Os desafios da cerâmica vermelha

Documentos relacionados
CAPACIDADE PRODUTIVA DOS APLS DE CERÂMICA VERMELHA. Cesar Gonçalves Presidente da Anicer

AÇÕES DE FOMENTO À MINERAÇÃO DO GOVERNO DE GOIÁS: FUNMINERAL

Levantamento /mapeamento das reservas de matéria prima para a indústria cerâmica (LMGRAVS)

Departamento Nacional do SENAI

Reparação de Veículos

SINDICATO DA INDÚSTRIA CERÂMICA DE SÃO MIGUEL DO GUAMÁ E REGIÃO SINDICER AGLOMERADOS ECONÔMICOS DE BASE MINERAL EXPERIÊNCIA LOCAL

SINDICATO DA INDÚSTRIA CERÂMICA DE SÃO MIGUEL DO GUAMÁ E REGIÃO SINDICER AGLOMERADOS ECONÔMICOS DE BASE MINERAL EXPERIÊNCIA LOCAL

ANÁLISE MINERALÓGICA, QUÍMICA E TEXTURAL DAS JAZIDAS DE ARGILA DO MUNICÍPIO DE TAMBAÚ - SP

Propostas de posicionamento estratégico para uma Política de Desenvolvimento Industrial

ENCADEAMENTO PRODUTIVO Oportunidade para as pequenas empresas Bom negócio para as grandes

AÇÕES DA SUBSECRETARIA DE MINERAÇÃO PARA O FORTALECIMENTO DA POLÍTICA ESTADUAL DE MINERAÇÃO

Secretaria de INDÚSTRIA COMÉRCIO E MINERAÇÃO - SEICOM PLANO DE MINERAÇÃO DO ESTADO DO PARÁ

ARRANJO PRODUTIVO LOCAL - APL

Programa SENAI de Apoio à Competitividade da Industria Brasileira

TENDÊNCIAS DO AMBIENTE BRASIL / DISTRITO FEDERAL

Central de Massa: uma Alternativa para o Aprimoramento do Suprimento de Matéria-Prima à Indústria de Cerâmica Vermelha

PROGRAMA: Educação Profissional e Tecnológica

OFERTA DE SERVIÇOS DE CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA PARA A CADEIA DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL

Referencial Teórico. Redes de cooperação produtivas:

PATEM. Programa de apoio tecnológico aos municípios. Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação

Variável-Chave: Expressão Mnemônica: FAC FORTALECER O ASSOCIATIVISMO E O COOPERATIVISMO M E M B R O S

Arranjos Produtivos Mínero-Cerâmicos e o Desenvolvimento Econômico: Caso do APL de Socorro - SP

Secretaria de INDÚSTRIA COMÉRCIO E MINERAÇÃO - SEICOM PLANO DE MINERAÇÃO DO ESTADO DO PARÁ

FORUM URBANO MUNDIAL 5 Rio de Janeiro de março, 2010

As empresas públicas na promoção do desenvolvimento regional Modelos de desenvolvimento para Minas Gerais

INSTITUTO SENAI de tecnologia em MATERIAIS

Plano de Mineração do Estado do Pará Desafios à mineração no Pará: Planejamento estratégico e desenvolvimento do Estado

99% do total de empresas no País MICRO E PEQUENAS NA ECONOMIA BRASILEIRA

Referencial para Elaboração de Projetos Estruturantes

Parceria entre Codevasf e Mapa beneficiará irrigantes com apoio

PLANO ESTADUAL DE MINERAÇÃO

Ministério de Minas e Energia Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral. APLs de Base Mineral Experiências Nacionais

APRESENTAÇÃO DE ARTIGOS: BANNER

Consulta Pública ANP 10/2014: As novas regras para investimentos em P,D&I

Resíduos da Mineração: Desafios para o Futuro

Políticas Públicas e Ações para o Desenvolvimento Regional do Estado de São Paulo

Entidade Setorial Nacional Mantenedora

MANUTENÇÃO MECÂNICA GESTÃO ESTRATÉGICA DA MANUTENÇÃO. João Mario Fernandes

Estratégias da FINEP e seus Instrumentos de Apoio à Inovação. Prof. Oswaldo Massambani Titular da Superintendência Regional de São Paulo

Workshop ABDE Centro-Oeste Brasília 29 de novembro de 2011

ANEXO 2 MANUAL DO EMPRESÁRIO

ENCTI. Reunião do Conselho Superior de Inovação e Competitividade da Fiesp. Ministro Marco Antonio Raupp. 19 de abril de 2013

Claudimara Thomazella Gerente de Geoinformação e Estudos Geológicos. Sara do Socorro Silva Gerente de Operações do FUNMINERAL

APRESENTAÇÃO DO SEMINDE

Prof. Dr. Evandro Prestes Guerreiro (UNIP Santos) Prof. Ms. Edison da Silva Monteiro (UNIP Santos) Prof. Ms. Henrique Cesar Nanni (UNIP Santos)

IPT: Programa de Apoio Tecnológico às MPMEs Embrapii Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação. Mari Tomita Katayama.

edicao data Programa de Eficiência do Processo Produtivo do Setor de Esquadrias de Construções Metálicas da Região Metropolitana

Metalmecânico. Ter 75% das empresas

CURRAIS NOVOS 1 DADOS GERAIS 2 PERFIL DOS EMPREENDIMENTOS

Clique para editar o estilo do título mestre

PORTFÓLIO. Alimentos

Contribuir com o desenvolvimento e fortalecimento do de polpas de frutas e produtos naturais, em fortaleza e na Região Metropolitana de fortaleza, atr

ESTUDO DE CASO. Estudo de caso: Arranjo Produtivo Local (APL) do setor de Mandioca em Alagoas

181 mil Integrantes de 78 nacionalidades diferentes

Desenvolvimento de Arranjos Produtivos Locais no Estado do Rio de Janeiro. A IMPORTÂNCIA DAS MARCAS COLETIVAS NOS ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS -APLs

Vale do Aço. Fevereiro/2016

Inovação em Arranjos Produtivos Locais

Como Alavancar Inovações Sociais, Eficiência e Produtividade

Teleconferência de Resultados 1T15

Instrumentos de Apoio à Inovação Âmbito Regional

MATÉRIAS-PRIMAS MINERAIS MINÉRIOS-SUSTENTABILIDADE-ECONOMIA

APLs como Estratégia de Desenvolvimento Atuação do Governo Federal nos últimos 12 anos

DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DAS INDÚSTRIAS DE CERÂMICA VERMELHA DA REGIÃO SUL DO ESTADO DO CEARÁ

RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA NA GESTÃO DA CADEIA LOGÍSTICA

ATUAÇÃO DO SEBRAE NO AMBIENTE TECNOLÓGICO DE CASA & CONSTRUÇÃO

Impactos da transferência de tecnologia como resultado da atuação dos NIT SEBRAE NACIONAL/UAITS. Adriana Dantas Gonçalves Maio de 2017

Área de Insumos Básicos AIB

o PIB das empresas praticamente dobrou de 2007 a 2010, o que descon-

Ações do Governo de São Paulo para a Cadeia de Fornecedores de P&G. Subsecretaria de Petróleo e Gás

Escritório Bahia Criativa

O PETRÓLEO E A INDÚSTRIA MINERAL BRASILEIRA

Forma de Funcionamento Número de negócios Percentual (%) Associação ou sindicato 15 0,32. Cooperativa 6 0,13

15º Congresso Brasileiro de Mineração e EXPOSIBRAM 2013

CURSO: ENGENHARIA DE PRODUÇÃO EMENTAS

Projeto Extensão Produtiva e Inovação

PROGRAMA KLABIN DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO REGIONAL: APOIO AO PLANEJAMENTO DA GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL

TENENTE LAURENTINO CRUZ

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária

ANÁLISE DAS VARIÁVEIS _ APL CERÂMICA DO NORTE GOIANO Flexibilização do Código de Mineração

Parque Tecnológico de Botucatu Junho / 2015

Encadeamento Produtivo de Serviços Novas Oportunidades, Novos Desafios

Trabalhamos com uma equipe técnica multidisciplinar que atua nas diversas áreas da Geologia e Meio Ambiente.

Indústria Química, Sociedade e Território: novos desafios para o Grande ABC

Potencial Técnico e Econômico do Aproveitamento de Resíduos da Indústria de Cerâmica Vermelha

Debate sobre o desenvolvimento do Espírito Santo. Pontos para um programa de governo Região Sul. Cachoeiro, 12/04/2014

SETOR DE AGREGADOS PARA CONSTRUÇÃO

CURSO: ENGENHARIA DE PRODUÇÃO EMENTAS º PERÍODO

Inovação Banco do Nordeste FNE

ESTUDO DAS POTENCIALIDADES ECONÔMICAS DO MUNICÍPIO DE OIAPOQUE- AP CONSIDERANDO A IMPLANTAÇÃO DO CAMPUS AVANÇADO DO IFAP

A Nova Agenda Carlos Américo Pacheco São Paulo, 08 de novembro de 2006

A PRODUTIVIDADE DA CONSTRUÇÃO CIVIL BRASILEIRA. 11 de maio de 2015

Raimundo Deusdará Filho Diretor da Área de Gestão dos Empreendimentos de Irrigação CODEVASF/AI Fortaleza/CE Junho de 2008

PETROBRAS EMPRESA ÂNCORA

EXCELÊNCIA EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E INOVAÇÃO TECNOLÓGICA

PRIMEIRA REUNIÃO PLENÁRIA GESTÃO

VOLUME II. Plano de Atendimento à População Atingida

XIII Seminário Nacional de Arranjos Produtivos Locais de Base Mineral

BALANÇO SOCIAL Os benefícios gerados por meio dos investimentos sociais. Belo Horizonte, 21 de setembro de 2016

O PETRÓLEO E A INDÚSTRIA MINERAL BRASILEIRA

DRM-RJ O que Somos e o que Fazemos

Transcrição:

ENTREVISTA Os desafios da cerâmica vermelha Com longa tradição na área de cerâmica, o centenário Instituto de Pesquisas Tecnológicas, com sede em São Paulo, é uma das maiores instituições de pesquisa do país. Nesta entrevista, o pesquisador do Setor de Recursos Minerais e Tecnologia Cerâmica, Luiz Carlos Tanno, fala dos projetos, desafios e carências do setor. NovaCer - O que é o IPT e como ele funciona? Qual sua estrutura? Luiz Carlos Tanno - O IPT é um instituto vinculado à Secretaria de Desenvolvimento do Estado de São Paulo e há mais de cem anos colabora com o processo de desenvolvimento do Brasil. É um dos maiores institutos de pesquisa do país, conta com laboratórios capacitados e equipe de pesquisadores e técnicos que atuam nas áreas de inovação, pesquisa e 36 nacional na área de calibração e foi o primeiro laboratório credenciado pelo Inmetro. NC - O IPT existe só em São Paulo? LCT - Além da sede localizada na cidade de São Paulo, dentro da cidade universitária, o IPT possui o Laboratório de Calçados e Produtos de Proteção no município de Franca e está construindo o Laboratório de Estruturas Leves em São José dos Campos. desenvolvimento, serviços tecnológicos, desenvol- NC - O que representa o IPT para o Brasil? vimento e apoio metrológico, informação e educa- LCT - Com mais de cem anos de existência, o ção em tecnologia. O IPT prevê soluções e serviços Instituto esteve presente em todas as etapas de tecnológicos que visam aumentar a competitivida- desenvolvimento nacional, tendo participação de das empresas e promover a qualidade de vida. O importante tanto nas épocas críticas como na IPT possui 12 centros tecnológicos e atua de forma Revolução de 1932 e na segunda Guerra Mundial, multidisciplinar contemplando os segmentos de quanto no processo de industrialização, deixando energia, transportes, petróleo e gás, meio ambiente, sua marca no desenvolvimento do país. O IPT é construção civil, cidades e segurança. É referência reconhecido nos meios técnicos nacionais e inter-

nacionais por responder às demandas tecnológicas da sociedade e do setor produtivo, focando seus negócios em áreas de convergência entre suas competências e as prioridades dos setores público e privado. NC - O que é o Patem - Programa de Apoio Tecnológico aos Municípios? LCT - A Secretaria de Desenvolvimento do Estado de São Paulo, por intermédio do Programa de Apoio Tecnológico aos Municípios (Patem), financia serviços especializados do IPT para obtenção de pareceres técnicos em municípios de pequeno e médio porte. Os temas trabalhados são: planejamento territorial, obras de infraestrutura pública, defesa civil, mineração, cerâmica, resíduos sólidos, recursos hídricos, agricultura irrigada, habitação, distritos industriais, turismo e Arranjos Produtivos Locais (APLs). O programa existe desde 1989. NC - Na área de cerâmica vermelha em quais estados o IPT atua? LCT - O IPT já atuou em vários estados brasileiros, com destaque para o estado da Bahia onde assessorou a equipe da CBPM (Companhia Baiana de Pesquisa Mineral) na elaboração do Catálogo das Matérias- Primas Cerâmicas da Bahia e do Portfólio do Polo Cerâmico da Bahia. Estes dois produtos consistem em uma peça de divulgação dos recursos que o estado dispõe para instalação de empreendimentos mínero-cerâmicos. NC - Qual a importância da indústria de cerâmica vermelha para o Brasil? LCT - Os números divulgados pela Associação Nacional da Indústria Cerâmica (Anicer) em 2010 mostram a importância do setor de cerâmica vermelha no Brasil: Geração de empregos diretos: 293 mil; Geração de empregos indiretos: 1,25 milhão; Faturamento anual: R$ 6 bilhões; Indústria de Cerâmica Vermelha: 4,8% da Indústria da Construção Civil; As primeiras atividades (do IPT) datam da década de 1930, quando as empresas do ramo começaram a se estruturar Indústria da Construção Civil: 7,3% do PIB nacional - R$ 126,2 bilhões; Macrossetor da Construção: 18,4% do PIB nacional. NC - Qual a atuação do IPT na área de cerâmica vermelha? O que há de novidade? LCT - O IPT tem longa tradição de atuação na área de cerâmica. As primeiras atividades datam da década de 1930, quando as empresas do ramo começaram a se estruturar. Nesta época, como único laboratório brasileiro de apoio à indústria cerâmica, o IPT atuou intensamente na caracterização de matériasprimas de diferentes regiões do país. Atualmente, o instituto tem realizado estudos de prospecção e pesquisa de depósitos de argilas para suprimento das demandas de matérias-primas em diversos aglomerados cerâmicos no estado de São Paulo. Além disso, presta serviço de extensão tecnológica, por meio do Prumo (Projeto Unidades Móveis), para as micro e pequenas 37

empresas do setor de cerâmica vermelha. Os atendimentos do Prumo utilizam unidades móveis, veículos equipados com equipamentos laboratoriais portáteis especializados por setor, operados por um engenheiro e um técnico do IPT. É realizada uma série de ensaios e análises de matérias-primas e são detectadas as deficiências em equipamentos, em processos e no ferramental, ou falhas no treinamento de recursos humanos. A partir do diagnóstico, são sugeridas as modificações necessárias para sanar os problemas e implementadas as soluções possíveis, com comprovação imediata dos resultados obtidos. O atendimento é realizado dentro das próprias instalações das empresas em um período de até dois dias. NC - Qual a maior demanda do IPT na área de cerâmica vermelha? LCT - A maior demanda atual se dá na questão do suprimento de matérias-primas para os vários aglomerados cerâmicos do estado de São Paulo. Nesse sentido, foram realizados vários estudos para identificação de novos depósitos de argilas e também elaborados modelos de zoneamento para a inserção da atividade de mineração nos instrumentos de ordenamento territorial dos municípios, com vistas a garantir a disponibilização das reservas minerais. NC - Qual a estrutura do IPT para trabalhar com cerâmica vermelha? LCT - O IPT dispõe de equipes multidisciplinares nas áreas de geologia, engenharia de minas e engenharia de materiais, além de laboratório de tecnologia A implantação da central (de massa) deve corresponder a um upgrade tecnológico na atual estrutura de produção de matériasprimas cerâmica, que podem atender demandas em toda a cadeia produtiva de cerâmica vermelha, desde a matéria-prima até o produto final. NC - Como funcionam as centrais de massas? De que forma os ceramistas são beneficiados com as centrais? LCT - Para os APLs mínero-cerâmicos de Tambaú e Vargem Grande do Sul no centro-leste do estado de São Paulo, o IPT elaborou um projeto conceitual de Central de Massa Cerâmica, abrangendo o esboço do layout da estrutura produtiva, dimensionamento dos equipamentos estacionários e móveis, operações unitárias de processamento de substâncias/produtos minerais e estimativas de investimentos, entre os quais se inclui um laboratório para caracterização tecnológica cerâmica. A implantação da central deve corresponder a um upgrade tecnológico na atual estrutura de produção de matérias-primas, oferecendo aos ceramistas argilas beneficiadas (cominuídas e homogeneizadas) e misturas dosadas prontas para o consumo, com a composição específica para cada tipo de produto (telhas, blocos, tubos etc.), ambas armazenadas em lotes com propriedades controladas. Os benefícios esperados aos negócios dos ceramistas advindos do suprimento mais qualificado realizado por uma atividade especializada de processamento de massas cerâmicas correspondem a ganhos de produtividade: isso ocorrerá em razão de diminuições nas perdas do processo, nos custos de investimentos e operacionais (estocagem de argilas, preparação das misturas) e nas despesas com o manuseio e destino de refugos, bem como a melhoria da qualidade dos 38

produtos. Nesses moldes, não existe nenhuma central de massa para cerâmica vermelha no Brasil. NC - Quais as principais carências do setor de cerâmica vermelha hoje? LCT - O setor de cerâmica vermelha no Brasil enfrenta diversos desafios para a manutenção e o aprimoramento do seu parque industrial: a) reservas de argilas: há necessidade de melhoria do conhecimento geológico das atuais reservas e novos estudos prospectivos para definição de outras áreas potenciais de argilas, com o objetivo de ampliar as reservas atuais e atender à demanda crescente do mercado consumidor para os próximos anos; b) manutenção do suprimento de argilas para o setor cerâmico: é importante o estabelecimento do ordenamento territorial geomineiro nos polos de produção para compatibilizar a atividade extrativa com outras vocações econômicas do território e com a preservação ambiental, de forma a garantir para as próximas décadas o suprimento de matérias- -primas para as indústrias de cerâmica vermelha; c) formalização da atividade extrativa: é de suma importância a formalização das atividades de extração de argilas, uma vez que parte dos empreendimentos opera de maneira informal ou em desacordo com a legislação mineral e ambiental, colocando em risco tanto o controle e a recuperação ambiental das áreas mineradas, quanto o próprio abastecimento das cerâmicas; d) inovação na produção das matérias-primas: a implantação de uma central de massa é um avanço significativo na estrutura de produção de matérias- -primas para o segmento de cerâmica vermelha; essa estrutura deve ser acompanhada da instalação de um laboratório de caracterização tecnológica para ofertar ao segmento um material mais qualificado, em comparação ao atualmente produzido pelas mineradoras ou cerâmicas; As melhores referências em cerâmica vermelha são os países da Europa Ocidental, com destaque para Espanha e Itália e) associativismo: uma ação fundamental é o incentivo ao associativismo, destacando-se a importância da cooperação e interação dos empreendedores em busca de soluções comuns para resolução de entraves e desenvolvimento das atividades; entre as ações, inclui- -se a criação de uma cooperativa de mineradores de argila para atuarem de forma organizada, favorecendo a regularização dos empreendimentos, minimizando custos de produção por meio da conjugação de equipamentos e melhorando o padrão de qualidade da matéria-prima, além da recuperação ambiental. NC - Em 2009, o IPT descobriu a quarta maior reserva de argila do Brasil. O que isso representa para o setor? Quando ela vai entrar em funcionamento? Quem será beneficiado? LCT - O estudo do IPT, financiado pela Secretaria de Desenvolvimento do Estado de São Paulo, resultou na descoberta da quarta maior reserva de argila do Brasil, nos municípios de Presidente Epitácio e Castilho, calculada em torno de 135 milhões de toneladas. A descoberta vai beneficiar cerca de 95 empresas que produzem blocos e telhas e que empregam em torno de 1,5 mil pessoas. O volume de matéria- -prima consumida por essas empresas é de cerca de 40

1,5 milhão de toneladas/ano, ou seja, há reserva para a produção do APL por mais 85 anos. Para entrar em atividade, a reserva depende da liberação do DNPM. NC - As cerâmicas que serão beneficiadas por essa reserva temem a falta de matéria-prima em curto prazo. Os ceramistas devem se preocupar? LCT - O que acontece, é que a Cooperativa das Indústrias de Cerâmica do Oeste Paulista trabalha com pouco estoque, depende da regularização do DNPM para iniciar as atividades na jazida. A cooperativa já solicitou ao departamento e aguarda o trâmite burocrático, que depende de cada situação. NC - Os ceramistas reclamam bastante da demora para os órgãos competentes liberarem licenças ambientais. Em sua opinião por que isso acontece? LCT - É uma situação delicada. Demora porque segue o trâmite burocrático e cada situação é analisada particularmente. Muitos ceramistas reclamam por desconhecerem o processo e o que sabemos é que o DNPM está trabalhando para agilizar as regularizações. NC - Como o IPT ou outro órgão descobre uma jazida? LCT - A descoberta se dá por meio de estudos prospectivos e de pesquisa mineral, envolvendo reconhecimento geológico, execução sistemática de sondagens, coleta de amostras e caracterização tridimensional dos depósitos de argila encontrados. NC - Qual país pode ser considerado o melhor exemplo quando falamos em pesquisa tecnológica no setor de cerâmica vermelha? LCT - As melhores referências em cerâmica vermelha são os países da Europa Ocidental, com destaque para Espanha e Itália. O setor empresarial vem tomando iniciativas para aprimoramento tecnológico e competitivo NC - O setor de cerâmica vermelha no Brasil é composto em sua maioria por micro e pequenas empresas, sendo que as olarias ainda existem em grande número no mercado. Os ceramistas e oleiros estão atentos à modernização dos seus parques fabris? LCT - O setor de cerâmica vermelha no Brasil é composto por pequenos empreendimentos familiares artesanais (olarias, em grande parte não-incorporadas nas estatísticas oficiais), cerâmicas de pequeno e médio portes (com deficiências de mecanização e gestão) e empreendimentos de médio a grande porte de tecnologia mais avançada. A grande maioria das empresas tem sua competitividade baseada em custos. Mais recentemente, o setor empresarial vem tomando iniciativas para aprimoramento tecnológico e competitivo, como a adesão a programas de qualidade, implantação de laboratórios de caracterização tecnológica de matérias-primas e produtos, qualificação de mão de obra, desenvolvimento no uso de novos combustíveis, estudos de incorporação de resíduos na massa cerâmica e diversificação da produção. Esse esforço de modernização do setor tem sido liderado pela Anicer, articulada com associações e sindicatos regionais. Muitos desses esforços equivalem a estruturas organizativas de APLs, e contam com a participação ativa de órgãos como o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e outros centros de pesquisa e inovação. NC 41