SANEAMENTO BÁSICO: DESIGUALDADE SOCIAL



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Transcrição:

SANEAMENTO BÁSICO: DESIGUALDADE SOCIAL Luiz Ricardo Lanardi Nicolau Ana Paula Valandro 2 Mariana Carvalho Garcia de Souza² Ana Claudia Sierra de Brito² INTRODUÇÃO De acordo com Brasil (2007, p. 29), a educação ambiental para uma sustentabilidade é um processo de aprendizagem permanente, baseado no respeito a todas as formas de vida. Por meio da busca de conhecimento e reflexão sobre a interação entre meio ambiente e as atividades cotidianas do homem é que se torna possível a conscientização referente à preservação ambiental relacionada a serviços básicos de saneamento, tais como: abastecimento de água, rede de esgotamento sanitário e coleta de lixo. No processo de gerenciamento ambiental devem ser observados alguns itens, conforme descrito por Brasil (2007, p. 29): o monitoramento dos danos ambientais, para a busca de possíveis soluções, posterior sensibilização e capacitação da população, discussão de implementações passíveis, tomada de decisão, promoção e articulação de setores públicos, privados e comunitários. Deste modo, utiliza-se a educação ambiental como instrumento indispensável no processo de desenvolvimento sustentável. Segundo a Constituição Federal, em seu Artigo 225, todos têm direito ao meio ambiente equilibrado. Assim, é um dever da comunidade participar deste processo, sendo necessário o comprometimento da população, visando o desenvolvimento do exercício da cidadania, promoção da saúde, bem-estar, mudança de comportamentos, gerando melhora das condições ambientais e alcance de qualidade de vida (p. 29). A partir da década de 80, a preocupação de muitos países com a utilização de seus recursos naturais aumentou muito. A Constituição Federal de 988 criou condições para Acadêmico do 4º ano do curso de Enfermagem da Unioeste, Campus Cascavel/PR. Email: lznicolau@hotmail.com, telefone: (45)9934 6344. 2 Acadêmicas do º, 2º, 3º, 4º e 5º do curso de Enfermagem da Unioeste, Campus Cascavel/PR

a descentralização da formulação de políticas, permitindo que estados e municípios assumissem uma posição mais ativa nas questões ambientais locais e regionais. Iniciouse, então, a formulação de políticas e programas mais adaptados à realidade econômica e institucional de cada estado, permitindo assim o aumento da integração entre os governos municipais, estaduais e federais (LOPES, 2000, p. VII). Na visão de Donaire (999, p. 4), os problemas ambientais são marcados pela diversidade, magnitude e complexidade, envolvendo aspectos políticos, sociais, de saúde e econômicos de grande relevância. Estes problemas estão se tornando o centro das atenções públicas, originando o símbolo de uma nova cultura preocupada com as questões ambientais. Com o aparecimento de impactos ambientais, como as chuvas ácidas e o efeito estufa, relacionados ao processo de globalização, nasce à necessidade de se ampliar o gerenciamento ambiental em todo o planeta. Saneamento básico, conforme Carvalho e Oliveira (997, p. 3), é a parte do saneamento do meio voltada especificamente para os serviços de: abastecimento de água; disposição de esgotos sanitários e acondicionamento, coleta, transporte e destinação do lixo. O saneamento básico abrange serviços fundamentais para a comunidade, tendo em vista que cada pessoa produz por dia em média um quilo de lixo, consome de cento e cinqüenta a duzentos litros de água em higiene e alimentação, e mais ou menos a mesma quantia em termos de esgoto (dejetos, águas servidas e outros). Para os autores, o objetivo do saneamento é controlar os fatores que afetam o ambiente físico, trazem prejuízos à saúde e reduzem a marcha de desenvolvimento da comunidade (p. 2). O saneamento básico visa à garantia do abastecimento de água potável, drenagem de águas residuais, acondicionamento, coleta, transporte e tratamento do lixo, combate à poluição, controle da qualidade de alimentos, garantia de saneamento do meio, controle de vetores e outras ações de saneamento que tenham como objetivo a melhoria da qualidade de vida de uma comunidade. Todos nós sabemos que a água é um elemento essencial para manter a vida do homem, mas sabe-se também que grande parte das doenças e dos problemas ambientais está relacionada ao desleixo com a água. O abastecimento de água potável visa aumentar a esperança de vida da população, propiciar conforto, bem-estar, segurança, implantar

hábitos higiênicos, controlar e prevenir doenças, além de reduzir os índices de mortalidade, aumentar a vida produtiva dos indivíduos e, consequentemente, melhorar a perspectiva de progresso das comunidades, conforme afirmação de Brasil (2007, p. 35). Paralelamente a isso, o autor relata que, diferente do que a população pensa, a água não é somente benéfica, ela pode afetar a saúde do homem de várias formas, sendo pela ingestão direta, preparação de alimentos, higiene pessoal, agricultura, higiene do ambiente, processos industriais ou atividades de lazer. Na água e/ou alimentos são encontrados microorganismos, como vírus, parasitas e bactérias patogênicas, que são as principais fontes de morbidade e mortalidade, sendo responsáveis pela maioria dos casos de enterites, diarréias, viroses, doenças endêmicas/ epidêmicas (p. 35). O saneamento, para Motta (999, p. 405), visa [...] preservar ou modificar as condições do meio ambiente, com a finalidade de prevenir doenças e promover saúde. Essa forma de gerência previne e educa a população, verificando-se, assim, a diminuição das doenças ligadas ao meio ambiente. Corroborando com o exposto, Baltrusis e Ancona (2006) citam que algumas das principais causas de internação hospitalar nos últimos anos foram causadas por doenças relacionadas ao ambiente urbano deteriorado, como a dengue, verminoses, hepatite A e E, diarréias, febre amarela, febre tifóide, hantavirose, leptospirose, malária, peste e shigelose. A dengue é uma doença que está fazendo muitas vítimas nos últimos anos. Penna (998) descreve que a transmissão dessa doença é feita pela picada do mosquito Aedes Aegypti. As medidas de controle da dengue incluem o combate ao mosquito transmissor e seus criadouros, através de ações de saneamento ambiental, educação em saúde e controle químico (inseticidas). As verminoses são causadas pela autocontaminação (oral-fecal), poeira, alimentos, roupas contaminadas com ovos, água contaminada, penetração na pele e solo contaminado. O enfermeiro, na vigilância ambiental, tem por objetivo diagnosticar e tratar precocemente os casos, evitando complicações. Para as hepatites, segundo Penna (998), as medidas de controle são: saneamento básico, controle da água, controle dos dejetos humanos e educação em saúde. As doenças diarréicas são geralmente transmitidas pela ingesta de água ou alimentos contaminados, mas a transmissibilidade é específica de cada agente etiológico (vírus,

bactérias e parasitas). A febre amarela é transmitida pela picada do mosquito Aedes Aegypti e do mosquito silvestre Haemagogus. O enfermeiro deve realizar educação em saúde para impedir a reurbanização da doença, orientando sobre a vacinação e o combate ao mosquito pela redução dos criadouros. A febre tifóide é transmitida pela ingesta de água e moluscos, leite e derivados e alimentos contaminados (PENNA, 998). A hantavirose é transmitida pela inalação de aerossóis, secreção e excreção dos reservatórios roedores, ingestão de água e alimentos contaminados, lesões causadas por animais contaminados, contato do vírus com mucosa e de pessoa a pessoa. O enfermeiro deve identificar casos e realizar o combate aos fatores de risco, como controle de roedores e desinfecção de ambientes contaminados. A leptospirose é transmitida pelo contato com a água ou com o solo contaminado pela urina de animais portadores, geralmente ratos, raramente bovinos, ovinos e caprinos (PENNA, 998). Deve-se orientar a população a realizar medidas de prevenção em áreas endêmicas antes das grandes chuvas. Tal profissional deve promover educação em saúde objetivando o controle dos roedores e melhoria das condições de higiene da população. Destaca-se a importância do trabalho em vigilância epidemiológica, na notificação compulsória e da investigação obrigatória, na busca ativa, passiva, monitoramento de incidência e surtos (PENNA, 998). A malária é transmitida pela picada do mosquito Anopheles contaminado. O controle da malária requer medidas de educação em saúde, orientação sobre o controle dos mosquitos transmissores (combate químico e eliminação dos criadouros) e saneamento ambiental. A peste é transmitida pela pulga infectada. Cabe ao enfermeiro realizar medidas que impeçam a transmissão e detectem casos precocemente, evitando a letalidade. Isso é feito através do combate aos roedores, cachorros e gatos, que podem ser hospedeiros das pulgas, e combate às pulgas, com inseticidas e venenos. A shigelose é adquirida pela ingestão de água contaminada ou por alimentos preparados com água contaminada e pelo contato pessoal. Por ser uma doença diarréica aguda, é preciso prevenir e monitorar sua incidência (Penna, 998). Deve ser realizada educação em saúde com a intenção de melhorar a qualidade da água, dar um destino adequado ao

lixo e dejetos, realizar o controle de vetores e melhorar as condições de higiene pessoal e de alimentos. É preciso que o enfermeiro incentive o aleitamento materno, já que esse aumenta a proteção às diarréias nas crianças. Contudo, o meio ambiente vem sendo afetado pelo processo de urbanização, uma vez que o grande crescimento da população e sua aglomeração nos grandes centros urbanos causam um desequilíbrio ambiental imenso, já que a construção de uma cidade requer o desmatamento de grandes glebas, intensificação da agricultura, poluição dos cursos d água, do ar e dos solos (LERIPIO, 999, p. 8). A poluição do meio ambiente é assunto de interesse público em todas as partes do mundo [...]. Questões como: aquecimento da terra; perda da biodiversidade; destruição da camada de ozônio; contaminação ou exploração excessiva dos recursos dos oceanos; escassez e poluição das águas; superpopulação mundial; baixa qualidade de moradia e ausência de saneamento básico; degradação dos solos agricultáveis e destinação dos resíduos (lixo) são de suma importância para a humanidade (BRASIL, 2007). OBJETIVO Pesquisar o destino dos resíduos líquidos, sólidos, sistema de abastecimento de água e a existência de moscas, baratas e roedores nos domicílios atendidos pelo projeto. METODOLOGIA O projeto de extensão Educação Ambiental, Saúde e Sociedade é realizado na comunidade sendo feito por meio de ações de saúde e meio ambiente. A população é composta por 9 famílias que residem nas margens do Afluente Esquerdo Ribeirão Quati Chico, no bairro Nova Cidade, no município de Cascavel/PR. Para atender as famílias, os acadêmicos do curso de enfermagem realizam levantamento das questões socioeconômicas e demográficas, doenças existentes, condições de saúde, saneamento básico e do meio. As informações obtidas através das entrevistas com as famílias

permitem o diagnóstico da realidade e a análise dos resultados. O trabalho realizado junto às famílias baseia-se na educação em saúde, e medidas de promoção à saúde. RESULTADOS Apresentam-se os resultados obtidos a partir do material coletado junto às famílias que participam do projeto: Tabela Distribuição do perfil socioeconômico e demográfico das famílias pesquisadas: Variável Descrição FA FR(%) Idade Menor de 5 anos 6 a 0 anos a 20 anos 2 a 30 anos 3 a 40 anos 4 a 50 anos 5 a 60 anos + 60 anos Renda R$ 300,00 a 500,00 R$ 600,00 a 000,00 R$ 300,00 a 900,00 + de R$ 2000,00 NI Ocupação/ Profissão Aposentado Desempregado Do lar Gerentes/Mecânico/Eletricista Diarista/Baba/serviços gerais Contador/Secretária FA = Freqüência Absoluta/ FR = Freqüência Relativa NI = Não Informou 0 6 6 3 4 7 7 9 8 5 4 6 6 9 0 0 3 6,2 9,8 9,8 20, 6,5,5,5 4,6 42, 26,3 2, 3,6 3,6 20,5 35, 20,4 6,8 Quanto à idade, observou-se que a faixa etária predominante nestas famílias é de 2 a 30 anos, seguida pelo grupo de crianças menores de 5 anos e pela população maior de 60 anos. No que tange à renda familiar, o maior percentual correspondeu aos moradores que recebem entre R$ 300,00 e R$ 500,00 reais mensais. Apenas uma minoria tem salário mensal de R$ 300,00 a R$ 900,00. As ocupações assinaladas pelas famílias vão desde mecânicos, gerentes, eletricistas a serviços gerais. Aposentados e desempregados somaram 27,2%. O comportamento de alguns indicadores sociais é destacado por Brasil (2006) ao reportar a redução da proporção de trabalhadores que

recebem menos de salário mínimo. No primeiro trimestre de 2006, a proporção de homens nesta situação era de 6,9% contra 40,8% para as mulheres. A redução foi de 2,9 pontos percentuais para os homens e de 4,8 pontos percentuais para as mulheres, em comparação com o terceiro trimestre de 2005. Tabela 2 Distribuição do tipo de habitação das famílias pesquisadas Variáveis Descrição FA FR(%) Habitação Casa própria Alugada 6 3 84,2 5,8 Tipo da habitação Madeira Alvenaria Mista 4 7 8 2, 36,8 42, Número de cômodos Até 5 6 a 8 9 a + de 8 7 2 2 42, 36,9 0,5 0,5 Luz elétrica Sim 9 00 FA = Freqüência Absoluta/ FR = Freqüência Relativa NI = Não Informou A maioria das famílias possui casa própria, sendo esta geralmente do tipo mista e com até cinco cômodos. Casas maiores, com 6 a 8 cômodos, também apareceram em número significativo. Independentemente do perfil da habitação, verificou-se que em todas as moradias as famílias contam com serviço de luz elétrica. Tabela 3 Distribuição do controle dos resíduos líquido pelas famílias pesquisadas Variáveis Descrição FA FR(%) Destino do esgoto Fossa Céu aberto Rio 8 0 42, 52,6 Destino do lixo Coletado Queimado 9 00 Água Rede Pública 4 73,7 Cuidados com a água Poço Filtra Fervura Cloro Sem tratar FA = Freqüência Absoluta/ FR = Freqüência Relativa NI = Não Informou 6 2 2 3,6 0,5 0,5

Os resultados indicaram que a maioria (52,6%) das famílias lança o esgoto no rio, 42,% utilizam fossa e % deixam o esgoto a céu aberto. Fiszon (998) expõe que o percentual da população com acesso aos serviços de coleta de esgoto é bem inferior ao de abastecimento de água. Quanto ao destino dos resíduos sólidos, em 00% das residências é realizada a coleta pelo serviço público. Mesmo tendo disponível o serviço de coleta, % das famílias optam por queimar parte do lixo produzido. Para Santo (200, p. 7), a coleta seletiva considera as questões sociais, o resgate da cidadania daqueles que, por meio da venda do lixo, conseguem se reinserir no mercado de trabalho. O lixo passou a ser visto não só como rejeito, mas também como matéria prima, gerando renda, através do mercado. Isto permitiu a inclusão social de pessoas desempregadas ou mesmo de quem vive desse trabalho de forma permanente. Quanto ao sistema de abastecimento de água, 73,7% recebe o serviço da Sanepar, entretanto, observou-se que 3,6% utilizam água de poço. Destes, 0,5% fazem a fervura da água, outros 0,5% procedem a cloração, % filtram a água e outros % a utilizam sem qualquer tratamento. Muitas vezes os indivíduos possuem condições precárias de renda, fazendo com que as famílias habitem áreas carentes de saneamento básico, em favelas, em morros ou regiões lindeiras de rios. Estas famílias, em sua maioria, não possuem acesso à rede de água tratada e não procuram o serviço por não terem condições financeiras de pagar a tarifa mínima de abastecimento de água tratada. Alguns fatores de risco, como a deficiência de saneamento, ausência de controle de vetores e falta de higiene, determinam o aumento da incidência de doenças infectoparasitárias (CARBONE, 2004). Pereira (2005, p. 3) expõe que a educação em saúde deve ser entendida não apenas como a transmissão de conteúdos, comportamentos e hábitos de higiene do corpo e do ambiente, mas também como a adoção de práticas educativas que busquem a autonomia dos sujeitos na condução de sua vida. Assim, a educação em saúde nada mais é do que o exercício de construção da cidadania.

Tabela 4 Distribuição da existência de animais nas residências Variáveis Descrição FA FR(%) Moscas Baratas Sim Sim 9 00 57,9 Roedores Sim 2 0,5 Cães Gatos Sim Sim 4 8 73,7 42, Pássaros Sim 4 2, FA = Freqüência Absoluta/ FR = Freqüência Relativa Com relação à existência de possíveis vetores de doenças, observou-se a existência de moscas em 00% das residências, de baratas em 57,9% e de roedores em 0,5%. Muitas famílias possuem animais domésticos, sendo constatada a presença de cães em 73,7% dos domicílios, de gatos em 42,% e de pássaros em 2,% das residências. CONCLUSÃO O estudo permitiu observar que a faixa etária da maioria dos membros destas famílias é de 2 a 30 anos. A remuneração para a maior parte deles fica em torno de R$ 300,00 a R$ 500,00, decorrente do trabalho como mecânicos, gerentes, eletricistas e principalmente no setor de serviços gerais. A maioria possui casa própria, sendo esta do tipo mista. O destino dos resíduos líquidos é, em sua maioria, o rio. Já os resíduos sólidos são coletados pelo serviço público. Quanto ao sistema de abastecimento de água, a maior parte das famílias utiliza água da Sanepar, mas alguns utilizam água de poço, sendo esta consumida muitas vezes sem a realização de procedimentos de fervura e cloração. Nas residências, é comum a presença de moscas, baratas e alguns roedores, além de animais domésticos. Conclui-se que o trabalho com populações que residem em áreas de risco deve ser feito de modo integral e contínuo. Para que sejam atingidos os objetivos do saneamento, é necessário focar na diminuição do consumo de recursos naturais, como água, combustíveis e outros; diminuir os impactos ambientais por meio de ações de educação em saúde; desenvolver projetos de reciclagem e de proteção ao meio ambiente e tentar diminuir a demanda de saneamento por meio da mudança de padrões de produção e consumo da população em geral.

REFERÊNCIAS BALTRUSIS, N.; ANCONA, A. L. Recuperação ambiental e saúde pública. O programa Guarapiranga. Revista Saúde e Sociedade, v. 5, n., p. 9-2, jan/abr. 2006. BRASIL. Fundação Nacional de Saúde. Manual de saneamento. 3ªed. Ver. ª reimpressão Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2006.. Fundação Nacional de Saúde. Manual de saneamento. 3. ed., rev. Brasília: Funasa, 2007. CARBONE, M. H. A ética nas visitas domiciliares e nas atividades comunitárias. In: COSTA, E. M. A.; CARBONE, M. H. Saúde da família: uma abordagem interdisciplinar. Rio de Janeiro: Rubio, 2004. CARVALHO, A. R.; OLIVEIRA, M. V. C. Princípios básicos do saneamento do meio. São Paulo: SENAC, 997. (Série Apontamentos Saúde). DONAIRE, D. Gestão Ambiental na Empresa. 2 ed. São Paulo: Atlas, 999. FISZON, L. Análise dos serviços de saneamento: elementos para a observação do desempenho às demandas essenciais da população. Tese. Faculdade Arquitetura e urbanismo de são Paulo. São Paulo, 998. LERIPIO, A. A. Gestão da qualidade ambiental. Programa de Pós-Graduação em Engenharia da Produção. Florianópolis: UFSC, 999. Mimeo. LOPES, I.V. et al. Gestão Ambiental no Brasil: experiência e sucesso. 3 ed. Rio de Janeiro: FVG, 2000. MOTA, S. Saneamento. In: ROUQUARIOL, M. Z.; ALMEIDA, F. N. Epidemiologia e saúde. 5. ed. Rio de Janeiro: MEDSI, 999. Cap 7, p. 405-429. PENNA, G. O. et al. Doenças infecciosas e parasitárias: aspectos clínicos, de vigilância epidemiológica e de controle Guia de Bolso. Brasília: MS/Funasa, 998. PEREIRA, M. Z. Qualidade do ser humano na perspectiva de novos paradigmas: possibilidades éticas e estéticas nas interações ser humano-natureza-cotidianosociedade. In: PATRÍCIO, M. Z.; PEREIRA, A. L. Educação em saúde. São Caetano do Sul, São Paulo: Yends, 2005. p. 25-46, cap. 3. SANTO A. É modelo. Ecologia e desenvolvimento, n.96, p.6-7, set. 200.