Introdução A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é um grave problema de saúde pública, constituindo-se no principal fator de risco para a ocorrência de doenças cardiovasculares graves (EORY et al., 2014). Estudos recentes têm evidenciado a importância do temperamento na etiologia da HAS e na adesão ao tratamento (EWART et al., 2011; RODRIGUES et al., 2014; SANTOS et al., 2014). O temperamento é a base neurobiológica da personalidade (CARVER; WHITE, 1994). De acordo com a teoria da sensibilidade ao reforço, haveria dois sistemas motivacionais gerais que afetariam a emoção: 1) Sistema de Inibição Comportamental (BIS, da sigla em inglês), relacionado ao temperamento ansioso; e 2) Sistema de Ativação Comportamental (BAS, da sigla em inglês), relacionado ao temperamento impulsivo. Traços de temperamento ansioso têm sido associados à patogênese e à expressão da HAS ( SANTOS et al., 2014). O objetivo do presente estudo foi estabelecer a prevalência dos temperamentos ansioso e impulsivo em indivíduos hipertensos frequentadores do Centro de Referência em Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus (CRHD) de Rio Verde, Goiás.
Material e Métodos Este estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Rio Verde (Protocolo 824.720/CEP/UniRV). A presente pesquisa foi um estudo de prevalência, observacional e transversal. A avaliação do tipo de temperamento de 54 portadores de hipertensão arterial (25 homens e 24 mulheres), usuários do CRHD-RV, foi feita por meio da aplicação da versão da Escala BIS/BAS (CARVER; WHITE, 1994) traduzida e adaptada culturalmente para a aplicação em adultos brasileiros (PORTILHO- SOUZA; NINA-E-SILVA, 2013).
Resultados: Os resultados indicaram que a prevalência do temperamento ansioso (75,92%, n=41) foi maior do que a prevalência do temperamento impulsivo (24,08%, n=13) na amostra investigada. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 75,92 Temperamento Ansioso 24,08 Temperamento Impulsivo
Resultados: Praticamente, não houve diferenças entre os sexos no que diz respeito às prevalências dos temperamentos.
Discussão e Conclusão Os presentes resultados estão de acordo com achados anteriores (ROZANSKI; BLUMENTHAL; KAPLAN, 1999; SANTOS et al., 2014). Os traços de temperamento ansioso em conjugação com a exposição a eventos estressores têm sido associados com a causa e/ou facilitação da maior probabilidade de desenvolvimento de doença hipertensiva sistêmica (EWART et al., 2011; XUE et al., 2012; SANTOS et al., 2014). O temperamento ansioso está diretamente relacionado a alguns dos mecanismos patofisiológicos básicos da hipertensão arterial, especialmente o desequilíbrio do sistema renina-angiotensina, a exacerbação da ativação neuroendócrina (hipercortisolismo) e a hiperativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenais (ROZANSKI et al., 1999; EWART et al., 2011; XUE et al., 2012; SANTOS, 2014). A ausência de diferença entre os sexos corrobora estudos epidemiológicos brasileiros anteriores segundos os quais praticamente não há distinção entre as taxas de prevalência da hipertensão dos sexos masculino e feminino (PASSOS; ASSIS; BARRETO, 2006). Concluiu-se que houve prevalência do temperamento ansioso entre portadores de hipertensão arterial usuários do CRHD-RV. Referências CARVER, C.S.; WHITE, T.L. Behavioral inhibition, behavioral activation, and affective responses to impending reward and punishment: The BIS/BAS scales. Journal of Personality and Social Psychology, v.67, p.319 333, 1994. EORY, A. et al. Personality and cardiovascular risk: Association between hypertension and affective temperaments-a cross-sectional observational study in primary care settings. European Journal of General Practice, v. 23, p.245-252, 2014. EWART, C.K. et al. Do agonistic motives matter more than anger? Three studies of cardiovascular risk in adolescents. Health Psychology, v. 30, n.5, p. 510-524, 2011. PASSOS, V.M.A.; ASSIS, T.D.; BARRETO, S. Hipertensão arterial no Brasil: estimativa de prevalência a partir de estudos de base populacionalhypertension in Brazil: estimates from population-based prevalence studies. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 15, n. 1, mar. 2006. PORTILHO-SOUZA, E.; NINA-E-SILVA, C. H. Tradução e adaptação da escala BIS/BAS para aplicação em adultos brasileiros. Revista da Universidade Vale do Rio Verde, v.11, n.2, p.470-476, 2013. SANTOS, A.F. et al. A influência de fatores psicológicos sobre a etiologia da hipertensão arterial: uma revisão sistemática. Psychiatry Online Brasil, v.20, Abril, p.1-5, 2014. ROZANSKI, A.; BLUMENTHAL, J.A.; KAPLAN, J. Impact of psychological factors on the pathogenesis of cardiovascular disease and implications for therapy. Circulation, v.99, n.16, p. 192-217, 1999. XUE, Y.T et al. Effect of anger on endothelial-derived vasoactive factors in spontaneously hypertensive rats. Heart, Lung & Circulation, v.22, n.4, p. 291-296, 2012.