Perfil bioquímico sérico em porcas no terço final de gestação - Serum biochemistry profile in sows in final third of pregnancy

Documentos relacionados
Interpretação de Exames Laboratoriais para Doença Renal

Pr P o r f o a f Al A essan a d n r d a r a B ar a o r n o e n

DETERMINAÇÃO DOS VALORES DE REFERÊNCIA PARA URÉIA E CREATININA SÉRICAS EM EQÜINOS.

CURSO DE FARMÁCIA Reconhecido pela Portaria MEC nº 220 de , DOU de PLANO DE CURSO. Componente Curricular: Bioquímica I

AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA NO IDOSO

Regulação Endócrina do metabolismo do cálcio e do fosfato

Perfil Hepático FÍGADO. Indicações. Alguns termos importantes

AVALIAÇÃO LABORATORIAL DO FIGADO Silvia Regina Ricci Lucas

4/19/2007 Fisiologia Animal - Arlindo Moura 1

13. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 1

Catabolismode aminoácidos. Aula anterior...

PLANO DE ENSINO I - IDENTIFICAÇÃO

METABOLISMO ENERGÉTICO integração e regulação alimentado jejum catabólitos urinários. Bioquímica. Profa. Dra. Celene Fernandes Bernardes

Campus de Botucatu PLANO DE ENSINO ( X ) OBRIGATÓRIA DO NÚCLEO COMUM DOCENTE RESPONSÁVEL : ANA CATARINA CATANEO

DIGESTÃO DOS LIPÍDIOS

Gliconeogênese. Gliconeogênese. Órgãos e gliconeogênese. Fontes de Glicose. Gliconeogênese. Gliconeogênese Metabolismo dos aminoácidos Ciclo da Uréia

Epinefrina, glucagon e insulina. Hormônios com papéis fundamentais na regulação do metabolismo

30/05/2017. Metabolismo: soma de todas as transformações químicas que ocorrem em uma célula ou organismo por meio de reações catalisadas por enzimas

A ORGANIZAÇÃO DO SER VIVO

Metabolismo de PROTEÍNAS

PERFIL BIOQUÍMICO DE CABRAS LACTANTES DAS RAÇAS SAANEN E ANGLO-NUBIANA ABSTRACT

BIOLOGIA MOLECULAR. Água, Sais Minerais, Glicídios e Lipídios. Biologia Frente A Laís Oya

EXAMES BIOQUÍMICOS. Profa Dra Sandra Zeitoun Aula 3

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS PROGRAMA DE ENSINO DE DISCIPLINA

21/10/2014. Referências Bibliográficas. Produção de ATP. Substratos Energéticos. Lipídeos Características. Lipídeos Papel no Corpo

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS PROGRAMA DE ENSINO DE DISCIPLINA

NÍVEIS DE UREIA, CREATININA E GLICOSE SANGUÍNEA E URINÁRIA DE VACAS HOLANDESAS SUBMETIDAS À DIETA COM ALTA PROTEÍNA 1

BE066 - Fisiologia do Exercício BE066 Fisiologia do Exercício. Bioenergética. Sergio Gregorio da Silva, PhD

Colheita e manuseamento de fluidos biológicos

Fisiologia celular I. Fisiologia Prof. Msc Brunno Macedo

Corpos cetônicos e Biossíntese de Triacilglicerois

Pontifícia Universidade Católica de Goiás Departamento de Biologia Bioquímica Metabólica ENZIMAS

BIOQUÍMICA - composição química das células

Metabolismo e produção de calor

NERVITON MEGA Ômega Vitaminas + 8 Minerais

BIOENERGÉTICA. O que é Bioenergética? ENERGIA. Trabalho Biológico

Bioquímica Celular (parte II) Lipídios Proteínas Vitaminas Ácidos Nucléicos

Nutrientes. Leonardo Pozza dos Santos

Profa. Angélica Pinho Zootecnista. Dpto de Zootecnia Fones:

Programa Analítico de Disciplina VET362 Laboratório Clínico Veterinário

Bioquímica: Componentes orgânicos e inorgânicos necessários à vida. Leandro Pereira Canuto

TRABALHO DE BIOLOGIA QUÍMICA DA VIDA

BIOENERGÉTICA. O que é Bioenergética? ENERGIA. Ramo da biologia próximo da bioquímica que

AZ Vit. Ficha técnica. Suplemento Vitamínico Mineral. REGISTRO: Isento de Registro no M.S. conforme Resolução - RDC n 27/10.

Biodisponibilidade de fósforo em fosfatos determinados em rações para suínos de alto potencial genético para deposição de carne, dos 15 aos 30 kg

DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO PLASMÁTICA DE TRIGLICÉRIDOS E COLESTEROL

INTRODUÇÃO À BIOQUÍMICA DA CÉLULA. Bioquímica Celular Prof. Júnior

ALBUMINA. Proteína do ovo como suplemento

COMPONENTES ORGÂNICOS: CARBOIDRATOS. Glicídios ou Açúcares

Determinação de parâmetros bioquímicos algumas considerações

O papel da suplementação na Pecuária Leiteira

Vinícius Reis Batista Acadêmico do 4 período de Medicina Orientador: Wanderson Tassi

NUTRIÇÃO E SUAS DEFINIÇÕES

Efeito da Tecnologia do Consórcio Probiótico (TCP) na eficiência de alimentação e metabólitos séricos em frangos com a Suplementação Bokashi

Biologia. Alexandre Bandeira (Julio Junior) Membrana e Organelas

BIOVESTIBA.NET BIOLOGIA VIRTUAL Profº Fernando Teixeira UFRGS BIOQUÍMICA

Metabolismo Energético em Ruminates. Integrantes: Êmili H, Mariéli M. e Theline R.

Pâncreas Endócrino Controle da glicemia

PLANO DE CURSO. 1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO Curso: Bacharelado em Enfermagem Disciplina: Fisiologia e Biofísica

ESTUDO DO PERFIL LIPÍDICO DE INDIVÍDUOS DO MUNICÍPIO DE MIRANDOPOLIS/SP

Bioquímica Celular. LIVRO CITOLOGIA Capítulo 02 Itens 1 a 3 págs. 19 a 30. 3ª Série Profª Priscila F Binatto Fev/2013

Digestão, absorção e transporte plasmático dos lipídeos -lipoproteínas- Bioquímica. Profa. Dra. Celene Fernandes Bernardes

GUIA DE ESTUDOS INSULINA E GLUCAGON

PERFIL BIOQUÍMICO DE BOVINOS DE RAÇAS LOCALMENTE ADAPTADAS EM SISTEMA INTENSIVO DE CRIAÇÃO.

CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM ESTÉTICA E COSMÉTICA Autorizado pela Portaria MEC nº 433 de , DOU de

TÍTULO: OS MARCADORES BIOQUÍMICOS NO DIAGNÓSTICO DO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

Metabolismo de aminoácidos de proteínas

FISIOLOGIA VEGETAL 24/10/2012. Respiração. Respiração. Respiração. Substratos para a respiração. Mas o que é respiração?

Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra Ano Lectivo 2010/2011. Unidade Curricular de BIOQUÍMICA II Mestrado Integrado em MEDICINA 1º Ano

NUTRIÇÃO. Problemas nutricionais associados à pobreza: Desnutrição /Hipovitaminose / Bócio

Metabolismo de aminoácidos de proteínas

Todos tem uma grande importância para o organismo.

CURSO: Bioquímica. INFORMAÇÕES BÁSICAS Unidade curricular Bioquímica Metabólica. Carga Horária Prática - Habilitação / Modalidade Bacharelado

Vamos iniciar o estudo da unidade fundamental que constitui todos os organismos vivos: a célula.

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

Biomoléculas e processos Passivos/Ativos na célula

Avaliação nutricional do paciente

Água A água é uma substância química cujas moléculas são formadas por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio (H2O). É abundante no planeta Terra,

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, SAÚDE E TECNOLOGIA - IMPERATRIZ. CURSO DE ENFERMAGEM PLANO DE ENSINO

Avaliação do perfil metabólico e proteína C reativa em cães obesos

BIOQUÍMICA GERAL. Prof. Dr. Franciscleudo B. Costa UATA/CCTA/UFCG. Aula 10 Metabolismo Geral FUNÇÕES ESPECÍFICAS. Definição

Metabolismo de aminoácidos de proteínas. Profa Dra Mônica Santos de Freitas

Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra Ano Lectivo 2007/2008. Disciplina de BIOQUÍMICA I Curso de MEDICINA 1º Ano

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM. Fisiologia Endócrina. O Pâncreas. Prof. Wagner de Fátima Pereira

2º trimestre Biologia Sala de estudos Data: Agosto/2015 Ensino Médio 1º ano classe: Profª Elisete Nome: nº

MÓDULO 2 - METABOLISMO. Bianca Zingales IQ-USP

FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO. Profa. Ainá Innocencio da Silva Gomes

Via das pentoses-fosfato

COMPORTAMENTO DA ATIVIDADE DA CREATINA QUINASE EM FRANGOS DE CORTE COM WHITE STRIPING DE DIFERENTES IDADES E SUBMETIDOS A DIETAS DISTINTAS

SISTEMA EDUCACIONAL INTEGRADO CENTRO DE ESTUDOS UNIVERSITÁRIOS DE COLIDER Av. Senador Julio Campos, Lote 13, Loteamento Trevo Colider/MT Site:

Tetania da. Lactação e das. Pastagens

OMELETE DE CLARAS. Uma opção proteica metabolizada para seu póstreino. Informações Técnicas. SINÔNIMOS: Albumina

Aula: 29 Temática: Metabolismo dos lipídeos parte I

Semina: Ciências Agrárias ISSN: X Universidade Estadual de Londrina Brasil

Exercícios de Proteínas

METABOLISMO DOS CARBOIDRATOS - GLICÓLISE

ÁCIDO ÚRICO. REAGENTES Primary Inject (A): Reagente de Cor O reagente está pronto para uso. Aconselhamos a leitura das Instruções de Uso.

VALORES DO ENXOFRE, COBRE E MAGNÉSIO NO SORO SANGUÍNEO E NO LÍQUIDO CEFALORRAQUEANO NOS TRAUMATISMOS CRÂNIO-ENCEFÁLICOS RECENTES

Composição e Estrutura Molecular dos Sistemas Biológicos

Transcrição:

REDVET - Revista electrónica de Veterinaria - ISSN 1695-7504 Perfil bioquímico sérico em porcas no terço final de gestação - Serum biochemistry profile in sows in final third of pregnancy Padilha, Joselaine Bortolanza¹ Falbo, Margarete Kimie² Teixeira, Hildegard Stecher³ Santos, Sthefany Kamile dos 4 Mareze, Marcelle 5 Costa, Letícia Misturini Dalla 6 Groff, Priscila Michelin¹ Sandini, Itacir Eloi² ¹Mestranda, Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Dois Vizinhos, Paraná, Brasil. ²Professor, Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Guarapuava, Paraná, Brasil. ³Professora, Faculdade Campo Real, Guarapuava, Paraná, Brasil. 4 Doutoranda, Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC), Curitiba, Paraná, Brasil 5 Doutoranda, Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina, Paraná, Brasil. 6 Médica Veterinária, Brasil Foods (BRF), Francisco Beltrão, Paraná, Brasil. Contato: jo.vete12@gmail.com Resumo O objetivo deste trabalho foi investigar valores de bioquímica sérica em porcas no terço final de gestação a fim de estabelecer valores de referência. Foram selecionadas 50 fêmeas suínas da raça Large White, no terço final de gestação. Através das amostras de sangue colhidas foram analisados os seguintes parâmetros bioquímicos: proteínas totais, albumina, globulina, ureia, colesterol, cálcio, magnésio, fósforo, creatinina, enzima aspartato aminotransferase, lipoproteína de alta densidade e proteína C- reativa. A avaliação dos resultados encontrados demonstrou que com relação ao metabolismo proteico, os valores de proteína total e albumina tiveram influência da gestação. Dentre os parâmetros do metabolismo mineral e energético, os valores de cálcio e colesterol, respectivamente, apresentaramse elevados. Com relação à creatinina, os valores tiveram leve aumento em relação aos encontrados na literatura. Para os demais parâmetros avaliados demonstrou-se não haver influência da gestação em fêmeas suínas. Através do exame de Proteína C- reativa foi possível afirmar que as porcas estavam saudáveis, sem presença de inflamação ou estresse. Os valores obtidos neste trabalho podem ser usados como guia para a interpretação de resultados encontrados para porcas na fase final de gestação. 1

Palavras-chave: diagnóstico metabolismo parâmetros bioquímicos suinocultura Abstract The aim of this study was to investigate the serum biochemistry values in sows in last third of pregnancy. The purpose was to establish reference values. There were selected 50 female swine of Large White breed in the last third of pregnancy. Through the blood sample there were analyzed the following biochemistry parameters: total protein, albumin, globulin, urea, cholesterol, calcium, magnesium, phosphorus, creatinine, aspartate aminotransferase enzyme, high-density lipoprotein and C- reactive protein. Referring to protein metabolism, the values of total protein and albumin had pregnancy influence. Among the mineral and energetic parameters, the values of calcium and cholesterol, respectively, were revealed high. Related to creatinine, the values had a slight increase compared to the ones found in the literature. The other parameters had no pregnancy influence in female swine. Through the exam of C- reactive protein it was possible to affirm that the sows were healthy, without inflammation or stress. These found values can be used like a guide to interpret the results measured in sows in the last third of pregnancy. Keywords: diagnostic metabolism biochemical parameters swine Introdução Na suinocultura tecnificada, mensura-se a produtividade do rebanho pelo número de leitões desmamados por porca/ano, fazendo parte deste contexto o número de leitões nascidos vivos, que é um parâmetro influenciado pelo parto. Esta é uma das fases mais críticas da suinocultura, pois a fêmea passa praticamente 80% do tempo de vida em gestação, sendo evidente a importância de incrementar os cuidados e garantir assistência constante nesta fase, para o sucesso em todo o ciclo produtivo (Bortolozzo et al., 2007). Os perfis bioquímicos podem ser utilizados para avaliação e monitoramento do estado clínico, nutricional, metabólico e produtivo em grupos de animais e quando são interpretados corretamente fornecem informações importantes a respeito desses parâmetros (Gonzáles e Silva, 2006). A base para a avaliação das alterações patológicas em animais é o conhecimento das concentrações fisiológicas dos constituintes bioquímicos nas diferentes fases da vida, sendo que estes facilitam o diagnóstico das enfermidades. A concentração sanguínea de um determinado metabólito indica o volume de reservas de disponibilidade imediata. Esta concentração é mantida dentro de certos limites fisiológicos, que são considerados os valores normais ou de referência (Schalm et al., 2000). 2

Embora a utilização da bioquímica sanguínea seja mais frequente na rotina diagnóstica de bovinos e ovinos, ela também pode ser útil para suínos. Porém, para que essa ferramenta seja aplicada como diagnóstico, é primeiramente necessário identificar os valores que são sensíveis para detectar mudanças sanitárias em suínos, além de ter valores de referência confiáveis. Sabe-se que os parâmetros bioquímicos em suínos são influenciados por diversos fatores como idade, raça, dieta, doença, presença de hemólise, estágio de gestação e lactação (Verheyen et al., 2007). Neste contexto, possivelmente nos próximos anos ocorrerá a ampliação do uso da bioquímica clínica para suínos, buscando marcadores bioquímicos específicos que aproximem o estado metabólico do rebanho ao perfil bioquímico (Dantas, 2009). Desta forma, o objetivo deste estudo foi investigar valores de bioquímica sérica em porcas no terço final de gestação, possibilitando estabelecer valores de referência, a fim de auxiliar aos clínicos médicos veterinários no diagnóstico de certas doenças metabólicas e avaliar o estado nutricional dos animais no pré-parto. Material e métodos O trabalho foi realizado em uma Granja de Reprodutores Suídeos Certificada (GRSC), localizada no Município de Guarapuava, estado do Paraná Brasil. Foram selecionadas 50 fêmeas suínas da raça Large White, no terço final de gestação, com idade entre 1,8 a 3 anos (3ª a 5ª ordem de parto), e dieta pré-parto com a seguinte composição: EM (Kcal/kg): 3,109, PB (%): 16,63, Proteína disponível total (%): 16,93, Gordura (%): 3,14, Fibra(%): 3,7, Ca total (%): 0,558, P total (%): 0,496, Lisina total (%): 0,895. Os exames foram realizados com o soro excedente das amostras de sangue que foram obtidas para controle oficial realizado em Granjas de Reprodutores Suídeos Certificadas (GRSC), que são monitoradas semestralmente para peste suína clássica, doença de Aujeszky, tuberculose, brucelose e leptospirose (IN Nº 19 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MAPA de 15 de fevereiro de 2002). O sangue foi colhido por punção da veia cava e distribuído em tubos a vácuo sem anticoagulante e foram devidamente identificados. As amostras foram refrigeradas e encaminhadas até o Laboratório de Patologia Clínica Veterinária - Unicentro, onde foram centrifugadas a 2.000 rpm por 10 minutos para obtenção do soro. As alíquotas foram acondicionadas em micro tubos de plástico, identificados e mantidos a -20 C. Os parâmetros bioquímicos analisados e os métodos utilizados foram: albumina pelo método do verde de bromocresol, proteínas totais pelo método do biureto, globulina por subtração da albumina das proteínas totais, colesterol total pelo método do colesterol esterase oxidase, ureia pelo método 3

da urease, cálcio pelo método púrpura de ftaleína, creatinina pelo método do picrato alcalino, magnésio pelo método de magon sulfonada, fósforo pelo método do molibdato de amônio, enzima aspartato aminotransferase por método enzimático, e lipoproteína de alta densidade (HDL) pelo método do ácido fosfotúngstico e cloreto de magnésio. Todas as análises foram feitas no aparelho semi automático Bioplus 200, utilizando os Kits Comerciais da Labtest Diagnóstica S.A. Brasil. Realizou- se adicionalmente o exame de Proteína C- reativa (PCR), pelo sistema Serolátex PCR (Labtest Diagnóstica S.A.) em 30% das amostras, para verificar presença de inflamação. Após tabulação dos dados, foram determinados os valores mínimos, máximos e as médias dos resultados de cada parâmetro analisado. Estes resultados foram organizados em forma de gráficos de frequência. Resultados e discussão Metabolismo Proteico Os principais testes indicadores de metabolismo proteico em um perfil metabólico são as proteínas totais, a albumina, a globulina e a uréia (Guyton e Hall, 2002). Os valores encontrados para proteína total foram de 6,7 a 10,3 g/dl (Figura 1), porém com maior número de animais entre a faixa de 8,5 a 9,5 g/dl, intervalo maior em relação aos citados por Verheyen et al. (2007), que encontraram valores de 6,7 a 9,0 g/dl para porcas com mais de dois partos e afirmaram que a proteína total aumenta com a idade da porca. Figura 1. Valores de proteína total (g/dl) e frequência das dosagens séricas encontradas em porcas no terço final de gestação Segundo Kaneko et al. (2008), os valores de referência da albumina para suínos são de 1,88 a 3,3 g/dl. Porém, neste estudo observaram- se valores entre 1,95 a 5,0 g/dl (Figura 2), com a maioria dos animais na faixa de 2,7 a 3,9 g/dl. 4

Figura 2. Valores de albumina (g/dl) e frequência das dosagens séricas encontradas em porcas no terço final de gestação Os valores de uréia encontrados neste estudo variaram entre 20 a 62 mg/dl (Figura 3). Figura 3. Valores de uréia (mg/dl) e frequência das dosagens séricas encontradas em porcas no terço final de gestação A uréia é sintetizada no fígado a partir da amônia proveniente do catabolismo de aminoácidos, e seus níveis são indicadores sensíveis da ingestão de proteína, tendo relação com os níveis de proteína na dieta (González e Silva, 2006). Além disso, fatores como idade, raça, sexo, condição fisiológica, também podem influenciar na dosagem sérica deste analito, o que podem explicar as variações encontradas nas diversas referencias citadas como Velho et al. (2009) os quais encontraram valores médios para uréia de 42,63 mg/dl para suínos machos adultos, não castrados; Friendship et al. (1984) encontraram valores de referência para marrãs de 126 mg/dl a 162 mg/dl e para porcas com maior ordem de parto, no terço médio de gestação, entre 36 mg/ dl e 144 mg/ dl. Kaneko et al. (2008), encontraram os valores de 21,4 a 64,2 mg/ dl em suínos adultos, mais próximos aos encontrados neste trabalho. Em relação à globulina, os valores de referência encontrados neste estudo foram de 3,44 a 6,87 g/dl (Figura 4), com a maioria dos animais entre 5,11 e 6,48 g/dl. Estes se aproximam dos valores encontrados para suínos adultos por Kaneko et al. (2008) de 5,29 a 6,43 g/dl. 5

Figura 4. Valores de globulina (g/dl) e frequência das dosagens séricas encontradas em porcas no terço final de gestação Metabolismo Mineral e Energético No presente estudo, os valores encontrados para cálcio total foram de 10,4 a 14,8 mg/dl (Figura 5), sendo superiores aos valores citados por Alexandre (2003), que encontrou de 6,36 a 11,61 mg/dl para porcas com 60 dias de gestação. Figura 5. Valores de cálcio (mg/dl) e frequência das dosagens séricas encontradas em porcas no terço final de gestação Segundo Endres e Rude (1994) aproximadamente 40% do total do cálcio sérico está ligado a albumina e, portanto, a concentração do cálcio total diminui quando os animais apresentam hipoalbuminemia e aumentam quando a albumina aumenta. Como já citado, encontrou-se aumento da concentração de albumina e, portanto, aumento relativo da concentração de cálcio total. Os valores de fósforo encontrados foram de 5,8 a 10,2 mg/dl (Figura 6), assemelhando-se aos de Kaneko et al. (2008), de 5,3 a 9,6 mg/dl para suínos. Portanto, considerou-se que o estado de prenhes dos animais não influenciou nas concentrações séricas de fósforo. 6

Figura 6. Valores de fósforo (mg/dl) e frequência das dosagens séricas encontradas em porcas no terço final de gestação O fósforo é um elemento vital, participa em torno de 1% do peso corporal e recebe atenção especial nas formulações de rações para suínos. Está em maior concentração nos ossos e dentes, onde se encontram 80% do seu total, quase todo em forma de fosfoproteínas, sendo importante para reprodução e crescimento, engorda e circulação da gordura e nas estruturas de ADP e ATP, responsáveis pela liberação de energia e temperatura corporal no metabolismo energético. Alguns de seus papéis biológicos são: atuação como tampão no plasma e urina, manutenção da integridade celular, regulação da atividade de algumas enzimas e do transporte de oxigênio e em associação com o cálcio confere resistência estrutural aos ossos (Motta, 2003). Com relação aos valores de magnésio, considerou- se também que não houve influencia da gestação, já que os valores encontrados, 2,5 a 4,3 mg/dl (Figura 7), ficaram próximos aos citados por Kaneko et al. (2008), 2,7 a 3,7 mg/dl. Figura 7. Valores de magnésio (mg/dl) e frequência das dosagens séricas encontradas em porcas no terço final da gestação O magnésio apresenta importante papel como cofator de sistemas enzimáticos, é essencial na manutenção da estrutura macromolecular do RNA, 7

DNA e síntese proteica, fundamental na glicólise, replicação celular, biossíntese proteica, contração muscular e coagulação sanguínea. Tem ainda influencia na liberação de neurotransmissor na junção neuromuscular e atua no esqueleto, sendo que aproximadamente 67% do magnésio está presente nos ossos (Motta, 2003). De acordo com Kaneko et al. (2008), os valores de referência para colesterol em suínos são de 36 a 54 mg/dl, em contrapartida, neste estudo encontrou-se valores de 46 a 94 mg/dl (Figura 8), para porcas em gestação. Gonzalez e Silva (2006) sugerem que os níveis de colesterol aumentam durante a gestação, devido ao aumento da síntese de esteróides pelas gônadas nesta fase. Figura 8. Valores de colesterol (mg/dl) e frequência das dosagens séricas encontradas em porcas no terço final de gestação Os valores encontrados neste estudo para o colesterol HDL foram de 21 a 50 mg/dl (Figura 9). Não foram encontrados valores de referência na categoria estudada, porém Pascoal et al. (2010), encontraram a média de 47,2 mg/dl para suínos machos, castrados, em terminação, valores semelhantes ao encontrado neste trabalho o que sugere que a gestação e o sexo não interferem nos valores do colesterol HDL. Figura 9. Valores de HDL (mg/dl) e frequência das dosagens séricas encontradas em porcas no terço final de gestação 8

O metabolismo energético pode ser avaliado pelo colesterol, que nos animais pode ser de origem exógena, quando proveniente de alimentos, ou de origem endógena, sendo sintetizado a partir do acetil- CoA, principalmente no fígado. O colesterol é necessário como precursor dos ácidos biliares e de alguns estrógenos que afetam a complexa inter-relação das funções hipofisária, tireodiana e adrenal. Seus níveis podem sofrer alterações nas obstruções biliares, na utilização de dietas ricas ou na deficiência em gordura e carboidratos, durante a gestação, na existência de lesões hepatocelulares e no hipertireodismo (Gonzalez e Silva, 2006). A lipoproteína de alta densidade (HDL) exerce papel importante sobre o metabolismo dos fosfolipídios e do colesterol, carreando lipídios para dentro das células do organismo (Yesilaltay et al., 2006). Na foliculogênese, o HDL fornece substrato para a síntese de membrana, produção de hormônios esteroides, além de outros processos essenciais para a maturação das células foliculares do cumulus e dos oócitos (Azhar et al., 1998). Aspartato Aminotransferase AST Os valores de referência encontrados para AST foram de 26 a 62 UI/L (Figura 10), estando acima dos valores citados por Kaneko et al. (2008) para suínos adultos (8,2 a 21,6 UI/L), mas abaixo dos valores encontrados em pesquisa feita por Lima et al. (2010), os quais citaram valor médio de 233,1 UI/L para suínos adultos. Já para Friendship et al. (1984), os valores encontrados para porcas, no terço médio de gestação, foram de 36 a 272 UI/L, sendo estes valores superiores aos encontrados na presente pesquisa. Figura 10. Valores de AST (UI/L) e frequência das dosagens séricas encontradas em porcas no terço final de gestação A enzima aspartato aminotransferase (AST), assim como as outras transaminases, catalisa a transferência reversível dos grupos amino de um aminoácido paro o α- cetoglutarato, formando cetoácido e ácido glutâmico, sendo que estas reações requerem piridoxal fosfato como coenzima. Estas reações exercem papéis centrais tanto na síntese como na degradação de aminoácidos, atuando ainda como uma ponte entre o metabolismo dos 9

aminoácidos e carboidratos. As aminotransferases estão amplamente distribuídas nos tecidos, sendo que a atividade de AST está mais elevada no fígado e no músculo esquelético (Motta, 2003). Creatinina Em relação à creatinina, os valores encontrados foram de 1,3 a 3,3 mg/dl (Figura 11), apresentando diferença entre os citados por Kaneko et al. (2008), que foram de 1,0 a 2,7 mg/dl. Segundo Verheyen et al. (2007), a interpretação dos níveis de creatinina é dificultada no período pré-parto, pelas mudanças na taxa de filtração glomerular, além de que a massa muscular pode sofrer variações, tendo efeitos sobre os níveis deste metabólito. Figura 11. Valores de creatinina (mg/dl) e frequência das dosagens séricas encontradas em porcas no terço final de gestação A creatinina é um composto nitrogenado produzido a partir da fosfocreatina muscular e a quantidade formada por dia depende da quantidade de creatinina no organismo que por sua vez, dependerá da massa muscular (Kaneko et al., 2008). O nível sanguíneo de creatinina não é afetado pela dieta, idade e sexo, porém o aumento do metabolismo muscular pode elevar a concentração sérica de creatinina (Lopes et al., 2007). Proteína C- Reativa - PCR Com a realização de PCR em 30% das amostras de soro, certificou-se que as porcas estavam saudáveis, sem presença de inflamação ou estresse, pois nenhuma das amostras apresentou aglutinação macroscópica, caracterizando níveis de PCR menores que 6 mg/l. As proteínas de fase aguda são um grupo de proteínas do sangue que apresentam as concentrações alteradas em animais submetidos à infecção, inflamação, traumatismos ou estresse. Estas concentrações estão relacionadas com a gravidade do distúrbio e a extensão dos danos no tecido do animal afetado. Para classificar as proteínas de fase aguda são consideradas as concentrações detectadas na corrente sanguínea, 10

classificadas segundo suas características regulatórias positivas ou negativas. A proteína C- Reativa (PCR) pertence ao grupo de proteínas com característica regulatória positiva, sendo sintetizada pelos hepatócitos no fígado, sob ação de citocinas pró- inflamatórias (Murata et al., 2004). A PCR tem se mostrado uma forte indicadora de inflamação ou infecção na medicina veterinária, apresentando importante papel na interação entre a resposta imune inata e específica, atuando na regulação da resposta imunológica do hospedeiro (Eckersall e Bell, 2010). Em suínos, a PCR é considerada como um dos melhores marcadores para a identificação de lesões inflamatórias, podendo ser utilizado para monitorização do estado geral da saúde, incluindo avaliação de estresse (Eckersall et al., 1996). Considerações finais Os valores para bioquímica sérica encontrados neste estudo são originados de porcas saudáveis de uma Granja de Reprodutores Suídeos Certificada (GRSC) e, portanto estes valores podem ser usados como guia para a interpretação de resultados encontrados para porcas na fase final de gestação. Demonstrou-se que a gestação foi fator importante para alguns parâmetros, como a proteína total, a albumina, o cálcio, o colesterol e a creatinina, influenciando os valores de referência encontrados para porcas. Já em relação aos outros parâmetros bioquímicos analisados, a gestação não teve influência sobre os resultados obtidos. Percebe-se que a utilização da bioquímica clínica para suínos deve ser ampliada, possibilitando maiores investigações sobre os valores encontrados, além de servir como um diagnóstico auxiliar aos médicos veterinários, principalmente em determinadas fases de produção, como durante a gestação, sendo esta uma fase de extrema importância dentro do ciclo de produção. Referências bibliográficas Alexandre, A. A. C. Níveis de Cálcio Sérico em porcas gestantes e parturientes. Dissertação de Pós- Graduação em Ciências Veterinárias. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2003. Azhar, S. et al. Human granulosa cells use high density lipoprotein cholesterol for steroidogenesis. Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism, 1998, vol. 83, p. 983 991. [Consulta: 14 outubro 2013]. <http://press.endocrine.org/doi/full/10.1210/jcem.83.3.4662> Bortolozzo, F. P. et al. Suinocultura em ação: a fêmea suína gestaste. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007. 11

Dantas, W. M. F. Perfil bioquímico sanguíneo e ganho de peso corporal em suínos submetidos a dietas com diferentes níveis de fósforo. Dissertação de Pós- Graduação em Medicina Veterinária. Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais, 2009. Eckersall, P.D.; Bell, R. Acute phase proteins: Biomarkers of infection and inflammation in veterinary medicine. The Veterinary Journal, 2010, vol.185, p. 23 27. [Consulta: 18 outubro 2013]. <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/s1090023310001176> Eckersall, P.D.; Saini, P. K.; Mccomb, C. The acute phase response of acid soluble glycoprotein, alpha- acid glycoprotein, ceruloplasmin, haptoglobin and C- reactive protein in the pig. Veterinary Immunology and Immunopathology, 1996, vol. 51, p. 377-385. [Consulta em: 18 outubro 2013]. <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/0165242795055274> Endres, D.B.; Rude, R.K. Mineral and Bane Metabolism. En: BURTIS, C.A.; ASHWOOD, E.R. (Ed). Tietz textbook of clinical chemistry. 2ª ed. Philadelphia: W. B. Saunders, 1994. Friendship, R. M. et al. Hematology and Biochemistry Reference Values for Ontario Swine. Canadian Journal of Comparative Medicine, 1984, vol. 48, p. 390-393. [Consulta: 16 setembro 2013]. <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/pmc1236090/pdf/compmed0 0008-0050.pdf> Gonzáles, F. H. D.; Silva, S. C. Introdução a bioquímica clínica veterinária. 2ª ed. Porto Alegre, Editora da UFRGS, 2006. Guyton, A. C.; Hall, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 10ª ed, Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2002, pp:973. Kaneko, J. J.; Harvey, J. W.; Bruss, M. L. Clinical biochemestry of domestical animal. 5ª ed. London, Academic Press, 2008. Lima, M. E. et al. Avaliação de Parâmetros Enzimáticos em Suínos de Diferentes Idades. VII Mostra da produção Universitária. Rio Grande do Sul, 2009. Lopes, A. T. S.; Biondo, W. A.; Santos, P. A. Manual de Patologia Clínica Veterinária. Santa Maria, Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Rurais, UFSM, 2007. Motta, V. T. Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações. 4ª ed, Porto Alegre, Editora Médica Missau, 2003. Murata, H.; Shimada, N.; Yoshioka, M. Current research on acute phase proteins in veterinary diagnosis: an overview. The Veterinary Journal, 2004, vol. 168, p. 28-40. [Consulta em: 08 novembro 2013]. <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/s1090023303001199> Pascoal, L. A. F. et al. Inclusão de farelo de coco em dietas para suínos em crescimento com ou sem suplementação enzimática. Rev. Bras. Saúde Prod. An., 2010, vol. 11, n 1, p. 160-169. [Consulta em: 08 novembro 2013] <http://www.rbspa.ufba.br/index.php/rbspa/article/view/1471/948> Schalm, O. W.; Jain, N. C.; Carrol, E. J. Veterinary Hematology. 5 ed, Philadelphia, Publisher Lea & Febiger, 2000. 12

Velho, I. C. et al. Avaliação do perfil bioquímico proteico de suínos em diferentes idades. XVIII congresso de iniciação científica. Rio Grande do Sul, 2009. Verheyen, A. J. M. et al. Serum biochemical reference values for gestating and lactating sows. The Veterinary Journal, 2007, vol. 174, p.92-98. [Consulta: 20 novembro 2013]. <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/s1090023306000797> Yesilaltay, A. et al. Effects of hepatic expression of the high-density lipoprotein receptor SR-BI on lipoprotein metabolism and female fertility. Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism, 2006, vol. 147, p.1577 1588. [Consulta em: 25 outubro 2013]. <http://www.researchgate.net/publication/7362446_effects_of_hepatic_e xpression_of_the_high-density_lipoprotein_receptor_sr- BI_on_lipoprotein_metabolism_and_female_fertility REDVET: 2017, Vol. 18 Nº 9 Este artículo Ref. 0917531_REDVET (090917_perfil1) está disponible en http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n090917.html concretamente en REDVET Revista Electrónica de Veterinaria está editada por Veterinaria Organización. Se autoriza la difusión y reenvío siempre que enlace con Veterinaria.org http://www.veterinaria.org y con REDVET - http://www.veterinaria.org/revistas/redvet 13