AS INADEQUAÇÕES ERGONÔMICAS PRESENTES NAS RELAÇÕES ENTRE AS CONDIÇÕES DE TRABALHO E AS MOBILIZAÇÕES FÍSICO-MOTORAS DOS CARREGADORES DE CAMINHÕES

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1 AS INADEQUAÇÕES ERGONÔMICAS PRESENTES NAS RELAÇÕES ENTRE AS CONDIÇÕES DE TRABALHO E AS MOBILIZAÇÕES FÍSICO-MOTORAS DOS CARREGADORES DE CAMINHÕES Guilherme Laureano Linhares 1 ; Dra. Ana Regina de Aguiar Dutra (orientadora) 2 INTRODUÇÃO A IEA (Associação Internacional de Ergonomia -2000) define ergonomia como uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem estar humano e o desempenho global do sistema. Os estudos ergonômicos contribuem para o planejamento, projeto e a avaliação de tarefas, postos de trabalho, produtos, ambientes e sistemas de modo a torná-los compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações das pessoas. A ergonomia tem evoluído ao longo dos anos, em função das problemáticas e das necessidades das situações de trabalho. Primeiramente, no pós-guerra, a ergonomia surge para contribuir na adaptação das condições físicas às características antropométricas e biomecânicas do trabalhador. Na sequencia, problemas de inadequação aos processos cognitivos do trabalhador foram detectados, fazendo surgir a ergonomia cognitiva. Já a ergonomia organizacional surge com o propósito de melhorar as condições organizacionais do ambiente laboral. Recentemente, a Ergonomia começa a se debruçar sobre questões referentes ao desenvolvimento sustentável do negócio. No referido projeto, estudou-se o posto de carregamento de caminhões de um centro de distribuição de produtos farmacêuticos, sob o enfoque ergonômico. O foco do estudo ergonômico estava concentrado nas relações entre as condições de trabalho e as mobilizações físico-motoras dos carregadores, as quais diziam respeito à movimentação e elevação manual de cargas. O centro de distribuição (CD) a ser estudado está situado na Região da Grande Florianópolis, pertencente a uma empresa que atua em vários estados brasileiros. Silva et al (2010) apontam que as atividades com alto grau de criticidade associado ao carregamento de cargas pesadas, como é o caso das atividades de carregamento de caminhões, são as que mais contribuem para o surgimento das doenças osteomusculares tendo como principal sintoma as lombalgias, caracterizada por dores e desvios na coluna lombar comprometendo a postura considerada adequada para a realização do trabalho. Durante o estudo feito por Santos et al (2011) com carregadores portuários do porto de Manaus-AM, foi detectado uma série de riscos ambientais que podem acarretar danos a saúde humana, destacando entre eles: os riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e mecânicos (riscos de acidentes). Esses riscos, a partir das normas regulamentadoras do Ministério de Trabalho e Emprego, podem comprometer a saúde dos trabalhadores em função de sua natureza, concentração ou intensidade e pelo o tempo de exposição. A Ergonomia, por intermédio da NR 17 (Norma Regulamentadora), define algumas recomendações para o trabalho de transporte e elevação de cargas, preservando assim a saúde e a segurança do trabalhador envolvido nestas atividades.

2 A partir do exposto, o principal objetivo do referido projeto de pesquisa foi o de identificar as inadequações ergonômicas presentes nas relações entre as condições de trabalho e as mobilizações físico-motoras dos carregadores de caminhões de um centro de distribuição. Palavras-chave: Ergonomia. Elevação e transporte de cargas. Centro de distribuição de medicamentos. MÉTODOS O estudo ergonômico foi realizado em um centro de distribuição (CD), onde os carregadores, num total de 100, são responsáveis pelo abastecimento de caminhões com produtos farmacêuticos. Na figura 1, apresenta-se o fluxograma do trabalho dos carregadores. Figura 1: Fluxograma do processo de trabalho dos carregadores. O estudo teve como base a metodologia ergonômica (figura 2), a qual contempla 5 etapas: análise da demanda, análise das condições de trabalho, análise das atividades de trabalho, diagnóstico ergonômico e recomendações para as melhorias. 1 Acadêmica de Engenharia de Produção da Unisul. Bolsista do Artigo gui_linhares@hotmail.com 2 Professora do curso de Engenharia de Produção da Unisul. ana.dutra@unisul.br

3 Figura 2: Metodologia ergonômica A etapa 1 da metodologia ergonômica deu ênfase a caracterização do posto de trabalho a ser analisado, no caso o centro de distribuição de uma empresa de produtos farmacêuticos, situada na região da Grande Florianópolis. Na segunda etapa, procurou-se estudar as condições técnicas, ambientais e organizacionais do centro de distribuição, sob as quais os carregadores estão submetidos. Na terceira etapa, analisou-se as mobilizações físico-motoras dos carregadores de caminhões, empregando observações aberta e armada (fotografia e filmagem), bem como os métodos da escala de desconforto corporal e OWAS. Os métodos citados identificam e mapeiam as queixas de desconforto dos carregadores e suas consequências, durante as atividades de movimentação e elevação de cargas (caixas de produtos farmacêuticos). Na quarta etapa, ou seja, no diagnóstico ergonômico, procurou-se identificar as inadequações ergonômicas presentes nas relações entre as entre as condições de trabalho e as mobilizações físico-motoras dos carregadores de caminhões. Por fim, na 5ª etapa da metodologia, os interesses se voltaram para a recomendação de condições de trabalho adequadas ao trabalhador, buscando saúde e segurança no trabalho e a sustentabilidade da empresa. RESULTADOS E DISCUSSÃO Ao se analisar o ponto de trabalho, identificou-se algumas inadequações, a saber: Quanto às condições ambientais, observou-se que no inverno, o posto da expedição torna-se muito frio, visto que as docas ficam abertas e expostas ao frio da madrugada. Já quanto ao ambiente acústico, os trabalhadores sofrem com os bips dos scanners, sons gerados quando dos registros das caixas das mercadorias, irrita e desgasta. Quanto às condições organizacionais, o volume de trabalho em alguns momentos é intenso, são 100 mil volumes carregados e transportados, com uma meta mensal de 02 milhões de unidades vendidas. Com essa demanda, há um grande fluxo de caixas de mercadorias que devem ser alocadas nas gaiolas e posteriormente nos caminhões, induzindo assim, causas dos recorrentes erros nos destinos do produto. Também existe o fato de que os trabalhadores executam as tarefas aleatoriamente e com movimentos repetitivos, sendo assim, essas repetições em longo prazo, podem ocasionar Lesões por Esforço Repetitivo (LER) e Distúrbios Osteomusculares (DORT). Para analisar as mobilizações físicas dos trabalhadores, empregou-se a escala de desconforto corporal, apontando as regiões das pernas e da lombar como as mais queixosas por parte dos trabalhadores. Os motivos das queixas estão ligados aos fatos de que o trabalhador fica de pé toda a jornada de trabalho e com rotação do tronco de 180 graus. As atividades realizadas no Centro de distribuição são preponderantes de elevação e transporte de cargas, logo a necessidade de aplicar o método NIOSH para identificar a carga limite recomendada de elevação. Os resultados apontaram que, apesar de ser repetitivo as atividades e as cargas serem leves, os pontos críticos são o coeficiente de assimetria (grau de rotação de tronco) e frequência (levantamento/minuto) de elevação.

4 CONCLUSÕES O estudo ergonômico mostrou inadequações em direção às condições técnicas de trabalho, como a quebra de produtos; às condições ambientais, o frio no ambiente de trabalho, quando no inverno; às condições organizacionais, como volume de trabalho. Cada inadequação pode provocar efeitos/patologias no trabalhador e na empresa. Os efeitos em direção à empresa foram vinculados às sete perdas do sistema Toyota de produção, como os desperdícios de produzir produtos defeituosos e de tempo perdido pela espera. Em relação ao trabalhador, observou-se a partir da escala de desconforto corporal e do método Niosh, que as queixas mais frequentes estão ligadas às regiões da lombar e das pernas, pois fica de pé toda a jornada de trabalho com giro de tronco de aproximadamente de 180 graus. REFERÊNCIAS ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 5413 Iluminância de interiores. Maio, ABRAHÃO, J.; SZNELWAR, L.; SILVINO, A.; SARMET, M.; PINHO, D. Introdução a Ergonomia da prática à teoria. São Paulo: Edgard Blucher, BRASIL. Ministério do trabalho. Normas Regulamentadoras de segurança e saúde no trabalho. NR17 Ergonomia. Disponível em: acesso em BRASIL. Ministério do trabalho. Normas Regulamentadoras. NR15 Ergonomia. Disponível em: portal.mte.gov.br/legislacao/norma-regulamentadora-n-15-1, acesso em BRIDGER, R.S. Introduction to ergonomics. 2ª ed. London: Taylor e Francis, 2003, p.548. DUL, J. & WEERDMEESTER, B. Ergonômica Prática. Traduzido por Itiro Iida. 2ª ed. rev. e ampl. São Paulo: Edgard Blucher, Iida, I. Ergonomia: Projeto e Produção. 2ª ed. São Paulo: editora Edgard Blucher, ISO 7730: 2005, Moderate thermal environments Determination of the PMV and PPD indices and specification of the conditions for thermal confort. KROEMER, K.H.E, & GRANDEJEAN, E. Manual de Ergonomia: Adaptando o Trabalho ao Homem. Porto Alegre: Bookman editora, MORAES, A. & MONT ALVÃO, C.M. Ergonomia: Conceitos e aplicações. Rio de Janeiro: Editora 2AB ltda, Acadêmica de Engenharia de Produção da Unisul. Bolsista do Artigo gui_linhares@hotmail.com 2 Professora do curso de Engenharia de Produção da Unisul. ana.dutra@unisul.br

5 NBR Iluminância de interiores. Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT, TEIXEIRA, M. F. A. A Importância Fisioterapêutica na Utilização do Questionário Bipolar de Couto na Avaliação de Fadiga em Conjunto com A Análise das Interrupções de Trabalho em Operadores de Telefonia (Call Center): Estudo Preliminar. Universidade Veiga de Almeida Rio de Janeiro, VERGARA, S. C. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. 8º ed. São Paulo: Atlas, 2007.