Processo n. 34/2017 Auditor (a) Relator (a): Arlete Mesquita Recorrente: MOTO CLUBE DE SÃO LUIS, em favor de seu atleta RAIMUNDO JOSE CUTRIM MARTINS Recorrido: Primeira Comissão Disciplinar do STJD EMENTA Agressão Física após término da partida. Assumir qualquer conduta contrária à disciplina ou à ética desportiva incorre no tipo previsto no artigo 258 do CBJD. Vistos Trata de Recurso Voluntário com pedido de efeito suspensivo interposto pelo MOTO CLUBE DE SÕ LUIS, em favor de seu atleta RAIMUNDO JOSE CUTRIM MARTINS contra decisão da PRIMEIRA COMISSÃO DISCIPLINAR, que aplicou ao Recorrente a penalidade descrita na Certidão de Julgamento, a saber: Por unanimidade de votos, suspender por 04 (quatro) partidas Raimundo José Cutrim Martins, atleta do moto clube de São Luis, por infração ao Artigo 254-A inciso I do CBJD. Em síntese, o atleta RAIMUNDO JOSE CUTRIM MARTINS, foi denunciado nas penas do Artigo 254-A, inciso I do CBJD, por ocasião da partida realizada entre Confiança /SE x Moto Club/MA, realizado no dia 31/07/2017, em Aracaju/SE, partida valida para o Campeonato Brasileiro Série C/2017, pelo fato de após o término da partida, o denunciado foi advertido com cartão vermelho direto, e consequentemente, expulso de campo, por dar um soco no rosto de um companheiro de equipe e ainda teve que ser contido pelos demais companheiros de equipe, conforme descrição na súmula da partida. 1
Às fls. 02/03, Denúncia ofertada; Fls.05/07 Documentos (súmula da partida); Fls. 4 Certidão negativa de antecedentes disciplinares do atleta recorrente; Fls. 14/20 Defesa escrita do Moto Club de São Luís em face de seu atleta Raimundo José Cutrim Martins. Fls. 21 Certidão de Julgamento da Primeira Comissão Disciplinar Fls. 24/33 Recurso Voluntário com pedido de efeito suspensivo com regular preparo, no qual aponta como razão para reforma da decisão primária, a ocorrência do fato após o término da partida, ou seja, não alcançando dessa forma o tipo previsto no Artigo 254-A do CBJD e ainda que a conduta diverge do narrado em súmula, pugnando ao final, caso não acatada as teses supra, a desclassificação para o artigo 250 do CBJD. Fls. 35 - Despacho deferindo efeito suspensivo. É O BREVE RELATÓRIO. DA ADMISSIBILIDADE Preenchidos os requisitos legais, do recurso conheço. Do Mérito Trata-se de Recurso Voluntário interposto pelo MOTO CLUBE DE SÃO LUIS, em favor de seu atleta RAIMUNDO JOSE CUTRIM MARTINS contra decisão da 2
PRIMEIRA COMISSÃO DISCIPLINAR, que aplicou ao Recorrente a penalidade descrita na Certidão de Julgamento, a saber: Por unanimidade de votos, suspender por 04 (quatro) partidas Raimundo José Cutrim Martins, atleta do moto clube de São Luis, por infração ao Artigo 254-A inciso I do CBJD. Apontam em apertada síntese nas razões recursais as seguintes premissas: i) a ocorrência do fato após o término da partida, ou seja, não alcançando dessa forma o tipo previsto no Artigo 254-A do CBJD; ii) A conduta ocorrida diverge do narrado em súmula e iii) Caso não acatada as teses supra, a desclassificação para o artigo 250 do CBJD. Vejamos: DA SÚMULA DA PARTIDA A súmula aponta a existência da seguinte conduta, a saber: Após o término da partida, expulsei diretamente o atleta nº 11, da equipe do Moto Club, Sr. Raimundo Martins, por dar um soco no rosto do seu companheiro de equipe, nº 8, Sr. Felipe dias, o atleta expulso foi contido por companheiros de equipe, saindo do campo de jogo. Durante a instrução processual não foi produzida qualquer prova por parte do atleta recorrente capaz de elidir o acima transcrito. Ao teor do artigo 58 do CBJD a súmula, o relatório e as demais informações prestadas pelos membros da equipe de arbitragem, bem como as informações prestadas pelos representantes da entidade desportiva, ou por quem lhes faça às vezes, gozarão da presunção relativa de veracidade. 3
No caso da súmula há presunção de veracidade juris tantum, já que, ela pode ser descaracterizada em audiência mediante conjunto probatório robusto e nesse caso, repisa-se, que nos presentes autos não há qualquer elemento a contrariar o apontado pelo Senhor Arbitro. Dessa forma outra opção não há senão reconhecer integralmente os fatos apontados na Súmula da partida. DA TIPIFICAÇÃO Conforme se observa da peça de denuncia os fatos trazidos vão de encontro ao constante da súmula, ou seja, nada a reparar quanto à descrição dos fatos. Nesse diapasão, a Primeira Comissão por unanimidade reconheceu todos os termos da Denúncia e condenou o recorrente nas penas do Artigo 254-A, com a suspensão de quatro partidas. Todavia, com razão o recorrente ao apontar que ante o caráter punitivo do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, sua interpretação deve estar atenta a uma interpretação restritiva. Mesmo diante do fato grave praticado pelo recorrente este se deu após o término da partida, contrariando, pois a literalidade do tipo estabelecido no artigo 254 - A, qual seja, de que a agressão física deve se dar por ocasião da partida. Vejamos: Art. 254-A. Praticar agressão física durante a partida, prova ou equivalente. Logo, comprovada a grave conduta praticada pelo recorrente em que pese merecer reforma quanto à tipificação não é o caso de absolvição. 4
No Direito Processual Penal vigora a premissa segundo a qual o acusado defende-se dos fatos, e não da classificação jurídica contida na denúncia ou queixa. E esta premissa decorre essencialmente da noção de que ao magistrado cabe conhecer e ditar a lei aplicável ao fato posto em julgamento (narra-me o fato que te darei o direito). Nesse sentido, vejamos: RECEBIMENTO DA DENÚNCIA COM ERRO DE CAPITULAÇÃO Descabe ao magistrado, na oportunidade do recebimento da denúncia, discutir a capitulação do delito. Esta é uma atribuição do Ministério Público, titular da ação penal pública. O momento processual adequado para que o juiz possa dar ao fato definição diversa da que conta da denúncia, ou reconhecer a possibilidade de nova definição jurídica do fato é o da sentença (RT, 647/269). Pois bem, desse modo, amoldo os fatos praticados pelo recorrente no tipo previsto no artigo 258 do CBJD, a saber: Art. 258. Assumir qualquer conduta contrária à disciplina ou à ética desportiva não tipificada pelas demais regras deste Código. PENA: suspensão de uma a seis partidas, provas ou equivalentes, se praticada por atleta, mesmo se suplente, treinador, médico ou membro da comissão técnica, e suspensão pelo prazo de quinze a cento e oitenta dias, se praticada por qualquer outra pessoa natural submetida a este Código. Para dosimetria da pena, observando a primariedade, todavia reconhecendo a gravidade do fato, desclassifico os fatos do artigo 254-A para o artigo 258 do CBJD e aplico a penalidade de 03(três) partidas de suspensão, aplicando a detração da partida já cumprida com a aplicação do cartão vermelho. 5
Em sendo assim, conheço do recurso e dou provimento para reformar a decisão nos termos do voto. É como voto. ARLETE MESQUITA - AUDITORA -STJD 6