AVALIAÇÃO BIOMECÂNICA DOS TRABALHADORES DE LINHA CONTÍNUA DE CORTES DE FRANGOS

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Transcrição:

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010. AVALIAÇÃO BIOMECÂNICA DOS TRABALHADORES DE LINHA CONTÍNUA DE CORTES DE FRANGOS Fabiano Takeda (UTFPR) takeda.f@bol.com.br Antonio Augusto de Paula Xavier (UTFPR) augustox@utfpr.edu.br Claudilaine Caldas de Oliveira (UTFPR) clau_epa@yahoo.com.br Peterson Diego Kunh (UTFPR) petersonkunh@utfpr.edu.br Com o uso do método OWAS (Ovako Working Posture Analising System) e RULA (Rapid Upper Limp Assessment) esta pesquisa buscou analisar a existência de riscos biomecânicos na linha contínua de cortes de um frigorífico de frangos localizado na região Noroeste do Paraná, visto que, na visão da ergonomia, os postos de trabalhos inadequados podem acarretar diversos sintomas prejudiciais à saúde e segurança dos trabalhadores deste ramo. O método de abordagem utilizado foi qualitativo e quantitativo, a pesquisa classifica-se, quanto aos fins como exploratória e descritiva, e, quanto aos meios, como bibliográfica, estudo de caso e campo. Os resultados demonstram que ambos os métodos, OWAS e RULA, apresentam nos resultados riscos biomecânicos nas atividades analisadas, porém o método OWAS para linhas frigoríficas deixa a desejar por causa do posicionamento dos braços e pescoço, necessitando complementação com outro instrumento que forneça informações sobre estes seguimentos. Sugerese neste estudo a utilização do método RULA para análise dos dados. Palavras-chaves: Biomecânica, Método OWAS, Método RULA

1. Introdução Atualmente as empresas buscam cada vez mais serem competitivas frente ao mercado, procuram acirradamente produzir em alta escala com custos menores, onde, a produtividade, a competitividade e a qualidade são vitais para todos os setores. Necessariamente as estratégias que visam aumentar a competitividade da empresa passam pela saúde do trabalhador e pela integridade ambiental, pois estes são os bens e capital que as empresas necessitam para seguir adiante com sucesso. Neste contexto de alta competição, tem-se dado atenção às condições do ambiente de trabalho e a saúde dos trabalhadores, sendo que o ambiente de trabalho vem sofrendo mudanças rápidas e profundas afetando assim as condições de saúde e segurança do trabalhador. Um exemplo pode ser dado entre os trabalhos encontrados nos frigoríficos que em busca da competitividade transformam constantemente as condições de trabalho a fim de alcançar a produtividade esperada. Segundo Sarda et. al. (2009) a maioria das atividades realizadas nestes ambientes são classificadas como repetitivas, que em muitas vezes causam problemas de saúde, conforto e segurança, pois estas atividades são consideradas como trabalhos monótonos e fatigantes, que por conseqüência causam doenças e acidentes de trabalho. Neste universo de fatores que influenciam o sistema homem-máquina-ambiente, se estabelece a necessidade do estudo da adaptação confortável e produtiva entre as condições de trabalho e o homem, o que é realizado pela Ergonomia. Considerando a importância das condições de saúde, conforto e segurança de trabalhadores em processos contínuos, este trabalho buscou através de uma pesquisa de campo avaliar as condições ergonômicas, especificamente os riscos biomecânicos no processo continuo de cortes de um abatedouro de frangos. A Biomecânica é a disciplina da ergonomia que dedica ao estudo do corpo humano, das forças que atuam no corpo, considerando este como uma estrutura que funciona segundo as leis da mecânica. O corpo humano é considerado um equipamento, que produz movimentos rápidos e precisos, transforma alimentos variados em energia, possui capacidade de adaptação, e além de tudo se regenera quando avariado, porém, para efeito de estudo, pode ser visto como uma máquina, formado por uma estrutura rígida, com articulações e com sistemas tracionadores (DUL, WEERDNEESTER, 2004). De acordo com Moro (2000) as forças aplicadas ao corpo podem ser divididas em dois tipos, as forças externas e as forças internas, onde, as forças externas são aquelas exercidas na superfície do corpo e as forças internas são geradas pelos músculos e tendões e são reação às externas. Segundo Iida (2005) a biomecânica ocupacional preocupa-se com os movimentos corporais e forças relacionadas ao trabalho, ela preocupa-se com as interações físicas do trabalhador, com o seu posto de trabalho, máquinas, ferramentas e materiais, visando reduzir os riscos de distúrbios músculos-esqueléticos, analisando basicamente a questão das posturas corporais no trabalho, a aplicação de forças, bem como as suas conseqüências aos trabalhadores. Dul e Weerdmeester (2004) comentam que a biomecânica é uma parte da ergonomia importante para formular recomendações sobre a postura e o movimento considerando as capacidades das pessoas. Sendo a biomecânica o estudo das leis físicas da mecânica ao corpo, 2

podem-se estimar as tensões que ocorrem nos músculos e articulações durante uma postura ou um movimento no ambiente de trabalho. Segundo Dul e Weerdmeester (2004) os princípios mais importantes da biomecânica para a ergonomia podem ser resumidos conforme tabela 1: Princípios de biomecânica As articulações devem ocupar uma posição neutra Conserve os pesos próximos ao corpo Evite curvar-se para frente Evite inclinar a cabeça Evite torções do tronco Evite movimentos bruscos que produzem picos de tensão Altere posturas e movimentos Restrinja a duração do esforço muscular contínuo Previna a exaustão muscular Pausas curtas e freqüentes são melhores Fonte: Dul e Weerdmeester (2004) Ergonomia As articulações devem ser mantidas, o máximo de tempo possível na posição neutra, evitando que os músculos e os ligamentos sejam esticados, ou tencionados ao mínimo. Quanto mais os pesos estiverem afastados do corpo, mais os braços serão tencionados e o corpo penderá para frente. Deve-se evitar por períodos prolongados que o corpo fique prolongado para frente. Há contração dos músculos e dos ligamentos das costas para manter essa posição. Quando a cabeça de um adulto inclina mais de 30º para a frente, os músculos do pescoço são tencionados para manter essa postura, provocando dores na nuca e nos ombros. Posturas torcidas do tronco causam tensões indesejáveis nas vértebras. Movimentos bruscos podem produzir alta tensão, de curta duração. Os levantamentos de cargas devem ser gradualmente, após préaquecimento da musculatura. Nenhuma postura ou ritmo repetitivo deve ser mantido por um longo período, pois estes são muito fatigantes, podendo causar lesões nos músculos e articulações. O resultado de uma postura prolongada ou de movimentos repetitivos provoca fadigas musculares localizadas, resultando em desconforto e queda de desempenho. A exaustão deve ser evitada, pois quando ela ocorre, há um tempo de recuperação da musculatura. A fadiga muscular pode ser reduzida com diversas pausas curtas distribuídas ao longo da jornada de trabalho. Tabela 1 Princípio de biomecânica em geral Verifica-se na tabela acima a similaridade entre as exigências ergonômicas e biomecânicas, a relação entre o bem estar e adaptação das melhores condições de trabalho. Segundo Mafra et. al. (2005) muitos produtos e postos de trabalho inadequados nas empresas provocam problemas aos trabalhadores e a empresa, como, estresses musculares, dores, fadiga, improdutividade, e na maioria das vezes, podem ser resolvidos com providências simples conforme relatadas na tabela acima. 2. Metodologia Para o desenvolvimento da pesquisa o método de abordagem utilizado foi o qualitativo e quantitativo, no qual analisou-se os postos de trabalho e as atividades, sendo que com a análise visual, observou-se as atividades e movimentos realizados nos postos de trabalho e o ritmo dos operadores na realização do seu trabalho, a análise da bibliografia e dos problemas da Linha de Cortes. Para auxílio da abordagem, utilizou-se uma filmadora digital Olympus modelo X-785 para registrar as posturas executadas em cada atividade. A pesquisa classifica-se, quanto aos fins, como exploratória e descritiva e, quanto aos meios, como bibliográfica, estudo de caso e campo. Os estudos exploratórios permitiram aos pesquisadores aumentar sua experiência em torno de 3

determinado problema e aprofundar seu estudo na realidade específica, buscando antecedentes, para em seguida planejar uma pesquisa descritiva. De acordo com Lakatos e Marconi (2007), a pesquisa exploratória é a investigação impírica. Já a pesquisa descritiva que expõe características de determinada população ou de determinado fenômeno, as condições do sistema homem-máquina-ambiente. Como a pesquisa realizou-se em um frigorífico de aves, então, classifica-se como um estudo de caso, sendo que este foi desenvolvido no período de fevereiro a junho de 2009, durante a realização de uma pesquisa de mestrado. Como o estudo foi realizado dentro da própria empresa, a pesquisa também classifica-se como de campo. Os dados foram coletados por meio da observação direta intensiva, uma vez que, utilizaram-se observações não-participantes em 11 postos de trabalho que no total trabalham 37 funcionários em processo contínuo de produção. Para tratamento dos dados utilizou-se o método OWAS (Ovako Working Posture Analysing System) e o método RULA (Rapid Upper Limp Assessment), ambos com o uso do software Ergolândia Versão 2.0. Para o método OWAS a observação considerou-se as posturas relacionadas às costas, braços, pernas, utilização de força ou carga e a fase da atividade que estava sendo observada. O método OWAS foi utilizado para registro das posturas, sendo que cada postura é descrita por um código de seis dígitos, conforme representadas na figura 1. FIGURA 1- Sistema OWAS para registro de postura. Fonte: Iida (2005). Identificadas as posturas da Figura 1 do sistema OWAS para registro de postura, realizou-se uma avaliação das diversas posturas quanto ao desconforto. Usando-se uma escala de quatro pontos, com seguintes extremos: postura normal sem desconforto e sem efeito danoso à saúde e postura extremamente ruim, provoca desconforto em pouco tempo e pode causar doenças. De acordo com a sugestão de Iida (2005) as posturas foram classificadas em uma das seguintes categorias: 4

a) Categoria de Ação 1: postura normal, que dispensa cuidados, a não ser em casos excepcionais; b) Categoria de Ação 2: postura que deve ser verificada durante a próxima revisão rotineira dos métodos de trabalho; c) Categoria de Ação 3: postura que deve merecer atenção a curto prazo; d) Categoria de Ação 4: postura que deve merecer atenção imediata. Após as análises, foi preenchido o banco de dados do software Ergolandia Versão 2.0 no módulo OWAS, conforme Figura 2, sendo que esta demonstra a categoria de ação, ou seja, se existem medidas preventivas ou não. FIGURA 2 Banco de dados Método OWAS. Fonte: dados da pesquisa (2009). Vale ressaltar aqui, que este método identifica os postos com possíveis riscos e não realiza a análise e recomendações, sendo necessários outros tipos de estudos que não foi o foco deste trabalho. Para o método RULA realizaram-se filmagens de todas as posturas exercidas durante as atividades nos postos de trabalho, para posterior avaliação. O método RULA foi utilizado para registro das posturas, porem sua avaliação difere do método OWAS. A seqüência de avaliação do método RULA segue os seguintes passos: Posição dos braços; Posição do antebraço; Posição dos punhos; Giro do punho; Posição do pescoço em duas etapas de avaliação; Posição dos membros inferiores em duas etapas de avaliação; Tempo na postura; e Carga de trabalho. Identificada às posturas, realizou-se a avaliação das diversas posturas. Para cada postura de avaliação identificada atribui-se uma pontuação que classifica o nível de ação, que segundo 5

Furlanetto (2009) é classificada em: Pontuação 1 ou 2: equivale a uma postura aceitável nível de ação 1; Pontuação 3 ou 4: esta propenso a uma investigação nível de ação 2; Pontuação 5 ou 6: necessita de investigação e mudança a curto prazo nível de ação 3; Pontuação 7: investigar e mudar imediatamente nível de ação 4. Após as analises, foi preenchido o banco de dados do software Ergolandia Versão 2.0 no módulo RULA, conforme figura 3, sendo que este demonstra a categoria de ação, ou seja, se existem medidas preventivas ou não. FIGURA 3 Banco de dados Método RULA. Fonte: dados da pesquisa (2009). A figura acima demonstra o resultado da avaliação pelo método RULA do primeiro posto de trabalho analisado. 3. Resultados 3.1. Perfil geral dos trabalhadores Inicialmente foi realizada uma pesquisa para verificar o perfil geral dos trabalhadores do setor pesquisado, a amostra foi composta pelos 37 funcionários distribuídos nos 11 postos de trabalho de produção contínua. Em síntese, os resultados da pesquisa demonstram que a maioria dos trabalhadores é jovem de até 25 anos de idade e que não há trabalhadores com mais de 40 anos de idade nesta atividade, o que sugere que a atividade seja um atrativo aos jovens que iniciam no mercado de trabalho e que poucos trabalhadores com idade média de 40 anos se submetem as atividades, outro ponto relevante é que a maioria dos pesquisados estão com menos de dois anos de empresa, ressaltando a afirmação anterior, de atrativo aos jovens, a predominância dos trabalhadores é do sexo masculino, são de outras cidades ao redor, migraram em virtude da procura de emprego, configurando a empresa como atrativo profissional para região, possui no máximo o segundo grau de instrução, novamente é uma condição que confirma a necessidade de mão de obra jovem e sem capacitação. Também se verifica nos resultados que todos os trabalhadores fazem o transporte de ida e volta ao trabalho por meio do transporte coletivo. 6

3.2. Análise biomecânica 3.2.1. Resultados do método OWAS De acordo com Iida (2005) para a análise das categorias de ação existem duas avaliações, uma em função da combinação das quatro variáveis e a outra em função da percentagem do tempo na postura. Inicialmente foram atribuídos os códigos das posturas de cada atividade, conforme tabela 2. Atividade Código Costas Braços Pernas Esforço Risco no dorso 3 2 2 1 Risco na virilha 4 1 2 1 Quebra coxa e sobrecoxa 3 1 2 1 Corte da coxa e sobrecoxa esquerda 4 1 2 1 Corte da coxa e sobrecoxa direita 4 1 2 1 Corte do filé esquerdo 4 1 2 1 Corte do filé direito 4 1 2 1 Retirada da coxa e sobrecoxa 4 1 2 1 Corte da asa esquerda 3 2 2 1 Corte da asa direita 3 2 2 1 Retirada do filé (peito) 2 1 2 1 Fonte: Dados da pesquisa (2009) Tabela 2 Código das posturas em função do método OWAS Verifica-se que para cada atividade atribuiu-se quatro dígitos em função da postura necessária para executar cada atividade. Os dígitos seguem a seqüência: postura das costas, posturas dos braços, postura das pernas e esforço necessário. Com a combinação dos quatro códigos de cada atividade inseridos na tabela de ação, obtiveram-se as categorias de ação para cada atividade. 7

Figura 4 Tabela categorias de ação OWAS Com os códigos da tabela 2 inseridos na tabela da figura 4 verificam-se as categorias de ação em função da combinação dos quatro códigos, conforme tabela 3 abaixo. Atividade Categoria de Ação Ação Risco no dorso 1 Não são necessárias medidas corretivas Risco na virilha 2 São necessárias correções em um futuro próximo Quebra coxa e sobrecoxa 1 Não são necessárias medidas corretivas Corte da coxa e sobrecoxa esquerda 2 São necessárias correções em um futuro próximo Corte da coxa e sobrecoxa direita 2 São necessárias correções em um futuro próximo Corte do filé esquerdo 2 São necessárias correções em um futuro próximo Corte do filé direito 2 São necessárias correções em um futuro próximo Retirada da coxa e sobrecoxa 2 São necessárias correções em um futuro próximo Corte da asa esquerda 1 Não são necessárias medidas corretivas Corte da asa direita 1 Não são necessárias medidas corretivas Retirada do filé (peito) 2 São necessárias correções em um futuro próximo Fonte: Dados da pesquisa (2009) Tabela 3 Categoria de ação em função do conjunto de posturas OWAS Verifica-se na tabela acima que entre as 11 atividades, 4 atividades não necessitam de ação e 7 atividades necessitam de correções em um futuro próximo. Com os dados da tabela 2 introduzidos na tabela de % de tempo na postura, conforme figura 5, obtiveram-se os resultados das posturas em função do tempo de exposição, conforme tabela 8

4. Figura 5 Tabela % de tempo na postura OWAS Verifica-se na figura acima que para cada posição das costas, braços e pernas em função da % de tempo na postura atribui-se uma categoria de ação. Avaliando os resultados das posturas com os códigos da tabela 2 obtiveram-se os resultados apresentados na tabela 4 abaixo. Atividade Categorias de Ação Costas Braços Pernas Risco no dorso 3 3 2 Risco na virilha 4 1 2 Quebra de coxa e sobrecoxa 3 1 2 Corte da coxa e sobrecoxa esquerda 4 1 2 Corte da coxa e sobrecoxa direita 4 1 2 Corte do filé esquerdo 4 1 2 Corte do filé direito 4 1 2 Retirada da coxa e sobrecoxa 4 1 2 Corte da asa esquerda 3 3 2 Corte da asa direita 3 3 2 Retirada do filé (peito) 3 1 2 Fonte: Dados da pesquisa (2009) Tabela 4 Categoria de ação em função do tempo na postura OWAS Verifica-se na tabela acima que a análise de tempo que o trabalhador fica em cada postura fornece uma categoria de ação para cada parte do corpo avaliada. Nota-se que em função do 9

tempo na postura, há 6 atividades com classificação na categoria de ação máxima, ou seja, que há riscos biomecânicos que devem ser corrigidos imediatamente. 3.2.2. Resultados do método RULA Aplicando os dados coletados das posturas exercidas pelos trabalhadores no software Ergolândia Versão 2.0 módulo RULA, obtiveram-se os resultados de ação pelo método RULA. A tabela 5 apresenta os resultados da avaliação. Atividade Nível de ação Risco no dorso 4 Risco na virilha 4 Quebra de coxa e sobrecoxa 3 Corte da coxa e sobrecoxa esquerda 4 Corte da coxa e sobrecoxa direita 4 Corte do filé esquerdo 4 Corte do filé direito 4 Retirada da coxa e sobrecoxa 3 Corte da asa esquerda 4 Corte da asa direita 4 Retirada do filé (peito) 4 Fonte: Dados da pesquisa (2009) Tabela 5 Categoria de ação em função do tempo na postura RULA Verifica-se na tabela acima que na avaliação pelo método RULA, 9 atividades apresentam nível de ação 4, ou seja, necessita de mudanças imediatas e 2 atividades apresentam nível de ação 3, ou seja, deve ser realizada uma investigação com a introdução de mudanças. 4. Discussão Os resultados da avaliação pelo método OWAS apresentam que: Atividade de riscar o dorso, classificada na categoria de ação 1, avaliada em função do tempo, insere as costas na categoria de ação 3, os braços na categoria de ação 3 e as pernas na categoria de ação 2; Atividade de riscar a virilha, classificada na categoria de ação 2, avaliada em função do tempo, insere as costas na categoria de ação 4, os braços na categoria de ação 1 e as pernas na categoria de ação 2; Atividade de quebrar a coxa e sobrecoxa, classificada na categoria de ação 1, avaliada em função do tempo, insere as costas na categoria de ação 3, os braços na categoria de ação 1 e as pernas na categoria de ação 2; Atividade de corte da coxa e sobrecoxa esquerda, classificada na categoria de ação 2, avaliada em função do tempo, insere as costas na categoria de ação 4, os braços na categoria de ação 1 e as pernas na categoria de ação 2; Atividade de corte da coxa e sobrecoxa direita, classificada na categoria de ação 2, avaliada em função do tempo, insere as costas na categoria de ação 4, os braços na categoria de ação 1 e as pernas na categoria de ação 2; Atividade de cortar o filé esquerdo, classificada na categoria de ação 2, avaliada em função do tempo, insere as costas na categoria de ação 4, os braços na categoria de ação 1 e as pernas na categoria de ação 2; Atividade de cortar o filé direito, classificada na categoria de ação 2, avaliada em função do tempo, insere as costas na categoria de ação 4, os braços na categoria de ação 1 e as 10

pernas na categoria de ação 2; Atividade de retirada da coxa e sobrecoxa, classificada na categoria de ação 2, avaliada em função do tempo, insere as costas na categoria de ação 4, os braços na categoria de ação 1 e as pernas na categoria de ação 2; Atividade de cortar a asa esquerda, classificada na categoria de ação 1, avaliada em função do tempo, insere as costas na categoria de ação 3, os braços na categoria de ação 3 e as pernas na categoria de ação 2; Atividade de cortar a asa direita, classificada na categoria de ação 1, avaliada em função do tempo, insere as costas na categoria de ação 3, os braços na categoria de ação 3 e as pernas na categoria de ação 2; e Atividade de retirar o filé (peito), classificada na categoria de ação 2, avaliada em função do tempo, insere as costas na categoria de ação 3, os braços na categoria de ação 1 e as pernas na categoria de ação 2; Em suma, em função da avaliação em relação ao tempo, 6 atividades possuem posturas que estão inseridas na categoria de ação 4, ou seja, necessitam de correções imediatas e 5 atividades estão inseridas na categoria de ação 3, ou seja, necessitam de correções tão logo quanto possível. Conclui-se que, ao analisar as atividades em função da metodologia OWAS, deve-se avaliar os resultados em função da postura e do tempo na postura. Pois conforme se vê nos resultados deste estudo, uma categoria de ação fornecida em função das posturas pode ser classifica como atividade sem riscos biomecânicos ao trabalhador, e na mesma condição postural, porem em função do tempo na postura, apresenta riscos biomecânicos ao trabalhador. No método RULA, conclui-se que, devido às posturas e condições das atividades analisadas, de trabalho em pé, de alta repetitividade dos membros superiores, de 100% do tempo destinado à mesma atividade durante o dia de trabalho, 02 postos de trabalho necessitam de uma investigação com a introdução de mudanças e 09 postos de trablaho necessitam de mudanças imediatas, ou seja, todos os postos de trabalho apresentam riscos biomecânicos aos trabalhadores. 5. Conclusão Diante os resultados obtidos no estudo, verifica-se que todos os postos de trabalho apresentam riscos biomecânicos aos trabalhadores, no método OWAS e no método RULA. Porem um dado importante apresentado no estudo foi que ao avaliar os riscos biomecânicos pelo método OWAS em função da postura exercida, os resultados apontam 4 atividades na categoria de ação 1, que não são necessárias medidas corretivas e 7 atividades na categoria de ação 2, que são necessárias correções em um futuro próximo. Por outro lado, ao avaliar os resultados em função do tempo na postura de trabalho, os resultados indicam 5 atividades inseridas na categoria de ação 3, que são necessárias correções tão logo quanto possível e 6 atividades inseridas na categoria de ação 4, que são necessárias correções imediatas. Verifica-se que ao avaliar em função do método OWAS, devem-se relacionar ambos os resultados, pois o conjunto de posturas exercidas na execução da atividade pode ser considerada pelo método como categoria de ação 1 e 2, sem riscos biomecânicos para os trabalhadores, e ao avaliar em função da postura durante o tempo, a postura da parte do corpo avaliada pode ser inserida na categoria 3 ou 4, com riscos biomecânicos que devem ser 11

corrigidos. Um dado importante que as tabelas do método OWAS apresentam é a possibilidade de verificar as posturas e o tempo que não apresentam riscos biomecânicos ao trabalhador. No método RULA os resultados apontam irregularidades que devem ser corrigidas em todas as atividades. Conclui-se, que ambos os métodos, OWAS e RULA, apresentam nos resultados riscos biomecânicos nas atividades analisadas, porem, em função das atividades avaliadas, de trabalho altamente repetitivo, com enfoque nos membros superiores, sugere-se a utilização do método RULA para analise dos dados, pois este avalia o conjunto de posturas considerando os esforços musculares, tanto de repetitividade, quanto de trabalho estático, com enfoque nas posturas dos membros superiores, condições caracterizadas nas atividades como a principal exigência postural. Reforçando esta afirmação, Furlanetto (2009) em sua pesquisa citou que o método OWAS para linhas frigoríficas deixa a desejar por causa do posicionamento dos braços e pescoço, necessitando complementação com outro instrumento que forneça informações sobre estes seguimentos. Referências DUL, J. & WEERDMEESTER, B. Ergonômica Prática. Traduzido por Itiro Iida. 2º ed. rev. e ampl. São Paulo: Edgard Blucher, 2004. FURLANETTO, A.L. Validação do Processamento Digital de Imagem Como Método de Avaliação Postural em Linha de Produção de Frigoríficos. 2009. Dissertação (Mestrado em Engenharia Biomédica) UNIVAP, Universidade Do Vale do Paraíba, São José dos Campos, SP. IIDA, I. Ergonomia: Projeto e Produção. São Paulo: editora Edgard Blucher, 2005. MAFRA, S. C. T.; CAPOBIANGO, C. R.; PENA, M. T. S.; MASSIEIRO, E.; VASCONCELOS, C. F. A Ergonomia Como Ferramenta Para a Melhoria da Qualidade de Vida nos Departamentos e Setores da Universidade Federal de Viçosa. XII Simpep Bauru, São Paulo: Novembro de 2005. LAKATOS, E. M. & MARCONI, M.A. Técnicas de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 2007. MORO, A. R. P. Análise Biomecânica da Postura Sentada: Uma Abordagem Ergonômica do Mobiliário Escolar. 2000. Tese (Doutorado em Educação Física) UFSM, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria. SARDA, S. E.; RUIZ, R. S.; KIRTSCHIG, G. A Tutela Jurídica da Saúde dos Empregados de Frigoríficos: Considerações dos Serviços Públicos. Acta Fisiatr. 16 (2): 59-65, 2009. 12