber, a educação de qualidade para todos.

179 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: Texto Constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988 com as alterações adotadas pelas emendas constitucionais Nº. 1/92 a 53/2006 e pelas emendas constitucionais de revisão Nº 1 a 6/96. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2007. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Lei 9394/96. Brasília, DF: Gabinete do Senador Flávio Arns, 1996. BRASIL, Resolução CNE/CP 1/2006. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia. Diário Oficial da União, 16/05/2006. LIBÂNEO, José Carlos. Organização e Gestão da Escola: teoria e prática. 5. ed. Goiânia: Alternativa, 2004. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Edital nº. 10/2007. 2007. Disponível em: <http://www.nc.ufpr.br/concursos_externos/seed2007/documentos/edital_102007_peda gogo.pdf>. Acesso em: out. 2010. OLIVEIRA, Dalila Andrade. A Gestão Democrática da Educação no Contexto da Reforma do Estado. In: FERREIRA, Naura Syria Carapeto; AGUIAR, Márcia Angela da S. (Org.). Gestão da Educação: impasses, perspectivas e compromissos. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2006. p. 91-112. VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Sobre o Papel de Supervisão Educacional/Coordenação Pedagógica. Coordenação do Trabalho Pedagógico: do projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula. 8. ed. São Paulo: Libertad Editora, 2007, p. 84 117. VIEIRA, Sofia Lerche. Política(s) e gestão da educação básica: revisitando conceito simples. Revista Brasileira de Política e Administração da Educação, v. 23, n. 1, p. 53 69, jan/abr, 2007.