Estudo comparativo dos Currículos de Matemática entre Brasil e Paraguai

Documentos relacionados
IMPACTOS DE ESTUDOS DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NA ORGANIZAÇÃO CURRICULAR DE PAÍSES LATINO-AMERICANOS

A CONTEXTUALIZAÇÃO COMO AGENTE FACILITADOR NO PROCESSO ENSINO E APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA

REGULAMENTO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO. Licenciatura EM educação básica intercultural TÍTULO I DA CARACTERIZAÇÃO

REFLETINDO UM POUCO MAIS SOBRE OS PCN E A FÍSICA

BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR 2ª versão A ÁREA DE MATEMÁTICA NO ENSINO FUNDAMENTAL

VISÃO GERAL DA DISCIPLINA

PREFEITURA MUNICIPAL DE BELÉM SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO - SEMEC CONCURSO PÚBLICO N.º 01/2011

SEDUC SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO ESCOLA ESTADUAL DOMINGOS BRIANTE ELIANE CALHEIROS

REGULAMENTO DO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA CAPITULO I - DA NATUREZA E DOS OBJETIVOS

MATEMÁTICA, AGROPECUÁRIA E SUAS MÚLTIPLAS APLICAÇÕES. Palavras-chave: Matemática; Agropecuária; Interdisciplinaridade; Caderno Temático.

CURRÍCULO ESCOLAR VMSIMULADOS

Plano de Trabalho Docente Ensino Médio. Habilitação Profissional: Técnico em informática para Internet Integrado ao Ensino Médio

Professores do PED criam Mestrado Profissional em Educação: Formação de Formadores. Marli Eliza Dalmazo Afonso de André

O PLANEJAMENTO DA PRÁTICA DOCENTE: PLANO DE ENSINO E ORGANIZAÇÃO DA AULA

NÚCLEO TEMÁTICO I CONCEPÇÃO E METODOLOGIA DE ESTUDOS EM EaD

Avaliação Nacional da Alfabetização ANA

Avaliação da Educação Básica em Nível Estadual

PROGRAMA DE DISCIPLINA

Escola Superior de Educação Instituto Politécnico de Bragança. Mestrado Educação Pré-Escolar e Professor do 1.º Ciclo do Ensino Básico

N Disciplina Nº CR C. H. Conteúdo Natureza. Introdução a EAD 4 60 DP Mód. 1 Obrigatória. Introdução à Filosofia 4 60 FG Mód.

APOIO AO ESTUDO 1º CICLO LINHAS ORIENTADORAS 2015/ INTRODUÇÃO

Aprovação do curso e Autorização da oferta

Teste Cognitivo do Programa Brasil Alfabetizado (Leitura, escrita e matemática)

ESTÁGIO DE PORTUGUÊS II. Aula

ANEXO I UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE UNIVILLE COLÉGIO DA UNIVILLE PLANEJAMENTO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

Agrupamento de Escolas de Pinheiro Manual de Supervisão Pedagógica INTRODUÇÃO

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS ELIAS GARCIA CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR

Conhecimentos específicos matemáticos de professores dos anos iniciais: discutindo os diferentes significados do sinal de igualdade

A INVESTIGAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Documento Base (Formulação Preliminar) Comissão SEB/MEC - Fev/2016

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DO 1º CICLO

SÍNTESE PROJETO PEDAGÓGICO. Missão

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

FUNDAMENTOS DA SUPERVISÃO ESCOLAR

Plano de Trabalho Docente Ensino Técnico

Educação Pré-Escolar

PARA ELABORAÇÃO DE PROJETOS PROGRAMA LICENCIAR VIVENCIANDO A LICENCIATURA!

Fundação Darcy Ribeiro

Plano de Ações de Melhoria

Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Departamento Regional de São Paulo

DIRETRIZES PARA A DISCIPLINA DE PRÁTICA PEDAGÓGICA

Licenciatura em Ciências Exatas Revisão 3 REGULAMENTO DE ESTÁGIO NÃO OBRIGATÓRIO

A MATEMÁTICA NO COTIDIANO: UMA ABORDAGEM PRÁTICA NO ESTUDO DOS NÚMEROS INTEIROS

CURSOS / OFICINAS DE ENSINO 1º SEMESTRE 2017 (2016.2)

DCN DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS

SABERES DOCENTES NECESSÁRIOS À PRÁTICA PEDAGÓGICA DOS PROFESSORES DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE UMA UNIVERSIDADE FEDERAL TECNOLÓGICA

CONSTRUINDO UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA SOBRE NÚMEROS COMPLEXOS POR MEIO DE PLANILHAS ELETRÔNICAS

Local: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - Campus Marquês de

REGULAMENTO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO DO CURSOS DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA UTFPR-DV

Aula 1 O processo educativo: a Escola, a Educação e a Didática. Profª. M.e Cláudia Benedetti

Autores: CHRISTIANE CABRAL E HUGO RODRIGUES

Palavras-Chave: Prática Formativa. Desenvolvimento Profissional. Pibid.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA CEDUC CURSO DE PEDAGOGIA DISCIPLINA: TIC S PROFESSORA: TERESA KÁTIA ALBUQUERQUE TV ESCOLA UM SALTO PARA O FUTURO

TEXTO 2 EDUCAÇÃO DE QUALIDADE UM DIREITO SOCIAL

FACULDADE EDUCACIONAL ARAUCÁRIA CURSO DE PEDAGOGIA. PORTARIA NORMATIVA 3, de 18 de fevereiro de 2010.

Miguel Dias. Como elaborar um projeto de pesquisa para TCC.

Investigação sobre o conhecimento e a formação de professores Síntese da discussão do grupo temático

PROJETO ESPECIAL DE AÇÃO

Plano de Ensino Docente

ESTRUTURA, FORMATO E OBJETIVOS DA ESCOLA DE PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO (EPEM)

NA MATEMÁTICA TU CONTAS

promovam a reflexão sobre temáticas fundamentais relacionadas com a aprendizagem da Matemática.

Plano de Trabalho Docente Ensino Técnico

Aluno(a): / / Cidade Polo: CPF: Curso: ATIVIDADE AVALIATIVA ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA

Plano de Trabalho Docente Ensino Técnico

ORIENTAÇO ES PARA DESENVOLVIMENTO DO PROJETO DE INTERVENÇA O

Educador A PROFISSÃO DE TODOS OS FUTUROS. Uma instituição do grupo

Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Departamento Regional de São Paulo

RESOLUÇÃO Nº 142-CONSELHO SUPERIOR, de 26 de setembro de 2013.

Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Departamento Regional de São Paulo

MOVIMENTO DA ESCOLA MODERNA

Ensino Técnico Integrado ao Médio

A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO PLANO DE AÇÕES ARTICULADAS (PAR) NO MUNICÍPIO DE SANTA INÊS/MA: OS DESAFIOS DA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES

ENSINANDO UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA PARA ALUNOS SURDOS: SABERES E PRÁTICAS

Avanços, obstáculos e superação de obstáculos no ensino de português no. Brasil nos últimos 10 anos 1 Tânia Maria Moreira 2

TERMO DE REFERÊNCIA 04/2010

PROGRAMA DE DISCIPLINA

Limites e possibilidades de uma política pública de avaliação da educação profissional e tecnológica na perspectiva emancipatória

Contribuições dos Mestrados Profissionais em ensino para a formação de professores em Física

Acreditamos no seu envolvimento e dedicação à sua realização e confiamos no seu sucesso.

CURSO DE PEDAGOGIA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO - TCC REGULAMENTO

RELAÇÃO ENTRE A CONTEXTUALIZAÇÃO E A EXPERIMENTAÇÃO ACERCA DAS QUESTÕES DO ENEM EM QUÍMICA

O LIVRO DIDÁTICO NAS AULAS DE MATEMÁTICA: UM ESTUDO A PARTIR DAS CONCEPÇÕES DOS PROFESSORES. Introdução

Estágio - Experimento Didático. Câmpus Camboriú

CARGA HORÁRIA SEMANAL: 04 CRÉDITO: 04 CARGA HORÁRIA SEMESTRAL: 60 NOME DA DISCIPLINA: FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DA HISTÓRIA

Fonte [1] A LDB, nos artigos 22 a 38, detalha no Capítulo II a Educação Básica (EB), a qual, consoante o art. 22, objetiva, in verbis, (...) desenvolv

Diretoria de Ensino Região de São Bernardo do Campo Núcleo Pedagógico

Curso de Especialização Lato Sensu - Ensino de Ciências - EaD

PROJETO: OPERAÇÕES COM NÚMEROS DECIMAIS

A UTILIZAÇÃO DO JOGO BINGO DOS ELEMENTOS QUÍMICOS COMO RECURSO DIDÁTICO NO ENSINO DE QUÍMICA

Perspectivas de reestruturação do Ensino Médio no Brasil: a visão do Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação CONSED

Ensino Técnico Integrado ao Médio

Diretrizes curriculares nacionais e os projetos pedagógicos dos cursos de graduação

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA

Controle estatístico de processo na Indústria Têxtil

META Apresentar os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio Matemática

MatDigital Projeto Klein Livro Companheiro

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO

PLANEJAR: atividade intencional > tomada de decisões

- estabelecer um ambiente de relações interpessoais que possibilitem e potencializem

Transcrição:

Estudo comparativo dos Currículos de Matemática entre Brasil e Paraguai Marcelo de Oliveira Dias 1 Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Brasil marufrrj@hotmail.com Resumo A presente investigação, em nível de doutorado, insere-se no contexto dos estudos comparativos sobre organização e desenvolvimento curricular e formação de professores, na área de Educação Matemática no Brasil e na Paraguai. Por meio de pesquisa qualitativa, busca a assimilação dos resultados de pesquisa em Educação Matemática nos documentos oficiais desses países, elaborados a partir dos anos 90 do século passado. Palavras-chave: Educação Matemática, Currículo de Matemática; Formação de Professores; Sistemas Educativos do Brasil e Paraguai. 1-Apresentação A presente investigação, em nível de doutorado, tem como objetivo desenvolver análises comparativas sobre Currículos de Matemática para a Educação Básica e Formação de Professores de Matemática do Brasil e do Paraguai e a importância de buscar soluções para problemas desafiadores relativos à elaboração curricular. Neste pôster apresentamos os resultados referentes à análise documental da pesquisa qualitativa que está em andamento. 2-Justificativa e relevância A investigação sobre os currículos prescritos de Brasil e Paraguai justifica-se pelo fato de a própria Constituição Federal Brasileira de 1988, no seu parágrafo único do art. 4º, destacar a importância de uma integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latinoamericana de nações. No Brasil, a LDBEN (1996) e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica (2001) constituem marcos importantes no sentido de indicar a necessidade de melhorar a qualificação docente. Essas Diretrizes procuram contemplar resultados de pesquisa sobre formação que professores. Nas ultimas décadas, mundialmente, ampliaram-se as investigações sobre a formação de professores e chegam trabalhos de diferentes partes do mundo, assinados por autores como Schön, Ball, Shulman, Perrenoud, Tardif, Ponte, Serrazina, contribuindo para desencadear ampla produção sobre o tema, também no Brasil. 1 Doutorando do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Sob orientação da Drª Célia Carolino Carolino Pires, coordenadora do Grupo Desenvolvimento Curricular em Matemática e Formação de Professores.

3-Referenciais Teóricos Segundo Garcia (1999) a formação de professores é a área de conhecimentos, investigação e de propostas teóricas e práticas que, no âmbito da Didática e da Organização Escolar estuda os processos por meio dos quais os professores em formação ou em exercício se implicam individualmente ou em equipe, em experiências de aprendizagem, através das quais adquirem ou melhoram os seus conhecimentos, competências e disposições, e que lhes permite intervir profissionalmente, com melhor qualidade. Shulman (1983) considera que cada área do conhecimento tem uma especificidade própria que justifica a necessidade de se estudar o conhecimento do professor tendo em vista a disciplina que ele ensina. Ele identifica três vertentes no conhecimento do professor, quando se refere ao conhecimento da disciplina para ensinála: o conhecimento do conteúdo da disciplina, o conhecimento didático do conteúdo da disciplina e o conhecimento do currículo. E afirma que, se o conhecimento do conteúdo da disciplina a ser ensinada envolve a compreensão e a organização da disciplina, o professor deve apropriar-se da disciplina que vai ensinar a partir de diferentes perspectivas e estabelecer relações entre vários tópicos do conteúdo disciplinar e entre sua disciplina e outras áreas do conhecimento. Mesmo com o avanço das pesquisas na área de formação de professores, ainda há poucos estudos referentes à questão: qual o papel e qual a participação dos professores de Matemática no processo de organização e desenvolvimento curricular dessa disciplina? 4- Objetivos São objetivos da investigação comparativa dos sistemas educativos do Brasil e do Paraguai: Identificar aspectos comuns e especificidades dos currículos de Matemática organizados no Brasil e no Paraguai e as formas de organização. Buscar dados que evidenciem a adesão ou a rejeição dos professores de Matemática às orientações curriculares prescritas nos documentos oficiais. Buscar dados referentes aos currículos que realmente se efetivem nas salas de aula. Identificar semelhanças e diferenças entre materiais didáticos utilizados nesses países Identificar natureza, conteúdo e processos de desenvolvimento do conhecimento profissional de professores de Matemática, a partir da comparação entre os diferentes contextos de atuação. Identificar como e se efetiva a articulação entre as três vertentes do conhecimento do professor, quando se refere ao conhecimento do conteúdo da disciplina, ao conhecimento didático do conteúdo da disciplina e ao conhecimento do currículo. 5- Fontes, procedimentos e etapas

Neste pôster, apresentamos resultados da primeira etapa da pesquisa qualitativa, que situam os currículos prescritos pelos países pesquisados para o nível de educação básica. Por meio de uma análise documental ainda incipiente, procuramos nos documentos oficiais as recomendações metodológicas acerca do ensino e aprendizagem de matemática nesses países, os princípios do currículo prescrito. Esses resultados serão complementados mais adiante de forma mais concisa e em uma segunda etapa será realizada uma pesquisa de campo, com profissionais que atuam nos diferentes níveis dos sistemas educativos dos países pesquisados, planejada para identificar como vem sendo a implementação de tais currículos, identificar as recomendações metodológicas apontadas nos documentos oficiais. 6-A Educação Básica no Brasil e Paraguai Apresentamos a seguir, uma síntese dos resultados da análise documental inicial realizada em documentos oficiais e na legislação dos países pesquisados, visando à caracterização da estrutura da Educação Básica: Quadro I: A educação básica no Brasil e no Paraguai No Brasil, a educação básica compreende doze anos, dividida em educação infantil de cinco anos, ensino fundamental de nove anos, de acordo com Lei nº 11.274, de 06/02/2006, e ensino médio de três anos regular ou profissionalizante. O ensino fundamental é subdividido em dois ciclos: I, cinco anos, e II, quatro anos. A Educação Básica compreende 9 anos e é obrigatória No Paraguai, a Educação Formal se estrutura, de acordo com a Lei 1.264, é composta por 3 níveis(artigo27): o 1º nível compreenderá a Educação Inicial e a educação Escolar Básica, o segundo Nível a Educação Média e o 3º nível a Educação Superior. A Educação Inicial (artigo 29) compreenderá 2 ciclos. O 1º se estenderá até os 3 anos e o 2º até os quatro anos. A pré-escola, na idade de 5 anos pertencerá sistematicamente a educação escolar básica e será incluída na Educação Escolar Obrigatória. A Educação Básica compreende 9 anos e é obrigatória. 7-Programa Curricular de Matemática do Ensino Fundamental No Brasil, a elaboração do currículo prescrito de matemática ocorre em três níveis autônomos: federal, estadual, municipal. No nível federal, ao apresentar aos educadores brasileiros os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), a intenção do MEC era fornecer elementos de discussão para: a) ampliar o debate nacional sobre o ensino de Matemática e socializar informações, resultados de pesquisas, levando-as ao conjunto dos professores brasileiros, para que

possam projetar seu trabalho de forma a reverter o quadro atual, que torna essa disciplina altamente seletiva e muito pouco atraente aos alunos; b) construir um referencial que oriente a prática escolar de forma a garantir, a toda criança brasileira, o acesso a um conhecimento matemático que lhe possibilite de fato sua inserção, como cidadã, no mundo do trabalho, das relações sociais e da cultura; c) nortear a formação inicial e continuada de professores (na medida em que se tornam claros os fundamentos do currículo ficam implícitos o tipo de formação que se pretende para o professor); e d) para orientar a produção de livros e de outros materiais didáticos, contribuindo dessa forma, para a configuração de uma política voltada à melhoria do ensino fundamental. No Paraguai a dimensão curricular da Matemática inclui conhecimentos, habilidades, atitudes, ações e valores provenientes dos diversos campos do conhecimento, estes se organizam em um conjunto de áreas e disciplinas que variam de um ciclo a outro. Esse componente promove acesso à cultura sistematizada, fornece fundamentos teóricos e práticos para resolver problemas da vida cotidiana, permitindo assim melhorar a qualidade da vida pessoal e social dos educandos. A matemática deve permitir ao estudante elaborar conceitos e relações do pensamento para a resolução de problemas matemáticos e não-matemáticos da vida cotidiana. Na dimensão pedagógica a educação básica do Paraguai se anuncia sustentada em princípios curriculares que propõem: a) a participação de diferentes setores da comunidade na tarefa educativa; b) a promoção de uma aprendizagem centrada no aluno que atenda suas características, seu desenvolvimento e o contexto em que se opera. c) Ressalta também, a necessidade permanente da aprendizagem significativa, a educação de valores, atividades lúdicas, desenvolvimento da criatividade dos educandos e a integração da avaliação como processo contínuo e formativo, estes aspectos são os eixos transversais do currículo paraguaio. Os conhecimentos abordados em cada uma das áreas não são vistos como finalidades da educação escolar, já que se efetivam dentro de um espaço local, que supõe o interesse da comunidade, isto implica que o que é abordado em cada área permeia não só o componente fundamental, mas também deve ser útil e mostrar seus benefícios a serviço da comunidade. No que se refere à área de Matemática no Ensino Fundamental, as discussões curriculares no Brasil são, de certo modo, uma conseqüência das iniciadas na década de 1980, em que as críticas ao ensino de Matemática se intensificaram, mas concretizadas nos anos 1990. Tais críticas centravam-se na preocupação excessiva com o treino de habilidades, com a mecanização de algoritmos, com a memorização de regras e esquemas de resolução de problemas, com a repetição e a imitação. Os PCN apontavam ainda como problemas a serem enfrentados, a priorização dos temas algébricos e a redução ou, muitas vezes, eliminação do trabalho com a Geometria. Destacavam também a tentativa de se exigir do aluno uma formalização precoce e um nível de abstração em desacordo com seu amadurecimento. No Brasil, ao definir os objetivos do ensino de Matemática para o ensino fundamental os PCN explicitam e ampliam o papel da Matemática na educação básica, destacando a importância de o aluno valorizá-la como instrumental para compreender o mundo à sua volta. Enfatizam a importância de que o aluno aprenda a utilizar conceitos e procedimentos matemáticos, bem como instrumentos tecnológicos disponíveis, para resolver situações-problema e, também, a comunicar-se matematicamente e argumentar sobre suas conjecturas.

O Quadro II resume as comparações dos dois currículos: Quadro II- Blocos de Conteúdos curriculares prescritos-organização dos PCN s. Números e Operações; Espaço e Forma Grandezas e Medidas; Tratamento da Informação. Para os 6 primeiros anos do Ensino Fundamental(1º e 2º ciclos) Números e Operações; Geometria e Medida; Os dados e a Estatística. Para os 3 últimos anos do Ensino Fundamental(3º ciclo) Operações e Expressões Algébricas; Geometria e Medidas; Os Dados e a Estatística. 8- Considerações finais Os resultados da pesquisa documental sugerem que os currículos prescritos do Brasil inovações e do Paraguai ainda está a caminho de tais inovações.em ambos os países é fundamental que a implementação do currículo prescrito implicaria uma mudança do papel do professor, colocando desafios para a formação inicial e continuada do professor de matemática. A pesquisa de campo, próxima etapa de nossa investigação, precisa responder às questões: Como se dá o processo de implementação curricular nesses países? Qual a participação dos professores de Matemática na implementação dos currículos prescritos? Que currículos estão de fato sendo realizados em sala de aula? A busca de respostas a essas questões conduzirão a partir daqui nossas reflexões sobre os impactos da Educação Matemática nos Currículos Prescritos e Praticados de Brasil e Paraguai. Referências Bibliográficas Garcia, C.M. (1998). Formação de Professores para uma mudança educativa. Porto, Portugal. Maldonado, D.B., Solsona, M.V. (2005). Al segundo estudio regionalcomparativo y explicativo (serce): análisis curricular. Colômbia. Disponível em: http://www.oei.es/evaluacioneducativa/analisis_curricular_serce.pdf. Último acesso: 12/01/2011 Ministério da Educação. BRASIL. (1997) Secretaria do Ensino Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Matemática. 1º e 2º ciclos.

Ministerio de educación y cultura. Paraguay. Ley n 1.264 general de educación. El congreso de la nacion paraguaya sanciona con fuerza de ley. Disponível em: http://www.mec.gov.py/cms. Último acesso: 12/01/2011 Paes, L.C. (2008). Didática da Matemática: uma análise da influência francesa. Belo Horizonte: Autêntica. Pires, C.M.C. (2008). Educação Matemática e sua Influência no Processo de Organização e Desenvolvimento Curricular no Brasil. In: Bolema. (SP), Ano 21, nº 29, 1-42. Shulman, Lee. (1992). Renewing the pedagogy of teacher education: the impact of subject specific conceptions of teaching. In: Mesa, L.M. ; Jeremias, J.M.V.. Lãs didácticas específicas em la formación del profesorado. Santiago de Compostela; Tórculo..