COMPOSTOS FENÓLICOS E ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DE MEL E PÓLEN APÍCOLA DE MATO GROSSO Thayna Dayse Silveira 1, Carmen Wobeto 2 1- Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais - Universidade Federal de Mato Grosso, Av. Alexandre Ferronato, 1200 Cep: 78556-324 Sinop MT Brasil, Fone: (66) 3531-1663 e-mail: thayna_dayse@hotmail.com. 2- Instituto de Ciências Naturais, Humanas e Sociais Universidade Federal de Mato Grosso, Av. Alexandre Ferronato, 1200 Cep: 78556-324 Sinop MT Brasil, Fone: (66) 3531-1663 e-mail: carmenwobeto2014@gmail.com. RESUMO O mel e o pólen apícola apresentam alteração na composição em função da origem botânica, a qual é variável conforme a região de produção apícola. Os antioxidantes atuam no controle dos processos oxidativos, em função disto apresentam efeitos anticarcinogênicos. O objetivo deste trabalho foi avaliar a composição fenólica e a atividade antioxidante de mel e pólen apícola produzidos na região norte de Mato Grosso. A quantificação dos fenólicos e flavonoides totais foi realizada por espectrofotometria. A atividade antioxidante foi avaliada através da capacidade sequestrante do radical livre DPPH (1,1-difenil-2-picrilidrazil). Verificou-se que o mel e o pólen apícola apresentaram atividade antioxidante significativa, expressa em EC50, respectivamente de 43,24 e 41,31 mg/ml. Além disso, estes produtos apícolas apresentaram teores de fenólicos e flavonoides semelhantes a outros estudos com estes produtos de outras regiões brasileiras e de outros países. ABSTRACT - honey and bee pollen present change in the chemical composition depending on the botanical origin, which is variable according to the beekeeping region. Antioxidants act to control the oxidative processes in this function have anticarcinogenic effects. The objective of this study was to evaluate the phenolic composition and antioxidant activity of honey and bee pollen produced in northern Mato Grosso. Quantitation of total flavonoids and phenolic was performed by spectrophotometry. The antioxidant activity was evaluated by sequestering ability of free radical DPPH (1,1-diphenyl-2-picrilidrazil). It was found that honey and bee pollen showed significant antioxidant activity, expressed as EC50, respectively 43.24 and 41.31 mg/ml. Moreover, these bee products showed phenolic and flavonoid contents similar to other studies with these products from other Brazilian regions and other countries. PALAVRAS-CHAVE: flavonoides totais; fenólicos totais; sequestro do DPPH. KEYWORDS: total flavonoids; total phenolics; scavenging of DPPH. 1.INTRODUÇÃO O pólen apícola tem sido utilizado há muitos anos tanto na medicina tradicional quanto na nutrição suplementar e em dietas alternativas, devido principalmente as suas propriedades nutricionais
e benéficas à saúde humana (ALMEIDA-MURADIAN et al., 2005; ISLA et al., 2001; KROYER e HEGEDUS, 2001). Além disso, o pólen também contém altos teores de substâncias polifenólicas, principalmente flavonoides com atividade antioxidante (CAMPOS et al., 2003; KROYER e HEGEDUS, 2001). Os antioxidantes atuam no controle dos efeitos nocivos dos processos oxidativos impedindo ou diminuindo a formação dos radicais livres e os compostos fenólicos agem como antioxidantes. Atualmente o interesse no estudo dos compostos fenólicos tem aumentado muito, devido principalmente à habilidade antioxidante destas substâncias em sequestrar radicais livres (DORMAN et al., 2003). A produção de pólen apícola no Brasil representa uma atividade recente que teve início no final da década de 80. Entretanto, o Brasil tem potencial para ser um grande produtor de pólen, principalmente pela riqueza e diversidade da flora aliada ao clima tropical e resistência das abelhas africanizadas Apis mellifera. A caracterização físico-química e biológica do pólen faz-se importante em um controle de qualidade e até mesmo em uma padronização do pólen brasileiro para possíveis utilizações nas indústrias alimentícias e farmacêuticas (ALENCAR, 2002). O mel, por definição, é um produto natural de abelhas obtido a partir do néctar das flores, de secreções de partes vivas das plantas ou de excreções de insetos sugadores de partes vivas das plantas (CAMPOS et al., 2000). É uma solução supersaturada de açúcares (principalmente glicose e frutose), mas também possui outros constituintes que mesmo em pequenas concentrações, fazem do mel um produto muito rico em vitaminas, minerais, compostos fenólicos e enzimas e um produto utilizado em todo o mundo, não só pela sua propriedade adoçante, mas também como promotor de saúde. Os consumidores em geral consideram o mel uma fonte natural de saúde devido às suas qualidades terapêuticas tais como: atividade antimicrobiana, protetor de doenças gastrointestinais, propriedades antioxidantes, propriedades prebióticas, além de ser uma boa fonte de energia (SILVA, R.A., et al 2006). Quando se fala em mel, tem-se uma imediata ideia das seguintes propriedades: adoçante natural, fonte de energia, alimento saudável, efeito cicatrizante, notável aroma e antibacteriano. Aplicações tópicas ou na pele, incluindo o tratamento de feridas e queimaduras, foram mencionadas em um levantamento da utilização do mel de abelha (MEDA, A. et al, 2004), sendo também usado para tratar feridas cirúrgicas, úlceras de pele, abscessos (MOLAN, 1999), queimaduras e para preservação histológica de enxertos de pele (SUBRAHMANYAM, 1993). O objetivo do presente trabalho foi avaliar a atividade antioxidante e determinar os teores de compostos fenólicos e flavonoides totais em extratos metanólicos de pólen apícola e mel de Apis mellifera. 2.MATERIAL E MÉTODOS 2.1.Coleta e preparo das amostras O pólen apícola foi coletado em triplicata de um apiário na cidade de Santa Carmen, Mato Grosso. Após foram armazenadas em freezer ( 18 C), até o momento das análises. Enquanto que, o mel foi coletado em triplicata de um apiário da cidade de Sorriso, Mato Grosso. As amostras foram armazenadas em potes de vidros devidamente esterilizados e guardados em temperatura ambiente até o momento das análises.
Foram preparados os extratos metanólico de mel e pólen apícola a 10%, em metanol 50%, sob refluxo de 2 h a 80 o C (AOAC, 1960). 2.2Análises Físico-Químicas Dos Extratos Análise de compostos fenólicos totais: O conteúdo total de fenólicos nas amostras de mel foi determinado espectrofotometricamente de acordo com o método de Folin-Ciocalteu (WOISKY; SALATINO, 1998). Os resultados foram expressos em mg de Equivalente de Ácido Gálico (EAG)/ 100g. Análise de flavonoides totais: A determinação de flavanóides foi conduzida usando a solução cloreto de alumínio 2,5% em água, adicionando à 0,5mL da solução metanólica de mel, após 30 minutos a absorbância foi lida à 425nm contra um branco. A curva de quercitina foi usada como padrão. O conteúdo de flavanóides foi expresso em mg equivalente de quercitina (EQ)/100g (WOISKY; SALATINO, 1998). Avaliação da atividade sequestrante do radical DPPH: Para a determinação da atividade antioxidante, foi utilizado o método de sequestramento de DPPH (2,2-difenilpicril-hidrazila), conforme descrito por Rufino et al. (2007). Os resultados foram expressos em EC 50, ou seja, a concentração da amostra necessária para sequestrar 50% dos radicais de DPPH. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Conforme observado na Tabela 1 os teores de fenólicos e flavonoides do pólen apícola foram superiores aos do mel, pois o pólen é o alimento proteico das colmeias e, portanto apresenta altos teores de proteínas, vitaminas, minerais e compostos fenólicos superiores ao mel (ANDRADE et al., 1999; DONADIEU 1979). Alencar (2002) avaliando a composição química do mel de diferentes regiões do Brasil verificou que as agliconas encontrados no mel podem ser parcialmente oriundas dos flavonoides do pólen. Tabela 1 - Atividade antioxidante, teor de compostos fenólicos e flavonoides totais nas amostras de mel e pólen apícola analisadas. Amostras Compostos fenólicos (mg Flavanóides Totais (mg de GAE. 100 g 1) quercitina.100 g ¹) EC50 (mg/ml) Mel 53,94 ± 2,84 3,93 ± 0,08 43,24 ± 1,17 Pólen 748,6 ± 22,81 320 ± 10 41,31 ± 3,1 Os teores de fenólicos no mel foram semelhantes aos relatados na literatura científica onde obteve uma variação de 56,32 a 246,21 mg.100g (SONTAG et al., 1989; AL-MAMARY et al., 2002; KUCUK et al., 2007), e os teores em pólen foram maiores que os relatados por Carpes et al. (2009) que apresentou uma variação de 192,8 a 489,0 mggae.100g. Os teores de flavanóides em mel também foram semelhantes aos méis de várias regiões da África (0,2 a 8,4 mgeq.100g) sendo investigados méis monoflorais e multiflorais (MEDA et al.,
2005), enquanto que os teores destes compostos no pólen investigado foram superiores aos relatos na literatura, com uma variação de 25,4 a 272,2 mg.100g (ARRUDA et al., 2013; FÉAS et al., 2012; VECCHIA et al., 2009; NEVES et al., 2009). Os teores superiores de flavanóides no pólen está relacionado a influência da composições florísticas dos locais, assim como variações edafoclimática nos diferentes locais de produção (MODRO et al., 2007; LEJA et al., 2007). Os altos teores destes compostos nos produtos apícolas, em especial o pólen, podem ter correlação com a localização geográfica dos apiários, pois os mesmos encontravam-se Cerrado, que é característico pelas elevadas temperaturas que podem ocasionar acúmulos de compostos fenólicos, além de possuir uma grande diversidade de flora conferindo a estes produtos atividade antioxidante, antimicrobiana, antiviral e anticarcinogênica (KUCUK et al., 2007; RIVERO et al., 2001). A atividade antioxidante, expressa em EC 50 (concentração da substância antioxidante necessária para reduzir em 50% a concentração inicial do DPPH), no mel investigado foram semelhantes aos relatados por Lianda et al. (2009), que obteve uma variação de 48,20 a 770,5 mg.100 ml -1 em méis do Rio de Janeiro. Valores de EC 50 em pólen estão na faixa de variação descritas em outros estudos realizados em diferentes regiões brasileiras, ou seja, de 8,68 a 209,1 mg.ml -1 (FREIRE et al., 2012; ARUDA 2013). É importante considerar que, quanto maior o valor de EC 50, menor a eficiência da amostra em desativar o radical, portanto, as amostras deste estudo se comparados aos valores máximos encontrados por diferentes autores indicam alta atividade antioxidante. 2. CONCLUSÃO O mel e o pólen apícola investigados apresentaram uma significativa atividade antioxidante, em função disto pode ser avaliada a atividade biológica destes produtos naturais no controle de microrganismos patogênicos para o homem ou fitopatógenos em plantas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALENCAR, S. M. Estudo fitoquímico da origem botânica da própolis e avaliação da composição química de mel de Apis mellifera africanizada de diferentes regiões do Brasil. 2002. 120 p. (Tese Doutorado em Ciência de Alimentos) - Faculdade de Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Campinas, Campinas. AL-MAMARY, M.; AL-MEERI, A.; AL-HABORI, M.; Antioxidant activities and total phenolics of different types of honey. Nutrition Research, v. 22, p. 1041-1047, 2002. ALMEIDA-MURADIAN, L. B.; PAMPLONA, L. C.; COIMBRA, S.; BARTH, O. M. Chemical composition and botanical evaluation of dried bee pollen pellets. Journal of Food Composition and Analysis, San Diego, v. 18, n. 1, p. 105-111, 2005. ANDRADE, PB.B.; AMARAL. M.Y.; ISABEL, P.; CARVALHO, J.C.M.F.; SEABRA, R.M.; CUNHA, A.P. Physicochemical atributes and pollen spectrum os Portuguese Heather honeys. Food Chemistry, v.66, n.4, p.503-510. 1999.
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